Análises
O impacto da grande morte da 8ª temporada para o futuro de The Walking Dead
Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS dos quadrinhos originais e do oitavo episódio, S08E08 – “How It’s Gotta Be” (Como Deve Ser), da oitava temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido ou lido, não continue. Você foi avisado!
Eu já havia previsto num ranking de possíveis mortes para a atual temporada a provável morte desse personagem. Em época, fui chamado de louco e dito como alguém que não compreendida a essência da série e nem o seu futuro. Bem, chegamos ao midseason com a concretização desse grande evento: Carl está morto. Ainda não está morto de fato, mas sua morte já é inevitável a menos que o protagonismo fale mais alto e seja inventada uma história sem qualquer sentido para salvá-lo.
Nos quadrinhos, Carl Grimes é e sempre foi o núcleo central do enredo. Robert Kirkman incessantemente deixou claro que todos estavam ameaçados, com exceção de Carl, que era a finalidade de todo o mundo de The Walking Dead. O criador dos impressos nunca negou que tudo convergia para o jovem Grimes e que esse era o verdadeiro protagonista da história. Mas então, por quê?
Bem, como eu já havia explicitado na lista de prováveis mortes, vários motivos podem ser razão de tudo isso. Um deles é o que parece ter sido um pedido do próprio Chandler, que já não se sentia adequado o suficiente para o personagem e possuía interesses externos à série (retornar ao curso da faculdade), mas que já foi desmentido pelo próprio ator. Outro, e acredito que um dos mais reais é o fato de Chandler já ter extrapolado os limites biológicos necessários ao personagem.
Isso ficou implicitamente evidente no final do episódio dessa semana. Dentro das tubulações do esgoto havia apenas dois focos de luz. Um deles sobre Carl e outro deles sobre Judith. Isso teve um significado muito maior do que pode ter parecido. Parece que os roteiristas quiseram passar uma mensagem de “Eis o motivo de Judith ter sobrevivido ao arco da prisão”. Já faz muito tempo que eu venho alertando sobre Judith. Ela não pode ser apenas a criança indefesa para sempre. Por algum motivo os roteiristas a deixaram viver e alguma trama estava reservada para ela desde sempre.
A trama pós-salto temporal, ao fim da Guerra Total, nos leva a um Carl de 14 anos com todas as dificuldades de um adolescente e é o fato de ser adolescente que o enreda na história dos quadrinhos. Um Carl de 20 anos não possuiria o mesmo apelo e peso na história. Então, Chandler já não poderia mais fazer parte disso. Seria impossível disfarçar e impedir o avanço de seu corpo. Com Judith, poderemos ter um salto um pouco maior e evidentemente, explorar totalmente as tramas do Carl da HQ, como uma adolescente conhecendo os prazeres da vida num mundo caótico. E podemos até argumentar “mas poderiam passar a história de Carl para Judith e criar novos enredos para ele na série já adulto”. Mas, se fizessem isso, Carl se tornaria mais um peso morto na história, que apareceria vez ou outra para protagonizar pequenas cenas de ação, mas sem um impacto profundo na história como um todo (o que acontece com Daryl faz mais de quatro temporadas).
Outro ato bem interessante que antecede a morte de Carl é o fato de ele liderar Alexandria para a fuga e além de tudo ir encarar Negan, frente a frente. A ação de coragem do menino Grimes nos traz um aspecto interessante e uma resposta para a pergunta de muitos: quando diabos Carl fora mordido?
No quinto episódio da atual temporada vemos Carl indo à busca de Siddiq. Quando o encontra, os dois atam uma conversa sobre questões de pós-morte e sobre o entendimento prolatado pela mãe de Siddiq, de que os mortos precisavam ser libertos de si próprios. Quando os dois começam a rumar para Alexandria, uma pequena horda os cerca e os dois, com certa dificuldade, obtém uma vitória. Entretanto, em meio à luta com os walkers, Carl fica encurralado por um deles, que cai sobre ele e quase lhe fere no rosto. Depois de minutos de aflição, com a ajuda de Siddiq consegue se livrar do morto-vivo. Nas próximas vezes que vemos Carl, ele parece estar escrevendo algo e trabalhando numa missão própria.
Outro fato que comprova que Carl já havia sido ferido mais cedo naquele dia (a busca de Siddiq e a chegada de Negan à Alexandria se dão no mesmo período de 24h) é a sua fala direcionada ao vilão. Em certo ponto, Carl fala “Me mate, pois de qualquer forma eu irei morrer.”. Ou seja, conseguimos ver o tamanho da maturidade de Carl ao encarar a própria morte. Ele organiza tudo que é necessário, deixa uma carta para o pai e provavelmente está procurando uma maneira de morrer distante de todos para que não haja sofrimentos. Mas a chegada dos Salvadores interfere sua marcha fúnebre e ele resolve se tornar um herói para Alexandria.
Analisando bem a série, Judith praticamente esteve em toda a história. Sua história começa a ser contada já na primeira temporada, com o relacionamento de Lori e Shane e vem se desenrolando até hoje. Então, não são totalmente equivocados aqueles que defendem que de alguma forma ou outra, Judith é um dos centros da história. Sua história foi contada desde sempre.
Então, acredito que ela tenha sido uma forma de fuga para aquilo que os roteiristas sabiam que hora ou outra aconteceria: a incompatibilidade de Chandler com o personagem. Eles levaram a imaturidade de Carl até onde puderam. No entanto, esse ponto de incompatibilidade cada vez mais se aproximava e seria inviável aceitar um Carl imaturo pós-salto temporal, já que ele estaria com seus 20 anos. Fora que o desenvolvimento de Chandler atrapalhava todo o rumo da história. The Walking Dead antes do salto temporal se passa num mínimo de três anos e meio após o inicio do surto apocalíptico. O desenvolvimento corpóreo de Riggs de nenhuma forma torna fidedigna a linha temporal da série.
Mas e então? Qual o verdadeiro impacto que a morte de Carl poderá trazer para a série?
O primeiro deles é direto para quem acompanha os quadrinhos. Nas últimas edições tivemos o momento mais triste e devastador da saga impressa: a morte de Andrea. Uma personagem que estava presente desde as primeiras edições, era extremamente forte e essencial para Rick (nos impressos, Andrea é quem engata o relacionamento amoroso com Grimes após a morte de Lori). Sua morte se dá de forma surpreendente para a altura da história: uma mordida de walker no pescoço, quando estão tentando afastar uma grande horda das imediações de Alexandria.
Logo após o evento nas HQ’s, começou-se a especulação de quem assumiria essa morte na série. Claro que todos nós planejávamos isso para o pós-salto temporal. O nome mais cogitado para a as sumpção do ato, pela similitude de enredo, era da personagem Michonne. Outros nomes cotados eram o de Daryl e Carol, já que Andrea era uma sobrevivente de Alexandria e estava desde o inicio com Rick. No entanto, fomos surpreendidos.
A forma como Carl morre (ou morrerá) é totalmente equivalente a de Andrea nas HQ’s. E como The Walking Dead não gosta de repetir eventos grandiosos, acredito que não teremos uma segunda morte semelhante e impactante para Rick no pós-salto. Ou seja, aparentemente, Michonne está livre da morte de Andrea.
Outro desnível de enredo se dará com Enid, após a morte de Carl. Enid estava assumindo o papel de Sophia na HQ. Ocorre que Sophia sempre possuiu uma história paralela a Carl. Seu desenvolvimento se dá justamente se apoiando no jovem Grimes. O que restará para Enid, então?
Acredito que esse seja um dos pontos mais facilmente desvencilháveis. Enid partirá a fazer às vezes de Sophia com Maggie. Na HQ Sophia é adotada pela viúva e se torna residente de Hilltop. Na verdade, a filha de Carol não possui uma participação central na história em nenhum momento. Ela é apenas um personagem subestimado e utilizado para desenvolver arcos de Maggie e Carl. Enid está bem mais a frente de Sophia na série. Sua pró-atividade na Guerra é muito maior.
Quanto ao enredo próprio de Carl, para mim não há dúvidas que será transpassado para a irmã. Como eu já disse esse sempre foi o motivo da caçula de Rick ter sido mantida na história e esse será o seu grande momento na história. Os produtores nos fizeram apegar a Judith com pequenas cenas para que seu nome fosse mais bem aceito pela audiência.
Resta saber como eles equilibrarão o arco dos Sussurradores que é totalmente responsabilidade de Carl, quando engaja um relacionamento com Lydia (filha da grande vilã Alpha). Como Judith, que provavelmente terá no máximo 10 anos de idade, assumirá um arco desses e de que forma isso será adaptado para a série.
A morte de Carl na verdade, além de abrir possibilidades para Judith, acaba por deixar uma lacuna enorme para que os roteiristas tenham liberdade criativa. É uma forma de poderem se afastar da história original um pouco mais. A ausência de Carl diminuirá a cobrança por parte dos fãs dos eventos dos quadrinhos. É uma maneira rasteira de a história tomar rumo próprio.
Por fim, acabo de me lembrar de que há exatos dois anos atrás eu iniciava a série de publicação “Os cinco de Atlanta”, na qual descrevi semanalmente um a um dos últimos sobreviventes do acampamento da primeira temporada: Rick, Carl, Daryl, Glenn e Carol. Agora, dois anos após, nos restam apenas três personagens. Onde estaremos em dois anos? Será que teremos algum dos sobreviventes de Atlanta ainda vivos? Quais são suas apostas daqui para frente? Como a história seguirá sem Carl? Comente abaixo seus pontos de vista sobre o futuro da série.
The Walking Dead retorna no dia 25 de Fevereiro de 2018 com a segunda parte da oitava temporada.
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