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4ª Temporada

David Morrissey fala sobre guardar segredos e sobreviver como o Governador

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The Walking Dead chega ao mid-season finale da quarta temporada amanhã (01 de dezembro), mas não sem conferir brevemente algumas novidades sobre o personagem que foi visto pela última vez em retirada da terceira temporada da série: Philip “O Governador” Blake. O retorno de David Morrissey para o show foi mantido em segredo, e The Walking Dead tem dedicado seus dois últimos episódios para reintroduzir o tirano de um olho só do Morrissey, preenchendo as lacunas entre o seu desaparecimento e a chegada repentina fora da prisão abandonada ocupada pelos protagonistas da série. Quanto ao próprio Morrissey, ele passou um tempo fora da Geórgia assolada por zumbis filmando o piloto da AMC Line Of Sight, gravando a versão em áudio de um livro escrito por outro Morrissey, e informando a ninguém (além de sua esposa) sobre quando ele iria colocar o tapa-olho novamente. O site A.V. Clube falou com Morrissey sobre como ele manteve esse segredo, que aventuras recentes do Governador significam para o personagem, e a estranha emoção de ser vaiado por uma multidão de milhares de pessoas.

O A.V. Club: Quando você descobriu que o governador estaria retornando para a quarta temporada?

David Morrissey: Não até o último episódio [da terceira temporada]. É assim que funciona o show: você nunca sabe até que você leia o episódio. São oito dias de filmagens – obtemos o episódio seguinte em quatro dias de filmagens, de modo que no quarto dia, todos nós desaparecemos no nosso trailer e lemos o próximo episódio. Eu tendo a ler de trás para frente para saber se eu ainda estou vivo. Então, eu não sabia até a entrega do episódio 16. Eu sempre senti que ia morrer. Então, eu estava muito feliz por participar desta temporada e espero participar da próxima.

AVC: Por quanto tempo você teve que manter esse segredo?

DM: Juramos guardar segredo até o episódio chegar à tela. Eu disse a minha esposa porque precisávamos fazer planos para o próximo verão. Todo mundo queria saber. Era a única pergunta que me faziam, principalmente ao levar meus filhos para a escola. As crianças não sabiam – eu não lhes diria se ia voltar ou não.

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AVC: Qual é a sensação de manter esse segredo por tanto tempo?

DM: É difícil. Com os fãs, muita gente me pergunta, mas eu sei que eles não querem a resposta. Eles querem difundir teorias, e eles querem fazer perguntas sobre qual é o rumo que a série está tomando. Eu não acho que eles realmente queiram os spoilers. Eles querem descobrir quando todo mundo descobre. Eles querem o elemento surpresa, por isso a pergunta não é realmente alguém pedindo a resposta – é sobre eles me dizerem o quanto adoram o show. É muito divertido, porém as pessoas me fazem a pergunta. E isso significa que o programa está dando certo. As pessoas tendem a ver The Walking Dead como um programa para “jovens”, mas não é o que a minha experiência diz quando ando nas ruas. Os dados demográficos, tanto de idade e classe são fenomenais. É um show que transcende – e acho que os seus índices de audiência mostram isso. É uma atração de amplo alcance e isso foi muito encorajador para mim.

AVC: Apesar da natureza desprezível do personagem, a reação é geralmente positiva?

DM: Pode ser [risos] positiva de uma forma negativa. Saí na Comic-Con deste ano e 10.000 pessoas me vaiaram. E eu pensei “Excelente!”. Isso é uma prova de que estou fazendo um ótimo trabalho.

AVC: Dos diferentes tons e lados que o Governador tem mostrado, qual você acha que é mais interessante para interpretar?

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DM: O que é interessante para mim como ator é todo o pacote. Ele faz coisas que são muito, muito questionáveis. No final da terceira temporada, acho que ele passou por um momento traumático – ele perdeu a consciência e disparou contra o seu próprio povo, e isso é um ato imperdoável. Mas, para ser capaz de, em seguida, levá-lo a uma conduta contrária a esse momento, um homem que está se comportando bem e faz o melhor pelas pessoas e se apaixona por pessoas – o fato de que ambas as condutas serem o mesmo homem. O desafio para o ator é certificar-se de que elas são consistentes em sua cabeça. Você acredita que o mesmo homem poderia se comportar em tais extremos opostos? Acho que você acredita quando se trata do Governador. Ninguém é totalmente sábio, ninguém é de todo ruim. É tão fácil categorizar as pessoas e defendê-las ou condená-las, mas eu acho que todo mundo tem um pouco de tudo isso junto.

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AVC: Então, qual é o elo que mantém essas partes juntas?

DM: O seu desejo de sobreviver e proteger as pessoas com quem ele se preocupa. Suas decisões morais são muito questionáveis – o que ele vai fazer para sobreviver e o que ele vai fazer a fim de proteger as pessoas que ama. É da natureza humana. Quando você assiste [“Live Bait”], você vê um homem que desistiu da humanidade, e desistiu de si mesmo. Ele simplesmente não tem os meios para se matar. Ele é um homem que não quer contato humano – ele realmente se isola e pune a si mesmo. E é só até ele se conectar com aquela menina – que o faz lembrar-se de sua filha – e com esta mulher, que ele finalmente começa a despertar e a querer cuidar e protegê-las. E até o momento em que ele queira fazer isso e se engaje nisso, ele está um pouco perdido. Ele sabe que vai fazer de tudo para manter essas pessoas vivas, e a pergunta sobre o que é o “tudo” que é onde o seu código moral fica muito, muito sujo.

AVC: É isso que o impulsiona a preencher o vácuo de poder no “Dead Weight”?

DM: É sobre como é a natureza da sua personalidade. Você vê isso no âmbito dos esportes o tempo todo. Você vai ver os caras que vão lá fora e o treinador lhes diz: “Você fica aqui atrás, você está jogando aqui, não vá para lá. Mantenha-se na defesa, não saia no ataque.”. E então, você leva-os para o campo, e de repente eles estão exatamente em outra parte do campo e você fica tipo: “O que você está fazendo?”. Às vezes, é impossível recuar. Alguns personagens tem aquela coisa que você vê no local de trabalho: Às vezes, as pessoas são líderes naturais. Às vezes, as pessoas não são líderes naturais, mas elas querem ser o líder, e você fica tipo: “Ah, meu Deus, essa pessoa não vê isso?”. Acho que o Governador é um líder natural. Ele é alguém que as pessoas vão olhar e dizer, “Eu vou seguir esse cara.” Porque ele é um sobrevivente, ele é um vencedor. E, apesar de ele ser moralmente suspeito em tudo o que faz, se você quiser sobreviver neste mundo, ele é o único que você pode seguir.

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Ele vê duas coisas: Ele vê que Martinez não está totalmente confiante no acampamento. Ele não está totalmente confiante em ser capaz de proteger as pessoas. Você não pode ter aquela pequena brecha de dúvida em sua mente. Ele sabe que, por isso, ele tem que assumir o controle. Ele não quer o controle, mas ele tem que assumir. O cara que se apresenta não está apto para desempenhar esse papel. O Governador só tem que entrar em cena. Ele faz tudo o que pode para escapar, e ele não consegue escapar. A situação simplesmente continua arrastando-o de volta, e no final ele tem que tomar as rédeas e dizer: “Ok, isso agora é comigo.”.

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AVC: Há um determinado momento em “Dead Weight” que o Governador diz a Lily: “As coisas estão prestes a dar muito errado aqui”. Você acha que ele é capaz de reconhecer as qualidades em outras pessoas que ele não gosta em si mesmo?

DM: Com certeza. Eu acho que quando ele diz isso, o que ele quer dizer é: “Se ficarmos aqui, as coisas vão dar errado comigo. As coisas vão dar errado com a gente, porque eu não vou ser capaz de ficar de lado e deixar esta comunidade em perigo.” Ele não pode mais fazer isso, então vamos sair daqui. Quando ele entra no carro com as meninas para escapar, ele está absolutamente tentando fugir de si mesmo. Ele está tentando fugir de si mesmo, mas é claro que você sempre se leva consigo mesmo onde quer que você vá. Ele quer ficar longe desses pensamentos, mas ele não é permitido neste mundo. Ele tem que se apresentar para assumir a responsabilidade e fazer o que precisa ser feito. E eu acho que o que ele faz é muito chocante.

AVC: Você já interpretou muitos líderes, alguns que assumiram o poder, alguns que foram ungidos com o poder, e alguns que foram eleitos para o poder. Como você compara a interpretação do Governador com a interpretação de Macbeth ou de um político como Gordon Brown?

DM: Liderança é uma questão muito interessante. É uma mistura de astúcia, sorte e inteligência, mas você definitivamente precisa que a oportunidade apareça na sua frente. Você olha para alguém como Lyndon Johnson, que está de saída, ele nunca vai ser o presidente dos Estados Unidos, os Kennedy querem que ele saia – no minuto seguinte, o assassinato de Kennedy acontece, e em seguida, lá está ele. Ele assume o manto e ele tem que ser o presidente. Algo acontece quando a oportunidade aparece à sua frente, quer você queira ou não, você tem que preencher o vácuo. Algumas pessoas podem desempenhar esse papel, outras pessoas não podem. Você pode ter todos os planos do mundo, toda a trajetória de “é isso que eu vou fazer a fim de me tornar o líder da empresa ou desta equipe de futebol ou deste partido político.” Mas quando a oportunidade aparece na sua frente, como você aproveita essa oportunidade? Você vai reconhecê-la quando ela cair aos seus pés? Isso é o que faz os grandes líderes políticos. Com o Governador, ele reconhece a oportunidade – Ele luta contra a oportunidade às vezes, mas ele é o único homem que está sendo convocado.

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A outra questão é, uma vez que se ganha o poder, como eles usam o poder. O Governador fica muito embriagado pelo poder. Em State Of Play, Stephen Collins fica muito embriagado pelo poder também. Para todas as boas decisões que eles fazem para o benefício de seu povo, às vezes eles têm de fazer coisas terríveis a fim de manter a sua bondade geral intacta. Isso é uma areia movediça moral. Eu tenho que matar esse cara a sangue frio para salvar essas centenas de pessoas? São as decisões que nossos líderes políticos estão fazendo a cada hora, eu diria.

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AVC: Como ator, como você entra na mente de um homem convencido de que é um líder nato?

DM: Há duas coisas sobre isso. A primeira: Tem que estar escrita no roteiro em que estou inserido. Você não pode encaixar as coisas em um roteiro mal escrito. O que tem sido muito bom para mim em minha carreira é que eu já trabalhei com bons escritores. Então, o que você faz é ilustrar o que está na página. E eu li um monte de livros sobre liderança. Eu li muito sobre cultos: Jim Jones, David Koresh, pessoas assim. Mas eu também li um monte de biografias políticas de pessoas como Bill Clinton, Tony Blair, Lincoln. Todas essas coisas informam sobre o que é ser um líder.

Além disso, a coisa interessante sobre o Governador é que apesar de ser um personagem dos tempos modernos, ele é um líder sem Twitter e conselheiros. Ele é muito mais parecido com os líderes de tempos passados que ficavam em cima de uma caixa e discursavam para 200 pessoas em um mercado. Ele é muito mais como um orador – que é onde o seu dom de repente encontra-se. Nesta nova situação ele pode se levantar para fazer um discurso, e a população vai dizer: “Eu estou com esse cara.”.

AVC: A aparência que o Governador adquire em seus dias errantes – de cabelos longos e barba, além de seu tapa-olho – fizeram que pessoas comparassem-no com Cobra Plissken de Fuga de Nova York. Você disse à Rolling Stone que ele parecia uma “versão magra de Jerry Garcia”. Mas há outra analogia visual, dada à sensação das sequências de Wild West: Rooster Cogburn de Bravura Indômita. Você sentiu o Governador se tornando um pouco o anti-herói do velho oeste?

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DM: Há certamente um elemento de velho oeste neste show. O fato de que todos nós temos armas em nossos quadris – é um lugar de pistoleiros. A civilização está sendo desligada, a autoridade da lei está sendo jogada para fora da janela. Portanto, há um elemento disso no show. Mas,você sabe… Todas as histórias de agora podem ser refletidas com o elemento do anti-herói do velho oeste – uma espécie de John Ford de Searchers (Rastros de ódio) – mas você também pode pensar nelas como Kurosawa, ou como as histórias medievais britânicas. É tudo sobre aqueles homens errantes que voltam para a cidade e resolvem as coisas. Não é uma coisa de anti-herói, mas todas as histórias têm isso e todas as lendas também.

AVC: Você acha que essas qualidades arquetípicas são fatores importantes na popularidade do programa?

DM: É um show sobre sobrevivência – sobre personagens lutando para sobreviver. O motivo de o programa ser tão popular é que ele não se acomodou com os louros conquistados. Ele ultrapassou os limites na medida em que se refere à narrativa. Aquela sensação de que nenhum personagem está a salvo – é o que eu acho realmente brilhante sobre o programa. Você nunca está tendo o momento Star Trek neste show: Quatro caras teletransportam, dos quais três são personagens principais e mais um cara que você nunca viu antes. Eu não acho que ele vai voltar para a Enterprise. Com o nosso programa, você realmente sabe que ninguém está seguro. É sobre fazer as perguntas fundamentais: O que você faria quando a situação estivesse realmente difícil? Como você sobreviveria? Quem você salvaria? Quais decisões morais você tomaria? [Essas são perguntas que] todos nós tendemos a nos perguntar muito. Elas são questões importantes, e acho que The Walking Dead é um fórum para explorar essas questões.

AVC: Você recentemente gravou a versão audiobook de Autobiography, pelo cantor, compositor e ex-vocalista do Smiths Morrissey. Como um fã de longa data, o que mais te surpreendeu durante a leitura do livro?

DM: Ele sempre teve essa fama de “miserável Morrissey”, e ele certamente pode se permitir esse lado de si mesmo. Mas, seu humor é inacreditável. Eu tive que parar de ler muitas vezes porque eu ria muito. Sua inteligência mordaz é incomparável. Não que isso tenha me surpreendido, a coerência dele é incrível. Há algo de Oscar Wilde na sua escrita – suas observações críticas são geniais. Foi constantemente instigante para mim. Ele está em um momento em que ele é muito seguro de sua vida e sua música. Acho que a segurança e a crença em si mesmo são expressas no livro. Ele desafia muitas coisas no livro, muitos aspectos de seu passado. Há muita raiva com relação à imprensa de música, mas de uma forma muito espirituosa. Espero ter feito jus a sua obra, porque é um livro maravilhoso.

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Fonte: A.V. Clube
Tradução: Mydiã Freitas / Staff Walking Dead Brasil

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