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Charlie Adlard e o Maravilhoso Mundo de “The Walking Dead”

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Charlie Adlard não só é uma dos meus artistas favoritos no mundo dos quadrinhos, mas também uma das minhas pessoas favoritas na área. É muito bom conversar com esse cara e tanto sua honestidade quanto sua natureza de boa pessoa lutam contra seu talento artístico pelo posto de melhor atributo. Como vocês sabem, esse mês está sendo muito importante para ele e para a equipe de “The Walking Dead” da Image.

Para celebrar as 100 edições (94 para Charlie), conversamos com ele sobre como a HQ afetou sua vida, o sucesso meteórico da mesma e como, exatamente, ele consegue desenhar as edições tão rápido, entre outras coisas. Agradeço a Charlie por ter conversado comigo!

Parece que você tem feito as edições num ritmo doido ultimamente.

Eu sei. Tem sido um pouco insano. Precisávamos fazer a edição 100 a tempo para a San Diego Comic-Con então eu as fiz bem rápido. Felizmente eu terei um pouco de tempo livre, que não se concretizou ainda… (risos).

O problema é que fomos para San Diego, agora voltamos de San Diego, então terei menos de duas semanas em casa e depois voltarei para Atlanta para visitar o set, porque não faço isso desde o piloto. Robert queria muito que eu fosse até lá, porque há certos, como posso dizer… elementos… Bem, não é segredo. Michonne, O Governador, etc, etc, e pode ser minha única chance de vê-los essa temporada, então será… Não estava ansioso pra sair, devo admitir, só por causa do tempo.

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Mas ele me convenceu porque achei que era uma oportunidade, no fim das contas, boa demais pra perder. Então, é claro, de volta aos escritórios depois de duas semanas, porque todo o tempo livre que eu tinha será usado nas viagens (risos).

Bem, eu tenho que perguntar. Obviamente, nos primeiros episódios, muita coisa foi associada ao trabalho de Tony Moore. Agora é seu Walking Dead. Quão estranho é ver algumas dessas coisas ganhando vida na TV?

Foi maravilhoso estar no set há dois anos, quando estavam fazendo o piloto, mas você está certo. Eram as criações do Tony. Então, é claro, começou a chegar um pouquinho na minha parte  no final da primeira temporada. A segunda temporada veio e, tenho de admitir, estar tão perto e não ser particularmente objetivo quanto àquilo… Por mais que eu goste, eu fiquei a maior parte do tempo querendo que seguisse em frente. Que andassem logo, saíssem da fazenda de Herschel. Não estou criticando, porque a série tem seu próprio ritmo e é preciso lembrar que a maioria das pessoas que a assistem não leu a HQ.

É difícil pra mim julgar a série de fora da minha percepção.

Ainda assim, não pareceu com meu trabalho. Mas acho que a terceira temporada será como um pedaço de mim. E essa é uma das razões que me fazem querer ir até o set. Como você disse, com certeza é uma parte que é mais minha e de Robert do que minha, do Tony Moore e de Robert.

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Sabe, eu leio desde… não desde o começo, mas desde que começou a ser publicada em livros. Eu costumava comprar por livros, agora compro na forma de edições. Acho que a coisa mais estranha pra mim é que eu costumava dizer “ah, você devia ler essa HQ, ela é ótima”. Agora eu só a menciono ou o nome de um dos co-criadores de The Walking Dead e as pessoas já ficam em êxtase. Isso deve ser até meio estranho pra você. Você se impressiona com a ascensão meteórica da série de TV?

Ah, sim. Meio que torna a vida mais fácil quando você precisa explicar o que faz. Se alguém vem até mim… meu filho mais velho acabou de mudar pra uma escola nova, então há vários pais que você acaba conhecendo e conversando… novas pessoas, digamos, na área. Uma vez ou outra, a conversa toma o rumo do “ah, e o que você faz?” (risos).

Há 5 anos atrás, eu diria que era cartunista. “Ah, isso é interessante, o que você faz?”. Então você tem que explicar quais quadrinhos de pouco sucesso você desenha. Agora, na maioria das vezes, eu nem preciso dizer que sou um cartunista. Às vezes, eu só digo que desenho The Walking Dead. Ou “você já ouviu falar de The Walking Dead?”. Essa devia ser minha principal frase de apresentação (risos).

Eu diria que 70% das pessoas, normalmente, dizem “sim, sim”. Daí eu digo “ah, eu sou co-criador e desenho a HQ na qual a série de TV é baseada”. É uma maneira mais fácil de dizer o que eu faço, eu acho.

Eu acho que… para o público geral, é mais fácil associar uma coisa assim do que eu tentar explicar o conceito de que eu sento todos os dias e desenho HQs em geral, das quais elas nunca ouviram falar. É fácil se você desenha Batman ou Superman ou qualquer outro que você pode usar na frase “ah, eu desenho tal personagem” ele eles “ah! Nós sabemos” e entendem instantaneamente o que você está falando.

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Mas se você está mais envolvido, especialmente em material publicado pelo próprio criador, você está meio que no escuro.

Totalmente. Bem ,tem sido divertido observar. Quando você olha pro número de vendas e como foi de um sucesso independente e subiu pouco a pouco e agora a última edição lançada chegou aos 30 mais vendidos. Todos os livros estão demais.

A edição 100 é o livro número 1 dessa lista.

Como assim?

A edição 100 é o livro número 1 dessa lista.

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Oh, meu Deus. Mesmo?

Sim (risos).

Isso te deixa um pouco excitado?

Sim. É um clichê terrível dizer, mas é uma completa, total surpresa. Eu nunca acreditei que minha carreira tomaria esse rumo. Que eu trabalharia no livro número 1 da indústria dos quadrinhos. Tudo bem, não será mais o livro número 1 na edição 101 (risos), mas pelo menos posso dizer que trabalhei em UM livro número 1 da indústria dos quadrinhos.

Foi uma ascensão incrível. Toda vez que eu ouço falar parece ficar, literalmente, cada vez melhor. Obviamente haverá um fim, mas, no momento, a jornada tem sido incrível.

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Da última vez que conversamos, você disse que enquanto Robert estiver nessa, você também estará.

E eu mantenho isso. É muito difícil de prever… você tem que entender que demoramos 8 anos pra chegar na edição 100. Você pensa, para chegar na edição 200… é muito fácil falar sobre a edição 200 ou a edição 300, mas quando você coloca isso em anos, são 8 anos pra chegar na 200.

Se pudermos chegar nisso será absolutamente brilhante. Se não conseguirmos, não conseguimos. Teremos saído de cena num esplendor glorioso se não chegarmos à próxima centena de edições.

Mas isso não é spoiler! (risos). Não há, certamente, nenhuma razão para não chegarmos à edição 200. Ainda estamos com os cilindros em chamas, sabe, e eu acho que posso dizer seguramente, que, nesse ramo da indústria, somos, provavelmente, a única equipe criativa que está lançando uma HQ regularmente com esse nível de sucesso. Pelo menos na indústria americana.

Essa é uma coisa sobre a qual tenho muito interesse. Você disse que vocês queriam que a edição 100 fosse lançada a tempo para a San Diego Comic-Con. Esse era o plano o tempo todo? Vocês queriam passar por tudo pra chegar na Comic-Con com essa edição?

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Acredite, a San Diego Comic-Con não é mais tão atraente como costumava ser (risos). Do meu ponto de vista, a razão para irmos… você devia ter visto minha agenda para aqueles dias. É insano. Eu com certeza não fui até lá para sentar na beira da piscina e beber um drink (risos).

É só óbvio… nós vimos, no começo do ano, que era possível. É só o luigar mais óbvio para se lançar algo desse tipo. Se estivéssemos na edição 86 ou alguma por aí, seria uma tarefa impossível. Iríamos marcar pra outra data significativa. Mas como estava dentro da data da Comic-Con… eu sei que foi uma quantidade ridícula de trabalho, mas eu consegui fazer.

Acho que eu tinha 8 edições pra fazer, do começo do ano até a Comic-Con. Do meu ponto de vista, é concebível. Foi o que eu disse pros caras e, consequentemente, uns meses depois disso já estava tudo combinado de que esse seria nosso objetivo. E Robert meio que enfiou a cara e fez, e eu também, e, bom, aqui estamos (risos).

Acho que a última vez que nos falamos por e-mail, você estava na ediçao 97, em Maio. Então, quanto tempo demora pra você terminar uma edição?

Acredite ou não, eu posso, confortavelmente, terminar uma edição em 3 semanas. Então foi por isso que eu achei que 8 edições até o meio de Junho, que era o prazo final da edição 100 terminada, seria o suficiente. Era possível, mas esqueci de contar fatores como viagens e feriados, coisas assim (risos). Eu instantaneamente tive de pisar no freio e dizer “Eu tinha isso aqui, e terei isso aqui”. De alguma forma, tive de correr, e acabou sendo bem apressado.

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Mas se eu tenho 3 semanas livres, é muito fácil de fazer. A não ser que seja, literalmente, um exército de zumbis vindo pelas colinas em todos os painéis (risos). Ou coisa do tipo. Em geral, as edições são fáceis de fazer. Tive uma convenção em Londres, a “Kapow!”, em Maio e duas semanas antes dela eu tinha pensado “não seria legal se a edição 99 saísse antes da Kapow!?”. Tive duas semanas para fazê-la, e fiz. A edição 99 foi a edição de duas semanas.

Olhando pra ela, não dá pra dizer que foi feita emu ma semana a menos que as outras. Eu gostei de como ela saiu.

As pessoas dizem “como você dá conta?”. É simplesmente disciplina. Eu não levo muitas horas pra fazer o que faço. As crianças vão para a escola, eu começo a trabalhar depois de 08:30. Eu fico erolando um pouco no começo e eventualmente  pego o ritmo. Faço uma pausa na hora do almoço, geralmente vou à academia prameio que acordar um pouco. Faço um turno à tarde, e quando dá a hora do jantar, termino. Janto com as crianças e passo o resto da noite com eles.

A única vaga mudança no ano passado foi que eu tenho uma tendência a levantar mais cedo nos finais de semana, quando está bem fresco e calmo. Eu trabalho por umas duas horas, talvez no sábado ou no domingo. Não é muito trabalho e eu termino antes de as crianças levantarem pra tomar café.

Segredo, mas esse é um dos melhores horários para trabalhar e eu realmente gosto disso. Acordar cedo. Eu sempre fui um cara da manhã, de qualquer forma, mesmo na faculdade e coisas assim, eu nunca fui de ficar dormindo. Tenho um relógio biológico bem chato… porque levantamos às 06:45 pra levar as crianças pra escola durante a semana… então eu acordo nesse horário durante os finais de semanas também. Então ou eu ficaria deitado na cama, acordado, o que não faz sentido, ou eu levantaria e faria alguma coisa.

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Você se deu muito bem até aqui. São quase 100 edições. Niguém tinha visto isso. Como você se sente sobre seu trabalho e sua experiência até agora, com quase 100 edições?

(suspiro…)

(risos) Vamos lá, é uma pergunta fácil!

(risos) É uma coisa que eu sempre quis fazer, na verdade. Trabalhar em algo por muito tempo. Basicamente porque eu sou capaz de fazê-lo. Eu amo a ideia de conhecer tão bem os personagens que você pode quase desenhá-los em seus sonhos enquanto dorme.

É algo que eu sempre quis fazer. Eu cheguei bem perto com O Arquivo X, mas essa HQ se tornou tão chata no final que não era mais divertido desenhá-la. Eu acabei saindo indiferente. Eu não tive minha chance, no fim das contas. Mesmo que eu tenha feito um número significativo de edições, não era a coisa épica que eu queria fazer.

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Com The Walking Dead, no início, eu não tinha ideia se ainda a estaria desenhando 8 anos depois. Mas, é claro, a ideia estava lá na cabeça de Robert e, na minha, eu sabia que era uma série já começada e que se nos saíssemos bem, poderíamos continuá-la. Então, sim, sempre tive essa ambição em mente.

É estranho. O que posso dizer? (risos). Fico quase sem fala quando penso no impacto que isso teve na minha vida, de verdade. Mais do que qualquer outro projeto que já fiz. É bem incrível.

Mas, é claro, só completarei minha centena na edição 106, com certeza. Essa será minha centésima. Então eu digo que é melhor a celebrarmos também (risos).

Ah, nós iremos. Essa será a próxima número 1.

Exatamente (risos).

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– Fonte: Multiversity Comics

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