Série
“Live Bait” vs. “A Ascensão do Governador”: Uma análise sobre o sexto episódio da 4ª temporada
Sobre o episódio 6 da quarta temporada de The Walking Dead e o livro A Ascensão do Governador – como fazer um episódio de fãs para fãs.
Por @BinaPic
Passada a surpresa da demissão de Glen Mazzara ao final da terceira temporada de The Walking Dead e o anúncio de Scott M. Gimple como o novo showrunner do seriado, algumas especulações sobre o que estava por vir começaram a ser feitas. Gimple, fã confesso de The Walking Dead desde muito antes de fazer parte do time de roteiristas, foi o responsável por alguns dos episódios mais memoráveis da série, tais quais “Clear”, na terceira temporada, e “Pretty Much Dead Already”, a midseason finale da segunda temporada. Será que teríamos um reencontro da série com suas origens na HQ e nos livros, finalmente? Declaradamente, esta sempre foi a intenção de Gimple – inclusive conseguindo convencer o próprio Robert Kirkman a aceitar esta aproximação.
O sexto episódio da quarta temporada foi um dos melhores exemplos de como inspirar-se no material original de The Walking Dead e adaptá-las ao atual contexto da série. As referencias ao livro “A Ascensão do Governador”, de Robert Kirkman e Jay Bonansinga, brotavam na tela a todo momento. O deslocamento temporal da história veio totalmente a serviço do personagem, no atual contexto, e pode servir como base ao desfecho do arco do Governador de maneira satisfatória e consistente, como tentarei explicar mais adiante.
Enquanto a história de “A Ascensão do Governador” ocorre antes dos eventos que nos levam a Woodbury, ao encontro com o grupo de Rick e ao arco da prisão, na série várias referências a estes acontecimentos são feitas algum tempo após a tentativa frustrada de invasão da prisão, o massacre do exército de Woodbury e a fuga do Governador. Depois de ser abandonado por seus comparsas e perambular por tempo indeterminado ele chega a um apartamento, onde vivem duas mulheres, um senhor doente e uma garotinha – bastante semelhante ao local onde desenvolve-se a primeira parte do livro. Ao apresentar-se para as mulheres no apartamento, o Governador diz que seu nome é “Brian”- uma alusão a um dos nomes que o Governador lê nas paredes do celeiro por onde ele passa no começo da temporada. O nome também é mencionado em “A Ascensão do Governador”, onde Phillip e Brian Blake são irmãos, e Brian acaba tendo um papel crucial em uma das reviravoltas mais impressionantes da história. Tara, uma das mulheres que vivia no apartamento,entra em confronto com Phillip Blake (o que também ocorre no livro, mas de uma maneira mais intensa); Don, o senhor idoso com problemas respiratórios e que morre no apartamento, também tem sua história inspirada no livro; por fim, a garotinha que aparece na série, Megan, é inspirada, em parte, em Penny, filha de Phillip – uma garota quieta, tímida e arredia, como descrita na obra de Kirkman e Bonansinga. Na série, vemos um Governador estabelecendo um vínculo com Megan, de certa forma projetando nela a própria filha e, naquela família, a sua família outrora perdida. Megan é filha de Lily, outra personagem que também aparece não apenas nos livros como também tem um papel crucial na HQ por ocasião da invasão da prisão. Entretanto, há claras diferenças entre o relacionamento dela com o Governador na HQ e no seriado. Se este relacionamento se transformará ao longo dos episódios e se Lily terá o mesmo destino de sua equivalente na HQ ainda veremos.
Por que acredito que estas referências ao livro neste ponto da história poderão influenciar em uma possível invasão à prisão, onde o grupo de Rick ainda se encontra, e de uma maneira mais consistente do que simplesmente por vingança? Baseado nas declarações de David Morrisey (intérprete do Governador na série) no programa Talking Dead, o Governador projetou naquele grupo a sua própria família, com destaque à pequena Megan – sua Penny 2.0. Aquelas pessoas conseguem resgatar no personagem um lado bom que estava sufocado sob toda a armadura do Governador – o homem amoroso, protetor e pai de família que, muito provavelmente, ele era antes do apocalipse zumbi. Mais do que uma vingança contra Rick e seu grupo, sua prioridade agora é proteger estas pessoas – e que lugar melhor, neste momento, do que uma prisão para mantê-las a salvo? Sim, “aquela” prisão… Segundo Morrissey, tomar a prisão de Rick para proteger sua nova família (vale lembrar que ele, teoricamente, parece não saber que as pessoas lá dentro estão sendo dizimadas por uma epidemia), depois de tanto tempo, faria muito mais sentido do que simplesmente ataca-la por vingança, uma vez que ele sequer parece estar pensando em Rick, Michonne e no resto do grupo – os fantasmas que o assombram naquele momento são os que ele próprio criou, após a chacina do grupo de Woodbury no final da terceira temporada e nada tem a ver com o #TeamPrisão. Parece ser uma teoria interessante. Veremos até onde durarão as boas intenções do personagem e como isso se aplicará na prática ao longo dos próximos episódios.
Uma coisa, no entanto, é fato. Scott M. Gimple e seu grupo de escritores fizeram neste episódio um enorme serviço aos fãs – este grupo pegou uma história que acabou por tornar-se rasa e fragmentada ao longo da terceira temporada (a história do Governador) e está dando-lhe consistência. Sua matéria-prima: o material original de The Walking Dead, livros e HQ. Seu objetivo é o de nos mostrar cada um dos personagens em profundidade, e não apenas como máquinas matadoras de zumbis, unidimensionais e sem história, assim como apresentar um enredo sem tantas pontas soltas. Haverá ação? Sem dúvida, mas podemos esperar, baseado no que estamos vendo até o momento, que esta ação não será vazia, e que as matanças terão um significado maior. Mais do que isso, ao ver um episódio como “Live Bait”, fica aquela sensação de estarmos vendo algo feito “de fã para fã”, alguém que conhece a história a fundo e que quer transmiti-la de uma maneira convincente ao público, ainda que a série seja uma obra “independente” das demais mídias, tenha seu próprio desdobramento e até mesmo personagens originais. Misturar estes dois elementos – os momentos icônicos dos livros/HQ e os momentos originais da série de TV – e contar com a aprovação da horda de fãs ao redor do mundo parece ser uma missão das mais difíceis, porém, até o momento, parece que o objetivo está sendo alcançado. Parabéns, Sr. Gimple!
O que você achou do sexto episódio? Será que o Governador agora é outra pessoa? Ele realmente vai conseguir esquecer Rick e a Prisão? O que você espera dos dois últimos episódios da primeira metade da quarta temporada? Deixe sua opinião e teorias abaixo.