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1ª Temporada

David Boyd Fala Sobre Seu Trabalho em The Walking Dead

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David Boyd já filmou 10 episódios da série altamente popular da AMC, “The Walking Dead” e também dirigiu o sexto episódio da segunda temporada, “Secrets” (Segredos).

As séries da AMC “Mad Men” e “Breaking Bad” estão entre os seriados mais prestigiados do canal ao longo dos anos, mas The Walking Dead, agora em sua segunda temporada, tem mais espectadores que as outras duas, combinadas. Na verdade, o episódio de estréia da segunda temporada de The Walking Dead foi o drama mais assistido na história da TV a cabo comum.

David Boyd foi o Diretor de Fotografia daquele episódio, entre os outros 10 os quais ele já filmou até agora.

Alguns de seus outros créditos cinematográficos incluem “Without a Trace” (48 episódios), “Friday Night Lights” (25 episódios), e todos os episódios de “Firefly”. Além de The Walking Dead, ele já dirigiu seis episódios de Friday Night Lights, e sete de Men of a Certain Age.

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David não tinha interesse em filmes quando ele era um especialista em física da Universidade da Califórnia, San Diego, mas ele pegou a matéria mais fácil que pôde achar no catálogo para preencher um requerimento da área de humanas. Tal matéria acabou sendo uma aula sobre cinema, e o professor – Jean-Pierre Gorin (Tout Va Bien, com Jean-Luc Goddard) – o lançou em um novo caminho.

Depois de se formar pela UCLA Film School, ele começou a subir e subir no departamento de câmeras, e ao mesmo tempo filmava documentários. Mais recentemente foi o responsável pelo fotografia do filme “Joyful Noise” com Queen Latifah, Dolly Parton e Kris Kirstofferson, e dirigiu e fotografou o filme “Home Run”, ambos a serem lançados em 2012.

Debra Kaufman, da Creative COW falou com David sobre seu estilo de filmagem, iluminação, escolhas de lentes e sobre ficar fora do caminho dele.

Eu não tenho muita certeza de como fui trago para trabalhar em The Walking Dead. Acho que os principais votos vieram do roteirista/diretor/criador Frank Darabont, da produtora executiva Gale Anne Hurd, e produtor Tom Luse. Quem quer que seja que eles fossem escolher, tinha que estar apto a ser rápido e bom. Consegui o trabalho mesmo sem nunca ter trabalhado com Frank no passado mas, depois de ter colaborado com ele agora em The Walking Dead, eu sei que ele é um verdadeiro cineasta.

O diretor de filmagem David Tattersall filmou o primeiro episódio de The Walking Dead, no qual eu não estava envolvido. Eu sei que eles testaram cada câmera do mercado durante mais ou menos uma semana. Eles inicialmente pensaram em usar a RED ou outra câmera digital, talvez até 35mm. Alguém então pensou em levar alguns rolos de 16mm e, quando eles tentaram com aquilo, descobriram que dava uma certa textura e efeito granulado que garantiam ás maquiagens e efeitos de zumbis um tom mais real.

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Eu filmei o piloto e todos os episódios de Friday Night Lights em 16mm, com três câmeras portáteis, mas não acho que foi minha experiência com 16mm que me deu o trabalho em The Walking Dead. Eles precisavam de alguém que pudesse entregar a série a tempo e dentro do orçamento, e ainda ficar ótima, e demonstrei que eu podia fazer aquilo com consistência, com uma longa lista de projetos anteriores.

Meu tempo como diretor de filmagem de The Walking Dead começou com o segundo episódio da primeira temporada. Desde então, filmei os últimos 5 episódios da temporada passada, e os primeiros 5 dessa segunda. Eu então dirigi o sexto episódio dessa temporada intitulado “Secrets”. Como eu estava programado para dirigir o filme Home Run pouco tempo depois disso, o diretor de filmagem Rohn Scmidt veio para completar os oito episódios restantes.

(Home Run, que foi feito em widescreen em Oklahoma em outubro, é a história de um jogador da liga principal de baseball no auge de sua carreira que é suspenso por mau comportamento; quando ele volta para casa pra prestar serviço comunitário, acaba descobrindo que tem um filho de dez anos.)

Dirigir o episódio “Secrets” em The Walking Dead foi uma ótima experiência. The Walking Dead é uma série renomada, então bons diretores passam por ela. Mas eles só estão lá por algumas semanas, e não há como eles absorverem o seriado completamente e entender a sua essência. Eu sou o único diretor que estava durante o seriado a cada minuto de produção desde sua concepção. Todos no set se conheciam muito bem – na verdade, somos como uma família – e fluiu muito bem.

Psicologicamente, “Secrets” é um episódio intrigante. Todos os personagens principais estão guardando segredos; alguns estão guardando uns realmente importantes que afetam o grupo todo. Cada um tem sua razão para guardar tais segredos, logo fica óbvio que se eles precisam sobreviver, tanto em grupo como separadamente, os segredos tem que vir à tona.

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Eu me diverti muito filmando os zumbis/errantes no celeiro, já que era a primeira vez que a história tinha nos levado lá. No fim do episódio, Rick e Lori Grimes tiveram uma cena maravilhosa na qual eles tiveram que decidir se eles ainda se amavam e se deviam continuar guardando segredos um do outro se quiserem que o casamento continue firme. E eles saem mais fortes disso, como resultado. Eu amo essa ideia para um episódio, em um cenário épico de uma história de sobrevivência física.

FILMANDO

Para filmar The Walking Dead, usamos câmeras Arriflex 416, que incidentalmente encarnam o auge do desenvolvimento das câmeras 16mm. É um pouco triste pra mim porque as câmeras 16mm vem sido usadas ao longo de décadas e está definitivamente desaparecendo no horizonte atrás de nós.

Mas essa câmera, que foi lançada em 2006, é o organismo perfeito: leve e rápida. São câmeras brilhantes, um sistema 16mm completamente evoluído. Esses mecanismos são o que fazem projetos como The Walking Dead possíveis de serem bem produzidos. Porém, a Arriflex não fabrica mais essas câmeras e eu não conheço nenhum outro fabricante que ainda está fazendo câmeras a base de filmes. Cara, o 16mm nunca vai ficar por baixo! Temos câmeras da Panavision Atlanta, que recentemente abriu uma filial em Georgia porque há muita produção de filmes por lá. Na temporada passada conseguimos as mesmas câmeras pela Panavision Dallas. Ambas as temporadas de The Walking Dead foram filmadas em Geórgia; a primeira temporada foi filmada bem em Atlanta, e a segunda nos localizamos em Senoia, mais ou menos uma hora ao sul de Atlanta.

Eu sempre fui a favor de ter três câmeras mas eu só consegui a terceira um tempo depois. Ter três câmeras é bem melhor do que apenas duas porque a terceira lhe proporciona ângulos únicos, que você não teria tempo de fazer quando se tem apenas duas câmeras.

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A terceira câmera é camuflada e cautelosa, e faz cenas que contam a história como nenhuma outra. Com uma câmera A ou B, todos estão controlando e o que se consegue são as imagens normais, sem nada de especial. Diretores e produtores ainda querem takes medianos, apesar de eu achar que eles são a morte do cinema.

Com a terceira câmera, posso fazer algo fora do padrão, algo que entra dentro do que esses personagens estão pensando, algo que acho aquilo que eles estão olhando ou procurando com suas mãos, ou não achando nada, ou pensando. É uma chave que abre a porta para algo bem no fundo da psique desses personagens que não se consegue com takes gastos e convencionais.

Aqueles que trabalham com isso foram treinados pela experiência ao longo dos anos que não se deve levar pra casa cenas que não tem ângulos com close, medianos, bem trabalhados e dignos de mestre. Eles não são contratados novamente se não conseguirem realizar essas cenas. Mas a terceira câmera é o que te possibilita algo excelente. Friday Night Lights, mesmo tendo baixo orçamento, tinha uma terceira câmera todos os dias, porque os produtores conheciam o seu poder.

Geralmente, se há oito pessoas conversando em uma cena eu iria usar a terceira câmera e chamar toda a equipe. Se fosse uma cena com apenas três pessoas conversando, eu usaria só duas câmeras. Mas eu poderia ter usado a terceira câmera muito bem, todos os dias. Se você gasta um pouco mais de tempo tendo uma terceira câmera, esse tempo é bem gasto.

DEIXE-OS À SOLTA

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Eu gosto de abordar cada novo projeto de forma única. Não tenho interesse em fazer imagens que podem ser identificadas como aquelas que eu filmei. Prefiro que os telespectadores não reconheçam a cinematografia, mas que respondam a ela inconscientemente.

Quando se diz respeito a movimentar a câmera, pessoalmente, eu sou a favor da abordagem que seja apropriada para a cena ou projeto. Com The Walking Dead, eu tentei escolher o jeito perfeito para as cenas, e então executá-lo da melhor forma possível. As vezes iríamos focá-la, as vezes usaríamos um carrinho dolly, as vezes usaríamos câmeras portáteis. [“lock it down” e “dolly” são termos específicos quando se trata de filmagem e tudo mais]

É justo dizer que Frank Darabont é quem se sente mais confortável colocando câmeras em dollies, fazendo movimentos legais com a câmera, ao invés de usar as portáteis. É interessante notar que o primeiro episódio da temporada passada levou 16 dias para que filmássemos um segmento de 44 minutos, e nele só havia duas pessoas falando.

O primeiro episódio no qual fiquei encarregado da fotografia ano passado tinha 14 personagens e 8 dias para filmar os mesmos 44 minutos. Em termos de conceito de filmagens, é uma diferença enorme. Como resultado, na temporada passada fizemos uma boa quantidade de tomadas com câmeras portáteis, e o pessoal acabou gostando.

Não acho que deva existir um consenso do que é bom ou ruim em termos de movimentação de câmeras. Acredito que o material com o qual se trabalha deva formar o processo, não o contrário. Eu gosto de sair do caminho dos atores. Não gosto de ficar na cara dele ou dela. Gosto que eles tenham um espaço próprio para poderem fazer o seu trabalho. Coisas boas acontecem como resultado dessa tal liberdade. Se você atrapalhar os atores, tudo se torna entediante, e o trabalho se torna apenas um… trabalho.

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O mesmo vale para as lentes. Eu gosto de gastar o mínimo de tempo possível lidando com equipamento. A história é que é fundamental. Eu queria apenas uma lente disponível para colocá-la nas câmeras. Se ela não servisse, teríamos que fazê-la servir e dar certo. É uma questão de fazer uma escolha conceitual e viver ou morrer com ela, como entrar num barco, cortar a corda e ir navegando no vasto, desconhecido oceano. Não havia nenhuma lente especial.

Filmamos toda a série com uma lente, a Canon 10.5-168mm. Ela proporciona tomadas mais largas, mas mesmo estando a vários metros, dá pra captar tudo perfeitamente da mesma posição. Essa escolha simples acabou sendo a perfeita para The Walking Dead.

Eu digo aos operadores – e temos três dos melhores por aí: Mike Satrazemis, Chirs Jones e Glen Brown – se você vê uma atuação boa acontecer e tem a liberdade de captá-la como operador, então corra até lá e filme. Nós não iremos pedir pra um ator repetir tal atuação brilhante. Podemos sempre fazer tomadas que abrangem tudo, mas se tiver alguma coisa emocionante acontecendo, então a filme.

Os operadores sabem que eles podem fazer isso sem entrar em problemas. Isso dá liberdade pro programa e pra toda a empresa responsável. Não há erros a serem feitos. Se não é algo que queremos, falamos sobre isso depois da tomada, mas não há penalidades ou inquisições. Eu amo meus operadores e os responsáveis pelos dollies, Franc Boone e Mike Besaw, e os dou liberdade total.

Essas pessoas tem muita experiência, e quando as câmeras estão trabalhando, eles são as únicas pessoas que podem capturar certo momento na hora exata. Você sabe quanto tempo eles passam no set? Provavelmente 50 vezes mais que um produtor. Eles sabem exatamente o que está acontecendo. Eles estiveram por perto, e sendo controlados, desnecessariamente, no passado. Eu digo, deixe-os à solta. Eu digo, contrate bons profissionais e deixe-os fazer o que sabem o que precisa ser feito.

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FONTES DE LUZ

Assim que tudo começa a ficar extremamente artificial, eu perco o interesse.

Adoro fontes de luz, adoro ficar imaginando de onde essas luzes estão vindo. Para interiores durante o dia, eu gosto de botar muitas velas sobre as janelas e deixar com que elas iluminem todo o ambiente. Você sempre pode encontrar um jeito de para aquela certa qualidade de luz sobre o rosto das pessoas. Parece que o set está sendo iluminado naturalmente.

Em The Walking Dead, tinhamos Maxi Brutes de 9 luzes, carregado com lâmpadas firestarter, que são globos estreitos selados de 1200 watts, parecidos com luzes de pouso de aeronaves. Essas unidades emitiam bastante luz por uma janela bem rápido. Quando os mesmos podem ser usados individualmente se tornam meus instrumentos de luz preferidos.

Também gosto de ter Lekos ao meu dispor. Essas são ótimas luzes porque você pode usá-las para formar qualquer forma em uma parede. Você pode criar o efeito da luz do sol entrando pela janela, atingindo um espelho e adentrando a sala.

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Eu operei uma vez para um grande diretor de filmagens, James Glennon, ASC, que uma vez trouxe vários espelhos pequenos e deu um pra cada departamento. O pessoal dos suportes, o departamento de arte, de figurinos, todos ganharam um espelho. Ele então convidou todos pra dentro do set, e pediu para cada um por o espelho no lugar onde achariam que seria criado o melhor tipo de luz. Houve até uma competição pra ver quem colocou o espelho em tal lugar, mas acho que quem ganhava mais era o pessoal dos figurinos.

Manter a iluminação simples nos ajuda a trabalhar mais rápido e melhor. Nós construímos um programa bem bonito, que nunca superava as 12 horas de trabalho por dia, e geralmente filmando dez páginas do roteiro por dia.

DESAFIOS

O maior desafio em filmar The Walking Dead é o clima. O verão em Geórgia não é brincadeira – e nós estávamos do lado de fora, expostos, todos os dias, o dia todo, por meses.

Ao mesmo tempo, nas florestas onde estamos nessa temporada, há todo o tipo de inseto e planta venenosa que se possa conhecer. Você está nas florestas, usando poucas roupas por causa do calor e da umidade, mas cada parte exposta da sua pele está sendo comida viva. Não é mentira. Uma hora ou outra, uma pessoa desmaiava. Dá pra imaginar como as pessoas com a maquiagem de zumbi completa estavam quentes?

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Esse era o maior desafio. O resto é bem direto e todo mundo que já fez isso sabe o que fazer e quando. Resolvemos problemas o dia todo; é disso que se trata todo o processo. Eu constantemente tenho que decidir se continuamos com algo que estamos fazendo, com a idéia de que há algo bom se tomamos certo caminho, ou se cortamos e fazemos mais rápido. Preciso sempre tomar decisões do tipo. Se começa a chover, eu tenho que ter um plano, e meu voto é quase sempre em continuar a cena.

Meu herói Conrad Hall, ASC, costumava dizer que as melhores imagens são as que você deixa acontecer por acidente. Você apenas fica enrolando um pouco até acontecer. Deixe que aconteça. Quando acontecer você saberá.

Em The Walking Dead, isso acontece 400 vezes por dia – desde que você não controle, mas deixe as pessoas fazer o que elas pretendem fazer. Nunca perca de vista o que você precisa ter conseguido no fim do dia, mas não acelere ou fiquei preocupado. Quer acontecer, então deixe.

ALÉM DOS CRÉDITOS FINAIS

Agora e pelos últimos anos há muitos conceitos e materiais bons na TV que merecem ser feitos, e The Walking Dead é um deles. Porque eu já vivenciei tantos projetos, desde carregador de filmes até diretor, do grande ao pequeno, eu sei que há programas com orçamentos enormes sem qualidade alguma, e outros mais simples com idéias fantásticas.

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Eu fui responsável pela fotografia em um curta de 2003 chamado Two Soldies. Ninguém recebeu nada. Fizemos somente por amor ao cinema, e o maldito acabou ganhando o Oscar de Melhor Curta em 2004. Eu ainda considero um dos trabalhos mais especiais de minha carreira.

Uma vez ou outra ganhamos a chance de contribuir para um projeto que acaba fazendo parte da história do cinema, eu já trabalhei em vários desses como Re-Animator, N.Y.P.D Blue, Deadwood, Cast Away, entre outros. Eu sou inspirado pelo processo assim que minha mente cria algo único e que marca as pessoas. Eu fico satisfeito profissionalmente quando a experiência dos telespectadores com o filme não termina nos créditos.

Minha filosofia de filmagem é continuamente mudar e ajustar de acordo com o que pede um novo projeto, mas é justo dizer que eu tento não ficar ligado a uma visão particular antes de filmar um projeto – e então resisto com todas as minhas forças para não me afastar dele depois de ter começado.

Eu também tento aprender algo bom sempre, mesmo que o programa ou filme não tenha qualidade alguma no sentido de história. O mais importante pra mim no momento é tentar pegar projetos que possam provocar algum tipo de reflexão. Prefiro dizer não para um monte de lixo de 80 milhões de dólares do que recusar de me encarregar da fotografia de uma bela história.


Fonte: Creative Cow
Tradução: Arthur Ribeiro / Staff WalkingDeadBr

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