Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do sexto episódio, S09E06 – “Who Are You Now?”, da nona temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Não podemos ser injustos, Angela Kang tem sido uma das melhores showrunners que The Walking Dead já teve. Disputando com Darabont e deixando Mazzara e Gimple para trás – e bem para trás. Os seis primeiros episódios são um mar de emoção ao mesmo tempo que desenvolvem um enredo repleto de coesão e encaixes surpreendentes. “Who Are You Now?” não foi diferente e manteve uma qualidade superior ao que nos foi apresentado nos anos anteriores da série.
O episódio nos mostra as mudanças distintas nos três novos principais personagens da série: Michonne com uma postura totalmente oposta ao que tinha no pré salto temporal, sendo dura e ríspida nas palavras; Carol aparentando ser uma mulher aberta aos sentimentos e doce e Daryl, um homem isolado e perdido em sua própria existência.
Como já dito na semana passada, precisamos atentar para o fato de que na atual linha temporal, os personagens já sobreviveram 200% a mais sem Rick do que com ele. Com Rick, Carol e Daryl sobreviveram três anos, após o xerife se passaram mais seis anos. Então, por óbvio, embora a presença do cowboy seja marcante em seus dias, muito daquilo que Rick construiu com todos em seus caráteres já não é mais parte deles.
Carol foi do oito ao oitenta nesse episódio, na verdade. Depois de vermos uma pacífica mulher cheia de afazeres em uma comunidade que lidera, vemo-la como mãe preocupada de Henry. Aliás, não há como não citar, depois de Melissa McBride ter contracenado com Madison Lintz (Sophia) nos dois primeiros anos, é tão animador ver que Henry foi interpretado pelos dois irmãos da atriz, antes Macsen Lintz e agora Matt Lintz.
Ela se tornou a rainha do arco e flecha e ao mesmo tempo, parece ter cedido a posição de mãe que faria tudo para não perder um filho. Quando ela se rende aos Salvadores e lhes entrega seus pertences, é notável que a personagem está totalmente distante da Carol que vimos se desenvolver desde a prisão. E é então que a reviravolta acontece. Henry não aceita a posição da mãe e despeja sobre ela toda sua ira e indignação de vê-la retroceder.
As palavras do jovem parecem despertar ela para o entendimento de que, por mais que ela queira lutar contra si mesma, ainda há nela algo que a ligue a quem ela era. Afinal de contas, quem ela é agora e o que isso a diferencia do seu passado? Carol, numa das melhores cenas do episódio, caça os homens que a saquearam, recupera todos os pertences e os incendeia usando etanol e um fósforo. Sim, Carol está viva e sai andando plenamente enquanto ao fundo vemos as chamas consumirem os Salvadores aos gritos.
Daryl é o personagem que menos vemos no episódio, mas não é por isso que passa despercebido. Notar que ele se afastou de todos o leva ao Daryl dos anos iniciais. Ele está vivendo em uma barraca mal estruturada, com um poncho improvisado e se alimentando daquilo que a natureza vez ou outra lhe oferece. Um pássaro chama sua atenção ao alimentar seus filhotes com uma larva – tirada da cabeça de um walker. O que isso significa? Se aquele walker não estivesse ali no momento, talvez a mãe pássaro não tivesse encontrado uma larva para alimentar seus filhotes. Às vezes coisas aparentemente ruins para nós podem ser benéficas para quem vem a nossa frente. Isso nos remete diretamente à cena de Sasha na ilusão de Rick, quando ela lhe lembra de que por mais que as coisas não foram suficientemente boas para eles, isso não lhes impedia que continuassem lutando para buscar construir um futuro para aqueles que vinham depois deles.
No fim, os enredos de Carol e Daryl convergem, já que ela desvia do caminho de Hilltop – pra onde estava levando Henry para ser aprendiz de ferreiro – para encontrar o amigo. Ambos se entreolham e ela lhe convida para acompanha-los.
Na contramão, temos o desenrolar do fim do episódio passado, com Judith apresentando para Alexandria os recém-chegados. A alegria da garota dura pouco e Michonne, junto a Aaron e Gabriel definem que terão que julgar a possibilidade ou não de Magna e seus aliados permanecerem na comunidade. Esse já é um ponto interessante da história, já que esclarece que Alexandria agora é liderada por um conselho e não por só uma pessoa – embora ainda seja Michonne que tenha o voto com maior peso.
O confronto entre Michonne e Magna no episódio é espetacular. Duas mulheres de personalidade forte e dispostas a tudo para atingirem seus interesses. A cena em que a samurai desmascara a “garçonete” é surpreendente e demonstra o quão ativo ainda estão os sentidos de Michonne para a mentira. A cena lembra muito seu enredo do terceiro ano, quando ela desmascarou o Governador.
Magna é confrontada pelos próprios companheiros quanto a sua idoneidade e seu modo de agir. Connie – a personagem surda-muda que enriquece a história ainda mais – é uma das que a condenam veementemente sobre sua insistência em achar possível lutar contra os moradores de Alexandria, a lembrando que existem crianças no local. Durante a madrugada, Magna vai até a casa de Michonne disposta a mata-la, mas observa pela janela sua inimiga com uma criança no colo – e não, não é Judith, a surpresa de Magna foi nossa surpresa também – o que a faz retroceder.
Começo a falar de Judith, pois acho que a personagem está sendo a primeira criança bem construída no apocalipse zumbi. Em todas as suas cenas a garotinha bateu frente a frente com os adultos e não de uma forma birrenta e sim como alguém ciente do que é correto, disposta a defender sua verdade até o fim. Destaco duas cenas: a com Negan, na escada, em que vemos que a garotinha e o antigo vilão mantém uma amizade – e a referência do avião A e B – e que ela se demonstra totalmente contrária ao jeito de pensar dele e, quando ela tem um diálogo com Michonne, depois de Magna ir até a casa e entregar um canivete.
Essa segunda cena é bastante marcante. Judith diz que está começando a esquecer da voz de Rick e de Carl, que ela tenta ouvi-los, mas aparentemente a voz deles já não é mais tão presentes. Nesse momento ela encara a mãe e lhe pergunta o que ela fará quando deixar de escutar a voz dos dois. Claro que tudo foi parte de um jogo de astúcia da pequena para abrir os olhos de Michonne para o fato de que ela estava agindo totalmente adversa ao que o marido e o filho esperariam dela. Judith, apesar de ser praticamente um bebê na época que Rick e Carl morreram, parece conhecer profundamente a essência dos dois.
No dia posterior, todos estão se despedindo do pequeno grupo de sobreviventes, até que Michonne – após uma cena questionável envolvendo uma cicatriz – surge em seu cavalo dizendo que houve uma mudança nos planos. Que guiará os sobreviventes até Hilltop, já que a líder do local provavelmente os aceitaria na comunidade.
Mas se o nome de Lauren Cohan foi retirado dos créditos, como será a continuidade de Hilltop e quem é essa líder? Pode ser que a comunidade da montanha siga sendo meramente mencionada e os personagens que continuaram ligados à série apenas apareçam fora dela. Mas acho pouco provável e apenas dois nomes femininos conhecidos pela audiência são prováveis para desempenhar tal atividade: Tara, já que não aparece em nenhum momento em Alexandria e Enid. Tara por ser uma das personagens vivas mais antigas da série e que até agora não tinha recebido destaque e Enid, pelo fato de que, após o salto temporal já estar com aproximadamente 21 anos e ser uma das pessoas mais intimamente ligadas à Maggie.
Pelo que Michonne fala, eu apostaria em Tara, já que é da índole da personagem estar aberta a receber pessoa desde que foi acolhida por Glenn após a queda da prisão. A samurai afirma categoricamente que a tal líder de Hilltop é totalmente aberta para novos sobreviventes.
Por fim, precisamos comentar o arco que envolve Rosita e Eugene. Alheios a todos os acontecimentos em Alexandria, descobrimos que Rosita e Gabriel estão tendo um caso – e sim, isso chocou a audiência. O padre está confiante que do lado de fora dos muros da cidade existem coisas muito interessantes e que, se eles desenvolvessem um sistema de rádio conseguiriam amplificar o mundo que conhecem. Rosita e Eugene se encarregam de fazer a instalação de uma antena em algumas caixa-d’água.
No caminho vemos claramente que Eugene ainda nutre um sentimento forte por Espinosa e que está envolto em uma trama de ciúmes. No caminho para o local demarcado, enquanto discutem a relação, percebem uma trilha grandiosa deixada por uma horda aparentemente grande de walkers.
Eles chegam à caixa-d’água, Eugene começa a escalada para o topo do local, até que ao olhar para o horizonte enxerga uma horda se aproximando. Os dois se desesperam, o que faz o cientista tentar descer apressadamente do local. Eugene cai e machuca o joelho. No fim eles conseguem correr à frente dos mortos e se esconder em meio à lama. Quando a horda passa por eles, ambos ouvem “Onde eles estão? Devem estar perto. Não deixem-nos fugir”. Sim, chegaram os Sussurradores.
O episódio demonstra uma ótima dinâmica mesmo sem a presença de Rick. Angela Kang acertou totalmente em trazer a ideia de um protagonismo diluído, mesclando fatos do passado para refletir na personalidade atual dos personagens.
O arco dos Sussurradores é um dos que mais prendem as expectativas, e se bem acertado, pode trazer uma maturidade interessante para o enredo. O problema está em o arco ser morno ou mal executado. Se isso acontecer, não haverá personagem que segure a trama.
Como um todo, ver Judith assumindo a carga de Carl tem sido gratificante e a personalidade forte da garota, que já havia sido demonstrada desde sua estreia ao final do episódio passado, é um acerto. É a primeira vez que noto uma criança com maturidade de sobrevivência e mentalidade disposta a entender o certo e o errado. Tomara que sigam a representado dessa forma e que não ocorra uma involução.
O pequeno filho de Rick e Michonne traz um peso dramático para a série. De um lado da balança temos algo que fomenta Michonne a seguir lutando ainda mais e que pontua o xerife em sua vida. De outro lado, vemos uma mulher que além de todo o sofrimento inerente à sobrevivência, precisa criar duas crianças sozinha.
Quanto a Carol – ainda estou tentando me acostumar com o cabelo – espero que a personagem consiga equilibrar um enredo entre suas novas perspectivas e seu passado de mulher destemida. O curioso na personagem, é que entre os três protagonistas, ela é a que mais se aproximou do que Rick esperava para o futuro (ao menos até a parte em que ela incendiou os Salvadores). Enquanto Michonne e Daryl se fecharam para o novo, ela parece ter comprado a ideia do amigo desaparecido.
Depois desse episódio, o questionamento mais presente foi: Será que a vontade de Rick se concretizou? Aparentemente não tanto quanto ele queria, mas em partes, influenciou a sobrevivência de todos até ali.
Entre os comparativos com os quadrinhos, além do sucesso dos Sussurradores, espero que Magna e seu grupo receba uma atenção melhor do que nos impressos. O grupo chega as HQ’s como se fossem personagens de grande impacto e agora, mais de cinquenta edições depois, continuam sendo meros coadjuvantes sem utilidade alguma para a trama.
The Walking Dead parece ter achado um rumo bem interessante para se guiar distante de seu protagonista. Tanto é que, seja pelo tanto que chamou atenção ou por realmente não ter ocorrido, não consegui destacar qualquer erro ocorrido no quesito coesão e construção de cena. Aliás, o que fora criticado na semana passada quanto aos problemas de posicionamento de câmeras parece ter sido corrigido.
Depois de anos, a série está conseguindo deixar os fãs ansiosos pelo próximo domingo novamente. A cada episódio há novos enredos repletos de questões que geram curiosidade e elevam as expectativas da audiência. Espero que consigam seguir esse ritmo.
E você, o que achou do episódio? Acha que é possível prosseguir sem Rick no comando? Vote em nossa enquete e comente abaixo quanto a sua opinião.
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