Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do terceiro episódio, S09E03 – “Warning Signs”, da nona temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
The Walking Dead está conseguindo alcançar uma coesão de enredo que não era vista desde a sexta temporada. Como já comentando na semana passada, parece que os passos curtos de Angela Kang têm sido eficientes para desenvolver uma história empolgante e compreensível, que desperta interesse na audiência ao mesmo tempo que não se utiliza de cliffhangers para inflar as expectativas. Tramas e subtramas são desenvolvidas contemporaneamente com bastante simetria e cooperam para um todo.
Começamos o episódio vendo a família Grimes de Alexandria. Os primeiros minutos fazem parecer que o apocalipse zumbi jamais havia acontecido e vemos cenas dignas de um comercial de margarina – ou de xarope para a tosse, onde um pai dedicado acorda cedo para analisar as notícias do dia, não sem antes dar um beijo de bom dia na esposa e conferir como a filha passou a noite. A construção dessa cena é totalmente dinâmica e gera no espectador uma sensação de que pudemos ver quem era Rick antes de tudo aquilo.
É dentro dessa temática que descobrimos que Michonne segue em sua luta por construir algo maior, com acordos que limitem as relações entre as comunidades e que fixem as obrigações que cada um deve ter frente ao bem comum. Rick, no entanto, não parece estar totalmente interessado nisso, estando inteiramente aficionado pela construção da ponte e do futuro. É interessante ver aqui que a liderança de ambos é notável, e finalmente nesse nono ano o relacionamento entre eles está fluindo de forma leve e verossímil.
Rick é chamado no acampamento, visto que a morte de Justin – que é encontrado após alguns minutos de tensão entre Maggie e alguns dos Salvadores acontece na estrada – causa um conflito interno, fazendo com que os antigos aliados de Negan confrontem Carol e os demais. Na animosidade surgem acusações contra Anne e contra Daryl, mas antes que qualquer coisa pudesse acontecer, o xerife surge em seu cavalo separando o conflito. Vemos aqui o despontamento da liderança de Carol e o como mesmo os Salvadores mantém respeito pela pessoa de Rick.
Nesse ínterim, vemos Daryl e Rick tendo uma conversa. A desesperadora divisão entre dois irmãos que não conseguem mais se encontrar sem que faíscas sejam geradas. É a segunda vez que Grimes ouve de alguém que seu plano dará certo apenas por um tempo, mas que se tornará insustentável – sendo que a primeira vez, quem lhe disse isso foi Negan – a medida que as pessoas começarem a notar a desproporcionalidade entre passado, presente e futuro. Dixon lembra Rick das pessoas que morreram pelas mãos dos Salvadores. O xerife lembra Daryl que ele só está ali, vivo, porque um dia ele o perdoou por ter algemado Merle no telhado de um prédio em Atlanta.
Outra vez nós tivemos interação entre os protagonistas e isso sempre traz um prazer imenso para quem assiste a série. Ver Carol e Rick tendo uma conversa sincera sobre tudo, de onde partiram no inicio e como chegaram ali e notar no olhar e na fala de um e de outro o quanto se respeitam e se aceitam como líderes contrasta com Daryl e Maggie, que noutro ponto discutem a relevância dos sonhos de Rick para o futuro e até onde aquilo pode ser benéfico para eles.
No fim de todo o alvoroço descobrimos que quem está – ou estava – matando os Salvadores são as mulheres de Oceanside, que são encontradas por Rhee e Dixon com Arat. Os dois até tentam contê-las, mas Cyndie fala para Maggie que aquilo se iniciou a partir do momento em que elas perceberam que não precisavam fazer as coisas do jeito de Rick, quando em Hilltop ela enforcou Gregory. Os dois viram as costas e deixam que elas matem a salvadora.
Rick dispensa a ajuda dos Salvadores da obra. Enquanto isso, a dupla de oposição – Daryl e Maggie – partem em direção à Alexandria quando Rhee diz que deu a chance que Rick precisava, mas agora percebe que seus planos são impossíveis e por isso chegou o momento de ter seu confronto com Negan.
Longe de tudo isso temos o pequeno enredo de Anne (ou Jadis) que retorna ao Lixão e se comunica com o responsável pelo helicóptero. Ouvimos um pedido de um sobrevivente A dessa vez e não de um B. Ela é surpreendida por Gabriel, que em obediência ao próprio Rick, seguiu-a até o local e a confronta sobre o que ouviu. Ela diz para ele que conhece um lugar e quer que ele fuja com ela para lá. Entretanto, Gabriel a contraria e diz que terá que falar para Rick. Então, Anne o atinge na cabeça dizendo “E todo esse tempo eu achei que você era um B.”.
O episódio resolveu a questão dos Salvadores levantada no anterior e reforçou o conflito de sentimentos e ideias entre Rick e Maggie e Daryl, não sabemos exatamente o que quer dizer a líder de Hilltop ir falar com Negan, mas pelo todo que esse episódio apresentou, não parece ser algo completamente bom. Talvez Maggie tenha percebido que quando matou Gregory, iniciou algo que não pode ser apagado ou esquecido e agora há o seu lado e o lado de Rick.
Houve uma pequena apelação cenográfica quando vemos Maggie matando cerca de dez walkers que se empilhavam sobre ela sem levar uma mínima ameaça de mordida, enquanto Cyndie vê dificuldade enorme para se livrar de um único morto. Outra leve derrapada no enredo é o próprio Justin ter sido morto sem ter a cabeça ferida. Se as mulheres de Oceanside queriam esconder o que estavam fazendo, porque deixaram o homem se reanimar? Em Arat, por exemplo, elas acertaram a cabeça, mas em Justin não.
Sobre Jadis, acredito que há muito ainda a se divagar. Sua história está nascendo como algo particular e único, totalmente externo ao enredo construído no centro da trama, mas que poderá de alguma forma convergir para ele e talvez ser responsável pela saída de Rick da série.
Mais uma vez tivemos um ótimo enredo, com uma boa construção e execução. The Walking Dead tem se superado nesse nono ano e, mais importante que isso, se reinventado, tentando se livrar do desgaste natural dos nove anos de série.
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