ATENÇÃO: Esta matéria contém spoilers do primeiro episódio da sexta temporada de The Walking Dead, S06E01 – “First Time Again” (Primeira Vez de Novo). Leia por sua conta e risco. Você foi avisado.
Na Comic Con de Nova Iorque na quinta-feira, o criador dos quadrinhos de The Walking Dead, Robert Kirkman, prometeu: “Esta vai ser a temporada mais intensa de The Walking Dead até agora.” Se a estreia de 90 minutos traz algum indicativo, a série se tornou mais ambiciosa do que nunca nesta sexta temporada, orquestrando uma horda de zumbis que quebrou recordes e construindo uma narrativa com duas linhas do tempo. “Foi bem difícil fazer isso,” disse Greg Nicotero, o produtor executivo, mestre de maquiagem e diretor do episódio. “Certamente não nos intimidamos para tomarmos atitudes ousadas, pode apostar.”
A Vulture foi buscar os detalhes técnicos do episódio com Nicotero, desde misturar CG com ações práticas para montar uma tenda de bronzeamento para deixar a horda de zumbis preparada.
Conforme eu via a estreia e Rick e seu grupo executando um plano tão grande, eu podia imaginar como isso seria um desafio de direção por trás das câmeras. Quais foram algumas das dificuldades?
Greg Nicotero: Bem, posso dizer que primeiramente foi a [abertura da] sequência da pedreira. Eu tinha ideias bem específicas, e coloquei no storyboard muito da revelação da pedreira. Encontramos uma pedreira adequada aqui na Georgia e filmamos nela, mas é claro que a pedreira real era seis vezes maior. Por isso precisamos passar muito tempo pré-visualizando exatamente o quão grande a pedreira era, entendendo quantos zumbis colocaríamos lá. Acho que na última contagem decidimos por 30 mil zumbis na pedreira. E aí, claro, tivemos a logística pra fazer isso parecer autêntico e real. Foi com certeza a maior situação de pré-visualização em que participamos.
Vocês estão planejando fazer coisas maiores em termos de custo de produção e orçamento nesta temporada?
Greg Nicotero: Sim. Sentimos que temos uma responsabilidade em manter a série fresca. O que eu gosto no roteiro e na maneira como a história se desenrola nessa estreia é que foi diferente de qualquer estreia que já fizemos. Na quarta temporada nós estávamos na prisão e colocamos o barco no mar conseguindo uma sensação de onde todos os personagens estavam. E aí, na estreia da quinta temporada, tivemos um resgate/fuga gigante de lá do Terminus, e sinto como se essa estreia tivesse um pouco dos dois. Ela tem um pouco de emoção e um pouco de aflição e algumas coisas de ação, mas ela também está basicamente montando a primeira metade da nossa temporada em seus pés ao nos deixar cientes, “Ok, essa é a tarefa a ser cumprida e temos o conhecimento do que nosso grupo precisa superar.”
Eu gosto muito do fato de termos usado um jeito de contar a história que não é linear, que começamos logo de onde o último episódio terminou, e usamos um pouco de preto-e-branco para contar ao público que essa era a história do passado versus nossa história no presente. Estou muito satisfeito com isso. Adoro os atores, e eles estavam muito dispostos a voltar ao trabalho e aos papéis. Todos estavam se deliciando com as partes, por isso conseguir que Lennie [James, que faz Morgan] voltasse ao grupo, e conseguir todos de volta novamente, foi um prazer sem igual.
O que fez vocês decidirem pelo uso de preto-e-branco para delinear as duas linhas do tempo na estreia?
Greg Nicotero: Sabíamos que precisávamos delinear as duas linhas do tempo bem claramente. Havia uma preparação prévia em que usamos dessaturação dos flashbacks e supersaturação das coisas do presente, porque queríamos que houvesse uma dica visual. E um dos desafios bem foi quando começamos a supersaturação do presente, tudo ficou muito vibrante e cheio de vida e quando você olhava a horda de zumbis e ela ficava de repente muito colorida, não ficou bom. Um ponto de uma horda de zumbis é o de que ela não pareça vibrante. Parecia que estávamos vendo o Mágico de Oz – de repente você vê a cor e pensa, “Uau. É muito colorido.” Na nossa visão, a cor vibrante era tão prevalente que Scott Gimple e eu meio que lutamos com isso e veio a decisão de tirar toda essa cor. Foi algo arriscado. Eu vi o episódio todo em cores e eu fico com os dedos cruzados para que quando lancemos o DVD, tenhamos uma versão toda em cores, porque alguma coisas da pedreira, quando os zumbis passam pela beirada e caem no fundo da pedreira e se despedaçam, é muito violento e sangrento e é legal ver os rastros vermelhos em volta dos zumbis. Por isso foi uma escolha de estilo – queríamos ter certeza de que o público entenderia que estávamos pulando entre linhas do tempo.
Estou curioso a respeito da mistura de efeitos práticos e CG na cena de abertura. Como foi isso?
Greg Nicotero: Acho que tínhamos 300 zumbis lá para a parte perto do caminhão. E aí para as coisas mais amplas quando o caminhão desliza pela beirada da pedreira e cai, lá tínhamos zumbis digitais no fundo. O caminhão da frente era de verdade, claro, e o do fundo era CG.
As pessoas sempre falam sobre CG versus prático, e muito do fundo é efeito prático. Como você acha que as CGs devem ser equilibradas com práticos, e quando e onde devem ser usadas?
Greg Nicotero: Sempre fui um proponente do fato de que cada ferramenta é usada para seu efeito máximo. Não seria prático usarmos 30 mil figurantes. De um ponto de vista de filmagem, você nunca poderia deixar 30 mil pessoas prontas. Scott sempre descreveu isso como o Lollapalooza dos zumbis naquela sequência – um mosh pit gigante. Claramente, as tomadas mais amplas foram pensadas para serem digitais porque essa é a ferramenta para se usar. Mas quando o zumbi se força entre os dois caminhões e a pele se rasga, isso obviamente era algo que queríamos fazer com efeitos práticos. Além disso, às vezes é um algo relacionado à nossa agenda de filmagens. Na primeira temporada, fizemos muitos dos tiros na cabeça com efeitos práticos e cabeças explodindo com sangue de verdade, mas quando é preciso fazer 25 ou 30 desses em uma cena, não se tem tempo nem mesmo para entrar e limpar o sangue e trocar as roupas dos figurantes. Você tem que seguir em frente. Por isso desenvolvemos a oportunidade de fazer muitas das explosões de cabeça e tal de forma digital – e alguns são práticos – mas para a maior parte é como pintar um quadro. Mesmo do ponto de vista de direção, é sempre crítico usar quaisquer ferramentas que sejam mais apropriadas para contar a história, e quando estamos vendo sequências onde zumbis estão caminhando em direção à câmera e os rostos apodrecidos, isso é certamente prótese.
Qual a utilidade de efeitos práticos?
Greg Nicotero: Prático é real. Não há dúvidas de que o zumbi que está caminhando em sua direção é algo que você pode alcançar e tocar. É tangível. O único desafio com o efeito visual é que a forma que o seu cérebro processa essa informação em oposição à forma que seu cérebro processa a informação de um caráter prático é muito diferente. Uma das coisas que eu penso ser muito importante para se fazer é misturar as duas coisas. Tipo, com a cabeça de Hershel na quarta temporada, filmamos uma cabeça prática animatronica com movimento de mandíbula, e então colocamos os olhos digitais para que os olhos ficassem olhando e se movendo. Por isso, ao usar a mistura das duas técnicas, você está contando uma história, e também está dando ao público a oportunidade de coçar a cabeça e dizer, “Deus, como eles fizeram isso? Isso parece tão real.” Foi por isso que eu entrei nesse ramo. Vendo “O Tubarão” e tentando entender como eles fizeram o animal.
Como a experiência com efeitos visuais e maquiagem afetam sua direção?
Greg Nicotero: Quando se está lidando com atores que usam próteses, você é a primeira pessoa que eles veem pela manhã, e é a última pessoa que eles veem ao final do dia. Você está auxiliando na transformação deles. Por isso eu passo muito tempo ganhando a confiança dos atores com quem trabalhei em filmes. Quando peguei o chapéu de diretor, entendi o quanto esses aspectos de direção acabam sendo, além do fato de que trabalhei tanto com efeitos, que eu entendia mesmo o quão intrínsecos os efeitos precisão ser para que se possa contar a história. No fim dos anos 70 e no início dos anos 80, quando efeitos de maquiagem estavam meio que ganhando seu espaço, os filmes paravam para as sequências de efeitos especiais, e quando criança você adora esse tipo de coisa porque – Ah, meu Deus. Isso é o que há! – e o quão especial é ter essas sequências de efeitos. Essas coisas me inspiraram. Elas também me ensinaram que você precisa ter muito cuidado e cautela sobre como coreografa essas sequências para manter o momento do caminhar da história.
Esse foi o maior grupo de figurantes que você teve que usar?
Greg Nicotero: Sim. Eu tenho certeza de que quebramos nosso recorde no primeiro episódio em termos do número de zumbis que tivemos. Tivemos ao menos dois dias em que eram 300 pessoas na maquiagem. A cada dia. E foi um desafio enorme. Quando Daryl está na motocicleta em direção à intersecção e eles construíram a parede que redirecionava os zumbis para longe de Alexandria – foi o maior dia de zumbis que já tivemos.
Quais foram as dificuldades de lidar com um elenco tão grande de figurantes?
Greg Nicotero: Uma das coisas que eu estou constantemente refinando é o nosso processo de maquiagem conforme a série progride. Eu certamente estava muito interessado em poder permitir que minha equipe criasse mais visuais de zumbis no período de tempo disponível. Então o que fizemos foi montar uma tenda de bronzeamento por spray. Queríamos ter total certeza de que quando você olhasse para uma multidão de 300 pessoas que não seriam 120 pessoas com maquiagem e outros 180 com máscaras ou rostos rosa. Então nós basicamente redesenhamos nosso fluxo de trabalho para nos permitir ter 100 ou mais pessoas que passassem pelo bronzeamento em spray e então jogávamos spray com uma maquiagem de cor pálida e adicionávamos uma cor morta e aí uma cor de sangue espirrado. Isso nos deu uma mistura muito boa.
É como um lava rápido ao contrário.
Greg Nicotero: Um lava rápido ao contrário. Exatamente.
Você os colocou todos na escola de zumbis?
Greg Nicotero: Todos eles passaram pela escola de zumbis, sim. Cada um deles. E alguns deles foram de escolas de zumbis de outra temporada, mas fizemos uma escola de zumbis enorme neste ano porque tínhamos esses números grandes.
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Fonte: Vulture
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