A CEO da Valhalla Entertainment conversou com o Hollywood Reporter sobre a recente ressurreição por detrás da ficcão cientifica e do horror, por que “O Exterminador do Futuro” não poderia ser feito hoje em dia e o que lhe tira o sono à noite.
Durante uma carreira de 35 anos, Gale Anne Hurd produziu alguns dos maiores sucessos cult – e também comerciais – no cinema e na televisão.
Começando em 1980 com O Exterminador do Futuro, Aliens e O Abismo, Hurd, 57 anos, é ainda uma das poucas mulheres produtoras trabalhando com ficção científica. E seu drama zumbi na AMC, The Walking Dead, que estreia sua quarta temporada em 13 de Outubro, continua sendo campeã de audiência entre o público de 18 a 49 anos, com mais de 10 milhões de telespectadores por semana e um spinoff a caminho. Começando como assistente do rei dos filmes B, Roger Corman, a egressa da Universidade de Stanford – que sabidamente comprou o script de “O Exterminador do Futuro”, de James Cameron a $1, dadas a ela as garantias de que ele o dirigisse (eles casaram no ano seguinte ao lançamento) – agora é a CEO da Valhalla Entertainment.
Além de 4 filmes, a empresa também tem um acordo com a Universal Cable Productions, onde Hurd tem cinco shows de TV, incluindo um drama da SyFy em andamento. Com tanta coisa acontecendo, Hurd está aplicando as lições aprendidas com seus antigos parceiros de produção Corman e Cameron, e Brian de Palma (os dois últimos, seus ex-maridos). Quando a fã de HQs não está lendo scripts, fazendo documentários, esquiando, mergulhando ou pegando um pedacinho de alguma coisa no seu restaurante, Vertical – que ela abriu há sete anos para “preencher uma lacuna em Pasadena no que diz respeito a um bistrô de vinhos tipo Manhattan e um grande chef”— esta ávida cinéfila e nativa de Palo Alto, Califórnia, passa seu tempo com seu esposo, o escritor Jonathan Hensleight, e sua filha Lolita de Palma, 22 anos. Ela sentou para conversar com o Hollywood Reporter em seu charmoso e geek escritório na Universal City.
Você é uma das raras mulheres que trabalham como produtoras em ficção científica. De onde veio esse interesse?
Meu irmão mais velho e eu sempre tivemos revistas em quadrinhos – a maior parte Marvel, motivo pelo qual eu amo o Incrível Hulk e o Quarteto Fantástico (ela já produziu duas adaptações para O Incrível Hulk) – e eu comecei a lê-los aos 4 ou 5 anos. Eu era uma ávida leitora de ficção científica e horror. Quando tinha 10 anos e minha família se mudou para Palm Springs, eu virei consultora na biblioteca infantil e os aconselhava naquilo que chamam de “literatura juvenil” para a biblioteca.
Que lições você aprendeu com Roger Corman?
Roger me ensinou o valor da pré-produção. Se você gastar um tempo valioso com ela, você cometerá erros, e eles não irão custar muito. Trabalhe com o melhor; não trabalhe com babacas (risos).
E quanto a Cameron e De Palma?
Consigo colaborar melhor com pessoas as quais outros podem considerar agressivos ou assertivos; eles tem uma visão definida e conseguem comunica-la. Isso significa que a perspectiva possa ser meio monomaníaca. Quando nós estávamos fazendo “Aliens”, Jim tinha em mente cada ponto de corte em cada cena, e como ele queria que se parecesse. Nosso primeiro produtor foi Dick Bush (Victor ou Victoria), que era acostumado a fazer a iluminação, cinegrafia e todo o trabalho do produtor, e ele não queria saber qual era a visão do diretor. Ele sentia que aquele era o seu domínio. Se Jim quisesse algo em tons mais frios, ele daria tons mais quentes. Duas semanas após, ele foi demitido. Então aprendi que é realmente importante para todos no set compartilhar as visões, e que a visão realmente tem que ser a do diretor.
A NBC é famosa por ter recusado The Walking Dead. Qual foi a maior contribuição da AMC naquele script?
Era um script para a TV aberta. Havia mais foco nas sequências de ação. A grande contribuição da AMC foi: é mais importante que vocês tenham tempo, conheçam seus personagens e estabeleçam este mundo, e não gratuitamente deixar as coisas acontecendo. Então, personagens acima da história.
Quanto você acha que vale o universo Walking Dead agora?
Não tenho dieia. Adoraria descobrir. De acordo com a planilha de lucros, pode ser que não seja tão valioso assim (risos).
O show está no seu terceiro showrunner em quatro temporadas. Ninguém parece querer falar nisso. O que você pode nos contar sobre essa mudança?
Geralmente, são contratos de dois anos. Eu não estou sabendo das discussões que acontecem entre os showrunners e a AMC. Elas são sempre em dois níveis: renegociar valores e a visão criativa do que virá. Talvez foi algo a ver com uma dessas duas coisas.
Você estava bastante envolvida com Frank Darabont ao trazer este show para a AMC. Qual foi a discussão quando ele saiu? Voce ficou tentada a sair junto com ele?
Frank é um amigo próximo, e conversamos muito sobre se eu deveria ficar. Era importante manter a família bem e se assegurar de que o elenco estava protegido…
O que aconteceu com Glen Mazzara, que também saiu? E devemos esperar um novo showrunner para substituir Scott Gimple na próxima temporada?
Era o fim de um acordo de dois anos. Em termos da discussão que Glen teve com a AMC sobre os rumos do show, nenhum de nós ficou sabendo, pois ela ficou entre os executivos da AMC. Eu não sei se Scott tem também um acordo de dois anos ou de um ano. Eu espero que seja algo mais longo. Ele é um fã desde o início, e alguém que é acessível, além de ter escrito alguns de nossos melhores episódios.
Qual o maior desafio na troca de showrunners?
Não é tão desafiador assim. O importante é que os scripts fiquem prontos e sejam fortes. Esta é a diferença entre cinema e TV: a cada oito dias você está fazendo um novo script, e tem um novo diretor, e você tem muita mudança no elenco. É um show que naturalmente tem muitas mudanças e está evoluindo constantemente.
O que não sabemos sobre o trabalho na AMC, que tem sido criticado em relação ao tratamento dado aos showrunners?
Estas notícias são inteligentes e não conflitantes. Algumas vezes você trabalhará com executivos – especialmente quando há um estúdio e uma emissora, e eles tem personalidades diferentes – e o estúdio vai querer um show, a emissora quer outro e você tem que agradar a ambos. Não é o caso da AMC. Se qualquer showrunner sente que algo tem que ser de uma certa maneira, a AMC permite que seja assim.
Por que um spinoff de Walking Dead agora?
Foi pedido pela AMC. É algo que todos gostaríamos de fazer. Robert Kirkman sempre se interessou em expandir o mundo e fazer algo diferente do que ele faz nos livros. Não seria nada com os personagens da HQ ou da série de TV.
Olhando para o seu desenvolvimento na TV, o que definiria um show da Gale Anne Hurd?
Eles são geralmente focados em pessoas comuns jogadas em circunstancias extraordinárias para vermos como elas lidam com isso. Este tema funciona melhor na TV do que no cinema, pois você pode continuar a contar a história. O show perfeito é Breaking Bad: um professor de química que acaba em um mundo de metanfetamina.
O que você acha que há por trás da recente ressurreição da ficção científica e do horror?
É o que vende. O problema será quando todos subirem no mesmo vagão e começarem a fazer coisas ruins. Isso matará a galinha dos ovos de ouro.
Qual será o próximo gênero?
Não sei se há um limite. O mais legal é você ter um universo de gênero bastante diversificado e não 10 shows de vampiro e quatro de zumbis. O universo das bruxas parece supersaturado no momento. Eu também adoro o fato de que séries como American Horror Story: Coven e The Blacklist estão sendo promovidas nos cinemas também.
O que lhe tira o sono?
Pirataria. Se as pessoas não estão pagando pelo conteúdo, os criadores de conteúdo e financiadores não irão mais criar conteúdo. Qualquer um que nunca tenha perdido o sono com isso não está encarando os fatos.
Voltando aos seus anos iniciais como produtora, você alguma vez sentiu que precisava trabalhar mais para provar seu valor, sendo mulher?
O tempo todo. Minha filmografia inicial é toda em ficção científica, fantasia e horror. Em um certo ponto, as pessoas pensaram “você está fazendo um desses, vamos chamar a Gale.” Naquele momento eu era algo como “Como pode uma garotinha produzir um filme grandioso como esse?”
Há dez anos você falou à The New York Times que você nao tinha certeza se O Exterminador do Futuro, de 1984, poderia ter sido feito. Você ainda sente da mesma maneira?
Sim. É realmente muito difícil conseguir vários filmes no gênero que são estrelados por mulheres. Há poucas exceções, mas ainda assim há aquele sentimento estranho de que só há em algumas franquias. Alien, por exemplo, que, de alguma forma, é um filme onde a mulher é a líder e que suplantará os homens. Não é o caso. É uma percepção que infelizmente influencia a tomada de decisão dos executivos que tem o poder de dar o “sim”.
O que há em seu DVD?
Todos os jogos do Arsenal. Downton Abbey, Breaking Bad, Walking Dead, The Americans, séries de Ken Burns. Eu amo documentários. Na verdade, eu faço documentários, tenho dois feitos e estou na fase de pesquisas para mais um, sobre Wilma Mankiller, a primeira mulher na época contemporânea a ser eleita chefe dos Cherokee. Valerie Red-Horse está escrevendo, dirigindo e co-produzindo comigo. Estivemos na reserva Cherokee este verão em Oklahoma. É o que faço no meu tempo livre, por que, acredite, não há dinheiro para isso. Até onde sei, se trata de hobby se você não está sendo pago.
The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com dezesseis episódios na quarta temporada, em 13 de Outubro de 2013 na AMC e 15 de Outubro de 2013 na FOX Brasil. Confira o trailer oficial da temporada e uma análise detalhada dele.
Fiquem ligados aqui no Walking Dead Brasil e em nossas redes sociais @TWDBrasil no twitter e Walking Dead Br no facebook para mais informações sobre a quarta temporada.
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Fonte: The Hollywood Reporter
Tradução: @BinaPic / Staff Walking Dead Brasil
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