“Algumas pessoas dizem que ela está tão badass nessa temporada. Isso me dá um pouquinho de vontade de rir por dentro, porque eu não a vejo como badass.”, a atriz conta ao Co.Create. “Eu a vejo como a Carol, alguém que deixou que sua coragem viesse à tona.”
Todos os personagens de The Walking Dead passaram por transformações mas talvez nenhuma delas tenham sido tão marcantes quanto a de Carol Peletier. “Isso foi completamente inesperado, o quanto ela evoluiu para se tornar uma parte tão integral do grupo, tomando decisões e cuidando de si mesma, quando você compara isso a quando nós começamos com ela.”, comenta Melissa McBride, a atriz que interpreta Carol desde que a série começou, em 2010.
Vocês se lembram da Carol que nós conhecemos na primeira temporada? Ela vivia com medo de seu marido abusivo e não parecia alguém que teria força para sobreviver durante o apocalipse zumbi.
Mas olhem para ela agora. Essa é a mulher que começou a quinta temporada – e sem pensar duas vezes – cobrindo-se de sangue e de partes de corpos de zumbis para que pudesse se infiltrar no Terminus e salvar Rick, Daryl e o resto de seus amigos de se tornarem comida para os canibais.
Carol se tornou uma guerreira, e McBride interpretou habilidosamente a personagem através de cada etapa de sua evolução.
Antes de conseguir o papel que definiria sua carreira, McBride esteve atuando por aproximadamente 20 anos, aparecendo em séries televisivas variando desde “Matlock” para “Walker”, “Texas Ranger” até “Dawson’s Creek”, como atriz convidada. Nos anos 2000, ela também trabalhou como diretora de elenco em Atlanta.
Com a segunda metade da quinta temporada de The Walking Dead começando a ser transmitida na AMC, McBride falou com o Co.Create sobre como ela vê Carol, como é trabalhar com Chad Coleman e com Norman Reedus e sobre seus interesses criativos, além da atuação.
Co.Create: Carol é uma das personagens mais fascinantes que eu já vi na televisão. Você simplesmente ama ir ao trabalho e mergulhar na história dela?
Melissa McBride: Eu amo, sim. Eu gosto do desconhecido. Então ir ao trabalho é, de certa forma, encarar o desconhecido e ficar muito animada sobre o que acontecerá futuramente e o que acontecerá futuramente com ela.
Eu soube que, quando foi selecionada para fazer parte do elenco, você não esperava ficar por muito tempo na série.
Melissa McBride: Bom, eu presumi que não ficaria por muito tempo porque eu estava trabalhando num departamento diferente da indústria na época. [Como dissemos acima, McBride estava trabalhando como diretora de elenco em Atlanta.] Além disso, era o piloto da série – em vez de fazerem um episódio piloto com uma hora de duração, eles fizeram um piloto de seis episódios. Era algo que eles esperavam que seriam aprovados, mas não sabiam.
Quando eu recebi a notícia de que seria gravado em Atlanta, que é cidade de onde vim, eu fui até a Barnes & Noble para ver os quadrinhos. Eu nunca tinha ouvido nada sobre eles antes. Quando olhei para os quadrinhos, fiquei de queixo caído e pensei, “Uau. Uau. O quê?”
Eu me apaixonei por eles. Comprei alguns naquele mesmo dia. Me apaixonei pelo visual, pela narrativa, pelos personagens. Todo o romance gráfico é um mundo próprio.
A história de Carol na série televisiva é bem diferente da história dela nos quadrinhos.
Melissa McBride: É, sim. Ela morre cedo nos quadrinhos, que foi outro motivo que me fez pensar que não ficaria por muito tempo na série.
Mas os roteiristas continuam criando coisas incríveis para ela e para todos os personagens. Eu acho que todos estamos entusiasmados para estar lá todos os dias fazendo isso. A mídia televisiva dividida em episódios é um grande desafio. Estou aprendendo conforme acompanho. É como gravar pequenos filmes a cada semana. A qualidade da produção é impressionante.
Em algum ponto no início do curso da série, quando perceberam o que tinham para sua personagem, os produtores sentaram com você para conversar sobre planos a longo termo para a Carol?
Melissa McBride: Não. Ninguém sentou comigo e conversou muito sobre essa personagem. A primeira vez que eu falei sobre ela do meu ponto de vista foi quando eles me disseram que iam matá-la. O showrunner na época era Glen Mazzara, e ele me chamou e me disse que isso aconteceria no terceiro ou no quarto episódio. Por mim, estava tudo bem, mas eu fiquei triste. Então eu fui falar com os roteiristas.
Quando isso aconteceu?
Melissa McBride: Foi logo antes de começarmos a produção da terceira temporada.
É tão difícil imaginar The WalkingDead sem a Carol. Novamente, essa é uma série em que todos estão em perigo o tempo inteiro.
Melissa McBride: Eu realmente amo muito essa personagem, e eu tenho pessoas na minha vida que estão ou que estiveram na mesma situação [em que ela estava] quando nós conhecemos a Carol. Algumas delas realmente se levantaram sozinhas das maneiras mais lindas, e outras não reagiram tão bem e ainda lutam para descobrirem sozinhas.
Eu realmente estava torcendo que trilhasse um longo caminho antes de receber de sair da série. Eu sabia que ela era diferente da versão dos quadrinhos de Carol. Já naquela época, eu sabia que ela era diferente. Eu queria vê-la viver o suficiente para encontrar essa força. Então, foi mais ou menos essa conversa que tive quando liguei para os roteiristas.
Você acha que expressar seus pensamentos sobre a Carol e sobre como ela poderia crescer fez os roteiristas perceberem que eles poderiam fazer mais com a personagem?
Melissa McBride: Honestamente, eu não sei. Eu realmente não sei. Foi maravilhoso poder falar sobre ela, especialmente na época em que eu pensei que ela morreria. Eu não queria que eles soubessem o que eu pensava sobre ela. Eu fiquei quieta o tempo inteiro. Fiquei tão feliz de falar sobre ela. Isso me deixou feliz. Eu recebi a voz por minha amiga Carol. Eu queria que ela fosse ouvida antes de partir. Acho que foi mais ou menos assim que me senti.
Estou tão feliz que ela não morreu nesse ponto. Nós teríamos perdido muita coisa. Carol é uma personagem tão interessante – uma pessoa que encontrou a força de que ela precisava para lidar com as circunstâncias. Nem sempre vemos pessoas como ela na TV. Eu gosto que ela não seja uma super heroína intocável, mas uma heroína humana complicada que todas as pessoas têm a chance de ser.
Melissa McBride: É dessa maneira que eu a vejo. Essa é a maneira que a interpreto. Algumas pessoas dizem que ela está tão badass nessa temporada. Isso me dá um pouquinho de vontade de rir por dentro, porque eu não a vejo como badass. Eu a vejo como a Carol, alguém que deixou sua coragem vir à tona. Ela está fazendo o que tem que fazer, como sempre fez. Está sobrevivendo, e faz coisas que são badass.
Essa é uma boa maneira de colocar a questão.
Melissa McBride: Estou tão cativada por ela por esse motivo. Para mim, é só Carol tentando fazer o que tem que fazer para sobreviver e para manter seu clã vivo.
Você interpretou algumas cenas intensas e mesmo chocantes. Na temporada passada, Carol teve que atirar em Lizzie, que havia matado sua irmãzinha para vê-la se transformando em um zumbi. Como você se prepara para uma cena assim? Você precisa de algo especial para atingir o estado de espírito certo?
Melissa McBride: Realmente, não. Eu penso que, se preciso fazer alguma coisa, é só me afastar do barulho ou dar as costas ao barulho. Eu realmente não faço nada em particular, exceto começar a pensar, “onde está Carol, nesse instante?” Eu trabalho mais da vida da personagem em vez de puxar coisas minhas. Eu tenho diálogo com a minha personagem, então tudo é muito rápido. Não é algo longo e complexo. É como fazer um caminho para ela, permitir que ela se expresse. Eu digo para mim mesma, eu vou sair do caminho agora.
Você é parte do elenco e tem uma ótima química na tela com todos, desde Chad Coleman [que interpreta Tyreese] até Norman Reedus [Daryl]. Como você trabalha com seus companheiros de elenco? Todos fazem ensaios?
Melissa McBride: Eu acho que é um pouco diferente para todos e também para os diferentes diretores que entram. Alguns dos diretores realmente gostam de ensaios, e vão requerer algum tempo para ensaiar.
Para os atores, todos são um pouco diferentes. Alguns atores que estão em muitas cenas juntos ensaiarão juntos. Alguns gostam de chegar, ver o que acontece e falar sobre, falarem sobre as coisinhas que se destacaram.
Trabalhar com Chad Coleman é um processo muito diferente de trabalhar com Norman. Chad e eu discutimos muito as coisas, e nós realmente nos aprofundamos em torno dos assuntos, filosofamos e ‘psicologizamos’, e é divertido.
Norman é inteiramente diferente, e também é um ator muito físico, e a espontaneidade de trabalhar com Norman também é muito, muito animadora. Algo de que eu gosto sobre trabalhar com um grupo assim é ver como todos trabalham de maneira diferente.
Além de presentear os atores com um material desafiador, parece que trabalhar em The Walking Dead tem demandas físicas que você não encararia se estivesse em um estúdio em Los Angeles gravando uma série de comédia.
Melissa McBride: Ah, certamente. Estamos do lado de fora, no calor sufocante da Georgia, com os insetos. Eu acho que estamos todos acostumados com isso agora, mas consigo notar que alguns de nós estamos levando uma surra do sol.
Vocês devem passar protetor solar constantemente.
Melissa McBride: Muito protetor solar – eu tenho sardas aparecendo atualmente que eu não via desde que estava com os meus 20 anos.
Dá pra ver que às vezes parece que vocês estão suando litros. É um ambiente difícil de gravar por longos períodos de tempo.
Melissa McBride: É sim, mas também é ótimo, porque isso alimenta e contribui para o clima desconfortável e tortuoso do apocalipse.
Havia uma cena na primeira metade dessa temporada na qual Carol e Daryl estão sentados em uma van balançando à borda da ponte. Obviamente, vocês não estavam sentados lá dentro quando caiu e bateu no chão, mas estavam na van quando ela estava pendurada?
Melissa McBride: Estávamos lá dentro, e estava literalmente balançando à beira da ponte. Foi bastante assustador. Eles tiveram que empurrar para que parecesse que iria cair. Havia esses walkers batendo na van e fazendo-a balançar. Só de estar suspensa lá em cima foi muito assustador, mas temos uma equipe tão maravilhosa fazendo coisas assim que, por mais assustador que seja, você sabe que vai ficar tudo bem, porque eles tomam tanto cuidado, e são tão excelentes no que fazem.
Nós conhecemos você enquanto atriz. Você tem interesses criativos que persegue, além de atuar?
Melissa McBride: Sim. Eu amo fotografia. Amo pintura. Amo fazer chapéus. Amo pensar. Amo ficar sentada, vagando pelo meu cérebro. Também gosto de observar as pessoas. Isso é algo que sempre adorei fazer, embora seja um pouquinho mais difícil encontrar lugares para ir só para observar as pessoas. É, psicologia é algo em que estou muito interessada. Eu adoro ver documentários.
Você vive perto de Atlanta, e eu imagino que viver fora de Los Angeles e de Nova York, as mecas do entretenimento, serve bem a você como pessoa criativa. Por estar onde você está, você não tem tantas distrações quanto alguns atores têm – como a pressão de ser vista em todos os eventos e todas essas coisas.
Melissa McBride: Bom, para mim, eu não saio muito. Só de pensar em algumas dessas coisas me deixa em pânico porque esse tipo de atenção certamente nunca foi o meu propósito ou o meu impulso, pessoalmente. Essa é a ironia para alguém como eu, que particularmente não gosta de atenção e gosta de ser, como eu disse, aquela que observa os outros. Eu gosto de ir a lugares onde eu possa simplesmente me misturar e observar as coisas.
Então isso é realmente novo para mim. Estou me adaptando. Existem exigências, obviamente. Estou tentando ficar mais confortável com essas coisas. Não sei. Eu acho que você tem que perguntar a alguém que saberia a diferença, que faz todas essas coisas e depois volta para um lugar como o sul de Atlanta, que é quieto e tem fazendas e esse tipo de coisa.
Quando estava pesquisando sobre você, eu percebi que você não dá muitas entrevistas.
Melissa McBride: Não.
Eu acho que você ‘está se atualizando’ para a entrevista porque você não dá muitas entrevistas.
Melissa McBride: Eu não sei. Eu gosto de deixar as coisas reais.
Você pode me contar mais sobre sua história? Eu li que você cresceu em Kentucky. Como você se envolveu com a atuação? Obviamente, você não era alguém motivada por uma necessidade de ficar famosa.
Melissa McBride: Eu queria ser uma arqueóloga. Eu gosto de cavar. Na verdade, eu cresci na Carolina do Norte. Eu nasci em Kentucky, cresci na Carolina do Norte e vim para Atlanta. Eu queria desenhar roupas, mas fiz aulas de atuação no ensino médio, era mais uma coisa do tipo como-fazer-teatro. Não havia tanta atuação como eu esperei que tivesse, porque fiquei intrigada por atores e o que eu achava que eles faziam. Quando eu vim para Atlanta, e estava fora da escola para a qual ia por design de moda, eu me inscrevi em um workshop de atuação que era mais sobre interpretar os personagens e realmente sair de você mesma, o que eu adorei. Eu adorei fazer isso.
Existe também essa parte de mim que fica absolutamente fascinada pelo que os atores fazem para ficarem visíveis enquanto são invisíveis ou para ficarem invisíveis enquanto visíveis. É um grande paradoxo de ser ator – ser visto e não ser visto ao mesmo tempo, e eu gosto desses paradoxos. Gosto de explorar tudo isso.
Também houve um grande interesse quando eu fui diretora de elenco. Eu gosto de trabalhar com atores, também.
Você teve a experiência única de trabalhar tanto quanto atriz quanto como diretora de elenco. Um trabalho influenciou no outro? Eu presumo que, como diretora de elenco, você estava em sintonia com o que os atores estavam passando.
É. Eu senti que eu sabia como falar com um ator. Eu poderia me identificar porque eu tinha feito isso, também. Eu adoro ajudar as pessoas. Adoro ver as pessoas se sentindo bem em relação ao que estão fazendo. Minha mãe tinha uma oração para mim sobre alcançar o sucesso do seu mais alto potencial, o que quer que isso seja, e eu me sinto assim sobre as pessoas, e isso significou muito para mim na época em que me envolvi com o elenco. Eu pensei, eu vou ser o tipo de diretora de elenco que talvez eu nem sempre tenha encontrado antes.
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Fonte: Co.Create
Tradução: Lalah / Staff Walking Dead Brasil
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