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O psicólogo Dr. Ali Mattu discute sobre a situação de Lizzie

O site oficial de The Walking Dead do Robert Kirkman preparou uma matéria super bacana e inteligente a respeito do caso da personagem Lizzie Samuels. Nós já tivemos a Dr. Andrea Letamendi discutindo o estado mental de Rick (em inglês) lá atrás quando ele estava recebendo ligações de sua esposa morta, e essa situação com Lizzie é outra grande oportunidade para ter alguém bastante inteligente para discutir o show e a HQ. Com a palavra, Dr. Mattu:

“Scott M. Gimple tem feito um fantástico trabalho com a quarta temporada de The Walking Dead. O show continua a subir de nível e se entrelaça com a HQ em maneiras interessantes. Eu estava especialmente interessado no que aconteceria com as crianças vivendo na prisão e comecei a escrever um artigo chamado “Como criar uma criança no apocalipse zumbi.” Após o episódio dessa semana, eu abandonei completamente aquele artigo e mergulhei na psicologia atrás do que se tornou o mais controverso evento na história da série. Spoilers abaixo do episódio “The Grove”.

O que aconteceu?

Depois que o Governador destruiu a prisão, Lizzie estava viajando com sua irmã mais nova Mika, Judith, Carol e Tyreese. Nós já sabiamos há tempos que Lizzie vê walkers de uma forma diferente das outras pessoas. Ela dava nome aos zumbis como se eles fossem pessoas, secretamente os alimentava com ratos, e dizia que entendia seus pensamentos. Nós também sabemos que ela matava coelhos, mas não sabemos por qual motivo. Quando Lizzie e Mika estavam tentando evitar que alguns walkers as vissem, ela quase sufocou a bebê Judith. Você não precisa ser um psicólogo para achar esses comportamentos estranhos e preocupantes.

As coisas realmente se agravaram no episódio 14. Lizzie implora a Tyreese pra manter vivo um zumbi preso numa armadilha. Mais tarde, ela congela quando um walker a ataca, e depois de sua irmã matar o zumbi, Lizzie precisa “olhar para as flores” para se acalmar do seu ataque de pânico. Quando Carol mata “Griselda”, que Lizzie estava brincando de pega pega, ela grita “Como você se sentiria se eu te matasse?!?” No clímax, é revelado que Lizzie matou Mika. “Não se preocupe. Ela vai voltar. Eu não machuquei seu cérebro.” Lizzie deixa bem claro que ela também estava pra matar Judith. Depois de uma grande conversa, Carol e Tyreese decidem que não é seguro para eles estar com Lizzie. Carol leva Lizzie para fora e mata a doce psicopata.

A história de Lizzie é inspirada num arco semelhante na HQ de The Walking Dead. Essa história foca num garoto chamado Ben que acaba matando seu irmão Billy. Ben nunca brincou com zumbis ou alimentou-os, mas ele brincou com o intestino de um gato igual Lizzie e seus coelhos mortos.

“Lizzie era maluca, né?!?”

Muita gente na internet está convencido que Lizzie era “doida”. Rob Bricken sumariza as teorias dos fãs aqui:

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“A série poderia ter explicado mais claramente a maluquice de Lizzie, isso porque quando transformasse Mika num zumbi, ela pensaria que estava libertando Mika dos horrores do dia-a-dia – com a intenção de acabar com isso – ou explicando que Lizzie viu tanta morte que ela decidiu que zumbis ainda eram pessoas como um mecanismo de defesa. Assim como foi, Lizzie é obviamente maluca, mas não temos noção do porquê.”

Eu concordo que o show não nos dá muita ideia sobre o que Lizzie estava pensando. Mas o que me intriga é o uso da palavra “louca”. Loucura não é um termo usado em saúde mental. É impreciso e estigmatizante. Quando a maioria das pessoas pensa em “loucura”, eles geralmente querem dizer problemas com alucinações (vendo ou ouvindo coisas que não estão ali), desilusão (acreditando em algo que não existe), ou psicopatia (não ter empatia por outros).

No caso de Lizzie, por ela matar coelhos, cuidar de walkers, quase matar um bebê duas vezes e matar sua irmã, muitas pessoas pensam que Lizzie era psicopata. Se você olhar atentamente ao que sabemos sobre Lizzie e a ciência da psicopatia, fica claro que Lizzie estava enfrentando dificuldades em lidar com o apocalipse, mas ela não era uma psicopata.

Lizzie não encaixa no molde de uma criança psicopata e insensível. Ela é bem emocional – nós vemos ao menos dois exemplos disso quando ela se sentiu em pânico e precisou olhar para as flores para se acalmar. Ela também se sente arrependida quando desapontou Carol. Uma criança psicopata não teria esses sentimentos. Mais importante, Lizzie sente bastante afeto… pelos zumbis.

Entendendo o comportamento estranho de Lizzie

Então o que há de errado com Lizzie? Pra responder essa pergunta, nós temos que fazer o que os psicólogos chamam de análise funcional de comportamento – basicamente tentar entender como suas ações satisfaziam suas necessidades.

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Se ela está sozinha com um walker, ela não sente medo. O único momento que ela sente medo perto de um é se outra pessoa está perto. Nessa situação, ela tenta evitar que o zumbi a veja ou implora para a pessoa não matá-lo. Se ela consegue impedir eles de morrerem, ela se sente bem. Mas se algum walker acaba morrendo, ela fica aflita. Ela alimenta os walkers com rato e deixa um monte de coelhos mortos na floresta. Todos esses comportamentos apontam para uma ideia básica – Lizzie se preocupa com os zumbis e faz tudo para proteger a vida deles.

Nós já sabemos que Lizzie acredita que walkers são mal entendidos. Mas ela provavelmente pensa que humanos e walkers são a mesma coisa. É por isso que ela os protege – ela tem empatia por eles. Ela também deve pensar que ninguém realmente morre até que eles são mortos após a transformação. Ela acreditava que Judith realmente não morreria se fosse sufocada – ela voltaria como zumbi (o que seria tão bom quanto humana). Isso tudo faz sentido – se os walkers fossem o mesmo que humanos, é claro.

Uma criança crescendo no apocalipse pode ficar confusa sobre a vida, morte, e ressureição zumbi. O cérebro da criança muda bastante nos primeiros 13 anos de vida e também muda a forma que eles veem a morte. Até os 6, crianças talvez pensem que a morte é temporária e reversível, ou se eles pensarem positivo eles podem trazer um ente querido de volta pra vida. Parece muito o que acontece com Lizzie. Claro que ela é maior que 6, mas ela tem vivido com essa distopia por muitos anos.

Poderia Lizzie ter sido ajudada?

Reduzir o estresse crônico de Lizzie poderia ajudá-la a se sentir mais calma. Ela também poderia aprender algumas habilidades reguladoras de emoção que fariam ela se sentir mais no controle dos seus sentimentos. Então, assim que ela se estabilizasse, sua irmã Mika ou algum adulto de confiança poderia ajudar ela a entender melhor a relação de um humano morto e um walker morto.

Infelizmente, isso não é possível em Walking Dead. A quarta temporada tem mostrado que não há espaço para descansar nesse mundo – ameaças de walkers e humanos nunca acabarão (no mesmo assunto, o Governador era TOTALMENTE psicopata).

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Eu assisto esse show porque eu amo os personagens e a gente vê uma resiliência na face de uma extinção total. Como foi difícil pra mim assistir “The Grove”, estou feliz com o que Scott Gimple fez. É uma lembrança que traumas crônicos mudam o cérebro e essas mudanças têm um tremendo impacto nos mais vulneráveis membros da nossa sociedade.

Ali Mattu é um psicólogo clínico na Clínica da Universidade de Columbia de Ansiedade e Transtornos Relacionados, com expertise em ansiedade social, transtorno obsessivo-compulsivo e tricotilomania (transtorno que faz a pessoa arrancar os cabelos).

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Fonte: The Walking Dead da Skybound
Tradução: @airotn / Staff Walking Dead Brasil

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Rafael Façanha

Zumbi Chefe no The Walking Dead BR. Treinador Pokémon, viciado em Magic, conectado 24 horas por dia e até já fui reconhecido como Wikipédia-Viva de The Walking Dead. Meu mundo é dividido em assistir muitas séries e filmes.

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