Danai Gurira, que interpreta Michonne em The Walking Dead, fala sobre a vida debaixo das regras de Negan, a encruzilhada na qual Rick e ela se encontram, e sobre desmontar as camadas de sua personagem.
P: Como você descreveria a evolução de Michonne desde que a conhecemos pela primeira vez? Como foi para você, pessoalmente, explorar todas essas camadas da sua personagem ao longo desses anos?
Danai Gurira: Ela chegou muito fechada e muito impenetrável. Aquela foi sua resposta em particular a todo o estresse pós-traumático e como estava se manifestando. Ela não estava realmente disposta a deixar as pessoas se aproximarem e ser vulnerável. A primeira pessoa que ela deixou se aproximar foi Andrea e mesmo com ela, era muito limitado… Quando ela conheceu Rick e a comunidade, ela teve que evoluir em algo que poderia ser um membro da comunidade e poderia funcionar de forma a se comunicar e onde seu coração fosse exposto. Então, foi realmente essa jornada de chegar a esse ponto onde ela se abre para as pessoas que ela se conectou e está disposta a seguir esse caminho. Foi realmente uma evolução em aprender como metabolizar as perdas dela e o trauma mas também como se abrir para aqueles que ela sabia serem confiáveis.
Seus instintos e sua esperteza não foram a lugar nenhum, mas foi tudo sobre ela abrir seu coração. Eu acho que isso foi uma parte considerável do que foi a evolução dela e isso a permitiu realmente se encontrar e realmente ficar de luto pelo que ela perdeu – o que nós vemos ela fazer na 4ª temporada -, acho que o que a permitiu chegar aquele ponto onde ela pode ter essas relações tangíveis e tornar-se alguém em uma comunidade que as pessoas gostem e respeitem.
O relacionamento com Rick e Carl também foi um renascimento de uma família que ela perdeu, e aconteceu que Rick era o amor de sua vida. Aquela progressão tem sido muito interessante de interpretar pois ela foi de alguém que falava muito pouco e não confiava nas pessoas, para alguém que é muito mais equilibrada e disposta a ajudar as pessoas que ela vê no mesmo lugar que ela estava. Michonne ainda tem instintos e vai fazer o que for preciso fazer. Ela é muito inteligente, ela é muito madura e ela é uma mulher poderosa. Ela tem uma feminilidade que é muito poderosa e sua força física é parte de sua feminilidade. Acho que tudo isso é muito legal e interessante de interpretar.
P: Existem pontos-chaves ou momentos especiais ao longo da sua jornada que se destacam na sua mente, que marcam a evolução dela?
Danai Gurira: Na 4ª temporada quando ela tem que segurar Judith e ela finalmente desaba, se torna muito claro para a audiência que ela era uma mãe e que ela perdeu um filho. Eu acho que mesmo na 3ª temporada quando ela está se conectando com Carl, nós vemos que ela tem um instinto maternal e que ela se importa com esse garotinho. Quando ela finalmente fica de luto por suas perdas – o que acontece na 4ª temporada, no 9º episódio – ela vê essa zumbi que parece com ela e ela está andando com os mortos novamente depois de perder a prisão, mas ela decide escolher vida ao invés da morte e mata todos aqueles walkers. Aquilo foi uma catarse para ela e uma escolha de continuar se conectando com os vivos e não com os mortos.
É claro que existem outros momentos ao longo, mas eu acho que o próximo seria na 6ª temporada quando ela se apaixona por seu melhor amigo. Aquela vulnerabilidade foi assustadora de se retornar, mas por causa da influência da Deanna e ver a Deanna como uma zumbi naquele dia, ela deixa seu coração falar mais alto naquele momento no sofá [com Rick]. Eles dois reconhecem o que eles já sabiam que havia entre eles, mas nunca tiveram um momento para agir sobre. Acho que aquele momento onde ela abre seu coração para Rick para começar algo romântico com ele é muito vital. A cena anterior com Carl também é muito vital, porque ele a vê como uma mãe. Acho que aquilo realmente a incentivou a abrir seu coração e a fez estar pronta para amar o pai dele. E claro, quando eles são pegos por Negan e tudo é destruído, aquele foi outro momento crucial de transformação: Quem somos agora? E como vamos nos recuperar?
P: No episódio 4, vemos Michonne lá fora, sozinha, praticando com seu rifle. Onde ela está mentalmente? Como ela está lidando com o que o grupo acabou de passar recentemente?
Danai Gurira: Ela está em um lugar onde ela sabe que eles precisam estar preparados para lidar com Negan e ela não quer estar indefensável contra ele. Foi uma experiência horrível estar impotente e ser pega tão fora da guarda de uma forma tão planejada e estruturada… Ela também está lidando com o fato de que seu parceiro não está no mesmo lugar que ela e isso é muito difícil, então ela está tendo que lidar do seu próprio jeito. Ela definitivamente está em território muito novo porque ela está com esse homem que é o líder, mas eles parecem estar em um tipo de impasse. No início do episódio, eles estão na cama, mas estão de costas um para o outro e não estão conectados. Eles não discutiram o que aconteceu e é óbvio que ele está escolhendo não fazer o que eles fazem – que é planejar como retaliar. Não acho que eles tiveram uma conversa de verdade desde que aconteceu e isso a faz voltar a fazer o que ela estava acostumada. Quem ela costumava ser começa a surgir aos poucos, que é uma solitária tomando suas próprias decisões e procurando suas próprias soluções sem funcionar como um time. Se ela falar com alguma outra pessoa e não ele, essa é uma forma de desrespeitar a liderança dele, então a única forma é resolver os problemas sozinha. É muito ela voltando, de certa forma, a uma parte em sua natureza de ser uma líder de um exército de um homem.
P: O que é mais desafiador para ela quando se trata de aceitar uma vida debaixo das regras de Negan?
Danai Gurira: Michonne não acredita em rendição. Ela não acredita em ser oprimida ou aterrorizada, e é muito contra sua natureza ser tratada como se fosse menos. Ela acha a ideia de ser subjugada algo patético. Para ela, a ideia de permitir que esses homens apenas os aterrorizem constantemente e mandem neles não é algo que ela imagina aceitar. Não é como ela foi construída.
P: Como é para ela ver Rick cedendo à Negan? Foi o amor dela por ele que a faz por fim entregar o rifle?
Danai Gurira: Ele admitindo para ela que ele não vai suportar perder mais ninguém e que ele vai fazer qualquer coisa para manter as pessoas vivas. Ela pode ver o medo nos olhos dele. A forma como Negan o pegou, fazendo ele temeroso de lutar e tendo mais sangue em suas mãos como punição. Rick assume responsabilidade por isso como um líder faz. Ela tem um pouco de claridade no porque ele está reagindo como está e ela entrega a arma porque ela o ama e há um entendimento, mas ela ainda está com muito raiva. Ele está escolhendo ser alguém que não luta de volta. Ela não quer causar uma revolta, então ela está presa. Ela está chocada que ele está escolhendo esse caminho considerando tudo que eles passaram e como eles superaram as coisas no passado.
Ver Rick disposto a deixá-los apenas assumir o controle… Para ela, é como se eles estivessem sendo feitos de escravos e isso é algo que ela prefere lutar até a morte do que permitir. Ela ama esse homem e ela é sua parceira e vê-lo se submeter assim é horrorizante e devastador. Você poderia argumentar que é uma forma de liderança e uma tática, mas não é uma que realmente identifica quem eles são – e esse é o argumento da Michonne.
P: Michonne e Rick compartilham um momento muito vulnerável e íntimo quando ele fala sobre Judith. Pode me dizer quais são seus pensamentos sobre aquela cena e a encruzilhada na qual esses dois líderes se encontram?
Danai Gurira: Ele sabe que ela está pensando diferente. Ela não quer viver uma vida como escrava desses bandidos. Isso não é vida. Há um momento de impasse entre eles e ele ainda questiona se ela tem outras armas escondidas. Há um momento de desconfiança que nunca vimos. Acho que o que ele faz ao contar para ela sobre Judith é realmente entender o lugar de onde ele está vindo. Ser tão vulnerável com ela daquele jeito, acredito que se abrir para ela sobre onde ele está é porque agora, ela simplesmente não concorda com ele e não consegue ver a perspectiva na qual ele está se segurando tão fortemente. Para ela, a beleza de quem ele é se manifesta no fato de que ele está cuidando dessa criança e ele a ama como sua filha em todos os aspectos, apesar de não ser sua filha. Esse é quem ele é. Ele sacrifica por amor aos outros e é isso que faz dele um ótimo líder.
P: Como você e Andrew Lincoln se preparam para uma cena tão emocional?
Danai Gurira: Eu acho que de uma forma geral nós abordamos da forma que os personagens fazem, onde eles não estão se conectando até que estão. Eles dois são estrategistas e guerreiros, mas eles não estão na mesma página e isso é difícil. Eu conversei muito com o [produtor executivo] Scott Gimple e os escritores no set, mas eu não falei muito sobre com o Andy, porque eu acho que foi aquela coisa ótima onde você se prepara sozinho e é uma cena onde ambos estão a partir da perspectiva de seus personagens. Você precisa de perspectivas distintas e separadas para ser afiado e claro, para quando eles se encontrarem em cena seja realmente rico.
P: Perto do fim do episódio, é Michonne quem descobre a pilha de colchões queimadas logo depois em aceitar em concordar com o plano de Rick. O que isso significa?
Danai Gurira: Ela disse que ia tentar porque ela sabe que ele precisa dela e ela sabe que essa era a única forma que ele tinha de imaginar eles indo para a frente. Ela ainda não está convencida, mas por respeito e amor por ele, ela disse que tentaria. Voltar para lá sozinha foi uma forma de coletar seus pensamentos, mas então, encontrar aqueles colchões a revolta completamente da habilidade de aceitar porque eles não pegaram aqueles colchões para usar. Eles pegaram para mexer com eles e quebrá-los ainda mais. Eles estão fazendo uma guerra psicológica. Eles estão continuando o processo de escravização dos seus novos subordinados e essa é uma de suas estratégias. Como você coopera com pessoas cujo objetivo é te escravizar? É onde ela está no final do episódio. Ver aqueles colchões é inequivocamente uma manifestação direta do objetivo deles.
P: Com o grupo em um lugar tão sombrio e desolado no show agora, existem formas divertidas que vocês e a equipe encontram de manter as coisas leves no set ou vocês se apoiam uns nos outros para relaxar depois de um dia difícil?
Danai Gurira: Nós começamos a trabalhar separadamente desde a estreia da 7ª temporada, então todos os personagens estão separados e não estamos sempre próximos uns dos outros enquanto estamos filmando. O show sempre lidou com situações terríveis e de alto risco, e sempre encontramos uma forma de ter alegria no set no meio disso. Jeffrey Dean Morgan é ótimo interpretando o papel dele, mas ele também é um cara alegre – ironicamente. [Risos] Sempre fomos família e cuidamos uns dos outros. Existem momentos em que você não consegue manter leve porque você tem que ir até onde o personagem vai e ficar lá e existem momentos em que você consegue ter amor e alegria uns do outros. Estamos sempre disponíveis para isso um para o outro.
The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, vai ao ar nas madrugadas de domingo para segunda-feira no AMC Internacional, às 00h, e no FOX Action (canal do pacote premium FOX+) e FOX Brasil, às 00h30. Confira todas as notícias sobre a sétima temporada.
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Fonte: AMC
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