O texto acima se baseia em um novo meme que está circulando as redes sociais e tem tomado conta dos comentários de diversas páginas da internet. Baseado em chats da Twitch, o meme original traz uma explicação sobre a personalidade do personagem principal do anime Naruto. E como a internet é pública e o meme é um patrimônio comum, por qual motivo não podemos analisar cinco vezes em que Rick Grimes passou um pouco do ponto e foi duro demais?
Separamos abaixo cinco momentos durante as nove temporadas de The Walking Dead que demonstram que um herói acaba tendo que ser duro vez ou outra para atingir seus objetivos.
Tudo bem, analisando o lado do protagonista é bastante embaraçoso ter sido traído enquanto estava em coma, ter sua esposa grávida provavelmente do seu – até então – melhor amigo e, ter que matá-lo por não conseguirem mais conviver juntos. Mas, talvez a audiência seja um pouco injusta com Lori quando analisa apenas os sentimentos de Rick.
Lori viu o marido em um hospital entrar em coma e passar meses desacordado. Nesse meio tempo, o mundo se transforma em um cenário apocalíptico e os mortos voltaram à “vida” devorando a carne dos humanos. Para salvar a própria pele e a do filho, ela precisou abandonar o marido desacordado – que não poderia ser tirado do hospital ao mesmo passo que estava em uma zona de risco. Ou seja, a morte era certa. Dotada de sentimentos humanos, Lori que se via desamparada e abalada psicologicamente acabou caindo na conversa de Shane e, enfim, o resto da história todos nós sabemos.
Quis o destino que Rick acordasse e conseguisse localizar sua família. Um alívio para Lori – já que carregava culpa por ter o abandonado sem saber ao certo quais eram suas chances de sobrevivência -, mas, ao mesmo tempo, um peso desesperador por saber que não poderia apagar o que houve entre ela e Shane.
Passada todo o período de descoberta de Rick, a amizade com Walsh ficou abalada. Tanto que os dois não conseguiam mais suportar a presença um do outro, ao ponto em que as diferenças morais e de liderança exigiram que ou um ou outro continuassem vivos. Enfim, Rick foi o assassino do próprio amigo. Tudo isso é bastante aterrador para um homem que até então era alguém que vivia uma vida regrada pela legislação americana e tinha um proceder exemplar.
Ocorre que todo o episódio acabou levando Rick a culpar Lori por todas as desgraças passadas e, na terceira temporada antes da trágica morte dela, o xerife resolveu que ignorar a esposa e tratá-la como uma qualquer era o que devia ser feito. Óbvio que o arrependimento bateu à porta quando ele viu que ela havia optado pela vida de Judith, se entregando para a morte.
Sim, Michonne era um ser humano bastante conturbado no começo. Temos que admitir que uma mulher andando pelo mundo com os cadáveres do namorado e de um amigo como se fosse passear com seus cachorros não é nada saudável. Além da postura exótica, ela era uma pessoa bastante fechada e repleta de problemas psicológicos.
A questão é que Rick não demonstrou muito afeto e nem foi empático com a personagem. Ela vinha de uma situação em uma comunidade – Woodbury – que a devastou emocionalmente e que fê-la perder a única amiga verdadeira que conquistou depois do incidente que arrancou dela o seu filho. Então, quem sabe, sentar para conversar – mesmo que ela estivesse atrás das grades – poderia ser o suficiente para que o xerife tirasse todas as dúvidas necessárias e decidisse se iria ou não incorporá-la ao grupo.
Ao invés disso, Rick arrastou-a para o interior da prisão e a atirou de forma bem grosseria dentro de uma das celas e sendo bastante ríspido nas primeiras vezes que trocaram palavras. Ela só ganhou valor para ele, quando conseguiu oferecer ajuda para resgatar Maggie e Glenn das mãos do Governador.
Curioso que o que começou tão mal, acabou se transformando em um amor ainda mais forte do que ele tinha por Lori. O destino é um grande piadista.
Outro tema bastante polêmico. Normalmente a audiência tende a pender apenas para o lado do protagonista e compreendê-lo em suas batalhas emocionais, mas o mesmo não se aplica aos demais personagens. É o caso de Andrea que passou a ser odiada pelos fãs de The Walking Dead após viver um relacionamento com o Governador. Mas, se analisarmos, veremos que ela não tinha como desconfiar do monstro que dormia ao seu lado.
Rick e o grupo a deixaram para trás no final da segunda temporada quando ela salvou a vida de Carol das mãos de vários walkers. Eles achavam que Andrea havia morrido, enquanto ela, ao ser salva por Michonne, passou a acreditar que nunca mais veria os antigos aliados novamente. Então, de fato, a irmã de Amy não tinha como imaginar quem era o grupo que o Governador queria exterminar e nem os motivos que o moviam a isso. Tudo bem que Michonne tentou avisá-la, mas quem nunca esteve cego por amor? E como ela, que não tinha um faro tão aguçado, iria realmente imaginar que o Governador era um homem vil?
Ao finalmente entender quem eram as pessoas do grupo, e ainda sem compreender as motivações do seu namorado, ela resolve fazer uma visita à prisão. Cheia de expectativas e feliz por poder rever as pessoas com quem criou vínculos, Andrea chega ao local esperançosa e sorridente, mas é tratada com brutalidade e reduzida a uma inimiga. Ela tenta ser a ponte que traria paz entre ambos os locais, mas Rick é irredutível, assim como todos os demais. No fim, Andrea é expulsa do local após receber diversas indicações de que o Governador era um homem mal.
E é esse tratamento duro e ríspido que Rick teve com ela, que acaba levando Andrea a uma trajetória de morte. Ao perceber que não poderia estabelecer a paz entre os grupos, ela tenta voltar para Rick, mas, como todos nós sabemos, acaba morrendo em um ato de maldade do Governador.
Se Rick não fosse tão duro com a personagem, talvez ela se convencesse naquele momento que estava sob ameaça e ficasse junto do seu antigo grupo na prisão. Engraçado que ele foi aprovador da presença de Merle no local, mas não utilizou de equidade para com Andrea.
Hoje Carol, além de ser junto de Daryl parte dos dois últimos personagens desde a primeira temporada, é tida como a integrante mais bem desenvolvida e construída de toda a série. Ocorre, que no inicio a audiência a achava uma mulher frágil e possivelmente uma candidata a qualquer tipo de morte besta.
O cenário começou a mudar para Peletier no inicio da quarta temporada, quando Rick – abalado pelas sucessivas perdas do terceiro ano – abandonou a posição de liderança e cedeu lugar a um conselho formado pela mulher, Sasha, Hershel, Glenn, Michonne e Daryl. Nesse mesmo tempo uma espécie de gripe muito resistente invadiu as celas da prisão e afetou diversas pessoas que começaram a morrer pela falta de alternativas médicas.
Carol, que teoricamente era parte da liderança, resolveu se precipitar e matar duas pessoas – Karen e David – que estavam expondo todos os outros à doença. E nesse momento, Rick, que estava brincando de ser fazendeiro e não ligando mais para todo o resto, resolveu reassumir seu papel e expulsou Carol do grupo, desconsiderando todo o papel maternal que ela tinha com seus filhos e toda a história que passaram juntos. Inclusive, em sua argumentação de banimento, ele afirmou que a mãe de Sophia era um perigo iminente para Carl e Judith. Parece que ele não conhecia o caráter de Carol e não sabia que ela entregaria a própria sobrevivência para manter quem ama vivo.
Mas dessa vez, a insensibilidade do líder fez com que a personagem ganhasse força e, no fim, da mesma maneira que matou duas pessoas para tentar resolver o problema da doença, Carol agiu sozinha e salvou todo o grupo que estava nas mãos dos canibais no começo do quinto ano. Se chegamos ao nono ano da série, grande parte se deve ao ato dela no Terminus.
Novamente o caso em que a audiência defende o protagonista desenfreadamente. Mas, se analisarmos por outro ângulo, começamos a ver a problemática envolvida na história. Rick chega com seu grupo em uma comunidade já estabelecida – com seus problemas, é claro, mas a prisão também tinha problemas – e simplesmente a domina, sobrepondo o seu modo de pensar e agir no apocalipse. Eram pessoas despreparadas e não cientes de tudo o que ele sabia. Pessoas que não passaram pelos seus mesmos traumas.
Quando confrontado por um grupo intitulado de Salvadores, Rick simplesmente achou que seria válido juntar várias comunidades e arriscar a vida de todos e a integridade de tudo o que foi construído ao longo dos anos dentro dos muros, por uma ideologia própria. Óbvio que o modus operandi dos Salvadores prejudicava todos, mas ao mesmo tempo não parece coerente arriscar tudo por causa de um orgulho ferido.
Com um plano que soa muito mais como um tiro no escuro – já que ele não tinha noção alguma de como eram esquematizados os Salvadores – Rick resolve invadir as imediações que eram posse deles e matá-los, achando que o problema era simples de ser resolvido. O resultado? Um líder psicopata irritado com as comunidades esmagando a cabeça de Glenn e Abraham dando um pontapé inicial a uma guerra que levou muitos outros sobreviventes que comprometeram suas vidas pelo plano de Rick. As vezes ser duro significa ter que lidar com consequências aterrorizantes.
A dureza de Rick em certos momentos é resultado de uma história de batalha e de tentativas ininterruptas de manter todos aqueles que o cercavam vivos, estabelecendo um mundo ordenado no qual a única ameaça são os mortos que caminham nas ruas. A medida que sua liderança falhava e problemas aconteciam, Rick era atropelado por um mar de responsabilidades que talvez não estava pronto para lidar. Isso o levou a ser cada vez mais comprometido em sua dureza. Até que tudo começou a parecer dar certo no inicio da nona temporada. Doce ilusão, Rick acabou pagando um alto preço.
E você? Lembra de outros momentos em que Rick foi duro demais? Discorda de algum dos pontos? Comente abaixo.
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