Robert Kirkman explora o chocante midseason finale e fala sobre a criação do arco “All Out War” nos quadrinhos

Quando informado que muitos fãs de The WalkingDead estão um pouco irritados com Robert Kirkman e equipe depois do midseason finale da série, o roteirista fingiu surpresa. “O que eu fiz?” Ao ser lembrado sobre vários personagens que matou, incluindo o patriarca favorito dos fãs Hershel Greene, Kirkman sabe exatamente como responder. “Dá um tempo”, ele diz. “As pessoas não sabem que série estão assistindo a essa altura?”

De fato, as mortes que caracterizaram o foco da metade da quarta temporada foram exatamente o tipo brutal de fim que tanto os fãs da série quando dos quadrinhos aprenderam a esperar. Do final grotesco de Hershel por meio da espada do Governador ao final (um pouco mais catártico) do próprio vilão caolho, sangue derramado faz parte do negócio vigente em The Walking Dead. Mas além dos valores de choque e de impacto que eles têm nos fãs de maneira visceral, os acontecimentos de “Too Far Gone” – que tirou seu nome e enredo geral de diferentes partes a análise literária de Kirkman e Charlie Adlard – também deixam perguntas abertas a respeito de para onde Rick Grimes e seu grupo vão agora.

CBR News falou com Kirkman sobre o finale, e o roteirista explicou como o caminho para a batalha final, com um tanque à frente, não somente levou à morte de Hershel, à perda de Judith e à separação do grupo, ele também explica as teorias que os roteiristas, liderados por Scott Gimple, usam quando eles removem peças do jogo, como a agora ausente Carol. Ele também provoca os fãs dos quadrinhos para predizerem o que virá pela frente na TV a partir de suas próprias experiências, enquanto mostra como o trabalho da TV se desenvolveu na história atual e massiva de “All Out War” que ele e Adlard estão produzindo durante o décimo aniversário dos quadrinhos.

CBR News: Robert, o mid-season finale de The Walking Dead foi chocante para muitos fãs devido ao grande número de mortes, e, para mim, o jeito como terminou pareceu quase um fim de temporada. Em outras palavras, terminou com um grande estardalhaço e encerrou uma maioria de histórias em vez de deixar tudo meio inacabado. Você discutiu isso com os roteiristas no sentido de ser mais um ponto final do que uma pausa?

Robert Kirkman: Nós sabíamos no começo da temporada que faríamos o encerramento da história da prisão nesses oito episódios, então, acho que pelos planos isso tinha que acontecer. [Showrunner] Scott Gimple é um grande fã dos quadrinhos e os lia bem antes da série existir, por isso ele queria trabalhar com essa batalha gigante e acalorada na prisão e fazer com que a história se fechasse ali. Como sempre soubemos que montaríamos a ideia dessa forma, sabíamos que seria um episódio meio explosivo e gigantesco em geral, e acabou dando certo para que tivéssemos um ótimo midseason finale.

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Mas, é, nós quisemos acertar ao fazermos todos esses pontos finais ali e fazer algo bem grande e legal. E não se preocupe. Haverá algo bem grandioso para o verdadeiro final da quarta temporada. Mas sentimos que deu certo fazer as coisas desse jeito.

Pessoas que leram os quadrinhos sabem que nem tudo na série é feito como nas páginas, incluindo a morte do Governador. Como vocês continuam tentando superar esses desafios de decidir o que manter e o que mudar com relação aos quadrinhos, e essa tarefa tem se tornado mais complexa com o passar do tempo?

Robert Kirkman: O aspecto interessante de tudo isso é que esse é um processo bem natural. Temos oito roteiristas na série e nos reunimos em uma sala para discutirmos sobre a montagem de uma temporada de televisão baseada nos quadrinhos. Todos eles são muito inteligentes, muito criativos, então nem sempre é uma questão de sentar e debater o que vamos mudar ou não. É mais uma questão de entendermos exatamente o que aconteceu nos quadrinhos – o que a história contou – e então como aplicaremos tudo naquilo que já aconteceu na série. Há muitos personagens que morreram antes ou que morrem depois ou até mesmo que nem estão nos quadrinhos, como Daryl Dixon. Todos esses são fatores-chave que naturalmente mudam a história de forma orgânica. É esse processo de tentar encaixar as coisas na história e trabalhar no contexto da série e daquilo que estamos montando nela que levam às pequenas mudanças. Ou, às vezes, isso leva a histórias ou momentos que são diretamente adaptados dos quadrinhos. É um processo divertido, e é um processo longo. Não é fácil, mas acontece de forma meio natural durante o processo de trabalho diário.

A morte de Hershel foi provavelmente o que mais afetou as pessoas quando apareceu na tela e foi o exemplo mais recente de como você dá um final brutal para um personagem tão amado. Quando você sabe que vai matar um personagem como esse, qual o objetivo? Você quer que seja extra horrível? Existe uma quantia perversa de prazer nisso?

Robert Kirkman: Não necessariamente existe uma quantidade perversa de prazer, apesar de haver um pouquinho. [Risos]

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O que posso dizer é que há uma questão de – um personagem importante merece uma morte importante. Um personagem memorável merece uma morte memorável. Um personagem amado merece uma morte horrível, só por causa do quanto ele é querido. É algo que faz sentido para mim, apesar de acreditar que seja estranho para as outras pessoas. Você quer que as pessoas se incomodem com a morte de um personagem quando elas o adoram. Seja o Hershel na série ou o Tyreese nos quadrinhos – alerta de spoiler para quem vê a série, eu acho! – eu quero mesmo é que a morte seja tão emocionante quanto possível para honrar a morte daquele personagem. Não é uma questão de manipular as pessoas ou incomodá-las; é bem uma questão de tentar manter uma coesão com algum tipo de núcleo emocional. Queremos dar a ideia de que a vida do personagem estava seguindo em direção de algo monumental que afetará fortemente os outros personagens também. Há muita coisa envolvida nisso.

Do outro lado desse episódio, temos a questão da bebê Judith como uma personagem. Honestamente, nessa altura, ela é mais uma peça para a trama do que um personagem de verdade, mas a presença dela na série foi bem diferente dos quadrinhos. Com uma cena em que vemos apenas uma cadeirinha ensanguentada, certamente parece que ela está morta, mas eu preciso perguntar: Você filmou dessa forma para não fazer uma série que matou um bebê, ou existe alguma chance de que ela ainda esteja viva?

Robert Kirkman: Com certeza filmamos de uma forma que facilite o que virá em seguida. Infelizmente, não posso revelar o que “virá em seguida”. É perfeitamente possível que o bebê esteja morto, e é perfeitamente possível que não esteja. Teremos que esperar para ver. O que posso dizer é que qualquer mudança que tenhamos feito na história é feita para iniciar algo muito legal para o futuro. Sempre há um motivo para que as coisas sejam mudadas ou mantidas, mas essa é bem difícil de responder. Estamos mantendo as coisas um pouco ambíguas de propósito com relação ao bem estar de Judith ou à falta dele. Teremos que ver, mas com certeza temos um plano.

No aspecto livre de mortes da série, temos Carol sendo banida do grupo pelo Rick. Em um quadrinho, se você remove um personagem dessa forma, é possível trazê-lo de volta anos mais tarde. Mas na TV, imagino que para trazer uma história assim de volta é difícil por causa da disponibilidade da atriz e contratos e tudo mais. Tem sido impressionante até agora, como vocês conseguiram segurar retornos como o de Merle por tanto tempo. No geral, você pensa nessas coisas em termos de, “Por quanto tempo podemos segurar essa pessoa fora das telas antes do público se irritar conosco por não os trazermos de volta?”

Robert Kirkman: No final das contas depende de planejamento. Sim, é um pouco mais difícil de fazer na televisão, mas nunca deixamos um personagem para trás sem saber exatamente quando vamos trazê-lo de volta. É bem o ponto principal. Mesmo antes de escrevermos a saída de Carol, sabíamos como e quando ela voltaria. Com um personagem assim, nunca podemos mesmo deixar que seja, “Essa será a última vez que ela aparecerá,” sem termos um planejamento de quando será a última vez em que ela aparecerá. Quando deixamos “no ar”, é com uma volta em mente. É algo que funcionou com personagens como Merle, Carol e Morgan, mas depende mesmo de planejamento. Fico feliz em dizer que com Scott Gimple e todos que trabalham na série, trabalhamos duro nessas ideias.

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Então você nunca vai dar uma de “Sopranos” e fazer o Russo correr para a floresta e nunca mais ser visto?

Robert Kirkman: [Risos] Nunca se sabe!

Olhando lá na frente, o que você pode dizer sobre o que vem por aí, considerando o final definitivo do último episódio? O clipe da segunda parte da quarta temporada que você mostrou durante “Talking Dead” na semana passada foi basicamente o Carl dando uma de isca, um jogo que nunca acaba bem.

Robert Kirkman: O que posso dizer sobre a cena de “Talking Dead” especificamente é que aquela cena revela um bocado para os fãs dos quadrinhos, quadro a quadro. Isso deve dar um pouco de perspectiva sobre para onde vamos na segunda metade da temporada. Encorajo todos os leitores dos quadrinhos a tentar fazer essa tarefa.

O que teremos para o Rick, na sua busca por não ser o líder, e sim um fazendeiro?

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Robert Kirkman: Isso está definitivamente perdido. As coisas têm tomado esse rumo de convenções como, “Ei, somos pessoas de novo, e há uma sociedade com um conselho que nos mantém seguros! Podemos plantar e nos preocupar com outras coisas!” acabou também. Com a chegada do resto da quarta temporada, tiramos tudo isso e colocamos os personagens de volta no modo “Tenho que me esconder e encontrar comida. Não podemos parar. Não sei onde estão meus amigos ou se estão vivos ou mortos.” É uma volta à série em um momento no qual os personagens estão extremamente vulneráveis. Isso nos permite fazer coisas bem interessantes. Tirando tudo isso e voltando à essência de sobrevivência que o mundo pede, “Eles vão reconstruir? Eles vão encontrar outro lugar? Eles vão se encontrar ou ficar separados por um tempo indefinido?” Essas são perguntas que vão nortear o caminho do resto da temporada e, eu acho, manter as coisas frescas e interessantes.

Outro assunto em destaque é o de que a morte de alguém implica na chegada de novos membros para a vaga e se tornam uma parte forte na ação. Sei que Lilly chegou com a morte do Governador, mas no geral, vocês pretendem expandir na volta da série?

Robert Kirkman: Com certeza. Sempre nos animamos com adições no elenco e com a introdução de sangue novo na série. Há muito por vir com Abraham, Eugene e Rosita, que serão adicionados ao elenco em algum ponto na próxima etapa da Quarta Temporada. Teremos que ver quando isso acontecerá. É importante manter as coisas em movimento nessa série e manter as coisas mudando. Sempre tentamos adicionar novos elementos.

No lado dos quadrinhos, “All Out War” está a caminho, exibindo a história mais longa na série até o momento. Enquanto você tiver várias tramas paralelas na história de “The Walking Dead”, essa parece significativamente diferente. Eu estava me perguntado se a natureza de padrões estendidos na roteirização para TV tem impactado em como vocês abordam os quadrinhos.

Robert Kirkman: Definitivamente um pouco. O trabalho que foi investido na modelagem de “All Out War” antes mesmo de começar a escrever as edições é com certeza um efeito colateral do trabalho com a série e meio que a paixão pela ideia de fazer esquemas e coisas que eu nunca fiz nos quadrinhos antes. De verdade, é uma questão de “All Out War” ser o roteiro paralelo mais complexo que eu tentei fazer em “The Walking Dead”, e isso significou que eu tive que mudar um pouco como as histórias são contadas no livro para acomodar a escala de tudo isso. É um processo divertido. Além disso, é importante que eu me mantenha focado nos quadrinhos apesar da existência da série e do crescimento da importância de “The Walking Dead”. Fazer 12 edições ao longo de oito meses ou algo assim mostra o quão comprometidos Charlie Adlard e eu estamos com os quadrinhos. Mostra o quanto estamos investindo na continuação da história em sua forma original.

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The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com os oito últimos episódios da quarta temporada no dia 09 de Fevereiro de 2014 na AMC e 11 de Fevereiro de 2014 na FOX Brasil.

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Fonte: Comic Book Resources
Tradução: @Felipe Tolentino / Staff Walking Dead Brasil

Rafael Façanha

Zumbi Chefe no The Walking Dead BR. Treinador Pokémon, viciado em Magic, conectado 24 horas por dia e até já fui reconhecido como Wikipédia-Viva de The Walking Dead. Meu mundo é dividido em assistir muitas séries e filmes.

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