Série

Eu odeio The Walking Dead: uma discussão totalmente necessária e importante para os fãs

“Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba.” – Hermann Hesse.

O ano era 2010, 31 do mês de outubro. A jornada de um homem que acorda do coma e se depara com um mundo totalmente em ruínas e tomado por mortos vivos devoradores de qualquer ser vivo de sangue quente se inicia. Ninguém que fazia parte daquele elenco, nem produtores e, tampouco, a audiência que acompanhava àquele primeiro episódio era capaz de imaginar o imenso e desenfreado sucesso que aquela série faria. Sucesso capaz de elevá-la a marcos históricos de programa mais assistido e série mais aclamada pela crítica mundial. Aquilo se tornou uma força natural, arrematando milhões de fãs desde os países mais desenvolvidos até os mais remotos lugares do globo terrestre.

Em 2018, em seu nono ano, passados cento e quinze episódios desde que a pequena zumbi Summer preencheu a tela das nossas TV no Halloween de 2010, vemos um cenário invertido. Fãs se convertendo naquilo que a internet chama de haters e uma audiência cada vez mais crítica e dispersa.

A criticidade é totalmente necessária e faz parte do nosso instinto de sobrevivência, já que o ser humano necessita do senso crítico desde seu primórdio para julgar o que lhe é benéfico ou prejudicial. Entretanto, tal instinto sempre foi acompanhado pelo senso de utilidade. Ou seja, o ser humano desenvolvia a crítica e posteriormente considerava se aquilo lhe era útil ou não. Quando deixava de ser útil, era abandonado.

Em algum momento esses instintos se desvencilharam e hoje em dia vivemos em um mundo no qual tudo é criticado como se já não fosse útil, mas ao mesmo tempo é consumido como se útil fosse. É a crítica alimentada pela crítica alheia e a necessidade de estar adequado a totalidade social – esse, outro instinto de sobrevivência – se deixando levar pelas opiniões da maioria e sendo condescendente com pensamentos alheios.

Imagem promocional da aclamada 1ª temporada de The Walking Dead.

Mas há ainda o ponto não mencionado: os tempos mudam. Nós crescemos e amadurecemos em cada segundo que continuamos trilhando nossa trajetória sobre a Terra. A cada milésimo bilhões de neurônios trabalham em realizar transmissões. Todos os dias gostamos e desgostamos de uma dezena de coisas. Depende do nosso humor; nosso estado emocional; físico e psíquico. O fato é: opiniões não são eternas e caem por terra tão rapidamente quanto são construídas.

Por fim, nesses aspectos traçados até aqui, precisamos abrir mão do orgulho e ego e admitir: nossas opiniões devem auferir somente a nós mesmos. Não que não devam ser dadas, mas há momentos que nosso senso crítico deve se unir ao de utilidade e entendermos: se não gostamos, abrimos mãos e seguimos em frente felizes pelo tempo que aquilo foi útil pra nós e em busca do novo, sem necessitar menorizar e se desfazer pelo rumo que aquilo tomou insistentemente.

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O efeito The Walking Dead traz isso. Um sucesso mundial que, como quase toda a obra, se tornou temporal. Fãs a largam e seguem em frente na mesma medida que novas pessoas chegam para agregar o grupo. Mas como um vírus zumbi, aqueles que não sabem medir o senso crítico com o de utilidade e insistem em propagar o ódio por algo que aparentemente lhes foi prazeroso por um tempo, mas já não lhes é mais, acabam contaminando fãs recentes e aquilo que um dia foi projetado para entretenimento se propaga em ódio. Ódio contra produtores; ódio contra atores; ódio contra fãs e – a parte que nos toca – contra o trabalho daqueles que demandam seus tempos em anunciar a série.

Não há demagogia aqui. Com toda a certeza é evidente que há uma baixa imensurável entre a qualidade das primeiras temporadas com as últimas. Não é necessário que se explique muito, pois é óbvio. Mas como já retratado, mesmo com a queda de qualidade é totalmente útil para milhares de pessoas.

Entre o intervalo desse oitavo e nono ano, notícias vieram para fomentar ainda mais a ideia dos críticos de plantão quanto a um fim inevitável para a série. A saída e suas consequências de Andrew Lincoln da série; os problemas contratuais com Lauren Cohan; a troca de showrunner.

Entretanto, há algo que parece não ter sido notado por aqueles que mais criticam a história: a queda de qualidade que tanto reclamam passou a ser notável a partir do momento em que a série passou a se alinhar mais às HQ’s e o prendimento que os impressos de Robert Kirkman traziam ao enredo acabaram por lhe tornar previsível e maçante. Perder o centro disso, personagens que nos fixam obrigatoriamente aos quadrinhos e apostar no novo, que retrate o que o material base traz de melhor, mas de uma forma totalmente distinta pode ser uma forma de dar fôlego novo ao show de TV.

O desfecho da história de oposição de Rick e Negan foi responsável por grande parte das críticas ao oitavo ano da série.

É uma fórmula nova e totalmente oposta daquela que vínhamos tendo nos últimos anos. A história terá um salto no tempo e retornará oposta ao que estávamos acostumados. Além de uma cenografia dessemelhante, teremos questões de mudança de rumos ao necessitar de nova liderança, desenvolvimento de personagens e histórias inovadoras. Aparentemente, tudo o que o público pedia quando dizia que queria algo novo na série.

O mundo das séries mudou. Sucessos como Game of Thrones e How to Get Away With Murder nos mostram que despejar protagonismo sobre apenas um personagem não corresponde mais com as expectativas do público. Rick Grimes por mais que seja um grandioso herói acaba suprimindo enredos alheios e prejudicando o crescimento dos demais. Talvez com sua ausência e um protagonismo não pontual, distribuído entre diversos personagens a série consiga tornar a história mais interessante e trazer diversas tramas que serão atrativas para públicos totalmente opostos.

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Perder o protagonista e elevar o nível é algo totalmente faltante na indústria televisiva, mas por qual motivo não podemos dar créditos a The Walking Dead e nos mantermos esperançosos na expectativa de que dê certo? É totalmente discrepante de tudo o que já foi apresentado, mas diferenciar pode ser totalmente bom se bem executado. Por que prejulgar e agir com conjectura quando a nona temporada ainda nem nos foi demonstrada? Entre os trailers dos últimos anos, aparentemente o trailer da nona temporada parece ser o mais diferenciado, inovador e repleto de esperanças. Então por que não manter a fé?

Tudo bem, você pode estar bufando nessa parte da leitura – se chegastes até aqui – e questionando: mas eu simplesmente odeio o que The Walking Dead é agora, e nada que for feito me fará mudar de opinião; o tempo dessa série já passou. Se esse é seu caso, caro leitor, temo que a frase que preludia esse artigo lhe deva aprouver: só podemos odiar aquilo que nos é constituinte. O que não nos constituí, nos desinteressa e se nos desinteressa, partimos em busca de algo novo sem olhar para trás.

Pôster da 5ªtemporada: a série possui uma gama de personagens interessantes que perdem espaço por causa do forçado protagonismo.

Insistir em comentários mostrando indignação nas redes sociais e em perseguir atores e produtores os ameaçando e se desfazer do trabalho de quem dedica tempo em divulgar materiais da série apenas comprova que ainda há uma ligação entre você e a série que é difícil de ser rompida. Quando você diz que não se importa mais, na verdade você se importa; quando diz que não acompanhará mais nada sobre o conteúdo, você seguirá acompanhando. Quem não se importa e não se interessa não anuncia, apenas parte em busca da inovação.

Esse artigo não é uma forma de calar e censurar opiniões. Opiniões são recebidas com carinho, e são elas que constroem o mundo e sustentam a sociedade. O problema está na insistência em replicar uma opinião de repúdio sendo hipócrita consigo mesmo, apenas sendo levado por uma massa, totalmente sem um norte fundamentado. Odiar por odiar e por ter fome de propagar o ódio.

Não espero que os reclamantes se calem depois dessa redação. Mas espero minimamente ter lhes feito pensar se não é momento de depositar mínima esperança no que a nona temporada poderá nos trazer de novo. E depois, se tudo piorar e nós, pelo senso crítico, entendermos que a série não é mais útil, seguimos em frente em busca do novo, felizes pelos grandes momentos que tivemos com a história e em busca de algo que nos seja prazeroso na nossa nova fase da vida.

Como sempre, o espaço de opiniões está aberto. Discordando ou concordando você é livre para opinar e comentar abaixo. É prazeroso para nós vermos o respaldo do nosso trabalho e responder você.

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The Walking Dead, a história de drama número #1 da TV a cabo, vai estrear sua 9ª temporada no dia 7 de Outubro de 2018. Confira o trailer oficial da temporada e fique por dentro de todas as notícias.

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Carlos Knewitz

Gaúcho, nascido na primeira metade dos anos 90 e com memória fotográfica. Estudante de Direito e extremamente viciado em escrever. Aficionado pelos quadrinhos de Robert Kirkman, fã de The Walking Dead e Fear the Walking Dead. Apaixonado por Carol Peletier e Alicia Clark e, sucessivamente, por suas intérpretes.

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