[AVISO: TEXTO COM SPOILERS DOS QUADRINHOS E DA SÉRIE DE TV]
Bem, cá estou eu redigindo mais um texto e esse com o propósito de apresentar duas personagens – que na verdade não precisam de cerimônias – femininas de peso na série. Se o feminismo tivesse de ser representado em The Walking Dead, tenho certeza que Michonne (Danai Gurira) e Carol (Melissa McBride) seriam as maiores ativistas.
Tem-me estarrecido nos últimos tempos a quantidade de comentários pejorativos que uma ou outra recebem dos “fãs” da contraparte. Assim como foi, há pouco tempo, entre Carol e Beth (Emily Kinney), parece que aqueles que elegem Michonne ou Carol como personagem favorita não conseguem habitar o mesmo planeta.
Falemos um pouco de quem é Michonne. Michonne apareceu no final da segunda temporada, sendo uma espécie de Messias para Andrea (Laurie Holden), salvando-a da morte iminente. Naquele momento talvez os fãs tenham ficado um pouco desorientados (isso para quem não acompanhava os quadrinhos e não sabia do que se tratava aquele vulto com katana na floresta). Mas a verdade é que desde a terceira temporada a personagem tem mostrado algo em todos os episódios: fidelidade. Michonne é fiel em todo o tempo a quem estiver ao seu lado, a menos que isso signifique perder seus valores. Deixar Andrea para trás com o Governador (David Morrissey) é um exemplo de que se existe algo mais presente em Michonne do que a fidelidade, esse é o faro para o perigo.
Ao chegar à prisão e não ter uma recepção amigável, Michonne não se negou a se submeter às regras de exílio interpostas por Rick (Andrew Lincoln). Antes mesmo de Rick apresentar-se ela já o conhecia. Ela sabia que aquele pequeno grupo de pessoas abrigando-se na prisão era na verdade o antigo grupo de sobrevivência de Andrea. Michonne sabia que agora estava mais próxima do que poderia chamar de família.
Ali, na prisão, começou um forte companheirismo. Ir para a batalha sem Michonne parece ser difícil para Rick. A única vez que o tentou (no hospital), saiu com baixas. Rick e Michonne funcionam muito bem em cenas de ação. Sabem se posicionar e Michonne está sempre pronta para o ataque quando Rick ordena. Nas HQ’s é exatamente essa a relação entre os dois. Até nos dias atuais que vivem os personagens da HQ, Michonne é o braço-direito de Rick em toda e qualquer batalha e está pronta para guerra até quando ele não a pede. É uma relação de cooperação e fidelidade. Num dos últimos quadrinhos, Rick retrata Michonne como “[…] minha melhor amiga […]”.
Partindo daqui, explicitemos Carol. A mulher de meia-idade, dona de casa, violentada pelo marido, mãe protetora. A indefesa presa do sistema machista opressor. De tão vítima que Carol era, nenhum daqueles que acompanham desde a primeira temporada não passaram por momentos de “Carol será a próxima a morrer.”.
Pulemos todo o drama da segunda temporada e as poucas aparições na terceira para falar da quarta e quinta temporada. Em algum momento Melissa McBride trocou de personagem e nós não o vimos? Talvez, a ausência de Andrea obrigou os roteiristas a suprir essa carência de história que teríamos dali em diante. Carol tomou uma proporção monstruosa frente aos outros, saiu do elenco de apoio para protagonizar cenas e abrilhantar a história. Disposta a tudo – tudo mesmo – para proteger a sua família (para ela aqueles que sempre estiveram com ela e fizeram parte da sua transformação agora suprem sua necessidade de família, pelo fato da sua real família ter se dissipado com o apocalipse), Carol se torna totalmente estrategista, fria e calculista. Ora, mas essa não é a discrição do Rick? Exato, enquanto Michonne é o braço-direito de Rick, Carol é o que Rick seria se mulher. Manter-se vivo; manter quem ama vivo; matar quem oferecer ameaça. Essas são frases que descrevem Rick e Carol.
Carol agora é independente, não necessita de mais ninguém a dizendo ou ensinando-a como sobreviver. Ela está disposta a viver, não é mais a melancólica pessoa que aguarda o momento da morte. Demonstra liderança. Onde? Não, não vimos um episódio que deixe evidente Carol liderando o grupo, mas foi a ela que Rick concedeu o comando do grupo quando teve que se separar com Michonne, Tyreese, Glenn e Noah para investigar a comunidade do último na Virgínia. Carol e Rick sabem quem são e sabem porque agem.
Enfim, as duas não compartilharam muitas cenas, não parecem ser aquelas amigas que se juntam para fofocar e comer biscoitos. Contudo, uma das coisas que podemos ter certeza é que entre elas há respeito e afeto, ao ponto de que se todos morressem e restassem as duas, Carol continuaria a fazer de tudo para manter Michonne viva e Michonne lutaria até o último suspiro para dar todo o apoio a Carol.
É triste ver que há fãs que pouco se importam em analisar as relações e ficam torcendo desenfreadamente para que uma ou outra morra, por medo de “tirar o brilho” do ídolo. Carol e Michonne têm posições diferentes no grupo, tem opiniões diferentes, mas isso não significa que uma seja mais merecedora que a outra. Carol está desenvolvendo-se cada vez mais seu senso investigativo e racional, que não possuía no inicio da série e Michonne está retomando seu lado afável e doce, cheio de esperança que possuía antes do apocalipse. Estão se invertendo os papéis das personagens.
É totalmente desanimador de ver que ao invés de centrarem-se em ver os personagens como um todo, como uma rede complexa, hierárquica e comunitário-solidária, alguns fãs centram-se em tentar de todas as maneiras desqualificarem o personagem que julgam estar intimidando seu ídolo em cena. Não, Carol não é a má consciência de Rick e Michonne não é a boa consciência de Rick. As duas têm papéis fundamentais ao lado do líder. Se Michonne não tivesse indicado que deveriam ir para Alexandria, estariam até agora na rua, morrendo gradativamente. Contudo, se Carol não indicasse que deveriam tomar cuidado e serem cautelosos e que Pete (Corey Brill) era uma ameaça para todos e não só pra Jessie (Alexandra Breckenridge), talvez logo algum dos nossos queridos personagens sofresse pelo silêncio dela – vide Reg (Steve Coulter). As duas não são inimigas, não se opõe, estão posicionadas em cargo de confiança de Rick. Rick não dá tanto crédito para os outros membros quanto dá para a opinião das duas. Por quê? Talvez pelo fato de se parecerem com ele em muitos aspectos.
Não há dissensões. Se há, talvez seja a de que caso Michonne se encontrasse em uma situação de dois membros do grupo estando em perigo e podendo salvar só um, lutaria até o fim para impedir a morte dos dois. Sendo capaz de permitir sua própria morte e depois a dos outros dois para não ter que escolher. Carol escolheria por aquele a quem tem mais afeto, por exemplo, numa situação de perigo para Glenn (Steven Yeun) e Sasha (Sonequa Martin-Green). Provável seria que a miss Peletier primeiramente desenvolvesse um plano para salvar os dois bem estruturado, mas caso não o conseguisse, daria maiores possibilidades a quem a acompanha desde sempre, Glenn. É fria, mas ao mesmo tempo dá atenção a valores ainda humanos: estar do lado de quem sempre esteve por nós. Mas no fim, estar do lado de Michonne é estar do lado de Carol, Rick, Carl, Glenn, Maggie, etc. Estar do lado de Carol é estar do lado de Michonne, Rick, Carl, Glenn, Maggie, etc. Paremos de defender pontos de vista, defendamos o grupo.
E você? Posiciona-se ante um dos lados, defendendo uma das partes ou é da opinião que há um só grupo e é esse que deve ser protegido? Abaixo, nos comentários, posicione-se com sua opinião e argumentos, debatendo a fim de trazer maior coercibilidade ao seu ponto de vista. Num apocalipse zumbi você deverá defender seus ideais com unhas e dentes, então faça o teste abaixo nos comentários e façamos uma discussão saudável de preferências ou não.
The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com a sexta temporada no dia 11 de Outubro de 2015 na AMC e no dia 12 de Outubro de 2015 FOX Brasil. Confira o trailer oficial da temporada e fique por dentro de todas as notícias.
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