Zumbis Como Alimento Para o Cérebro

Professores e estudiosos usam zumbis para explorar suas disciplinas. Em 2009, um matemático da Universidade de Ottawa teve uma idéia. Normalmente, ele criou modelos de como pode-se esperar que uma doença se espalhe, e como as tentativas de controlar tal doença possam ajudar. Dessa vez ele pulou os exemplos já comuns de gripe e HIV, usou uma infecção que transformaria as pessoas em zumbis. Começou como uma idéia de um estudante, que o professor então transformou num capítulo de um livro acadêmico.

A matemática zumbi apareceu em várias manchetes, e de repente, todo mundo estava falando sobre modelar matematicamente uma doença. Isso foi bom pro autor, que se chama Robert Smith? – sendo que o ponto de interrogação faz parte do nome dele, tipo aquele símbolo que o Prince usou durante um tempo.

Smith? Agora deu um passo adiante. Ele reuniu estudiosos de várias áreas e bolou outro livro, dessa vez analisando os zumbis através dos ângulos de várias disciplinas. O resultado foi 20 capítulos sobre como zumbis podem ilustrar problemas atuais, indo de como as pessoas estão se tornando consumistas, arquitetura paisagista e até sobre os limites da tolerância. Parece ser horrível. Isso só mostra como as primeiras impressões podem enganar.

Pelo contrário, esse livro carrega uma tradição que não vemos com tanta freqüência: uma “última palestra”. Esses são eventos em que uma pessoa inteligente é convidada a dar uma palestra que, normalmente, ele ou ela escolheria para ser a última coisa na qual ele diria, em uma carreira de prestígio. Tendem a ser palestras inusitadas e engraçadas sobre a área do palestrante, menos técnica e com todo o tipo de espaço para criatividade. Sendo direcionadas para um público maior, costumam fugir do foco rígido das pesquisas do dia-a-dia. E todo mundo gosta.

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E não é isso que Smith? Produziu aqui? Como ele mesmo aponta, “nossa sociedade se tornou tão interdependente que poucas pessoas são generalistas e etc.”

Então aqui está BRAAAIIINNNSSS! O livro. Há três de cada uma das letras repetidas no título. Nós te contamos, ele é um matemático. Há capítulos como “Análise Estratégica Inteligente de um Ataque Zumbi”, “Madrugada dos Shoppings Mortos”, “A Ameaça Zumbi para a Democracia” e “Zumbis, Deficiência e a Lei”.

O capítulo de Smith?, Escrito com a coautora Kate Small, uma australiana que administra programas de treinos adultos, é a única parte voltada para pura comédia: um esforço no recrutamento daqueles que querem ter uma carreira treinando zumbis. Talvez funcione melhor com os estudiosos, apesar de que a conclusão, nos subsídios recebidos, é uma pequena crítica diabólica sobre o dinheiro que abastece as universidades: “Robert Smith? é apoiado pela NSERC Discovery Grant, um prêmio De Pesquisador Antes da Hora, e financiamento pelo MITACS. Então, naturalmente, caminhões de dinheiro do contribuinte foram gastos. Ah, aposto que irei receber uma negação furiosa dessas empresas amanhã a tarde.”

Há até detalhes sobre os próprios zumbis. Eles não são usados apenas como veículos para estudos sobre economia; Arnold T. Bloomberg propõe um motivo do porque eles funcionam tão bem nos filmes. Eles não são monstros do pântano cheio de tentáculos: “Simples, os zumbis somos nós. São nossos amigos, nossos vizinhos, nossos familiares. Quando o monstro vem de dentro – quando aqueles mais próximos, que você ama, podem esquecer-se de tudo o que sabem e se transformarem em máquinas automáticas prontas para devorarem sua carne… isso é o verdadeiro horror.” Profundo, não? Que as coisas mais assustadoras na vida vêm não de outra dimensão, mas de nós mesmos. Como foi dito em “Rei Lear”, de Shakespeare, os deuses nos castigam com “nossos vícios mais doces”.

De volta aos zumbis. Que tal essa analise: que zumbis, em sua jornada sem sentido de consumir mais sem se importar com o dano que isso causa, representam o consumidor na sociedade capitalista. Hmmmm. Obrigado, Sasha Cocarla de Ottawa, apesar de a melhor parte dessa observação ser que ela deixou como uma nota de rodapé para outro pesquisador em 2007.

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Três experts em biomecânica explicam como um zumbi caminha. Aquele tremer, movimento estranho, é claro, parte essencial nos filmes de zumbis. Mas como eles conseguem andar sem nervos receptores nas pernas ou pés? Qualquer um que já tenha tentado andar depois que um pé fica dormente sabe como é. Biomecânica é uma mistura engraçada do passado e do presente. Seus estudantes analisam tudo, desde a locomoção dos dinossauros até como robôs do futuro poderão voar imitando as habilidades dos insetos. Assim essa analise dos zumbis não nos explica tanto dos mortos quanto sobre os movimentos dos vivos.

Outro estudo na parte biológica (se é que pode-se usar essa frase para os mortos vivos, já que “bio” significa “vida”) é a analise biológica das células das patogêneses que possam ser responsáveis por causar a zumbificação. É estranhamente similar à aquelas coisas que você pode ler sobre vírus de verdade. A infecção é naturalmente chamada de o “fator Romero”, graças a George Romero, diretor de “Madrugada dos Mortos” e muitos outros filmes de zumbis. Parece que, na verdade, todos os autores do livro conhecem Romero, e o veneram.

A maioria desses autores se diverte. A exceção é a autora do capítulo feminista que fala se o patriarcalismo irá sobreviver ou não a essa onda de zumbis. (Sim, é sério.) Ela parece nervosa, e não só com os homens: segundo ela, hospitais psiquiátricos são apenas “hospícios” cruéis que servem para trancar as vítimas. Até o cientista político se diverte mais. Ele faz referências a James Bond e diz que falta atitude nos zumbis, enquanto constrói uma analise da democracia e suas ameaças.

Então, cultura do consumismo, programas de treinamento, jeitos estranhos de andar. Isso tá muito aleatório, mas é isso mesmo que o livro faz. Seu atrativo está em expor o leitor a uma variedade de campos acadêmicos, sem gastar 400 páginas numa única área. Isso é para os estudiosos como uma barra de cereal: é pouco, mas o suficiente para você continuar. Mesmo que o investimento intelectual requerido não seja alto (Smith? é um matemático, mas ele pula toda a parte de matemática no livro – algo que ele aprendeu ensinando biologia para alunos que não queria estar numa aula de matemática), também está longe de ser negligente. John Seavey, um escritor de Minnesota, explica no primeiro capítulo. “Então, pra que se incomodar em fazer isso tudo?”, ele pergunta. “Pela mesma razão que fazemos muitos exercícios intelectuais: fortalece nossos músculos intelectuais. Quando exploramos conseqüências de idéias fictícias, nos tornamos melhores em pensar nas conseqüências de uma hipótese.”

Smith? As vezes é um pouco irreverente demais, as vezes. Os capítulos funcionam bem porque eles são diretos, na maioria das vezes; mas Smith? é superficial na hora de nos dizer quem são os autores. Seria legal saber se o PhD de Arnold T. Bloomberg é em matemática ou biologia ou inglês ou sei lá o que.

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Mas isso é apenas um pequeno erro. Existem poucos livros que ilustram as mentes estudiosas realmente trabalhando, ou talvez se divertindo, e mantém o senso de humor ao mesmo tempo. Muitos leitores esperavam encontrar tal abordagem no livro Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking. Ótimo livro, mas o livro era muito complexo e, em muitos casos, não foi lido.

Melhor ser um morto vivo do que não ser lido. Robert Smith? e seus companheiros irão te divertir, e o mundo poderia aprender mais com isso.

E sobre o ponto de interrogação em seu nome: ele usa porque há muitos, muitos Robert Smiths, do Facebook ao seu próprio campo profissional, e ele quer que as pessoas saibam qual Robert é ele. Não é legalizado no Canadá, mas as pessoas entendem, uma vez que ele explica que não é só mais um erro de digitação.


Fonte: Ottawa Citizen
Tradução: Arthur Ribeiro / Staff WalkingDeadBr

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