Espaço Walker

“On the Inside” é um dos melhores episódios de The Walking Dead

Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do sexto episódio, S11E06 – “On the Inside”, da 11ª temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!

“On the Inside” foi realmente um bom episódio? Sim, foi um ótimo. E as razões para isso façamos-as agora. Ele conseguiu unir as tramas dos episódios anteriores e com algumas lacunas de temporadas passadas. Também possibilitou grandes avanços não só na trama, mas no sentido da reconstrução de um pacto civilizatório e nos conflitos inerentes à alma humana. Por fim, destaco os avanços cenográficos e em aspectos cinematográficos, em especial a trilha musical, a atuação dos atores (e o foco em personagens considerados não-principais), a fotografia, a iluminação e a paleta de cores.

Sim, as amarras entre passado, presente e futuro foram bem feitas. O passado recente, relacionado aos episódios anteriores e aos seus arcos (no 5, 4 e 3 – com exceção de Commonwealth), exibiram uma boa continuidade. Este episódio amadureceu ainda mais a trama.

Desenvolveu um pouco mais o arco da turma da Maggie, Negan, Pe. Gabriel e Elijah (apesar do episódio não se concentrar em seu arco e nem esclarecer alguns mistérios – tipo o porquê os Ceifadores quererem tanto a Maggie e como o Elijah teria escapado dos Ceifadores).

Aprofundou o arco do Daryl, Leah, Carver e Pope (os três últimos membros, de corpo e alma dos ceifadores, ou será que não, no caso da Leah?).

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Levantou alguns mistérios para serem esclarecidos no futuro também, tipo: O que será que o Pope descobriu da tortura/interrogatório ao Frost? Porquê houve segredo disso à Leah? Será desconfiança dela? Uma observação pertinente aqui: essa informação parece ter sido compartilhada com Carver (pela linguagem corporal e pelo sorriso debochado da personagem, dirigindo-se a Daryl e a Leah). Neste mesmo arco, outro mistério: a cena dos diálogos ásperos entre Daryl e Carver apontou para algo ocorrido no passado, na temporada anterior, tal como a dúvida de que se teria sido por acaso o encontro e a relação entre Daryl e Leah na “cabana do amor” e um certo “ciúmes”, ou não do Carver, que a/os vigiava naquele momento. Mas tornou enfático que nosso personagem little pig da série retratou que a sua única importância naquele grupo era com seu par romântico; a Leah (mas não só ela exclusivamente naquele momento – uma vez que estava concentrado em proteger o grupo da Maggie, desviar a atenção e a procura dos Ceifadores, bem como revelar estrategicamente a existência de armas e o número de membros deste grupo).

Outro mistério percebido no presente, mas que se amarra ao passado, só que no arco da Kelly, Carol, Magna e Rosita foi a descoberta de pistas sobre a Michonne (dando mais uma esperança da retomada desta personagem na série, bem como do reaparecimento de Rick Grimes), dependendo é claro da dúvida se Virgil irá resistir ou não aos seus ferimentos (como esse reaparecimento de personagens principais fica à cargo de uma personagem secundária indicar um sinal de uma certa relevância ao Virgil e que a trama está bem descentralizada, tornando essa personagem uma ponte para o sucesso e grand finale, ou não da série). Assim, não matem o mensageiro, por favor.

Nisso, ele não só percebeu um preenchimento de espaços, como em nível de roteiro revelou segredos e possibilitou grandes avanços (não sei se vai dar tempo para mostrá-los com a magnitude que merecem em pouco tempo que resta para a finalização da série). Mas acredito que para isso, a solução é amarrá-los com as demais séries do universo The Walking Dead, mais naturalmente com TWD World Beyond e com o(s) filme(s) do Rick Grimes.

Avanço do pacto civilizatório e nos conflitos humanos

Agora, porque tudo isso que rola ou poderá rolar na trama (não estamos na cabeça da Angela Kang e demais roteiristas), desvendando dúvidas e mistérios, tem esse sentido de grand finale? Porque está inserida na perspectiva do sentido de The Walking Dead, que tem haver menos com os zumbis, mas bem mais, com a resolução de conflitos da alma humana em construir pactos civilizacionais. Não é a cura, em princípio, que os preocupa. E como, ao sobreviver à hecatombe do vírus zumbi (o cenário apocalíptico), reconstruir uma nova civilização, longe da selvageria e da barbárie humana. Assim, a resolução que se quer, entre os conflitos morais e entre civilização e barbárie, condizem com uma drástica resolução de conflitos físicos entre os homens e entre seus grupos ou comunidades.

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Aqui começamos a buscar os fundamentos da série. O apocalipse zumbi, a disseminação do vírus pandêmico é uma realidade fundamental na série. Basta ao estar vivo, vir a morrer para consagrar tal disseminação. A morte, sem dúvida, é um elemento importante e corriqueiro durante todas as temporadas da série. No entanto, ela é apenas uma grande passagem que trabalha a finitude da vida, mas sobretudo o perigo gigantesco dos avanços e juras da, e pela civilização, embreadas com aquilo que a resulta também: a barbárie, a selvageria. Menos zumbis e mais conflitos entre vivos e o enfrentamento de seus próprios conflitos são a tônica e a impulsão que a série estabelece.

O episódio “On the Inside” também mostra isso. Para mim, menos do que os dois últimos, onde o medo de esquecer: Rick, família e demais membros de sua comunidade e paixões (Leah tem de ser melhor investigada neste sentido), está ao par com a astúcia, mas no sentido de sobreviver e fazer viver seu grupo. Ponto para um fim que se reflete no apelo à manutenção de pactos civilizacionais.

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Mas, a propagação da selvageria, da barbárie tanto pelos Ceifadores, como por Daryl ou Aaron (torturadores) também, assim como foram para Rick e Michonne também ocorreu. Ninguém tem o monopólio da selvageria. Mas para os protagonistas tidos como mocinhos da história, ela é um fim em si e ao mesmo tempo seu princípio ou a busca dele.

Para os Ceifadores, assim como já foram tantos grupos – Sussurradores, Negan e os Salvadores, Canibais do Terminus, pessoal de Commonwealth – o papo é outro. A selvageria e a morte, essa adaptação ao apocalipse em si, é um fim. Caso extremado dos canibais deste episódio; longe de qualquer pacto neste sentido, longe de qualquer resquício de humanidade.

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Alguns se recuperam e evoluem para a Civilização. Outros são assombrados e assumem a selvageria que, para alguns, continua como um meio. Para outros, são incorporados a sublimação da violência; um aspecto mais sádico e até mesmo prazeroso de se entregar aos ciclos de ódio e violência. Falo de Negan aqui, como o maior expoente deste sentido. Há uma grande possibilidade de redenção, de reconhecimento de que ele poderia ter feito diferente em outros acontecimentos anteriores (pré-análise do trailer do episódio posterior, o 7, sobre a morte de Glenn). Mas isso ainda é coisa que precisamos ver melhor, de repente no próximo episódio. Até agora, seus feitos em salvar Judith ou matar a Alpha não transformaram sua natureza violenta, de quem mata sorrindo. Aguardemos as cenas do próximo episódio.

Neste, penso que a dúvida da Leah aponta este sentido – Onde está o Daryl nesta estrada? Com os ceifadores, ou com o grupo da Maggie e de Alexandria? Aliás, reflete também uma dúvida interna, motivada pelo relacionamento que ela tivera com o Daryl e, para mim, com a desconfiança em relação ao Pope. Ela está na encruzilhada entre se libertar, fugir com o Daryl e se redimir de seus “pecados” e selvagerias ou deixar-se, novamente, se entregar ao Pope e seu legado de violência desmedida. Por sua vez, a dúvida dela (de com quem ele estaria) é a mesma de Daryl. A certeza dele reflete não só o seu bom coração, mas a sua aposta nela. Ele está ali por ela. O diálogo entre Daryl e Carver, na casa amarela onde estariam os fugitivos da Maggie, comprova isso. Já a persistência do Daryl e sua aposta no pacto civilizacional, e em especial na Leah é o que lhe interessa. Seu interesse, além do grupo, é nela. Aguardemos os próximos episódios também.

A disposição e a incorporação de novas técnicas dos elementos cinematográficos

Na cenografia destacamos muito não só os cenários em si, mas a linguagem cinematográfica. Os movimentos de câmera, os seus enquadramentos, o uso da trilha musical, os figurinos, a fotografia, a iluminação aliada, e claro, a atuação dos atores. Enfatizamos também, o peso de suas personagens, cabe destacar que a maioria secundária, na trama deram muito certo em “On the Inside”.

Close-ups e demais planos (detalhes) e enquadramentos abrilhantaram o gênero terror/suspense no arco da Connie. O enquadramento da câmera na parte em que a Connie está olhando a briga entre o Virgil e o canibal é fantástica (lembrou-me Sérgio Leone – era uma vez no Oeste – na cena da estação de trem com a chegada da mocinha).

Nesta mesma cena, pinçamos o plano que foca a faca na mão do Virgil: dando a dimensão do olhar dela para ele e, logo em seguida, para a faca. Notamos também o caminhar dele em direção à parede, onde ela estava encerrada, para matá-la. O interessante aqui, é que ele sequer sabia que era a Connie, pois ouvia o barulho vindo da parede (sonoplastia perfeita). Tudo isso, muito harmônico; uma boa composição de elementos cinematográficos para a construção da cena e a ambientação perfeita para o gênero de terror e de suspense. Todos estes elementos associados à atuação da Connie ficaram perfeitos.

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Naquele arco da Connie estavam presentes também a fotografia e a iluminação à noite (esfumaçante). O destaque da paleta de cores, menos colorida da mansão onde Connie estava com Virgil, foi um show de bola. É um claro contraste com o dia colorido e bem iluminado naturalmente do mini-arco ou núcleo da Kelly. O propósito aí é claramente outro. No primeiro arco, (Connie) é enfrentar uma situação desconhecida, aterrorizante, que deixa em suspense o coração da Connie e enfatiza sua aflição ao mesmo tempo em que expõe com muita intensidade suas dificuldades de fala e de audição (inclusive a atriz; Lauren Ridloff, tem as mesmas deficiências e já interpretou uma personagem onde era professora em uma escola para surdos, no filme “Um Lugar Silencioso”). No segundo, é encontrar e revelar, aos nossos olhos, pistas. Evidenciar situações que nos pareçam bobas, mas relevantes de dificuldades e disabores (Kelly caindo na lama).

Por falar em som, a trilha musical é que verdadeiramente roubou a cena aqui. A ausência de som somada ao som externo da trilha é digno não só de filmes de terror da década de 90, como uma referência aos thrilers de suspense que lembram obras de Hitchcok (Psicose, 1960). E como é boa a ação e direção que Greg Nicotero faz aqui. Relembrarmos é comemorarmos referências ao mesmo tempo em que se acentuam todas as amarras do roteiro.

Cabe destacarmos também a boa divisão dos arcos e núcleos apresentados neste episódio. Ele foi bem distribuído e contou com um ritmo muito bom entre eles. Grande ponto que equilibrou cenas e tomadas das correrias do terror/suspense, da ação/suspense e de diálogo dramático com suas velocidades condizentes; própria para prender na cadeira nossos fãs e críticos. Por todos estes aspectos e pela leitura que teço, o episódio 6: “On the Inside” leva nota 9.5.

E o que você achou do episódio “On the Inside”? Deixe sua opinião nos comentários abaixo e venha debater comigo!

TEXTO ESCRITO POR: Jayme Bomfim Vianna
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