Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do décimo segundo episódio, S10E12 – “Walk With Us”, da décima temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Se o Prêmio Nobel criasse uma categoria para premiar pessoas que recuperam produções televisivas, Angela Kang já estaria ensaiando seu discurso de premiada. Como é bom ver The Walking Dead com o fôlego recuperado há duas temporadas e nos deixando cheios de expectativas para o que vem por aí. “Walk With Us”, o décimo segundo episódio da décima temporada da série, foi uma verdadeira aula de suspense, ação e uma homenagem aos quadrinhos.
Desde os primórdios, The Walking Dead gosta de separar o elenco em pequenos grupos após confrontos de grandes proporções. Em mais de uma ocasião, essa divisão chegou a cansar, algumas decisões erradas deixavam a história arrastada, com episódios longos demais para tratar de apenas um personagem – que acabava influenciando pouco na história (isso quando o personagem morria ao fim de um longo enredo) – e a sensação era que a reunião de todos demorava uma eternidade. Agora não. Os grupos se separaram, mas alguns já se reencontraram, e enquanto todos não estão juntos novamente, cada um tem uma narrativa interessante para seguir.
Quem aí gosta de futebol? Se você gosta, responda rápido: você prefere ver seu time tocando a bola pro lado, atrasando o jogo, fazendo cera, ou prefere uma equipe vertical, objetiva e que busca o gol o tempo todo? Imagino que muitos vão responder a segunda opção. Com uma produção televisiva não pode ser diferente. É chato ver uma série de sucesso enrolando a história, esperando chegar um determinado momento da temporada para andar com o enredo. É muito melhor ser criativo, objetivo e entregar um espetáculo que agrade ao público. É feio assistir a um show que tenta prender a atenção do espectador com pequenos eventos que pouco acrescentam à história, e The Walking Dead parece ter aprendido com erros do passado. A décima temporada pode até ter começado em ritmo mais lento, deixando perguntas em aberto, mas o contexto já era outro em relação a anos anteriores. Mesmo que nós ficássemos ávidos por respostas, este décimo ano de The Walking Dead não apelou para a enrolação.
E “Walk With Us” foi como um time ofensivo: vertical, objetivo e bonito de assistir. Mesmo com as despedidas, nos sentimos perto de um desfecho interessante para o arco dos Sussurradores, ao mesmo tempo em que, pouco a pouco, novos enredos são introduzidos na história. Faltam quatro episódios, e podemos até nos perguntar: com a morte de Alpha, a série vai conseguir manter o ritmo até o fim da temporada? Se pensarmos em todas as referências usadas nos quadrinhos, acho que podemos nos permitir acreditar que sim.
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“Walk With Us” começa seguindo a batalha da grande horda liderada por Alpha e já deixa claro que Hilltop, se não caiu, sofreu sérios danos que vão demorar para serem reparados. A exaustiva luta se estende pela noite inteira, e os resultados da batalha começam a ser observados já no amanhecer. Entre Sussurradores e walkers, os sobreviventes da comunidade vão lutando, mostrando força e organização.
No meio disso, duas situações importantes: primeiro, Ezekiel tenta resgatar as crianças. A segurança dos menores em tempos de guerra é abordada desde o capítulo anterior, e em “Walk With Us”, conseguimos perceber que, mesmo com todo o cuidado que elas merecem, casos em que elas terão que se virar sozinhas podem ocorrer. Quando o Rei se pergunta onde está Judith, que sempre deixou claro que queria lutar e que tinha condições de ajudar, ele se separa do grupo de crianças. A filha de Rick Grimes está no meio da batalha, matando errantes, quando descobre que matou o primeiro humano: um Sussurrador que a atacou vestido de walker. Foi o primeiro trauma sofrido pela garota no episódio. Ali ela já demonstrou que sentiu o golpe, mas seguiu em frente ao ser resgatada por Earl, que mais tarde guiaria o grupo de crianças.
A segunda situação importante dessa cena: o retorno de Magna, que – convenientemente – é encontrada por Yumiko andando em meio ao exército de walkers. Mais tarde, ela explica que as duas conseguiram escapar da caverna e, muito rapidamente, se viram em meio à horda de Alpha, mas elas se perderam no meio do caminho. A irmã de Kelly segue desaparecida.
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Beta teve um olho clínico para analisar a concluir que Negan não era confiável. Beta nunca concordou 100% com a escolha de Alpha em batizar e eleger Gamma como terceira na linha de sucessão dos Sussurradores. Beta esteve certo o tempo todo.
Após o conflito, Alpha deixa claro que procura por Lydia e ele promete encontrar a garota e levá-la de volta à mãe. Mas quem a encontra é Negan após uma cômica tentativa frustrada de reunir caminhantes para reabastecer o exército Sussurrador. O ex-Salvador a encurrala e sequestra. Se por muitas vezes durante esta temporada nos perguntamos de que lado Negan estava, nesta hora muitos com certeza pensaram que ele estava do lado dos vilões. Afinal de contas, ele encontrou a filha de Alpha e tudo levava a crer que ela seria levada para ser morta pela mãe.
No entanto, antes disso, em um encontro – também conveniente – com Aaron, Negan tenta se justificar, sem dizer muito o que tem em mente. Ele só não é morto porque Aaron precisa proteger Luke, que está desacordado e uma horda de caminhantes se aproxima. De maneira inteligente, “Walk With Us” planta essas duas sementinhas da dúvida sobre de que lado estava Negan. Logo saberíamos que Beta estava certo sobre ele
O segundo julgamento certo do vice-líder Sussurrador – sobre Gamma – não terminou bem. Mary se aproximava de uma redenção, começava a ganhar a confiança de Alden, conseguiu rever seu sobrinho, mas programas de TV têm dessas coisas. Quanto mais uma situação parece estar resolvida, quanto mais um personagem se sente aliviado e bem e um momento de tensão, pior para ele. Quando estava satisfeita consigo mesma pelas recentes conquistas – pegar o sobrinho no colo e se entender com Alden – Gamma é surpreendida por Beta, que não pensa duas vezes: crava-lhe uma faca e mata a personagem.
Em uma pequena luta entre os dois, Gamma arranca uma parte da máscara de Beta e ele é reconhecido por outro Sussurrador. O homem afirma que já havia reconhecido a voz dele em algum lugar, mas que não tinha certeza. Beta, querendo negar seu passado, mata o rapaz. Enquanto procura uma solução para a máscara rasgada, dá para perceber que o vilão cogita usar o rosto de Gamma, mas antes Alden acerta a nova walker com uma flecha e Beta foge.
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No início da luta, com Hilltop em chamas, Carol está em uma das torres de proteção atirando suas flechas e fazendo o possível para reduzir o prejuízo causado pela invasão dos walkers. Em determinado momento é possível vê-la avaliando a situação e refletindo, talvez sobre suas recentes escolhas. Logo descobriremos que ela não está pensando apenas nas decisões erradas tomadas na caverna.
Essas decisões seguem atormentando-a no retorno de Magna. Yumiko cobra um pedido de perdão e Carol afirma que isso não mudará as coisas antes de ser agredida. Este soco em Carol talvez seja um pequeno preço pago por uma das personagens mais queridas dos fãs de The Walking Dead, mas que em determinados momentos parece ter perdido completamente a razão. A verdade é que Carol tinha só um objetivo em mente, e não poupou esforços para concluí-lo.
Detalhe aqui também para como Magna parece ter voltado diferente do trauma de ter ficado presa na caverna, depois entre os walkers de Alpha antes de se perder de Connie. Desde sua entrada na série, a personagem mostrou ter personalidade difícil e, em muitas ocasiões, foi intransigente e desrespeitosa com as lideranças de Alexandria e Hilltop. Agora, ela não parece não ter olhado Carol da mesma forma, se comparado à caverna, e quem teve a reação inflamada foi Yumiko. Magna até chegou dar razão à ex-amada sobre a última conversa das duas, que culminou no término.
Em meio a todo esse turbilhão, Carol encontra equilíbrio para orientar Eugene a se encontrar com Stephanie. O cientista, que ficou abalado com a destruição de Hilltop e tentava desesperadamente consertar o rádio com o qual se comunicava com a nova amiga, segue para o encontro. Seguindo sozinha, ela se aproxima de seu objetivo – o encontro com Negan.
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Quando Ezekiel se perde do grupo de crianças em meio à confusão, é Earl quem as resgata e leva para uma cabana segura, mas que não está no ponto de encontro combinado, onde Daryl, Jerry e companhia foram procurar. Para piorar, o viúvo de Tammy foi mordido e tenta esconder dos pequenos que está perto de morrer. Earl então toma a decisão de se matar já atingindo a própria cabeça, para não voltar como walker e colocar as crianças em perigo. O plano dá errado e cabe à Judith encontrar o corpo, ser atacada pelo Earl walker e passar pelo segundo trauma: eliminar um conhecido.
Mais uma vez, The Walking Dead coloca a personagem para tomar atitudes que vão além de sua idade. Isso tem um lado bom, que é desenvolver a personalidade da jovem, homenagear a coragem e o espírito de liderança do pai, Rick – mesmo que não seja o pai biológico, Judith o tem como referência pelo pouco tempo de convivência e pelas histórias que ouve de Michonne – e, de certa forma, pegar um pouco do que é o Carl dos quadrinhos. Vale lembrar que, com a morte do personagem de Chandler Riggs, coube à ela pegar este arco.
Judith então é encontrada, as crianças são resgatadas, mas a jovem parece ter sentido o baque, quando é consolada por Daryl. Resta saber o que será da personagem a partir de agora, com a mãe longe e em meio à guerra.
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O destino de Alpha foi traçado em uma cena que durou exatos oito minutos. Negan conta que encontrou o que a líder procurava – a filha Lydia. Nesse momento, “Walk With Us” começa a jogar conosco. Enquanto os dois interagem, a jovem tenta se soltar do cativeiro onde Negan a colocou antes que a mãe chegue e a mate.
O ex-Salvador tenta demover de Alpha a ideia de matar Lydia, usando contra ela a metáfora do leão e dizendo que a jovem é quem tem que ser a primeira da sucessão dos Sussurradores. Talvez o destino da vilã fosse diferente caso ela concordasse com seu homem de confiança, e provavelmente Negan, que foi contra a ideia da Sussurradora de matar os sobreviventes de Hilltop e também era desfavorável ao plano de matar Lydia, repensaria a ideia de eliminar a líder caso ela demonstrasse um pouco de razão em suas ideias. Mas ficou claro que Alpha tinha um plano estabelecido.
Seguindo seu joguinho, “Walk With Us” nos brinda com a interação entre os dois – mais um show de atuação de Samantha Morton e Jeffrey Dean Morgan – enquanto Lydia começa a conseguir se soltar. A dupla conversa sobre o passado de Negan, sobre a esposa, Lucille, e Alpha seguia com sua ideia de que a morte era a libertação da humanidade. E aqui a atuação de Morton precisa ser destacada justamente porque ela consegue ser a Alpha, líder Sussurradora e terrível vilã, mas também é a mãe, mulher e humana. Na conversa com Negan essas duas facetas aparecem, quase que ao mesmo tempo. Samantha Morton foi um verdadeiro presente para os fãs de The Walking Dead.
Talvez em determinado momento o destino de Alpha tenha ficado claro para muitos fãs. A questão era quando e como Negan e mataria. No beijo? Com uma punhalada pelas costas em frente à cabana? Nesse caso, Lydia poderia sair da casa e dar de cara com a mãe morta? Isso tudo poderia acontecer. Mas Alpha teve seu destino selado de maneira fria. Primeiro, a filha se livra e sai da cabana em um lugar desconhecido. Depois, Negan esfaqueia a vilã no pescoço – semelhante ao golpe que Rick o deu no fim da guerra contra os Salvadores – e ela morre. Negan novamente a beija, em uma espécie de beijo da morte, e entrega a cabeça dela a Carol.
The Walking Dead chegou a dar uma dica de que foi Carol quem libertou Negan da prisão – na cena em que ela encara um quadro de Glenn em “Morning Star” – antes do confronto contra a horda de Alpha – mas isso não ficou claro para todos. Agora, sabemos que ela tinha um plano o tempo todo, mesmo que tenha saído do combinado em alguns momentos.
O papel de vilão principal de The Walking Dead caiu nos pés de Beta, que, como foi dito neste texto, já demonstrou inteligência em muitos momentos. Mas como ele vai reagir à morte de sua líder? O que aguarda os sobreviventes de Alexandria, Hilltop e Oceanside? O que resultará do encontro entre Eugene e Stephanie? Faltam quatro episódios para o fim da décima temporada, e por mais que estejamos todos curiosos, dá aquele aperto no coração ver um arco tão bem construído se aproximando do fim.
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