Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do quinto episódio, S09E05 – “What Comes After”, da nona temporada de The Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Eu já tomo liberdade para assumir a primeira pessoa do singular nessa redação. É impossível falar de What Comes After, quinto episódio da nona temporada, de uma forma parcial e impessoal. Com toda a certeza essa será uma das minhas críticas mais confusas e imaturas, justamente pelo fato de que até agora eu não tenha conseguido digerir tudo o que o episódio representou.
Como eu disse na semana passada, era difícil saber que o episódio que eu estava me preparando para assistir se tratava do desfecho do maior herói do universo de Robert Kirkman. Sabe, por mais que eu tente negar, Rick foi o responsável por me fazer me apaixonar pela série. Depois de vê-lo acordando de um coma em meio ao caos zumbi foi que eu me prendi na história e insisti em seguir acompanhando-a. E ali, na noite do domingo, 04 de novembro, eu me preparava para dizer adeus ao herói.
Antes de tudo, quero falar sobre o confronto de Negan e Maggie. A chegada dela à Alexandria e sua interação com Michonne foi tão cheia de significado e mais uma vez nos traz à tona sentimentos entrelaçados aos primeiros anos da série, quando as duas relembram toda a trajetória e refletem sobre Glenn e Hershel. Michonne sabe o que Maggie quer dizer quando fala que precisa encerrar aquela parte de sua história, mas ao mesmo tempo, compreende o que isso significa quando sobreposto aos sonhos de Carl e ao desejo de Rick.
Por fim, a samurai cede e entrega as chaves para ela. Maggie adentra o quarto onde Negan está encarcerado com o furor à flor da pele. Os dois iniciam uma conversa completamente cheia de referências aos quadrinhos. Ela abre a cela e rende o antigo líder dos Salvadores, ele implora que Maggie o mate. Quando ela o questiona o motivo de ele querer morrer, ele revela que quer se encontrar com Lucille (sua esposa). É nesse momento que Rhee percebe que Negan está numa situação ainda pior do que estar morto e que se o matasse, estaria fazendo um favor para ele. Assim, Maggie decreta a quitação da dívida entre os dois.
Na jornada de Rick, vemos o herói lutar pela vida em contraste a suas memórias e ilusões. O episódio inicia com Rick se deparando com ele mesmo na cama do hospital e vendo pássaros se tornarem helicópteros. Se ligado ao desfecho do episódio, os corvos podem demonstrar Jadis/Anne que como os pássaros, se alimentava dos restos que Rick produzia, mas depois, com o helicóptero, salvou sua vida. A trajetória dele em direção a uma saída da situação em que se colocou para salvar o futuro que quer construir em contrariedade ao fato de que a única saída que lhe é possível é colocar seus planos em jogo é o pano de fundo nesse episódio.
As visões de Rick trazem Shane, Hershel e Sasha de volta de forma totalmente emocionante. Ele e o melhor amigo conversam sobre Judith e mais uma vez temos a confirmação de que ela é filha de Walsh. Hershel aparece trazendo uma das últimas aparições de Scott Wilson em tela antes de seu falecimento, e nos dando o prazer de uma cena grandiosa onde Rick pede perdão pelas mortes envolvendo a família Greene e por não ter sido capaz de dar o suficiente para Maggie. Herhsel afirma para ele que ela é forte o suficiente para seguir em frente. Já com Sasha, temos outro momento de lotar os olhos de água. Ela relembra Rick sobre os motivos que a levaram optar pela morte e no quanto ela confia naquilo que ele quer construir.
O caminho de Rick até a ponte também traça a trajetória dele até aquele ponto. Tudo o que ele passou até ali foi demonstrado através das visões e dos momentos com personagens já mortos.
Rick chega até a ponte e a horda o segue até ali. Os demais o veem chegar e correm para lutar com os walkers, enquanto Michonne fala para ele o quão importante é que ele se mantenha vivo. Já ciente das ilusões anteriores, Rick entende que aquele momento não é parte do mundo real e que precisa acordar. Ele então caminha até a ponte – dessa vez de verdade – enquanto encara os mortos sobre aquilo que ele tem se dedicado a construir.
Daryl, ao longe,aparece e começa a disparar contra os walkers que se aproximam do xerife. No fim, ao ver dinamites expostas sobre a ponte, Rick dispara contra elas e explode a construção. Todos se deparam com a cena chocante. O herói que salvou a vida de todos eles e os manteve vivos até ali está morto. Michonne desaba junto com Maggie e Carol. O irmão Dixon observa as chamas se propagarem com os olhos cheios de lágrimas. Rick está morto!
Ou ao menos foi o que eles acreditaram. Noutro extremo, Anne conversa com a equipe do helicóptero. Ela marca encontro em um ponto estratégico dizendo ter o que eles pedem. Anne parece planejar matar as pessoas, ou fazê-las suas reféns para ir para a comunidade, já que de fato não está com o A. No entanto, ao ver o rio infestado de corpos queimados ela enxerga na margem Rick agonizando. Ela entra em contato com o helicóptero e diz que tem um B, muito ferido, que se trata de um amigo que a ajudou e que ela precisa que eles a ajudem. Assim, vemos Rick indo embora com Anne.
Sem explicação alguma vemos uma cena conhecida dos quadrinhos acontecer. Magna chegou! E chegou de uma forma muito semelhante aos impressos de Kirkman. A cena deixa bem claro que muito tempo se passou desde a queda da ponte, já que o cenário se transforma. E lá está Magna, Yumiko, Connie e os demais, todos na luta pela sobrevivência. Quando estão prestes a serem devorados pelos walkers, tiros atingem os mortos e uma voz vinda da floresta pede para que eles se aproximem. Uma garotinha pergunta o nome deles, os quais respondem-a e lhe perguntam seu nome. Ela olha para o chão, pega um chapéu conhecido da audiência e afirma: Judith! Judith Grimes! Os pelos do meu braço arrepiaram ao ápice.
O episódio ao mesmo tempo que explorava um enredo monótono conseguiu demonstrar dinâmica e trabalhou muito bem a jornada do personagem central. Andrew, como sempre, foi monstruoso em cena e conseguiu transpassar para a audiência todos os mistos de sentimentos que Rick carregava nos minutos que o acompanhamos se despedir.
As cenas ilusórias foram estopentadas no quesito comoção. Conseguimos ver que mesmo havendo acontecido grandes tremores na amizade com Shane, Rick o havia perdoado e que talvez, as coisas pudessem ter sido diferentes se Walsh não tivesse tentado investir contra ele. Ver Hershel novamente mostrando seu lado sábio foi incrível e contrasta totalmente com a cena entre Michonne e Maggie, quando o nome do velho Greene é citado. Fica óbvio que Hershel confiava na criação que deu para a filha e sabia que ela descobriria seu caminho a medida do possível.
Anne/Jadis me fez ter um pesar profundo no coração. Assim como todos, eu desconfiava da personagem. Achava que ela era uma traidora e que só esperava o momento certo para dar o bote. Mas na verdade, vimos que ela era alguém que sempre sofreu por exclusão e que sempre foi rejeitada no apocalipse. Ela saiu do grupo justamente por ver que estava novamente sendo alvo de dúvidas e por isso achava que só com a comunidade do helicóptero conseguiria ser feliz. Quando ela vê Rick, ela demonstra seu altruísmo e empatia e implora por ajuda dizendo que precisa retribuir a ajuda dele. Quando Rick desperta no helicóptero, com um semblante de quem está preocupada, Anne promete que o ajudará. Por mais que ele seja uma chave para o seu sucesso na comunidade, ela o salvou e lembrou da ajuda que ele lhe deu.
A cena final com Judith foi excitante ao extremo. Ao mesmo tempo que honra a memória de Carl, traz um mar de novidade para a série que é totalmente grandioso. Acompanhamos ela desde a gestação e nunca tínhamos entendido completamente seu propósito e agora a temos como um dos centro de enredo. Quando ela coloca o chapéu que já passou na cabeça de Rick e que era símbolo de Carl, fica claro que ela é uma espécie de personagem que assumirá o manto do irmão, o que é bem comum nos quadrinhos da Marvel, por exemplo, e seus heróis. Afirmando seu nome completo, ela demonstra que mesmo sendo filha de Shane, ela reconhecerá para sempre a paternidade de Rick. Não, ela não é Judith Walsh, ela é Judith Grimes com todo o orgulho que sua voz pôde afirmar.
A cena final, inclusive poderia ser o desfecho de toda a história e, em partes, serviu para isso. É como se a missão de Rick tivesse sido cumprida e agora havia se iniciado uma nova fase da história que honraria aquilo que o herói tentou construir.
Há de se ponderar que, aparentemente o salto temporal dado não é inferior a cinco anos. Então, levando-se em consideração o que já foi revelado pelo próprio Robert Kirkman de que até a nona temporada haviam se passado cerca de três anos desde o inicio do surto, os personagens sobreviventes após o desaparecimento de Rick já sobreviveram mais tempo sem ele do que sendo liderados por ele. Será que já o esqueceram? Será que sua liderança ainda é uma marca presente na vida deles?
Enfim, espero que em meio a toda a confusão desse artigo tenha conseguido passar a mensagem de que para mim The Walking Dead voltou a conseguir surpreender, saindo da agenda fixa de explosões de enredo no primeiro, oitavo e décimo sexto episódio. A superveniência de Rick construída logo após a possível morte do personagem anunciada, por mais que seja um golpe de marketing escancarando (e que eu já tinha previsto em julho), foi convincente pois foi construída com maestria e desenvolvida dentro de um enredo bem coeso desde a estréia da nona temporada.
Angela Kang demonstra grandiosidade em construir a história desse nono ano. Tão bem que nos faz perguntar: Por que ela não assumiu antes? Os passos curtos da showrunner até aqui foram cravados nesse quinto episódio e se ela conseguir apresentar um bom desenvolvimento na próxima fase da história, se sagrará como uma das melhores produtoras executivas que a série já teve.
Há tanto para explorar agora com a ausência de Rick. Tantos personagens terão possibilidade para crescer longe das sombras do protagonista. Personagens que merecem e a tanto tempo não possuem destaque, visto que esse precisava verter em direção ao herói central. Com sua ausência, talvez a trama se torne mais orgânica e consiga desenvolver paralelamente diversos sobreviventes.
É doloroso ver Rick ir embora, mas cabe ressaltar que o sucesso da série está mais na nossa posição do que na própria trama. Aparentemente, Kang conseguirá desenvolver um trabalho de qualidade. Assim, cabe a nós abrirmos mão de nossos preconceitos que estabelecem que The Walking Dead não funciona sem a presença de Rick e expandirmos nossas mentes para permitirmos seguir a história com as novas e amplas possibilidades que a série poderá traçar a partir de agora.
Se eu tivesse que suscitar algum ponto negativo, eu diria que a série ainda peca no quesito jogo de câmeras que parecem bem mais mecânicas e impensadas se compararmos à série secundária, Fear The Walking Dead, que parece ter um domínio melhor das posições necessárias para se extrair o melhor das cenas.
Rick não está morto! Sua presença e marca nos demais também não está! Precisamos saber em que se desencadeará a história que ele iniciou. Eu estarei presente, e você?
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