Entrevista
Showrunner de The Walking Dead fala sobre a morte de Jesus e representatividade LGBTQ na série
A showrunner Angela Kang conversou com o The Hollywood Reporter sobre o episódio final da primeira metade da 9ª temporada de The Walking Dead, que terminou com a chocante perda de um dos personagens favoritos dos fãs e com a chegada de um novo inimigo mortal.
Jeff Tweedy, da banda Wilco, certa vez cantou: “Jesus, não chore.” Não chorar é uma coisa que está bem longe de acontecer entre os fãs de The Walking Dead, ainda mais com a morte de um dos personagens favoritos dos fãs da série, que aconteceu no episódio final da primeira metade da 9ª temporada: Paul “Jesus” Monroe, interpretado por Tom Payne desde a 6ª temporada.
O oitavo episódio da 9ª temporada, intitulado “Evolution” (Evolução), teve seu foco direcionado a Jesus, Aaron (Ross Marquand) e Daryl (Norman Reedus) em sua busca por Eugene (Josh McDermitt) enquanto enfrentavam uma horda de zumbis. Rapidamente, fica claro que os personagens estão lidando com algo maior do que conseguem encarar, já que a horda permanece insistentemente os cercando. Em determinado momento, Michonne (Danai Gurira), Magna (Nadia Hilker) e Yumiko (Eleanor Matsuura) encontram o grupo de Daryl em um cemitério. Porém, eles chegam tarde demais, e encontram Aaron e Jesus lutando com unhas e dentes contra a enorme horda, até que Jesus é esfaqueado nas costas por um dos “zumbis”. Acontece que, na verdade, o walker era um humano vestindo uma roupa cuidadosamente feita da pele dos mortos. “Você está aonde não deveria”, ele sussurra para Jesus pouco antes de levar uma flechada na cabeça e ser desmascarado por Daryl.
É um sinal claro da próxima ameaça que ronda o universo de The Walking Dead: os Sussurradores, um grupo de sobreviventes que se vestem com a pele dos mortos e caminham com eles, adotando sua aparência e seu comportamento gerando consequências mortais.
Jesus é um personagem fundamental na descoberta dos Sussurradores e que ainda está vivo na história dos quadrinhos de Robert Kirkman e Charlie Adlard. Já na série, Paul mal sobrevive ao encontro com o novo grupo. A morte do personagem no drama da AMC foi o marco de uma grande surpresa para os telespectadores, já que não somente tira de campo um dos personagens mais icônicos da série, como um dos heróis LGBTQ mais ativos no gênero televisivo.
Porquê Jesus precisava morrer? Foi uma decisão baseada na história ou em um pedido por parte de Tom Payne? Conversando com o The Hollywood Reporter, Payne descreveu a saída como uma “decisão mútua”. A showrunner da série, Angela Kang, está um pouco relutante em dividir detalhes a respeito do por trás das câmeras que levou à morte de Jesus, optando ao invés disso em focar no que a perda do personagem irá impactar a equipe criativa de The Walking Dead. Abaixo, Kang conta mais sobre a filmagem da morte, a chegada dos Sussurradores e onde isso tudo vai dar.
The Hollywood Reporter: A mid-season finale culminou na revelação dos Sussurradores e a na morte de Jesus. A saída de Tom foi uma decisão dele ou dos roteiristas da série?
Angela Kang: Há tantos elementos que envolvem a criação de um personagem, e nós não costumamos falar muito sobre eles. Até a questão com Andy [Andrew Lincoln, ator que interpretava Rick Grimes e que deixou a série na 9ª temporada] nós não tivemos controle. Conversamos sobre isso do ponto de vista da história. Fora isso, não vou me aprofundar em nada disso. Sabíamos que algo épico precisaria marcar a chegada dos Sussurradores na história. Nos quadrinhos, existe uma morte nesse momento da história, mas nós quase sempre nos desviamos da história dos quadrinhos, então nós sentimos que precisaria haver uma surpresa. [Jesus] É um personagem que tem a afeição de todos no grupo e isso gerará um grande impacto em seus companheiros. Terá um grande impacto na história. Eu acho que Tom fez um brilhante trabalho nessa mid-season finale. Ele pôde mostrar suas habilidades. Nós queríamos ter certeza de que ele teria uma morte heroica, e ele teve. Ele estava lá fora lutando, e não poderia imaginar que isso [tomar uma facada de um zumbi] poderia acontecer. Eu sei que os fãs ficaram chateados, afinal eles amam Jesus. Ele certamente é um dos favoritos de muitas pessoas. Acho que foi uma morte que valeu a pena, [ele estava] ajudando seus amigos sobreviventes.
Para além de The Walking Dead, Jesus é um dos personagens gays mais icônicos no gênero televisivo. O quanto você pensou sobre isso e sobre a questão de “acabarem com seus personagens gays”?
Angela Kang: Nós temos muito orgulho de termos tido esse personagem maravilhoso. É um dos meus favoritos dos quadrinhos. Para nossos roteiristas que são LGBTQ, foi algo muito importante também. Temos muita diversidade e representatividade na série, e isso é algo do qual nós temos muito orgulho. Para uma série que lida com questões de vida e morte e de pessoas que morrem de forma surpreendentemente heroica, é difícil porque quase todo mundo que você matar na série será parte de um grupo menos representado na televisão. Eu gostaria que todas as emissoras de televisão se posicionassem [a respeito da representatividade] também. Nós tendemos a dar muita atenção a isso.
A questão de “acabarem com seus personagens gays” foi discutida pelos roteiristas enquanto vocês escreviam a morte de Jesus?
Angela Kang: Conversamos bastante sobre todas essas coisas. Nós temos uma equipe bem diversificada. É complicado. Eu sou coreana, e nós escrevemos nosso único personagem coreano [Glenn, interpretado por Steven Yeun]. Ainda assim, temos muitos personagens regulares que são da comunidade LGBTQ. É difícil, porque nós amamos representatividade. É importante para nós, tanto em frente quando por trás das câmeras. Não podemos carregar uma carga muito grande de representatividade por todo o entretenimento. Temos que poder contar nossas histórias também. É uma parte da história que todos sejam impactados por esses personagens.
E quanto aos fãs que ficarão chateados pelo fato de Jesus morrer antes de ter uma relação com Aaron, como nos quadrinhos?
Angela Kang: Todo mundo quer relacionamentos, mas nunca estão felizes com os que mostramos [na série] ou com os que não mostramos. O que eu mais recebo são comentários sobre relacionamentos que aconteceram ou não na série. Cada uma das relações é amada ou odiada, até mesmo aquelas que nunca aconteceram. Até os nossos atores não viram [uma relação entre Jesus e Aaron]. Tom Payne foi à imprensa e disse que não sentiu que esses personagens teriam uma justificativa para ficar juntos nesse momento da série. A história que nós estamos contando nela é que há uma amizade e um parentesco entre eles. Não queríamos juntar os dois personagens automaticamente. Eles compartilham de uma mesma filosofia. É algo que pensamos ser uma história interessante a ser contada. As amizades na série são algumas das relações mais intensas que temos. Com esses dois personagens, seguimos na mesma direção: duas pessoas que estavam tentando seguir seus papéis como recrutadores e conectores de suas comunidades. Havia uma relação baseada nisso, mais do que qualquer coisa.
Já que não veremos Aaron e Jesus como um casal, você pode nos dar alguma pista de como pretende mostrar relacionamentos LGBTQ daqui em diante?
Angela Kang: Magna e Yumiko definitivamente são um casal na série. [Elas não falaram sobre isso ainda] por conta de suas personalidades e seu senso de segurança. Nós as vemos apoiando uma à outra e vamos vê-las se beijarem nessa temporada. Elas são sobreviventes que estão levando a vida. São um casal. Nós optamos por mostrar isso da maneira mais real possível. Não começamos dizendo “elas são um casal”. Independentemente de serem gays ou heterossexuais, elas estão apenas tentando sentir o outro grupo – mas elas definitivamente são um casal. Essa é uma das histórias que temos rolando [na 9ª temporada].
Planos de um romance para Aaron?
Angela Kang: Veremos o que vai acontecer com Aaron. Ele está num momento muito emocional. Parte de sua história é que ele esteja pensando muito sobre liderança. Ele é um pai para sua filha adotada, Gracie. Esse é o momento de sua vida agora. Não estou retirando a possibilidade de uma relação no futuro. Estamos tentando contar a história do momento atual da vida dele. Certamente, a morte de Jesus, que significava uma grande amizade para ele, é algo que vai afetar a maneira como ele pensa.
Havia algum outro personagem que você considerou matar, que não Jesus?
Angela Kang: Não quero falar sobre como planejamos as coisas. Essa foi a pedida certa por uma infinidade de razões.
Fomos apresentados de verdade aos Sussurradores no último episódio, com a angustiante cena final e toda a ação que levou a isso. Quais foram seus objetivos para a primeira verdadeira aparição do grupo?
Angela Kang: A ideia de pessoas sussurrando foi divertida, e misteriosa também. Nosso roteirista, David Leslie Johnson-McGoldrick, é um roteirista de terror muito experiente. Ele teve essa ideia da nevoa, de os ouvirmos sussurrando no meio dela. É como eles se comunicam, porque eles precisam estar camuflados no meio das hordas, e as hordas grunhem e respiram de forma ofegante. Poderíamos esconder humanos sussurradores por entre os sons dos zumbis, enquanto caminham entre eles. Foi uma técnica divertida que criamos recentemente para colocarmos os holofotes sob esse estranho mistério. Os Sussurradores caminham entre os mortos. Eles tentam agir e se parecer com eles – até que passem despercebidos. Nossa equipe de figurino e adereços planejou as vestimentas de uma maneira em que as facas e armas se encaixassem nas mangas, ou por trás [das roupas], para que ninguém conseguisse ver o que estaria para acontecer. Tudo que eles precisariam fazer era um movimento com as mãos e de repente, teriam suas armas em mãos. Infelizmente, é algo que Jesus não poderia de forma nenhuma esperar que acontecesse. Ele pensava que estava lutando contra alguns zumbis. Era tudo que ele sabia. Nós realmente queríamos que fosse aterrorizante. Nossos sobreviventes são muito bons em lutar contra zumbis. É sempre perigoso, mas eles não têm mais o medo que tinham antes. Os zumbis possuem algumas fraquezas. Eles são lentos, se comportam de forma previsível. Quando você tem humanos escondidos em meio a eles então, de repente, mesmo apenas dois zumbis são assustadores. Você não sabe se pode lutar contra eles da mesma forma que lutou por anos.
As últimas palavras ditas a Jesus vem de um sussurrador: “Você está aonde não pertence”. O que isso significa? Podemos imaginar como isso se conecta com a história de Jesus e como ele se afastou de Hilltop, mas há algumas referências aos quadrinhos também…
Angela Kang: Ele morreu ouvindo essa coisa muito estranha que o Sussurrador disse. Jesus andava pensando sobre aonde ele pertencia e qual seu papel em sua comunidade como um todo. A perda de Jesus terá um grande impacto no grupo, porque ele realmente pertencia a eles. Vamos começar a entender mais sobre o que os Sussurradores entendem por território, também. Vamos conhecer muito mais sobre suas ideias na próxima metade da temporada. Como os animais, eles certamente acreditam que existe um certo território que pertence a eles, e os nossos sobreviventes estão agora contra um inimigo com noções específicas sobre o que pertence a quem. Isso cria muitos conflitos daqui para frente.
Eugene deu um discurso sobre evolução, sobre talvez os zumbis estarem mudando. É claro que os fãs dos quadrinhos e da série sabem que eles estão se comportando de forma diferente porque há humanos escondidos entre eles. Considerando esse fato, você consegue imaginar o dia em que a teoria de Eugene se realize, e os zumbis evoluam a ponto de pensar e falar?
Angela Kang: Não posso desconsiderar nada, porque Robert Kirkman ainda está escrevendo os quadrinhos. Quem sabe o que ele pode estar preparando! Nós estávamos tentando mostrar Eugene, que é a pessoa mais rigidamente lógica: “O mundo é de determinada forma, e eu preciso me basear em fatos, e não em ficção ou contos de fadas.” Ele está tentando encontrar sentido em algo que não tem. Então, ele pensa em uma ideia do que poderia ser uma explicação científica. Existe uma parte de magia envolvendo os zumbis então, quem sabe? A série não tende muito para esse lado das coisas com os zumbis. É um mundo povoado por mortos, e a história sempre foi sobre como os grupos sobrevivem. Mas nunca se sabe. Coisas estranhas já aconteceram antes!
Negan conseguiu se libertar de sua cela, e nossos heróis acabaram de sofrer uma grande perda com Jesus – e ainda por cima, eles estão rodeados por Sussurradores. O que vem a seguir quando The Walking Dead retornar com o primeiro episódio da segunda metade da temporada?
Angela Kang: Nós retornaremos rapidamente de onde o último episódio terminou. Veremos o que acontece agora que Negan está livre. Jeffrey Dean Morgan [ator que interpreta Negan na série] esteve preso numa cela durante toda a temporada, e apesar de estar fazendo um ótimo trabalho lá dentro, nós vamos vê-lo livre e solto no mundo. Seremos apresentados ao começo de uma longa história para Negan como resultado disso. Vamos ver nosso pessoal saindo da zona de perigo – ou pelo menos tentando -, e também lidando com a morte de Jesus. Também haverá uma descoberta que eles farão ao longo do caminho. Há muito ânimo e ação vindo à frente, assim como novos ótimos personagens interpretados por Samantha Morton e Ryan Hurst como Alpha e Beta, e outros também.
The Walking Dead retorna para os oito episódios finais de sua 9ª temporada em 10 de fevereiro de 2019.
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