ATENÇÃO! O post a seguir contém spoilers sobre a sétima temporada de The Walking Dead e é um artigo de opinião pessoal, ou seja, não expressa o consenso geral do Walking Dead Brasil. VOCÊ FOI AVISADO!
A imparcialidade no mundo da escrita é sempre necessária, aliás, opiniões contradizem e nem todo mundo sai satisfeito. Se você teve vontade de clicar neste artigo, tenho certeza que possui uma opinião formada sobre The Walking Dead ou, pelo menos, pretende alcançar uma conclusão mais rigorosa após o término desta leitura.
Venho hoje escrever a vocês MINHA VISÃO PARTICULAR sobre esta primeira parte da sétima temporada de The Walking Dead. Lembrando, você é livre para concordar ou discordar, desde que aceite a minha e fundamente sua visão com argumentos válidos.
Após um cliffhanger covarde no final da sexta temporada, The Walking Dead – sua equipe diretiva, produção, elenco, emissora, etc – prometeu se redimir, sem delongas, assim que retornasse do hiatus. E isso aconteceu.
Existe uma relatividade muito grande na hora de expressar um parecer sobre um episódio. Assim como qualquer outra obra dentro do gênero, todo o produto apresentado dentro de seus 45 minutos deve cumprir aquilo que vendeu anteriormente, e “The Day Will Come When You Won’t Be” faz isso com primor.
“Isso foi miserável e me deixou muito mal.” – Jeff Stone
“Se isso é o que faz The Walking Dead ser um sucesso, então deveríamos nos perguntar o que estamos assistindo.” – Verne Gay
“Isso é tortura visual mascarada de narrativa, e a AMC deveria sentir vergonha de exibir isso.” – Bryan Bishop
As três citações acima exemplificam as reviews (negativas) da crítica especializada sobre o primeiro episódio da temporada. Não, não estou forçando você a aceitar que a cabeça esmagada de Abraham e o olho saltado de Glenn devam ser aplaudidos de pé, mas apenas friso tais eventos e palavras dos críticos para chegar no seguinte ponto: este sempre foi o principal propósito de Scott M. Gimple e todo o resto do grupo de roteiristas.
Angústia. Melancolia. Nojo. Raiva. Um conjunto de sentimentos para vir à tona sempre que o rosto sorridente de Jeffrey Dean Morgan aparecesse em tela. Querendo ou não, eles conseguiram.
Enquanto a violência da premiere chegou a ser [covardemente] comparada ao Estado Islâmico, o roteiro recebeu aplausos de especialistas e do próprio público, tal como a condução magnífica da equipe técnica e, não menos importante, do elenco.
Com uma premiere satisfatória para o público e ambígua para os “especialistas”, The Walking Dead passou a enfrentar seus problemas nas semanas seguintes. Com uma queda constante de audiência que beirou índices de 2013, os episódios posteriores à chacina do dia 23 de outubro vieram com o propósito de mostrar a quebra de cada um dos sobreviventes, seus estados psicológicos, e ao mesmo tempo expandir o universo pós-apocalíptico de modo ainda não visto na televisão. E foi aí que o problema começou.
Episódios de núcleo já funcionaram uma vez. A segunda metade da quarta temporada é, de longe, o auge de The Walking Dead no que se integra ao desenvolvimento de seus personagens. 45 minutos eram distribuídos muito bem para trazer o máximo, tanto do elenco, quanto cada um dos membros após a fatídica queda da prisão. Todavia, a fórmula parece ter sido usada a exaustão pela produção que, hoje em dia, com pequenas exceções, gasta páginas de roteiro e horas em tela para cenas que poderiam se encaixar em 15 minutos de episódio.
A introdução do Reino, mesmo acompanhada pelo ritmo lento de sempre, trouxe uma nova identidade ao show. Talvez pelo ar de novidade ou o contraste entre os mundos de Ezekiel e Negan, “The Well” fascinou 100% dos críticos do Rotten Tomatoes após a sua primeira exibição.
Com diálogos fortes e interpretações lineares, a série provou que consegue muito bem sobreviver com um texto forte e bem amarrado. Porém, foi apenas isso. Quem é Ezekiel mesmo? E Shiva, lembram dela? Se eu falar no Benjamin, será que alguém vai recordar do jovem aprendiz de Morgan? Pois então, nunca mais vimos a comunidade e, pasmem, muito menos Morgan e Carol, até a midseason finale, graças aos episódios posteriores.
Quando olho para trás, me pergunto qual deve ter sido a proposta que a produção da série recebeu pela AMC para que pudessem entregar algo tão discrepante daquilo que um dia já provou ser capaz. Escrito por Angela Kang (responsável por episódios INCRÍVEIS como o memorável “The Same Boat” da sexta temporada), minutos e mais minutos dentro de um loop musical ao lado de Daryl Dixon trancafiado em uma cela enquanto comia comida de cachorro.
Uma hora e vinte minutos com comerciais (grande motivo da queda de público nos Estados Unidos) para entregar algo que cabia, relativamente, nos 15 iniciais do quarto capítulo da temporada. O grupinho “If Daryl dies we riot” não tem poder tão massivo quanto antigamente – até porque o personagem virou unidimensional de uns tempos pra cá -, então qual foi o propósito de forçar o telespectador a entrar na temível rua fácil? Isso mesmo, uma tentativa (frustrada, diga-se de passagem) de desculpas para o público após o gancho da finale passada.
Eis que The Walking Dead voltou na semana seguinte com o famigerado “Service”. Mais Negan. Mais Rick. Mais Alexandria. Mais consciência no roteiro. Na primeira vez em que assisti cheguei a pensar que todo o brilho no meu olhar após desligar a televisão vinha diretamente das referências aos quadrinhos e das performances exuberantes de Andrew Lincoln e Jeffrey Dean Morgan. Em parte, era sim.
Antes que mil e duzentas pessoas comecem a me apedrejar, tentarei fundamentar que nada que ocorre neste quarto episódio é dispensável. Desde a humilhação de Rick até a saída covarde de Spencer com Rosita, tudo formulado e depois montado por David Boyd possuiu um propósito dentro do histórico narrativo.
O diálogo de Rick e Michonne sobre o verdadeiro pai de Judith, por exemplo, é um dos meus favoritos até hoje. Além da quebra maior e ênfase no poder dos personagens, até hoje encaro “Service” como um dos principais episódios que cruzam um paralelo entre nós e o grupo de Rick – somos humanos, temos falhas, vivemos a favor de um sistema covarde, e é por isso que nos identificamos tanto com cada um ali dentro.
Uma semana depois, The Walking Dead lembrou o público de Maggie e Sasha, as duas mais diretamente afetadas pelas mortes de Glenn e Abraham na premiere (ao lado de Rosita e Rick, talvez). Desde o começo do artigo estou tentando ser o mais honesto possível com vocês, e é realmente difícil tentar argumentar sobre um definido artifício em que você fica literalmente dividido.
“Go Getters” não é o melhor episódio da temporada. Não é tão bom assim, mas também não é ruim no total. Enquanto fico feliz pelo desenvolvimento de uma das minhas tramas favoritas envolvendo o meu personagem favorito (Carl Grimes, caso não tenha dito ainda), me questiono sobre a qualidade do texto apresentado naquele dia.
A ascensão de Maggie ao poder, embora seja um momento marcante das HQs, nunca teve tanto trabalho na série – tirando diálogos com Deanna ou a conversa com Gregory na primeira vez que os sobreviventes pisaram em Hilltop. Sabemos que o líder da comunidade feudal sempre foi um babaca, mas os consecutivos erros ao chamar os moradores pelo nome, apesar do trabalho excepcional de Xander Berkeley, são caricatos. Apesar do momento fofo que rendeu entre Carl e Enid, os dois pares (do tamanho certo) de patins na beira da estrada são uma coincidência rápida e superficial. Tudo isso só não chega a ser tão triste quanto a oscilação que Channing Powell faz entre ÓTIMOS diálogos e outros que parecem mais vir de uma novela brasileira dos anos 90*.
*Após salvar Enid, Carl diz que estava lá apenas para “dar um passeio fora dos muros”. Mais tarde, enquanto caminhavam pela floresta, a garota, que é inteligente o suficiente para pensar e raciocinar rápido, lança um terrível “Você não estava dando um passeio, não é mesmo?”.
Porém, há muito que relevar de modo positivo ainda: a conversa entre Simon e Gregory é fantástica, assim como a tensão criada durante o ataque zumbi noturno e a evolução do status de Rick e cia. para Hilltop e os moradores. Como eu disse, um episódio de 50/50 no quesito qualitativo.
Após uma bela confusão durante SETE DIAS envolvendo uma promo medrosa(?) apresentando cenas das semanas (ênfase no plural) seguintes, The Walking Dead chegou em seu pior momento de crítica, público e audiência desde muito tempo com “Swear”, o episódio da Tara, ou aquele que você amou/odiou.
Indo contra a grande maioria, não odiei esse episódio. Muito pelo contrário, apenas acredito que chegou em um momento inoportuno, desconexo, e onde ninguém mais sentia tanto a morte de Denise ou a saída de Tara.
Alternando entre flashbacks desde a saída para buscar suprimentos com Heath e a linha de tempo atual, o episódio focou no surgimento de Oceanside, outra comunidade retirada diretamente dos quadrinhos e apresentada com antecedência e mais ênfase na versão televisiva. Não é “enchimento de linguiça” ou escrita ruim, mas sim desenvolvimento para uma personagem secundária que implorava espaço dentro da história graças ao carisma de sua intérprete.
“Swear” tem a pior avaliação da história da série no IMDB pelos usuários, retém a pior audiência desde 2013, e a pior classificação da temporada no senso crítico dos especialistas do Rotten. Isso quer dizer que Alanna Masterson e Tara não conseguem carregar um capítulo inteiro sozinhas? David Leslie Johnson é um roteirista terrível? Michael Satrazemis não sabe dirigir? É claro que não! Novamente, esta foi apenas uma história paralela que surgiu em um momento desnecessário enquanto o público assíduo implorava por aquilo que realmente interessava.
E como a luz do fim do túnel, “Sing me a Song” e “Hearts Still Beating” foram o strike que me forçou a formular este texto. Estes foram os momentos finais da opressão de Negan, o desenvolver árduo dos personagens e o início da preparação para a guerra.
The Walking Dead não brinca quando quer ser uma série gigante dentro da sua temática principal. Voltando a unir os núcleos (como sempre deveria ser feito), explorou seus arcos narrativos com consistência textual, trazendo personagens de volta (Carol, lembram dela?), caminhando pela inocência de uma criança tendo de cantar uma música do Johnny Cash sob as ameaças de um psicopata, passando pelo ápice da crueldade humana, que se entrelaçou em um ferro quente no rosto de um sobrevivente como punição, e terminou com uma mulher inocente sendo baleada graças à estupidez de quem queria vingança. Tudo isso para culminar na volta de Rick Grimes ao seu posto de líder.
Esta primeira parte da sétima temporada não foi perfeita, vamos todos admitir. Entretanto, não vamos deitar na hipocrisia e classificá-la como a pior coisa da televisão só para atrair cliques, não é mesmo?
The Walking Dead possui defeitos, assim como qualquer outra série por aí. O grande problema é que hoje sofre de seu próprio sucesso, e segue a tendência de ser comparada ao seu nome. Mesmo mantendo-se como líder de público, vem acompanhada como líder de “críticos de sofá”, ou aquela pessoa que apenas aparece em qualquer veículo de informação para compartilhar um comentário frisando que “série X é melhor” – sendo que a maior similaridade entre uma e outra está na morte dos personagens, por exemplo. Lembre-se sempre: antes de criticar uma execução pouco satisfatória de efeitos práticos em um zumbi apenas para causar tumulto, confira se na sua série favorita não há erros cruéis de computação gráfica e edição em meio a uma grande sequência de ação.
Olhando estes oito episódios como um todo, não há como negar a consistência do roteiro e o sentido de visão dentro da história. O formato semanal talvez deixe isso passar, mas em maratona é muito mais perceptível.
A última cena do ano, por exemplo, não teria 50% do mesmo impacto emocional caso a série tivesse aplicado sua “junção” de núcleos periodicamente. O importante, acima de tudo, é que o time está de volta à ativa, e a segunda parte está pronta para compensar toda a calmaria destes oito primeiros capítulos.
Gosto é gosto, mas ser chato é relativo. O que é bom pra mim, pode não ser para você, e vice-versa.
Scott Gimple já provou ser um ótimo showrunner, e aparenta guardar grandes planos para o seguimento da história, tal como um desvio interessante dos quadrinhos originais – o que a série também está precisando.
A proposta, como a própria sinopse da temporada adiantava, era mostrar Negan e sua ditadura mudando drasticamente a vida do grupo principal, fazendo cada integrante buscar novamente seus ideais, assim como um novo propósito de sobrevivência. Foi exatamente isso que aconteceu. Todos ali buscaram seu modo de enfrentar o luto, de brigar contra seus demônios interiores, e no fim notaram que são mais fortes unidos, e está na hora do grupo se reerguer.
De fato, nada acontece por acaso, e cada evento que constituiu os minutos e horas dos episódios, mesmo alguns desenvolvidos da maneira errada, no tempo errado, ou de modo prolongado, tem seu propósito nos fins narrativos.
No fim das contas, esta é apenas a percepção de um garoto entre 16 milhões de pessoas que assistem sua série favorita. Você é livre para dividir sua opinião nos comentários – e votando nas enquetes abaixo -, desde que a fundamente de forma satisfatória e com argumentos válidos.
The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, retorna no dia 12 de fevereiro de 2017 no AMC Internacional, às 00h, e no FOX Action (canal do pacote premium FOX+) e FOX Brasil, às 00h30. Confira todas as notícias sobre a sétima temporada.
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