Série

Caminho de redenção? O equilíbrio de Carol e as polaridades de Morgan em The Walking Dead

ATENÇÃO! O post a seguir contém spoilers do episódio S07E13 – Bury Me Here, da sétima temporada de The Walking Dead. Não continue se você ainda não assistiu. VOCÊ FOI AVISADO!!

Volto a redigir o artigo em primeira pessoa do singular, por motivos autoexplicativos e, todo o texto se baseia em teorias e sentimentos muito próprios.

Eu sou assumidamente fã da Carol de Melissa McBride desde sua primeira aparição. Por fatos não compreendidos eu sempre tive facilidade de ver que a senhora Peletier tinha um grande potencial – talvez por conhecer Melissa de outros trabalhos e saber da grande capitação de emoções que ela conseguia transferir para quem a assiste. Amei a Carol frágil e doce das primeiras três temporadas e ainda mais a Carol estrategista e destruidora das três subsequentes.

Morgan foi sempre um personagem que não me chamou atenção. Quando soube de seu retorno à série no final da quinta temporada, esperava que ele viesse cumprir seu papel de morte como sua contraparte na HQ e desestabilizar alguma alma feminina (que nos quadrinhos foi o caso de Michonne). Contudo, sua volta me deixou totalmente desanimado. O Morgan pacifista e filosófico que se desenvolveu na sexta temporada me deu preguiça. Aquele episódio totalmente dedicado a ele foi de longe o episódio em que mais me senti desanimado. Eu tentava buscar o Morgan da primeira temporada e de “Clear” (na terceira temporada), mas não havia ali nenhum resquício a não ser o nome do personagem. É como se fosse outra pessoa totalmente diferente.

Então, temos aqui duas situações semelhantes demais: Carol, que a medida de seis temporadas se transformou de forma surpreendente e que de fato não possuía nenhuma semelhança com a esposa submissa de Ed, e Morgan, que de um sobrevivente doente psicologicamente se elucidou um homem em busca de um Eu inatingível dado à nova perspectiva do mundo.

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Como fã de Carol houve um momento em que me perdi. No instante em que ela renunciou ser a nova Carol e entrou em um mar de desistência da nova vida – sendo afetada pelas filosofias de Morgan – eu simplesmente desentendi os porquês que motivavam a personagem. Tentei ser compreensivo e refletir no quão duro deve ser carregar a morte (por mais que tenham sido inimigos) de tantas pessoas nas costas. Pensei também no desgaste emocional e físico de viver em uma luta constante e no pouco tempo que ela teve para processar vários eventos (já que a série até aqui se desenvolveu em um período de dois anos e meio), como a morte da filha, a perda de seus amigos, a destruição de um lar – a prisão -, a incumbência de matar, um sequestro que culminou na morte de Beth, meses na estrada com pouquíssimos suprimentos para chegarem a um local praticamente utópico.

Entretanto, nada me fazia entender o real motivo de Carol estar vivendo aquilo. Nada me fazia aceitar o motivo dos produtores preservarem Morgan na série por mais tempo que nos quadrinhos se era pra ser aquele personagem insuportável que vinha sendo. Torcia a cada aparição do personagem que sua morte fosse dada, não importava o modo. Por mais insensata e sem motivo que fosse sua morte, eu a desejava. E quanto a ela, perdeu seu posto de personagem feminina favorita para Maggie, quando vi a sua ascensão em Hilltop. Não havia mais como ansiar por uma personagem que parecia não ter mais nada a oferecer a não ser sua melancolia e solidão.

Mas, mais uma vez o elenco de produtores e roteiristas da série me surpreendeu. O episódio dessa semana, “Enterre-me aqui”, foi como a Teoria de Tudo para mim. Finalmente eu comecei a compreender os caminhos de ambos os personagens. Morgan vivia a pacificação e a filosofia, pois não tinha um equilíbrio. Podemos ver claramente isso após a morte de Benjamin, não há um meio termo no personagem de Lennie. Ou ele é o filosófico ou é o desestruturado psicologicamente. Ou ele é a máquina de preservar vidas ou é a máquina de matar. Ou é oito ou oitenta.

Carol nas três primeiras temporadas foi uma doce mulher, amável e confiável. Inexplicavelmente entre o hiato da terceira para a quarta temporada, ela se transformou em outra pessoa. As três temporadas subsequentes trouxeram uma mulher muito mais forte, segura de si, estrategista e mortífera. Contudo, nos seus últimos tempos, ela vinha apontando uma inclinação psicológica não muito saudável. E então veio a sua quebra e a busca pelo afastamento.

A cena final do episódio de ontem demonstrou os motivos de toda a história escrita para Carol pelos roteiristas. Eles precisavam equilibrar a personagem para que ela não se tornasse um segundo Morgan doente mentalmente. Após saber dos efeitos gerados por Negan e os Salvadores, Carol vai ao Reino e afirma com toda a força que é hora de lutarem, mas ao mesmo tempo, segundos depois, se junta ao Rei para fechar o episódio com uma cena doce e familiar. Ou seja, temos uma Carol disposta a esgotar todo o seu suor e entregar todo o seu sangue por quem ama (como a da quarta temporada até a sexta), mas ao mesmo tempo a Carol doce e amável das três primeiras temporadas.

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Morgan, quando Duane morreu, não teve amparo de pessoas próximas para lhe manter saudável, Carol com a partida de Sophia teve. Quando Rick reencontra Morgan em “Clear”, não há o que ser feito. Ele já está afetado psicologicamente. Eastman reverte à doença mental de Morgan para o lado oposto. Ele em nenhum momento deixou de estar mentalmente doente, o queijeiro apenas o induziu a ser menos prejudicial à sociedade viva e a ele mesmo. Peletier pela carga do tempo estava caminhando para o mesmo lado que Jones, mas se induziu para uma solidão que fê-la reequilibrar-se. As duas Carol (as das primeiras temporadas e das últimas) reagiram de formas opostas: a primeira, sentar-se-ia em uma cadeira e lamentaria pelas mortes de Glenn e Abraham, enquanto a segunda iria sozinha (assim como Rosita e Sasha) ao Santuário atrás de retaliação. E aí está o equilíbrio da terceira Carol que está surgindo na série, ela sente a dor da perda dos amigos, mas ao mesmo tempo vai à busca de sua vingança, não de modo impensado, buscando ajuda e reunindo forças para acabar com o inimigo de modo certo.

No fim, Morgan sempre esteve em minha frente doente e Carol esteve ali apresentando duas facetas para que no fim se tornasse uma só. Talvez tenhamos aqui os dois personagens mais bem montados da série lado a lado e não tenhamos percebido isso até então.

Agora é sua vez de entrar nessa discussão: concorda ou discorda do artigo acima transcrito? Quais suas teorias? Você tem alguma analise sobre o caso também? Comente abaixo para que possamos formar uma discussão saudável sobre o assunto.

The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, vai ao ar nas noites de domingo no AMC Internacional, às 22h, e no FOX Action (canal do pacote premium FOX+) e FOX Brasil, às 22h30. Confira todas as notícias sobre a sétima temporada.

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Carlos Knewitz

Gaúcho, nascido na primeira metade dos anos 90 e com memória fotográfica. Estudante de Direito e extremamente viciado em escrever. Aficionado pelos quadrinhos de Robert Kirkman, fã de The Walking Dead e Fear the Walking Dead. Apaixonado por Carol Peletier e Alicia Clark e, sucessivamente, por suas intérpretes.

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