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Robert Kirkman se despede de The Walking Dead em emocionante carta de agradecimento
Ao final da edição 193 o criador de The Walking Dead, Robert Kirkman, escreveu uma carta em agradecimento a todos os fãs e a equipe de produção.
Os fãs de The Walking Dead ficaram chocados com o fim dos quadrinhos na edição 193 da história. Robert Kirkman, criador da saga, já havia encomendado as capas das duas próximas edições para não levantar nenhuma suspeita de que a série impressa estava chegando ao fim. Na conclusão, ele deixou um recado para os admiradores das HQs.
Confira o depoimento integral de Robert Kirkman nas últimas páginas da edição 193 de The Walking Dead:
Este é o fim de The Walking Dead. É isto, acabou… terminamos.
Tenho certeza que vocês têm um milhão de perguntas… e tenho certeza que vocês se sentem tão emocionados quanto nós… se não mais. Estou completamente disposto a apostar que alguns de vocês estão bravos quanto a isto. Eu entendo… entendo mesmo. POR QUE não anunciamos para os fãs terem algum tempo para se preparar?
Bom… pessoalmente… eu odeio saber o que está por vir. Como fã, eu odeio perceber que estou no terceiro ato de um filme e a história está ficando menor. Odeio poder contar intervalos comerciais e saber que estou chegando ao final de um programa de TV. E odeio que você possa SENTIR quando está chegando ao fim de um livro ou uma novela.
Alguns dos MELHORES episódios de Game of Thrones são quando eles estão estruturados de tal forma e seguem o ritmo da perfeição para que seu cérebro não saiba se está assistindo por 15 minutos ou 50 minutos… e quando chega o fim… você fica ATORDOADO.
Por esse mesmo motivo eu amo filmes LONGOS. Você perde noção do tempo porque se convenceu que você estará lá por um longo tempo, mas a história avança em um ritmo tão divertido e envolvente que, no momento em que o filme está terminando… você não pode acreditar que já acabou. SURPRESA, acabou!
Tudo o que fizemos, tudo o que um criador pode fazer, são histórias sob medida para entreter a eles mesmos, e torcer para que o público sinta o mesmo. Isso foi tudo que fizemos, e parece que deu certo na maior parte do tempo.
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THE WALKING DEAD sempre foi construído na surpresa. Não saber o que está para acontecer quando você vira uma página, quem vai morrer, como eles vão morrer. Isso foi ESSENCIAL para o sucesso dessa série. Foi a força vital que manteve isso durante todos esses anos, mantendo as pessoas envolvidas.
Pareceu ERRADO e contra a própria natureza desta série não fazer o fim tão surpreendente quanto todas as grandes mortes… de Shane até Rick.
Para ser honesto… a ideia pareceu muito boa na época, mas agora cá estamos e a série acabou, estou pensando melhor. Não a ponto de mudar o rumo das coisas… isso seria impossível de se fazer. Mas… é possível, por mais que eu odeie admitir, que eu esteja genuinamente sentindo um arrependimento por todo esse plano maluco.
Eu quero que você veja o que aconteceu, quero que você entenda o porquê, se isso for possível. Sinto que todos vocês merecem pelo menos isto. Então vamos abrir o jogo de uma maneira que eu… bem, costumo tentar não fazer. Quando se trata do final desta série… vamos aos fatos.
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Lá pelo início de 2015, Charlie Adlard criou a capa para a edição #142. Ele tinha tomado o mesmo rumo que eu, de mostrar como as pessoas estavam felizes na feira de Alexandria, os estandes, o comércio… uma cena muito civilizada, e ele trabalhou maravilhosamente com esse conceito. Era uma capa diferente de tudo o que havia antes. Para mim, foi um verdadeiro ponto de virada para esta série.
O negócio é que… isso foi há mais de quatro anos atrás… mas eu sabia praticamente todas as histórias que iam acontecer até o final. Uns dois anos antes, por volta de 2013, eu inclusive disse ao Charlie na Comic-Con de San Diego qual seria o gancho da edição final. Eu só não sabia exatamente em qual edição essa história final aconteceria. Eu sabia do fim, mas não sabia onde ele cairia. Eu pensei… lá pela edição #300. Como eu disse publicamente… eu sempre quis alcançar este número, aquele grande número que todos os insanos criadores de quadrinhos perseguem.
Mas quando eu vi a capa da edição #142… ficou claro para mim. Pensei ‘Oh droga. já estamos na feira! O Império já está virando a esquina… e… Oh, cara. Não vai TER COMO eu chegar na edição #300’. Foi a primeira vez que eu percebi que não tinha história desenvolvida o suficiente para chegar lá. Eu não sabia exatamente por quanto tempo lutaríamos contra os Sussurradores ou quanto tempo gastaríamos no Império antes que Rick provocasse sua própria morte… mas eu sabia que toda essa história não duraria por mais 150 edições.
Eu comecei a resolver as coisas… tentando descobrir em quanto tempo as coisas correriam… e ficou claro para mim… eu tinha cerca de 50 edições antes do meu final planejado. Eu sempre tenho que manter as coleções em minha cabeça. Como fazemos 48 edições por Compendium (que são muito populares, nosso formato mais popular) seria realmente irresponsável envolver essa série de forma que os leitores tivessem que comprar um formato diferente para terminar a história. Então eu fiquei feliz porque parecia que as coisas iriam funcionar e a série terminaria bem no quarto compendium.
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Mas eu não tinha certeza se era hora de finalizar as coisas.
Eu amo escrever essa série. Tem sido o sonho da minha vida. Então, quando eu cheguei a essa conclusão, meu primeiro instinto foi: ‘bem, eu só preciso criar novas histórias’. Eu até gastei algumas semanas tentando criar uma nova trama, novos desvios de história para empurrar o final que eu tinha em mente e manter as coisas acontecendo… por um tempo, provavelmente até um longo tempo… um compendium extra, talvez dois.
E… de novo, puxando a cortina de volta… isso aconteceu antes. Eu já tinha abandonado um final planejado para manter a série em andamento. Sim… é uma informação que eu nunca contei em lugar algum.
Vamos sair pela tangente por um momento. Quando a história chegou à Alexandria na edição #72, as coisas estavam muito bem; Rick e o grupo estavam prestes a ter problemas para se encaixar por tudo que passaram. Isso levaria a conflitos dentro de Alexandria, e acabaria por levar Rick a assumir o controle. A grande história de NO WAY OUT (Sem Saída) terminaria com Rick proclamando que Alexandria era um lugar pelo qual valeria a pena lutar, e que eles não podiam mais continuar se movendo de um lugar para outro. Eles tiveram que se posicionar, estabelecer raízes e começar a construir a partir daí. Seus dias nômades ficariam para trás.
Bem… por anos, era o que tinha planejado para acontecer… o fim. Rick faria sua proclamação, e o discurso terminaria com um grande close no rosto de Rick, você viraria a página, e o rosto dele seria o mesmo, mas em uma estátua, e você daria um zoom e veria a estátua completa com algumas videiras crescendo no fundo dela, rachaduras se formando, e perceberia que ela era bem velha.
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Nós continuaríamos o zoom até vermos que a estátua era em Alexandria, no mesmo lugar em que ele deu o discurso, mas estava diferente. Era velho e degradado, janelas quebradas e portas sumidas. Nós continuaríamos o zoom até um zumbi aparecer, depois outro e veríamos que Rick os havia levado a Alexandria, dado este grande discurso sobre a reconstrução da civilização e SIDO BEM SUCEDIDO a ponto de construírem uma estátua para homenageá-lo… mas no fim, os mortos venceram, a sociedade sucumbiu de novo, agora aparentemente de vez, e é isso.
Seria um fim TERRÍVEL. Sombrio, triste… fez toda a história ficar sem sentido. O que posso dizer… Eu era jovem e a maioria dos finais que escrevi ou desenvolvi na época… eram bem sombrios. Então esse final… lembrando agora foi embaraçosamente ruim, mas mais do que isso, eu não estava pronto para terminar esta série. Não por um longo tempo.
Vocês têm que entender que, quando comecei a escrever a série, eu não tinha ideia de que chegaria ao volume #12. Então pensar que teria um quadrinho que teve 100 edições era loucura. Então, quando este quadrinho realmente decolou em seu segundo ano, eu pude fazer planos de longo prazo para o futuro, mas mesmo naquele momento, chegar a 100 edições ainda parecia impossível.
Então quando me encontrei encarando um volume de 100 números, eu simplesmente não estava pronto para me desapegar. Estava me divertindo muito. Pense em como as coisas teriam acontecido se eu tivesse encerrado as coisas então… sem Negan, sem Ezekiel, sem Guerra Total, sem salto de tempo, sem Magna, sem Sussurradores, sem Império, sem Princesa… e um final realmente desalinhado para lançar.
Para completar, logo depois que eu terminei o final planejado e decidi continuar, eu cheguei a praticamente o final exato desta edição, que eu senti ser muito mais adequado e recompensador.
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Estou feliz por ter tomado a decisão que tomei na época. Não me arrependo.
Dessa vez, no entanto, as coisas foram bem diferentes. Enquanto trabalhava para encontrar maneiras de expandir a história, nada disso parecia certo. Tudo parecia um desvio desnecessário… foi, na falta de uma palavra melhor, enrolação. Quanto mais eu tentava descobrir novos lugares para ir, mais claro era para mim que isso era o que esta história precisava… precisava terminar.
Então, como eu disse… pareceu uma boa ideia na época. QUATRO ANOS atrás este plano parecia sólido como uma rocha. Nunca contar a ninguém, manter em segredo, ao ponto de solicitar edições falsas que nunca existiram para realmente surpreender as pessoas. Oh, cara… achei que isso seria ótimo.
Eu resolvi com Charlie imediatamente. E ele sempre quis um final satisfatório. Ele estava comigo, o tempo todo, desde que eu não enterrasse a série. Charlie só queria fazer desta HQ algo especial. Se eu tivesse um plano sólido para 300 edições, ele faria acontecer, mas se eu começasse a criar histórias que Charlie achava que eram fracas, eu teria sido informado e ele me convenceria a terminar a série. Então, quando falamos sobre o plano, Charlie ficou animado, seu medo de que empolgássemos e mantivéssemos a saga indo bem além de sua popularidade foram aquietadas.
Vou dizer de novo, eu amo (amei… meu Deus, não estou pronto para usar o tempo pretérito) escrever essa série. Eu realmente não quero que ela acabe. Na verdade, fiquei um pouco inquieto desde que escrevi o roteiro para essa edição. Tudo isso parece apenas… estranho.
De certa forma, acabar com essa série é como matar um personagem principal. Muito, muito mais difícil… mas é o mesmo sentimento. Eu NÃO QUERO ter que fazer isso. Eu preferiria que a história continuasse rolando… mas a história está me dizendo o que ela quer e o que precisa. Isso precisa acontecer. Quer eu queira ou não.
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Me parece o certo… enquanto também parece… terrível.
O principal sobre tudo isso é… bem, estou assustado. A maior parte da minha vida profissional foi gasta nesta série. Incontáveis horas foram dedicadas a isso, meses e meses. Mais do que tudo nos últimos 16 anos da minha vida… isso vai fundamentalmente mudar a minha vida. Então estou apavorado.
Quando meus dedos digitaram ‘fim’ no teclado quando terminei este testemunho… eu pensei que me sentiria aliviado ou algum resquício de orgulho por um trabalho bem feito, mas na verdade era apenas… medo. Eu não estava pronto para isso acabar… mas havia acabado.
Acabou.
Estranhamente, por mais inseguro que eu esteja para terminar a história, me sinto confiante em como a terminei.
Espero que vocês também fiquem felizes. Mesmo que você esteja chateado por não ter mais tempo nesse universo.
Eu também estou chateado. Eu vou sentir falta dele tanto quanto você, se não mais. Meu coração corta por ter que acabar com isso, e nós teremos que seguir em frente… mas eu simplesmente amo esse mundo demais para esticar as coisas até que ele não corresponda ao que eu quero.
Espero que vocês entendam.
Espero que você, querido leitor, saiba o quanto agradeço pelo presente que você me deu. Eu pude contar minha história exatamente como eu queria, em 193 edições, e terminá-la do meu jeito, sem nenhuma interferência no caminho… a qualquer momento. Isso é uma coisa tão rara e não existe sem o suporte inflexível que essa série recebeu de leitores como vocês. Muito obrigado.
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Obrigado, Tony Moore, por desenhar as seis primeira edições. Obrigado, Cliff Rathburn, por incontáveis horas gastas moldando a arte em preto e branco com tons de cinza. Obrigado, Rus Wooton, por transformar minhas palavras em arte mês após mês. Obrigado, Stefano Gaudiano, por moldar os lápis de Charlie por quase 100 edições. Obrigado, Aubrey Sitterson e Sina Grace, pelo seu tempo mantendo essa insanidade sob controle. Obrigado, Sean Mackiewicz, por ver este projeto até o fim, apesar de achar que cada compendium seria o último… e, você sabe, fazer um ótimo trabalho ao longo do caminho. Obrigado, Arielle Basich, por manter Sean são e fazer o trabalho pesado. Obrigado, Andres Juarez, por manter este livro atual depois de estar na prateleira por mais de uma década. Obrigado, Carina Taylor, por fazer o mesmo. Obrigado, Dave Stewart, por fazer a arte de Charlie rodar em estantes de quadrinhos em todo o mundo. Obrigado, Dave McCaig, por você sabe o que. Obrigado, Ryan Ottley, por essa incrível arte na edição #75 que talvez nunca seja coletada. Obrigado, Cory Walker, pelo seu sábio conselho antes mesmo de começar esta série. Obrigado, Jim Valentino, por tantas coisas, inclusive dizendo: “Mude o título para que você possa possuí-lo.” Obrigado, Shawn Kirkham, por sempre ouvir o que este mundo precisa. Obrigado à equipe da Skybound, que trabalha incansavelmente para trazer-lhe tudo o que você poderia querer e muito mais. Obrigado, Erik Larsen, pelo apoio eterno, até hoje. Obrigado, Eric Stephenson, pelos anos de sessões de estratégia que fizeram desta série um sucesso contínuo. Obrigado à equipe da Image Comics, que foi inestimável na última década e meia… especialmente no departamento de contabilidade. Obrigado, David Alpert, por sua parte em transformar isso em um fenômeno multimídia verdadeiramente mundial, e tudo o que veio junto, e de alguma forma muito mais do que isso. Obrigado, Shep Rosenman e Lee Rosenbaum, por cruzar os Ts e pontilhar o Is para que eu possa manter todos os meus Ts e não perder meu Is. Obrigado, Chris Simonian, por ir à guerra e vencer. Obrigado, Allen Grodsky, por ir à guerra e vencer. Obrigado, John Campisi e a equipe da CAA, por continuarem a luta. Obrigado, Frank Darabont, por ir à House of Secrets em Burbank e dizer: ‘Este aqui’. Obrigado, Gale Anne Hurd, por ajudar a transformar “este aqui” em algo real. Obrigado, Charles H. Eglee, por ser o showrunner original e nos preparar para o sucesso. Obrigado, Jack LoGiudice, por me fazer sentir bem-vindo na sala de roteiristas no primeiro dia… sendo má para mim das formas mais divertidas. Obrigado, Glen Mazzara, por manter o fogo quente. Obrigado, Scott Gimple, por levar o show a novos patamares e por se importar o suficiente para dizer: ‘Sem spoilers, meu Deus, chega de spoilers’. Obrigado, Angela Kang, pelo futuro e além. Obrigado, Greg Nicotero, por fazer os zumbis (er, walkers) REAIS. Obrigado, Chris Hardwick, por contar ao mundo todas as semanas que há uma revista em quadrinhos que vale a pena conferir. Obrigado às dez mil pessoas que trabalham nos agora QUATRO programas de TV baseados no THE WALKING DEAD por terem derramado seus corações nisto e amado este mundo tanto quanto se não mais do que eu.
Mas, mais que tudo, obrigado, Charlie Adlard, por sentar-se à mesa, dia após dia, e dedicar mais horas a THE WALKING DEAD do que a qualquer outra pessoa. Eu não poderia pedir por um parceiro melhor. Foi um sonho que virou realidade moldar este mundo junto com você. Isso nunca teria acontecido sem você. Eu não posso acreditar que chegamos até o fim, meu amigo.
Oh meu deus… eu não acredito que acabou.
– Robert Kirkman