Post destinado aos comentários da centésima septuagésima sexta edição (The Walking Dead 176) dos quadrinhos de The Walking Dead. Aqui, SPOILERS SÃO LIBERADOS, então se você ainda não leu, ou não está em dia com os mesmos (e não quer saber o que vai acontecer), pare de ler imediatamente. Você foi avisado.
Anteriormente: Eugene e companhia chegaram em Ohio para encontrar Stephanie, mas em vez disso foram emboscados por soldados armados. Depois de interrogá-los, um homem chamado Lance concordou em levar os recém chegados para o Império. No caminho, eles pararam na parede dos perdidos, um mural cheio de fotos de pessoas desaparecidas. Nele, Michonne encontra uma foto de si mesma, postada por sua filha, Elodie.
“As pessoas precisam de algo para fazer. Nós providenciamos isso. A civilização é como uma máquina. Todas as peças tem que estar no lugar certo para que ela funcione.”
(Pamela Milton, The Walking Dead 175)
Novamente mais uma edição focada exclusivamente em um único arco de histórias. Duas edições atrás vemos somente Maggie e Negan, na edição passada vimos a chegada do grupo de Michonne e Eugene à nova comunidade e nesta presente edição, temos a continuidade direta da anterior. Se trata de um artifício muito utilizado na série de TV quando os roteiristas optam por mostrar somente a perspectiva de um grupo de personagens em específico e até mesmo a de um único personagem. Como já comentei aqui, tal recurso não me agrada justamente por interromper arcos de história importantes e até mais relevantes do que aqueles que estão sendo mostrados. Porém, aqui na HQ, tal recurso está sendo muito bem vindo justamente pelo fato de que a grande maioria das subtramas envolvendo os personagens de The Walking Dead estavam realmente maçantes. Se Robert Kirkman quisesse escrever alguns títulos derivados como por exemplo uma novela das 8 envolvendo Carl, um luto eterno de Rick ou o mimimi eterno de Dwight, ele poderia até mesmo dar uma aliviada no marasmo que estava The Walking Dead nos títulos anteriores.
Mas vamos ao que interessa. É impressionante o salto de qualidade nos últimos três números. Na minha visão, três edições que creio que entrarão em alguma seleção de números essenciais para apreciarmos o rico universo dos personagens da trama. É nesses números que Kirkman faz o que torna The Walking Dead um petardo: desenvolver seus ótimos personagens, levá-los a seus limites e transformá-los. Inúmeras vezes presenciamos homens, mulheres e crianças deste universo deixarem suas fantasias, imaturidades e apegos de lado e precisarem amadurecer e encarar certas realidades. Desde os primeiros números, era o apocalipse que ditava as relações entre os personagens, era o caos que jogava essas pessoas em seus limites e as forçava a reconstruírem seu mundo de determinadas maneiras. Em suma, era a falta de civilização que transformava as pessoas. Tais pessoas eram órfãs de uma ordem mundial e de uma vida em civilização, e ao buscarem reconstruir qualquer civilidade que seja, se deparavam com dificuldades que tornavam distorcida qualquer ideia de civilização. Trocando em miúdos, a falta de civilização fez os personagens se acostumarem a ela, virarem déspotas, monstros, canibais ou líderes de ceita. A história sempre tratava de Rick liderando conflitos para defender o ideal de uma civilidade democrática e livre contra ideias distorcidas de civilidade. Porém, desde que a guerra contra os Salvadores se encerrou e Rick mostrou a Negan que existe o caminho da justiça, a civilização foi sendo reconstruída. Tivemos a guerra contra os Sussurradores que mostrou uma grande união para manterem essa civilização erguida.
Desta vez, nesse novo arco “Nova Ordem Mundial”, parece que Kirkman chacoalhou de vez o mundo desses personagens. Temos uma civilização e não só ela. Aparentemente essa civilidade veio com algo que ainda não havia sido estabelecido em nenhuma das comunidades com as quais Rick se envolveu: a normalidade. Não só uma normalidade, uma vida em família com entes queridos até então apagados da existência desses personagens. Michonne descobre que sua filha está viva e cai em prantos. Tal cena ficará marcada como um dos grandes momentos dessa longeva saga em quadrinhos. A questao agora é: como esses personagens conseguirão se adaptar à normalidade até então esquecida?
A edição é bastante importante para a saga não somente pela revelação de Michonne como também por mostrar alguns meandros dessa comunidade, bem como a maneira como ela é liderada e como seus líderes se portam para com seus mais de 50 mil habitantes. Pelo interior da comunidade, vemos varias construções, uma feira movimentada e até mesmo uma pessoa vendendo jornal!! Tais detalhes mostram que há uma produção intensa envolvendo esta cidade para movimentar um comércio e até mesmo uma mídia.
Eis que, logo nos primeiros passos dentro desta nova comunidade, Stephanie dá as caras. A moça com quem Eugene conversou via rádio não era a líder da comunidade como muitos, incluindo eu mesmo, suspeitávamos. Stephanie é uma moça, a primeira vista, muito parecida com Eugene. Nada de padrões de beleza, corpo atlético, nem nada do tipo. Se trata de uma pessoa comum como qualquer outra. Porém, ficamos sabendo que ela usou o rádio sem permissão e descobrimos que Lance faz parte de uma classe social acima e que supostamente teria “perdoado” a displicência de Stephanie. Lance foi bem ríspido com Stephanie e imediatamente a expulsou de perto de Eugene. Será que os líderes dessa comunidade tratam seus cidadãos com mãos de ferro?
Em seguida conhecemos um novo personagem chamado Maxwell Hawkings, um homem vestido de terno, aparentemente um tanto arrogante e que indaga sobre as profissões dos recém-chegados para selecioná-los a uma audiência com a suposta “governadora”. Notei um certo elitismo nessa abordagem, já que Michonne, por ter sido advogada antes do apocalipse, foi selecionada para conversar com a líder. Eis que, finalmente, conhecemos Pamela, a líder responsável por governar esta “metrópole” do apocalipse zumbi. Ainda não está claro o que esperar de Pamela. Ela é apresentada como “governadora” de Commonwealth, e esse nome já dá calafrios aos leitores de The Walking Dead. A primeira aparição da personagem a mostra envolta em sombras, o que é um indício de que esta mulher pode ser uma treta das grandes. O diálogo dela com Michonne é bastante interessante. Pamela classifica Commonwealth como um “farol na colina”, a “rosa nas cinzas do nosso mundo” e que traz “ordem ao caos”. Ela alega abertamente que “a civilização está de volta” e que “nós somos o que vocês esperavam que ainda existisse” e faz uma metáfora interessante afirmando que a civilização é uma máquina e que qualquer engrenagem falha pode transformar a ordem em caos. Nesse ponto ela parece ser uma personagem que até então não vimos em The Walking Dead. Vimos vários elementos que traziam ordens particulares, porém propiciavam caos em outros lugares. Governador, Negan, Alpha por exemplo, traziam um senso distorcido de civilidade e ordem em suas comunidades, mas tocavam o terror em outras. Agora, aparentemente, Pamela parece trazer um senso de globalização e que provavelmente irá impor alguns padrões em Alexandria, Hilltop e afins.
Nesse ponto Michonne mostra seu lado imponente de líder e até mesmo de mãe. Ela não só se impõe a Stephanie soltando uma frase de efeito de que “em minha perspectiva, estou tanto interrogando você quanto você está me interrogando”, como também faz um apelo pela sua filha. Pamela se sente sensibilizada e ela própria acompanha Michonne em busca da filha. Eis que finalmente algo de diferente acontece em The Walking Dead. Vimos diversas mortes ora inesperadas e ora esperadas, ora violentas e ora sensíveis, vimos atos crués de violência, mutilações, torturas e humilhações, mas nunca tivemos um encontro tão emocionante desde que Rick reencontrou Lori e Carl lá no segundo número da série. Obras em quadrinhos que me fazem ficar arrepiado merecem elogios, e cravo que essa edição ficará para a história não somente pelo reencontro emocionante, como também pelo divisor de águas emocional que Commonwealth trará não só para Michonne como também para todos os personagens.
Pontos altos da trama:
– Até o presente momento, Rick já não é mais protagonista de The Walking Dead. Já tem alguns números que ele sequer aparece e está alheio a tudo o que ve acontecendo de importante na trama.
– Como Negan se encaixará nessa nova “ordem mundial”? O próprio Negan que afirmou que ele traria uma nova ordem mundial para Rick logo antes de esmigalhar a cabeça de Glenn, agora se deparará com uma ordem mundial de fato.
A edição 177 será lançada no dia 7 de Março de 2018 nos Estados Unidos, mas sem data no Brasil. Fiquem ligados aqui no Walking Dead Brasil para ficar por dentro de tudo!
Este espaço está aberto para você e sua ideia sobre o que acontecerá no próximo volume da história. Você também pode utilizar os comentários abaixo para deixar sua opinião e teorias sobre as próximas edições.
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