Post destinado aos comentários da centésima sexagésima oitava edição (The Walking Dead 168) dos quadrinhos de The Walking Dead. Aqui, SPOILERS SÃO LIBERADOS, então se você ainda não leu, ou não está em dia com os mesmos (e não quer saber o que vai acontecer), pare de ler imediatamente. Você foi avisado.
Anteriormente: RIP Andrea.
“Vocês estão vivos por causa do trabalho duro, pesado pra caralho, de duas pessoas. Uma dessas pessoas, é claro… sou eu. A outra é o Rick Filho da Puta Grimes.” (Negan, The Walking Dead 168)
É impossível escrever qualquer palavra a respeito desta última edição de The Walking Dead sem mencionar o trágico acontecimento da última edição. A morte de Andrea – uma das poucas personagens que ainda estava conosco desde os primeiros números da revista – tem tudo pra ser um dos momentos mais memoráveis desta obra. Como toda morte, é necessário que haja um período de luto. Portanto, seria mais que previsível que esta edição de número 168 fosse dedicada às sensações. Aos personagens da trama sentindo e chorando a morte de uma pessoa querida e influente nesse mundo pós-apocalíptico. Ao nosso protagonista em um momento de alta vulnerabilidade e uma nova crise de liderança. Só que o mundo de The Walking Dead não é esse mundo. Não é um mundo previsível. Ou melhor, as pessoas integradas nesse mundo não permitem que isso ocorra. Ao invés de um período de luto, os remanescentes dos Salvadores reaparecem criando aquilo que o mundo de The Walking Dead mais oferece aos sobreviventes: conflitos e tensões.
Sob a perspectiva de Alexandria trabalhada com nós, meros leitores, por Robert Kirkman, Andrea é uma referência em liderança, segurança e afeto. Porém, sob a perspectiva dos Salvadores, Sherry também poderia exercer a mesma referência. Nesse caso, toda a sequência de acontecimentos nos traz a expectativa de mais uma ameaça a Alexandria e novamente os Salvadores seriam os vilões da história. Era isso que esperaríamos, mas nos deparamos com uma reviravolta conduzida pelo personagem mais imprevisível da trama: Negan.
Desde a morte brutal de Glenn, Negan tem sido soberbamente trabalhado e desenvolvido na trama. Desde que Lucille beijou nosso querido asiático, boto minha mão no fogo quando afirmo que todos os leitores imaginaram que Negan teria um final trágico consolidado com a vingança de nosso protagonista. Só que com todas as reviravoltas envolvendo o vilão (agora alçado à categoria “anti-herói”), alguém consegue palpitar sobre qual será o fim de Negan? Haverá algum fim para ele? Essa edição de número 168 foi a que mais esfregou na nossa cara que Negan é um líder, é influente e que tem condições de desenvolver essa trama ainda por muito tempo. A partir do momento em que ele chega por trás de Rick e fala “deixe que eu lide com isso” antes de tratar com os Salvadores, Kirkman joga na nossa cara que, dependendo da adversidade da situação, Negan é tão protagonista quanto Rick. Ou melhor, saberá lidar e resolver a situação melhor do que Rick o faria.
A partir do momento em que Negan diz para seu antigo grupo “quem quer voltar a como as coisas eram quando eu estava no comando dos Salvadores”, creio que além de mim, boa parte dos leitores imaginaria que ali estava se desenhando o início de uma nova tentativa de Negan ressurgir como um vilão definitivo. Mas praticamente na mesma página, Kirkman nos mostra de maneira magistral o quão bem Negan exerce sua principal arma (além de Lucille, é claro): a palavra. E um homem com o dom da palavra consegue exercer a principal arma da humanidade: a política. Sim, meus amigos, The Walking Dead é uma HQ sobre política. Tanto nos conflitos quanto nas relações entre os personagens, a história é sobre poder e controle. Quando o ex-capanga de Negan ajoelha e presta lealdade a seu antigo líder, vemos a influência de um líder carismático e a ilusão de poder dada por ele a pessoas manipuláveis. É uma situação que inevitavelmente abre margem para discutirmos meritocracia (afinal, o que é esse “sistema por pontos” dos Salvadores usado antigamente por Negan se não um sistema meritocrático), para discutirmos regime ditatorial, controle com base no uso da violência e do medo, bem como o sufocamento da liberdade de ação e expressão. Quando o ex-capanga se ajoelha e presta lealdade a seu antigo líder, realmente vemos o quanto é verossímil essa situação com nossa realidade, visto que determinadas pessoas precisam seguir um líder para viverem sob uma ilusão de poder e controle.
A partir dessa cena, Kirkman nos joga o suspense ao indagarmos: como serão as coisas a partir daqui? Negan será aliado oficial de Rick? Ajudará Alexandria com suas habilidades políticas? E como Maggie aceitará essa situação, visto que o pai de seu filho foi brutalmente assassinado pelo suposto novo aliado de Alexandria? Ou seja, não só o personagem Negan é imprevisível, mas é também imprevisível a própria maneira com que Robert Kirkman trabalha com ele. Em tempos de crise política no Brasil, em tempos de um Donal Trump cada vez mais impondo soberba no contexto geopolítico global, vermos um outrora vilão empurrando goela abaixo o cenário político atual de The Walking Dead: o mundo mudou, e qualquer comunidade fechada no seu próprio umbigo e sem aliados, e principalmente líderes políticos isolados em autoridade, o prognóstico não é dos melhores. Ou seja, como qualquer político eficaz, Negan simplesmente pende para um só lado: o lado que está ganhando. O lado com mais influência, poder e controle naquela sociedade.
Quando os Salvadores tomam aquele banho de realidade e viram as costas e vão embora, aquele mundo violento e conflituoso de The Walking Dead dá uma pausa aos personagens e a busca incessante por “normalidade” e civilidade toma conta. Consequentemente, os afetos, memórias e as fichas caem e Rick adentra no luto pela morte de sua companheira. Na página final, é impressionante a posição em que Kirkman coloca o protagonista. O mesmo Rick Grimes, que após a morte de Abraham afirmou que não sentia mais tristeza e pesar com a perda de um amigo, se despe de suas vestimentas, retira a prótese de sua mão e deita sobre o túmulo de Andrea da maneira mais vulnerável e frágil possível: em posição fetal. Sim, existe humanidade no mundo de The Walking Dead, e é ela a responsável por causar dor, choro e luto, mas também é ela que dará os nortes e as forças para nossos personagens superarem e continuarem lutando contra as adversidades desse mundo, tão distante e ao mesmo tempo tão verossímil ao nosso.
Pontos altos da trama:
– Eu ri, você riu e todos nós rimos do Negan usando a analogia de “fuder um pé” antes de negociar com os Salvadores.
– Quando, após a fatídica edição número 100, que iríamos concordar com um soco dado pelo Negan, tal como foi dado em seu ex-capanga?
– Rick, após tudo o que passou, amadureceu e se fortaleceu, ainda tem humanidade e fragilidade suficiente para deitar em posição fetal sobre um túmulo.
A edição 169 será lançada no dia 5 de julho de 2017 nos Estados Unidos, mas sem data no Brasil. Fiquem ligados aqui no Walking Dead Brasil para ficar por dentro de tudo!
Este espaço está aberto para você e sua ideia sobre o que acontecerá no próximo volume da história. Você também pode utilizar os comentários abaixo para deixar sua opinião e teorias sobre as próximas edições.
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