Neste capítulo de Seus Ossos e Cicatrizes… Tris precisa explicar que é imune, mas certas pessoas continuam não acreditando nela. E para provar que ela é confiável e que Alexandria pode contar com ela, Tris sai em busca de suprimentos na companhia de um colega não muito amigável.
Os capítulos de Seus Ossos e Cicatrizes, uma fanfic focada especialmente em Daryl Dixon, são lançados semanalmente, às sextas-feiras, 19h, aqui no The Walking Dead Brasil. E, por favor, utilizem a seção de comentários abaixo para deixar opiniões e encontrar/debater/teorizar com outros leitores. Boa leitura! 😉
Todos estavam em silêncio. E mantinham o olhar sobre mim. Ezekiel estava de braços cruzados e tinha um olhar sério, não era o mesmo olhar que fazia antes.
Glenn estava a minha frente, e suas mãos estavam entorno de cada um dos meus braços. Ele tentava falar comigo, mas não o respondia. Eu retirei suas mãos de mim, e fui até Ezekiel. Fiquei frente a ele, o olhando fria. Assim como tinha feito comigo.
– Eu sei que foi você quem cuidou de mim por todo esse tempo, mas agora eu estou bem, Ezekiel. Eu não preciso da sua ajuda. Por favor, vai embora e deixa que eu me resolvo com todos eles. Eu prometo que dou um jeito de ir ver você a qualquer hora. – Em nenhuma vez eu deixei de olhar diretamente para ele. O mesmo foi mudando de expressão a cada vez que eu falava algo. E então, foi recuando.
– O QUÊ? – Martha exclamou furiosa ao meu lado e foi até ele. – Você vai mesmo fazer isso depois de tudo o que a gente combinou?
Ela tinha parado Ezekiel, o empurrado. Mas o mesmo não agiu, até que ela terminasse sua fala.
– Você não ouviu? Ela vai dar um jeito de ir ver a gente, Martha. – O mesmo riu, um riso cínico. Depois apontou levemente até mim, me olhou e depois saiu acompanhado de todos ali.
Glenn chegou por trás de mim, perguntando se eu estava bem.
– Acho que a gente tem que conversar. – Rick chegou perto de nós com as mãos na cintura e com um semblante frio.
Eu concordei, sai logo atrás dele, assim como Glenn e Daryl. Enquanto passávamos pelas ruas de Alexandria, várias pessoas reunidas cochichavam entre si. É… seria uma longa história.
Rick tinha entrado em uma das casas que haviam ali. Logo todos nós estavam sentados espalhados pela sala do mesmo.
– Então… você foi mordida? – Glenn tinha perguntado, ainda sem acreditar. Eu assenti com receio, com medo.
– Bobeira, ela já teria virado há muito tempo. – Daryl falou, olhando para mim sem expressão nenhuma, enquanto fechava os olhos várias vezes em poucos segundos.
Eu apenas levantei minha blusa, onde tinha a visão perfeita de uma mordida no meu braço. Estava completamente cicatrizada, mas a marca da abocanhada era perfeita. Eu só consegui ouvir Glenn suspirando forte, enquanto Rick e Daryl se entreolharam.
– Mas, como? É impossível alguém ficar assim tanto tempo acordado depois de ser infectado por zumbis.
– Eu não sei, Glenn. Mas eu sobrevivi. – Eu olhei para ele e respirei fundo. – Depois que a nossa mãe morreu e eu fui mordida, eu me escondi em casa. E só esperei me transformar, mas não aconteceu.
– Então… existe uma imunidade? Da pra fazer uma cura? Alguma coisa do tipo? – Rick passou a mão pelo cabelo e me olhou.
– Eu não sei. Eu não sei se posso servir para uma cura. Ezekiel sempre me manteve em segredo de todo mundo. Mal deixava eu sair.
– Porra… nossa vida tava tão mais calma sem essa de imunidade. – Daryl se levantou do sofá e olhou pra mim com tédio.
– Mas que caralho. Será que dá pra me levar a sério? – Eu levanto, ficando à frente dele. Em nenhum momento ele recuo, mas fechou mais a cara pra mim. Eu pude sentir o breve suspiro dele bater sobre minha face. Até Glenn se intrometer.
– Tris, vem cá. – Glenn me puxou. – Essa conversa já deu né? A gente tem mais coisa pra fazer.
Daryl já havia saído da casa, batendo as portas com força. Rick concordou e disse que iria atrás do mesmo. Depois todos nós saímos. Glenn continuava olhando sem querer para a minha mordida, enquanto me acompanhava. Logo após isso, nós apenas sentamos sozinhos em frente à casa dele e conversamos até anoitecer. Recuperando memórias perdidas um do outro.
(…)
Era de noite, mesmo dia. Todo mundo estava reunido para comer, fora das suas casas. O ar era mais confortável, não me fazia sentir sufocada.
Glenn estava com Maggie, o qual ele já havia me apresentado. Eu estava um pouco mais longe de todo mundo, só observando todos ali. Daryl estava a poucos segundos de distância de mim, ele não expressava nada. Apenas tinha um ar sério e olhava sempre para o chão, com uma lata de bebida nas mãos. O mesmo levantou seu olhar para todo mundo, olhando devagar. Até chegar em mim. O ar frio continuava pairando sobre ele, mas eu conseguia ver que alguma coisa incomodava ele. Assim como algo incomodava em mim. Mas eu não conseguia nomear aquilo.
Daryl deu um último gole na sua bebida e a amassou nas próprias mãos, ainda com os olhos sobre mim. E então saiu. De repente, uma mão passou pelo meu ombro e eu me virei rápido pelo susto.
– Calma, eu não vou te morder. – Glenn falou rindo e sentou perto de mim. – Você quer?
Estendeu uma garrafa de cerveja na minha direção.
– Você acha que eu bebo, Glenn Rhee? – Eu olhei pra ele com minha cara mais séria possível. – Me dá isso.
Peguei a garrafa de suas mãos e dei um gole demorado. Ouvi Glenn rindo ao meu lado.
– Eu pensei que você nunca mais fosse beber álcool na sua vida. – Ele falou. Era referente a uma lembrança nossa, de quando éramos pequenos e tínhamos roubado cerveja da geladeira para experimentar.
– Eu só não tava acostumada ué. – Entreguei a garrafa nas mãos dele, que bebeu um pouco logo em seguida.
– Hm… Conversei com Rick. – O mesmo limpou a boca com a palma da mão. – Ele disse que ainda tem uma casa sobrando aqui em Alexandria. Mas, se você ainda tiver medinho do escuro, pode ficar comigo e com a Maggie.
– Pra ficar ouvindo vocês dois sambando no meio da noite? Não, valeu. – Ele riu alto.
– Não fala assim. Crianças não podem ficar falando essas coisas.
– Cê vai me mostrar essa casa hoje ou amanhã, Glenn? – Levantei do banco onde estávamos, e fiquei a sua frente. Esperando alguma atitude do mesmo.
– Ai, tá bom pirralha. Vem!
Nós dois saímos lado a lado. Às vezes Glenn cambaleava pros lados. Ele estava bêbado, mesmo que tivesse tomado poucas cervejas antes disso.
Alguns minutos e já estávamos em minha nova casa. Glenn entrou primeiro, me mostrou um pouco sobre o local e depois voltamos a sala.
– E aqui é sua nova casa, boneca. Se tiver com medo do trovão de noite, pode ir até a casa ao lado. É a minha. – Ele passou a mão pelo meu cabelo, bagunçando um pouco.
– Argh, vai dormir, seu idiota. Cuidado pra não tropeçar no vento. – Ele virou pra mim, já na porta, e enviou um beijo pelo vento. Depois saiu até a casa ao lado, como tinha dito.
– Ele é idiota ou o quê? – Pensei alto.
Glenn tinha deixado uma lamparina a fogo, pra mim poder enxergar as coisas no escuro. Ela já estava acessa. Perto da parede, em cima de uma escrivaninha e iluminada quase toda a sala. O sofá já era o bastante pra mim, e tinha um coberto fino sobre o mesmo. Retirei ela e me cobri, deitada no sofá.
Tinha sido um longo dia. Pensar em tudo o que havia acontecido nos últimos dias me deixava inquieta. Nunca tinha sido tão perturbada assim nos últimos tempos. E pensar ainda mais na conversa de Ezekiel e Rick, me tirava o sono. Aquele não era o Ezekiel que eu conhecia. Ele tinha mudado totalmente… isso me incomodava.
Eu, enfim, virei para o lado e depois de muito esforço e de muito procurar um lugar confortável, eu adormeci.
(…)
Novo dia. O céu estava limpo e ensolarado. Meu braço já não doía tanto, graças a Siddiq, o médico que cuidava de mim. Eu tinha acabado de sair da enfermaria, onde fui me encontrar com o mesmo, ele apenas fez mais um curativo em mim e o fechou. Dando alguns pontos.
Agora, eu estava indo de encontro com Glenn que estava com Rick. Os dois estavam perto dos muros, onde havia um grande acumulo de armas de fogo.
Cheguei perto dos dois. Glenn me viu logo de imediato.
– Olha só. Acordou agora?
– Não, eu estava com o Siddiq. Ele me pediu pra ir até lá hoje. – Glenn murmurou algo concordando com a cabeça enquanto analisava uma das armas.
– Então… não tem nada pra eu fazer? – Glenn olhou pra mim, como se já soubesse onde eu queria chegar.
– Você não vai sair por agora, Tris. Ainda tá machucada.
– Ah, qual é? Eu não quero ficar esperando aqui sem nada pra fazer ou ficar plantando batata. – Rick riu e olhou pra Glenn.
– Eu sou boa caçando. Ainda mais que vocês precisam de suprimentos. Confia na sua irmã, se duvidar sou melhor que você. – Olhei pra ele com um sorriso provocativo, o mesmo só apertou os olhos na minha direção.
– Siddiq disse algo sobre você poder sair lá fora? – Rick perguntou ao nosso lado, eu apenas concordei. – Então por mim tudo bem.
– Cê tá falando sério mesmo? – Glenn suspirou e colocou as mãos sobre a mesa que havia entre os dois. Rick olhou pra ele e depois para mim.
– Hoje é dia do Daryl ir lá fora. Eu confio nele. Se ela for com ele, tenho certeza que pode cuidar dela. – Glenn pensou um pouco e depois virou o rosto pra mim.
– Se você vier com um arranhão a mais, eu nunca mais deixo você sair. Sério!
– Até parece.
– Ah, Tris… esquecemos de te devolver isso. – Rick se abaixa e pega algo de baixo da mesa. – Uma pessoa do meu grupo achou isso num prédio. Trouxemos tudo, acho que isso é seu, não?
Era minha mochila, com todas minhas armas. Eu sorri. Minha besta estava limpinha, nem um arranhão.
Caraca! – Eu pego a mesma. Nela tinha o mesmo pingente da minha pulseira. – É meu sim, valeu.
– De nada. Daryl deve estar preparando alguma coisa perto do portão, se você achar ele diga que fui eu mesmo quem mandei você ir com ele.
Rick apontou na direção onde o citado poderia estar. Eu concordei e fui até ele. Coloquei minha bolsa sobre as costas e ajeitei todas as armas nos devidos lugares.
Não demorou muito e eu pude ver Daryl. O mesmo estava com sua besta apoiada nas costas e ele passava um pano limpo sobre uma faca. Ele olhou pra mim e me analisou dos pés à cabeça.
– Hm… então você é a mulher da besta? – Ele disse e colocou a mesma faca na cintura.
– Adorei o apelido. Vou me nomear assim agora.
– O que cê quer aqui? – Ele apoiou as mãos sobre uma moto a sua frente, e olhou pra mim, mordendo o interior da boca.
– Rick me mandou pra ir buscar suprimentos com você.
– Rick? Ele mandou uma garota com o braço machucado pra sair comigo atrás de comida? Esse cara tá louco das ideia. – O mesmo passou a mão sobre o cabelo.
– Também não tô muito feliz com a ideia de ter que sair contigo, mas não quero ficar aqui parada. Então, nervosinho, eu vou ir com você. Você querendo ou não. – Apoiei minhas mãos também sobre a moto e olhei pra ele.
– Primeiro, tira as patas da minha moto. Segundo, se você vai mesmo comigo, quero que pare de falar bobeira e foca só na parte de procurar comida.
– Sim, até por que eu iria muito ficar focando em você ou nessa bunda cafona. – Daryl suspirou pesado e virou de costa. Pegou uma mochila e colocou nas costas.
– Sobe logo nessa merda. – Ele ligou a moto e subiu nela. Fez menção para abrirem o portão. E assim eu subi atrás do mesmo, ajeitando as coisas sobre minhas costas.
– Não adianta segurar na parte de trás. – Daryl pegou minhas mãos e colocou ao redor da sua cintura. – Tem que segurar firme, eu vou ir rápido.
– Ah… tá. – Juntei minhas mãos ao redor de Daryl e assim o mesmo deu a partida.
Ficamos andando pelas estradas por tempos. Até que Daryl foi parando a moto num antigo posto de gasolina que havia no meio da estrada.
Eu desci da moto do mesmo, e avistei ao redor. Nunca tinha visto essa parte antes, acho que o mais longe que um dia eu já pude ir enquanto estava no Reino, era na cidade que tinha próxima do acampamento. Aquilo era praticamente um mundo novo pra mim.
– Você olha pra uma grama como se fosse tonta. – Daryl pega uma garrafa grande e vazia e foi até os antigos tanques de gasolina que haviam ali ao lado.
– Você é igualzinho ao meu irmão. – Falo e Daryl olha pra mim confuso. – Fica me provocando. A única diferença é que eu amo o meu irmão.
– Também não gosto de você, garota. – Daryl fecha a garrafa, já cheia pela gasolina.
– Tá vendo só?
Ele passa por mim me olhando e ri fraco.
– Beleza, pra onde a gente vai depois daqui?
– Tá vendo os prédios lá na frente? – Ele chega perto de mim e me aponta a direção. – É uma cidade, lá tem bastante coisa. Mas nunca cheguei a pegar tudo.
– Só você conhece esse lugar? – Daryl concorda com a cabeça. – Por quê?
– É um lugar perigoso, garota. Tem muitos zumbis.
– Não tenho problema com eles. – Eu olho a marca da mordida e depois pra ele.
– Ainda acho isso uma bobeira.
– É bobeira sim. Eu mordi meu próprio braço tão fundo pra ficar uma cicatriz, só por diversão. Eu tava muito entediada no dia, sabe? – Daryl me olhou com a sobrancelha levantada e passou a língua na bochecha.
– Tá bom, vamo logo. Sobe. – Daryl subiu e apontou para trás de si. Logo eu já estava atrás do mesmo e coloquei meus braços entorno dele de volta. Assim ele ligou a moto e saímos dali.
Não demorou muito e já estávamos na cidade. Daryl havia escondido sua moto numa das lojas que tinha por ali. Nesse momento estávamos subindo as escadas de um prédio. Já tínhamos vasculhado quase tudo o que havia nas lojas lá embaixo. Então, Daryl decidiu que iríamos por dentro dos prédios, porque caso tivesse mais alguma coisa pela cidade, eles não nos vissem.
Eu estava logo atrás dele, nós dois estávamos com a besta em mãos e com a arma carregada para qualquer coisa. Andávamos olhando cada sala que havia pelo vasto corredor que passávamos agora.
– Daryl, o que é aquilo? – Apontei para dentro de uma das salas, o mesmo veio até mim e olhou dentro do local.
– Estranho. Fica ligada em qualquer coisa por aí. – Daryl foi até a caixa que eu havia apontado. Ela estava limpa e parecia ser novinha, normalmente as coisas não tinham essa aparência justo num prédio abandonado.
– Armas. Vem cá. – Eu cheguei perto e olhei dentro do objeto. As armas eram brilhantes, como se nunca fossem tocadas antes.
– Por que isso tá aqui? Tá tudo abandonado.
– Acho que é justamente por isso. Tudo aban…
– Shh…
– Que shh, garota? Tô falando sério.
– Daryl, cala boca. – Eu me viro de costas para o mesmo e me forço a ouvir algo.
– Namoral, você esqueceu tudo o que eu disse?
Eu saio da mesma sala que nós estávamos, e vou direto para outra a nossa frente. Daryl vem logo atrás.
– Se abaixa, porra. – Eu pego sua mão e o faço abaixar. – Olha.
Aponto para fora da janela do edifício que estávamos, Daryl levanta levemente e espia com calma.
– Caralho…
– São eles? Os Louva-Deuses? – Pergunto para o mesmo que retira sua arma e checa as munições.
– É… É o grupo que assaltou Alexandria.
– Que beleza… A gente tá fudido. – Daryl olha pra mim com um olhar de repreensão.
– Não olha pra mim assim, já tenho o Glenn pra fazer isso. – Eu puxo minha escopeta 12mm e encho toda a carga da mesma. – Que é que a gente faz agora?
Pergunto para Daryl.
– Tem muitos caras. A gente vai ter que sair sem chamar atenção. Cê consegue fazer isso?
– Tá de brincadeira? – Daryl se levanta sem falar mais, eu apenas o sigo.
Tínhamos que sair dali o mais rápido possível, e assim fizemos. Pisávamos em cada parte daquele lugar com o maior silêncio que conseguíamos.
Mas assim que chegamos na rua para sairmos de lá, eu fui tomada por uma escuridão. De repente, eu só caio no chão e tudo se tornou escuro… outra vez.
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