Ao observarmos a lista das edições publicadas a cada mês algumas constatações começam a aparecer. Uma delas é que não há muitas publicações atingindo a centésima marca nos dias de hoje, e a outra é que Robert Kirkman escreve muitas HQs. Ele atualmente escreve “The Walking Dead”, “Invincible”, “Super-Dinosaur” (Os Mortos Vivos, Invencível e Super-Dinossauro), e co-escreve “Thief of Thieves” (Ladrão de Ladrões), tipo um escritor de TV, tudo pela Skybound impresso e publicado pela ImageComics.
(contém spoilers nas capas)
Kirkman não tem apenas uma, mas duas séries sob sua tutela próximas à sua marca das 100 edições em 2012 com “The WalkingDead”, alcançando a marca primeiro em julho e “Invincible” alguns meses depois. A HQ de mortos vivos deu o pontapé inicial em 2003 com Tony Moore desenhando as seis primeiras edições e depois Charlie Adlard ilustrando o resto. A HQ desafiou algumas convenções não apenas ganhando leitores progressivamente, mas também fazendo o que muitos leitores consideravam impossível: verdadeiramente chocando a audiência. CBR News falou com Kirkman sobre as perturbações que ainda tiram seu sono, sobre o que vem com a edição #100, e por que ele acha que a série permanece tão popular.
CBR News: “The WalkingDead” não é apenas uma das HQs mais populares por aí e um dos bestsellers na versão encadernada, mas também explodiu para a série de TV, vídeo games, cards e jogos de tabuleiro a esse ponto. O que você acha que faz a marca tão popular e versátil?
Robert Kirkman: Eu não tenho ideia. Eu acho que zumbis são legais, eu acho que os personagens são no mínimo interessantes, eu não sei, cara. Se tivesse pelo menos uma coisa que eu pudesse dizer esse é o ponto exato do sucesso, eu definitivamente a repetiria até me aposentar, mas eu não sei. Eu sou extremamente agraciado porque as pessoas começaram a amar tanto o conceito e isso me desconcerta porque cresce tanto, eu realmente não sei o que é isso. Eu sei que zumbis são impressionates e é uma das coisas mais legais de ler, mas eu realmente não sei.
CBR News: Um dos elementos que eu acho que tem o apelo para os leitores é que você e Charlie Adlard tem trabalhado nesta trama por 93 edições e isso tudo aparenta ser muito sólido. Em que a relação profissional de vocês mudou, vocês tem trabalhado com menos recursos agora?
RK: Sim, meus roteiros tem ficado totalmente ruins, chegaram ao ponto onde eu posso apenas dizer algo como “Lembre do ponto onde você desenhou um milhão de vezes e eles ainda estão em cima falando e quando a cabeça daquele cara dá aquela arrancada, eu não sei o que sai”. Isso facilita muito o trabalho. Eu sei que Charlie pode lidar muito mais com qualquer coisa que eu jogo pra ele. Quando eu penso em tudo que ele tem realizado mês a mês ao curso destes 9 anos que nós temos trabalhado juntos é um escalonamento e tanto. Tudo que eu posso dizer é que o melhor ainda está por vir e nós dois estamos realmente empolgados pra quando o livro está saindo e isso tem tomado o tempo de nosso dia-a-dia. Mesmo quando nós temos feito isso adiando o máximo possível, eu acho que ambos achamos que é muito mais o começo desta jornada.
CBR News: Falando no que vem pela frente, e eu sei que você não gosta muito de antecipar o que vem nas próximas edições, você pode nos falar algo a respeito do que vai acontecer em “The Walking Dead” #100?
RK: Eu posso dizer que todo mundo sabe que há este grupo chamado “Redentores” que estão meio que intimidando o pessoal do Alto do Morro. Eles meio que estão no radar do Rick, e nós (vimos) sua primeira aparição na #97. Nós temos basicamente um outro ultraviolento, perigoso grupo que Rick está para entrar em choque de frente e eu posso dizer que na edição #100 vai ser facilmente arrepiante, mais violento, uma edição terrível de “The Walking Dead”. Então, esteja atento. Ainda, quando eu digo, eu vou lembrar todas as coisas terríveis, macabras, violentas e perturabadoras que já ocorreram em “The Walking Dead” até agora, então eu prometo o que eu realmente to querendo dizer.
CBR News: Na maioria das HQs, você ouve dizer que esse tipo de promessa de coisa grandiosa parece meio que boato, mas considerando as coisas insanas que você já fez, os leitores levam mais a sério. Há alguns momentos que até vocês se surpreenderam de tão longe que foram?
RK: Vendo aquele braço do bebê sair debaixo da Lori com ela encarando a aqueles olhos mortos com aquele quadro com o desenho do Charlie [na edição “The WalkingDead #48], aquele quadro ainda me persegue nos sonhos. Quando eu escrevi aquilo, eu fiquei tão chateado e tipo, “Ai Deus, nós estamos matando este bebê, mas nós temos que fazê-lo, é “The Walking Dead”. E eu nem em um milhão de anos esperaria que aquela cena fosse me afetar tanto da forma quando o Charlie a criou, aquilo foi duro pra mim, mas é parte do trabalho. Você tem que fazer o que tem que ser feito.
CBR News: É dificil manter esse tipo de andamento e intensidade nos livros ambos de uma perspectiva de narração e intelectual?
RK: Sim, é bastante trabalhoso escrever “The Walking Dead” e eu acho que é bastante trabalhoso para o Charlie ter que desenhar “The Walikng Dead”. Esse não é o tipo de coisa que Charlie e eu estamos lidando todos os dias em nossas vidas, então é um pouco difícil, mas esse é o motivo que eu escrevo “Super Dinosaur”. Eu posso dar um tempo e gastar um ou dois dias com um Tiranossauro rex de 3 metros de altura atirando mísseis de braços robóticos e é melhor porque não choro mais.
CBR News: Como você geralmente distribui seu foco em “The Walking Dead”, “Invincible” ou “Super Dinosaur”, tem um numero de dias certo e depois passa para o próximo?
RK: Eu sou flexível. Não há uma estrutura certa. Às vezes eu trabalho por 3 dias direto e as vezes eu trabalho um ou dois dias na semana. Eu sei que isso me ajuda a passar pelas diferentes histórias e diferentes tipos de gêneros e humores. Eu faço exageredamente um pouco mais, não é completamente maçante escrever “The Walking Dead”, mas tem vezes que eu não escrevo nada do “Walking Dead” por uma semana inteira e no final de semana eu estou tipo “Ahh, eu não estou contente e não sei o que vai ser” Aí eu percebo tipo “Ah sim, você tem estado nesse universo e isso está te incomodando”.
CBR News: Tem uma das coisas mais impressionantes sobre sua carreira, como você muda de gênero para gênero, mas mantém a mesma pegada Robert Kirkman em todos eles.
RK: [Risos] Eu não acho que é assim, mas obrigado. Um monte de roteiristas desse tipo de trabalho gosta de fazer e é o tipo de coisa que faz em sua carreira toda, algo extremamente vigoroso ou alguma coisa que é realmente ação pesada. Eu gosto das diferentes histórias e não gosto de verdade de fazer algo semelhante. Eu acho que “Thief of Tieves” é o mais próximo que eu já cheguei de “The Walking Dead” embora não tenha nada de “The Walking Dead”. Eu gosto de estar apto para flexionar músculos diferentes e contar histórias diferentes. Eu também gosto de estar trabalhando em projetos múltiplos e eu não penso que poderia estar envolvido em tantos projetos se eles fossem parecidos sob qualquer aspecto porque eu não poderia ser capaz de levá-los todos adiante.
CBR News: É como com os diretores, alguns vão ficar em um só gênero, mas quando você tem caras como Robert Rodriguez que vão variar e fazer um pouco de tudo.
RK: Eu recebo comparações com Robert Rodriguez o tempo todo.
CBR News: Voltando a falar de “The Walking Dead” #100 especificamente, você tem uma variedade de capas de Todd McFarlane, Marc Silvestri, Frank Quitely, Sean Phillips, Bryan Hitch, Ryan Ottley eAdlard. Foi difícil juntar toda essa turma?
RK: Tiveram umas duas pessoas que eu perguntei somente se elas não podiam estar no esquema. Eu realmente queria uma capa de Fiona Staples, mas ela não estava disponível. Eu estou feliz que ela foque em “Saga”, eu acho uma história fantástica. Eu conheço todos esses caras por causa de seu relacionamento com a Image, e então perguntei a eles se eles realmente concordariam em fazê-lo. Uma das coisas que eu pretendia com as diversas capas, uma é que uma versão para “The Walking Dead” #100 estivesse intimamente ligada com a Image como Marc Silvestri e Todd McFarlene estão trabalhando em uma das coletâneas que está saindo pela Image. Temos lá Frank Quitely, que esta em ‘Jupiter’s Children’, Brian Hitch que está em “America’s Got Powers” e Sean Phillips que está fazendo “Fatale”. Eu queria mostrar um foco apenas em um nível de talento que nós temos tido no trabalho da Image, o grupo então reunido sob a ótica de “The Walking Dead” e isso se torna uma celebração do que a Image faz. E eu consegui Ryan Ottley, não apenas por seu talento, mas porque ele é meu amigo.
CBR News: Eu tenho que perguntar, por que uma capa cromada?
RK: E por que não uma capa cromada? Eu tenho que dizer a você, eu tenho tentado fazer uma capa cromada por anos. Eu queria fazer a capa cromada para edição #50 de “Invincible” mas quando eu pesquisei descobri que a companhia que havia desenvolvido a tecnologia de capa cromada não tinha saído dos ramo. Eles detinham a patente da tecnologia e nós a adquirimos, então nós recentemente encontramos uma nova companhia que comprou a patente e estava atualmente disponível para produzir capas cromadas. Uma vez eu descobri isso, eu estava como, “Ah, isso é ótimo, eu estou fazendo isso de verdade”. Eu faço isso tudo porque eu quero, porque eu sou fã e adoro “Generation X” #1 e “Prophet” Vol. 2#1. Capas cromadas são muito legais e eu estava morrendo de vontade de ter uma em um dos meus livros e eu pensei, você sabe, por que não? Elas estão incríveis, apenas aguarde.
CBR News: Eu vi online que “Hardcore”, que foi originalmente solicitada como uma Temporada Piloto única, está finalmente saindo de Top Cow. Você pode falar algo, por que atrasou tanto? Foi na questão da arte gráfica ou escrita?
RK: Eu detesto apontar falhas, mas isso foi um pouco de cada. Brian Stelfreeze tinha a liberdade de fazer aquele livro e eu me perdi um pouco. Porque eu perdi aquele quadro, eu o trouxe um pouco para estar apto para ir fazendo isso. Foi uma perda para todos os lados. Mas, eu vou dizer, eu estou feliz que o livro está saindo. Olhando por cima, eu não podia imaginar ninguém mais desenhando ele. Ele tem feito um trabalho absolutamente fantástico e tem algumas cenas de ação nesta edição que estão simplesmente lindas de se ver. Ele realmente é um dos melhores artistas de HQs trabalhando atualmente. Eu acho que vamos vir de fato juntos e eu estou realmente orgulhoso disto.
CBR News: Notícias também saem a respeito de que “Thief of Tieves” vai ser produzido pela AMC. Eu sei que você disse antes que você não faz uma HQ com nenhum outro tipo de mídia em mente, mas considerando que essa aí tem um roteirista de TV elencado, a idéia da série de TV apareceu antes no processo?
RK: Olha, é algo que eu alcancei na AMC ao mesmo tempo que vinha desenvolvendo a série, eles foram acontecendo ao mesmo tempo, mas “Thief of Tieves” não é menos planejado como HQ quanto “The Walking Dead” ou “Invincible”. Eu sou grato o bastante por ter uma relação com a AMC onde eles podem dar uma olhada no material antes e eu posso sentar em uma sala com eles e explicar como é que a série dos quadrinhos vai ser. Eu acho que qualquer um que pensa que alguém que cria uma série de quadrinhos ou um quadro de TV no papel não percebe que são simples quadros da televisão no papel e não percebem o quanto de dificuldade é para fazer uma série em quadrinhos. Eu tenho visto algumas dessas acusações e isso me deixa muito bravo. “Thief of Thieves” é uma história na qual eu estou totalmente dedicado. Eu estou atualmente trabalhando com o roteirista na segunda e terceiro segmentos agora mesmo nós plotamos tudo na edição #25, então é algo que estou muito empenhado. Se a série de TV efetivamente vai ao ar ou não, eu não sei, mas sei que vai ter uma série de quadrinhos “Thief of Thieves” por um bom tempo. Essa foi minha intenção desde o começo.
CBR News: Você terá um papel parecido em “Thief of Tieves” que irá mostrar o que você faz em “The Walking Dead”?
RK: Nós ainda estamos trabalhando nisso. Agora mesmo, a série “Thief of Tieves” está no estágio de desenvolvimento o que significa que nós estamos trabalhando em um script para o episódio piloto. Chic Eglee está escrevendo isso, uma vez que a AMC vai ler o piloto e eles vão decidir se querem filmar isso e aí uma vez que eles filmem o piloto eles vão decidir se vão ou não transformar isso numa série completa. Nós estamos a poucos estágios disso começando a ir para os finalmentes, eu estou definitivamente aberto a estar tão envolvido na série quanto eu estou na série “Walking Dead”, mas vamos descobrir depois como que será o trabalho que eu terei que desempenhar.
CBR News: Considerando a experiência natural da quantidade de textos e do jeito que fluem ambas histórias, por que você acha que roteiristas de quadrinhos não vão para TV?
RK: Eu acho que tem muitos roteiristas de quadrinhos por aí, e eu contaria eu mesmo entre eles, que são pessoas que cresceram querendo escrever quadrinhos e estão extremamente satisfeitas em escrever quadrinhos. Para mim, eu fui meio que [arrastado] chutando e gritando coisas para televisão. Tem sido rememorável para mim o quão parecidos são e eu gosto disto, mas eu posso dizer com absoluta certeza que os quadrinhos são minha paixão número um e se tivesse que escolher entre os dois, com certeza escolheria os quadrinhos. É o meio pelo qual me apaixonei. É ótimo que a transição seja tão fácil e os dois meios sejam bem parecidos, mas quadrinhos são totalmente maravilhosos.
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Fonte: CBR News
Tradução: Caparroz / Staff WalkingDeadBr
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