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PARA SERVIR E PROTEGER – Uma entrevista com Andrew Lincoln

A revista oficial de The Walking Dead (The Walking Dead Magazine) conversou com o protagonista da série, Rick Grimes, também conhecido como o ator britânico Andrew Lincoln. E cara, com três temporadas na bagagem, ele tem muita coisa a contar. Apesar de as duas primeiras temporadas testemunharem grandes transformações no personagem, a terceira temporada teve o impacto maior na moralidade e no pensamento do outrora xerife. Descobriremos mais por ele mesmo…

Texto e entrevista: Ian Spelling, The Walking Dead Magazine #4

Oh, como os mortos – os mortos vivos, digamos assim – renasceram. Não faz muito tempo que Andrew Lincoln estava diante de 5000 fãs na Comic Con de San Diego pela primeira vez, pronto para fazer sua parte na apresentação do novo show sangrento da AMC para um público ultra-hardcore.

Cortando para os dias de hoje: TWD é um hit. Os devotos de Robert Kirkman o amam e as pessoas estão mais propensas a ver os mortos caminhando sobre a Terra e são devotos da luta de Rick Grimes e seus companheiros sobreviventes, enquanto eles lutam contra walkers em legiões.

“Como você deve imaginar, tem sido assustador, surreal, aterrorizante, mas o melhor trabalho de minha carreira”, diz Lincoln, entusiasmado. “Eu tenho tido experiências extracorpóreas diárias, continuo conhecendo pessoas que sempre admirei imensamente, e eles dizem que estão assistindo ao show. É esquisito. É como se nada mais houvesse acontecido em minha vida, mas lá no fundo, tem sido o mais adorável e o maior trabalho de toda a minha carreira.”

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Muitos shows simplesmente explodem, e tal qual um supernova, acabam evaporando rapidamente. Heróis vem à nossa mente rapidamente. Um grande piloto, uma excelente primeira temporada, com uma reação sem precedentes de público e crítica, sucesso da noite pro dia e, de repente… pfffff. A história sai dos trilhos, os fãs abandonam e os shows terminam assim que as emissoras resolvem cancelá-los. Todos os envolvidos com TWD, claro, lutam o quanto podem para evitar este destino, embora Rick reconheça não ser fácil manter a qualidade semana após semana.

“Recebemos muitas cartas de apoio dos fãs”, diz o ator. “Começaram a chegar na segunda temporada, mas durante a terceira, enquanto filmávamos, foram inevitáveis. Elas chegavam diariamente. Norman Reedus (Daryl) cunhou a frase ‘é como um combustível para o nosso dia a dia’, e eu acho que está certo. Você se dá por conta sempre que encontra os fãs do tamanho da responsabilidade que se tem ao contar essa história, que se tornou uma grande história, quase mitológica, e eu adoro isso.”

“Se você fica muito tempo preocupado com essas coisas, eu acho que provavelmente acabará ficando insuportável. Mas isso é filtrado por toda a companhia, produtores e elenco e toda a AMC, então é sempre necessário improvisar e, pelo menos, tentar fazer o melhor, o mais perfeito. Se você tentar, as vezes pode chegar muito perto, entende?”

Ele continua: “Eu sou apenas uma dessas pessoas que honrarão sempre a história. É a maneira como fui ensinado, é a alma do nosso trabalho. Nós apenas continuamos a fazer isso, mesmo com a dor da despedida de algumas pessoas, grandes atores, grandes personagens e grandes amigos, que é o mais importante.”

Ele adiciona: “Isso é tudo sobre contar essa grande história e dar tudo o que pudermos. Aprendi assim, ainda nesses últimos cinco anos: se você se doar o máximo a cada tomada, e se isso estiver em boas mãos, se editorialmente falando estiver em boas mãos, se estiver em boas mãos com o diretor, se todos no departamento estiverem dando o seu melhor, não há como errar. Não há garantias do que vá acontecer com o show, mas certamente me faz dormir tranquilo à noite, sabendo que tive um bom dia de trabalho.”

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Lincoln pode agradecer a TWD por torna-lo um astro internacional, mas ele está longe de ser um novato na arte. Os trabalhos anteriores do ator britânico são inúmeros e variados, e certamente mostram-no em suas diferentes facetas, além do seu alter ego e Xerife da Geórgia.

“Eu adoro um show britânico chamado This Life, e que foi a minha primeira série,” diz Lincoln. “Eu deixei a escola de artes dramáticas havia um ano e entrei nesse programa de TV produzido por Tony Garnett e escrito por Amy Jenkins. Era um drama centrado no personagem, sobre cinco amigos de uma universidade que se mudavam para Londres, e era isso. O resto era totalmente voltado aos personagens, seus relacionamentos. Foi um trabalho importante em minha carreira, eu gostei demais e eu ainda tenho grandes amigos vindos de lá. Também me deu bastante experiência diante das câmeras em um show de TV.”

No Reino Unido, Lincoln também foi elogiado por seu papel como tutor em uma escola de ensino médio, Simon Casey, nas três temporadas da comédia-drama Teachers. “Se você quiser rir, assista Teachers,” diz Lincoln. “Os professores se comportando pior do que os alunos era a premissa central do show. Foi muito divertido e completamente diferente do Sr. Grimes.”

Lincoln mostrou seu lado “Governador” no filme “Os Gângsteres”, no qual ele interpreta algo tipo um psicopata, mas na maior parte das vezes Lincoln interpretou o cara romântico. “Na maior parte da minha carreira interpretei o cara que não fica com a garota. O Morro dos Ventos Uivantes foi um bom exemplo, eu interpretava o cara que tinha a garota, mas a perde. Em Love Actually eu sou o cara que nunca esteve sequer perto de conquistar a garota, Keira Knightley. Mesmo em um show chamado Moonshot – eu interpretei Mike Collins, o cara que jamais pisou na Lua. Então, eu não sei o que isso quer dizer, em termos de elenco.”

“Mais do que tudo, a coisa da qual mais me orgulho aconteceu no teatro”, ele conta. “É algo que ninguém pode assistir agora, e que se chamava Blue Orange. Foi um trabalho que fiz no National Theatre of Great Britain por alguns meses, e também no West End de Londres. Eu contracenava com Billy Nighy e Chiwetel Ejofor, dois atores fenomenais. Foi escrito por Jon Penhal e dirigido por um dos maiores diretores com quem trabalhei, Roger Michell. Eu gostaria que as pessoas tivessem assistido, foi um dos melhores trabalhos da minha carreira.”

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Enquanto esta performance não pode mais ser vista, pelo menos as performances de um Lincoln indicado para o Saturn Awards em The Walking Dead estão preservadas para a posteridade.

BOM POLICIAL, MAU POLICIAL

Como o protagonista do show, Rick é o coração e a alma do mesmo. Ele, enquanto protagonista, apareceu em mais episódios do que qualquer outro personagem. Outrora um xerife, Rick acorda de um coma, apenas para cair no pesadelo de um apocalipse zumbi. Rick evoluiu tremendamente desde então, comenta Lincoln, que devota uma boa parte de seu discurso justamente a respeito disso.

“Rick era um homem simples,” diz o ator. “Ele era um xerife de uma cidadezinha pequena, um homem de moral, pai devotado, mas também um homem dividido entre as suas responsabilidades como policial e o dever de ‘servir e proteger’, e a sua família. Ele é uma daquelas pessoas que se focam muito e honram o seu trabalho, em detrimento à vida familiar. Eu acho que ele era um homem que lutava muito com isso, assim com o relacionamento com a sua esposa. Mas era um homem comum, quieto, eu acho que ele mudou bastante…”

“Uma das coisas que mais me atraíram quando comecei a ler os quadrinhos foi que ele começou em um determinado lugar,” diz Lincoln. “Ele era o baluarte da segurança, uma personificação disso. Ele é um policial. Há algo também interessante em Rick e que gostei nos quadrinhos. Há uma certeza nele que, mesmo fazendo coisas moralmente ambíguas, ele está certo delas e é fiel a isso. Se você fizer isso, as pessoas irão te seguir, e você se tornará seu líder. Me interessei por isso. Eu acho que ele é um herói relutante, mas ele foi tão levado a isso que agora está longe do homem que conhecemos há três anos atrás.”

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Lincoln acredita que uma das coisas mais interessantes em Rick é que ele ainda tem um desejo inacreditável de ser aquele homem que conhecemos no início. “Ele ainda está tentando, e eu acho que esta luta dele consigo incrivelmente estimulante”, diz Lincoln. “Certamente interpretá-lo, enquanto ator me faz descobrir muito dessa luta, onde sua moral vence o seu pragmatismo. Eu acho que é uma batalha perdida no momento. Ele está se dando por conta que o mundo mudou irrevogavelmente, então deve haver uma nova ordem mundial, e, por enquanto, eu não tenho certeza que ele saiba qual ela seja.”

CATÁLOGO DE HORRORES

Lincoln prossegue citando momentos chave – no seu modo de ver – que refletem seus comentários sobre a evolução de Rick. Primeiro: a morte de Sophia Peletier (Madison Lintz). Ela era a jovem sobrevivente que ficou amiga de Carl Grimes (Chandler Riggs) para depois ser mordida por um walker e, em “Pretty Much Dead Already”, ser morta por Rick.

“Aquele foi um grande ponto de transformação, emocionalmente falando, na segunda temporada,” diz o ator. “Certamente ali ele sentiu o peso da liderança e a luta entre o pragmatismo a todo custo de Shane (Jon Bernthal) e o centro moral de Rick, tentando salvar o mundo. Eu acho que a morte de Sophia teve um encanto mortal sobre ele. O senso de esperança investido naquela criança se foi, e eu acredito que isso o tenha mudado. Acho que tomar a primeira decisão de matar para proteger teve um forte impacto nele.”

A segunda temporada teve outros momentos que deixaram marcas em Rick e sua psique. “Eu acho que matar Shane foi um momento decisivo. A morte de Dale (Jeff DeMunn) foi um momento chocante e eu acho que a partida daquele que era o patriarca, a voz da razão do grupo, mudou-o novamente. Houve vários momentos.”

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“A coisa boa é que pude ter muito tempo para conversar sobre estes momentos decisivos, mas esses três foram os que certamente o levaram para onde ele estava até o momento de choque e revolta quando da morte de Lori (Sarah Wayne Callies), e isso foi o que mudou absolutamente tudo.”

Lincoln prossegue: “Por uma boa parte da terceira temporada ele estava fora do ar e eu acredito que, pela primeira vez desde o apocalipse, ele se deu tempo para processar tudo isso. Como resultado, ele acabou se perdendo totalmente e caminhando sozinho em uma espécie de deserto. E o Governador (o amigo e ator britânico David Morrissey)… eu acho que ele tornou Rick mais alerta, reservado e suspeitando muito dos demais. Não tem sido uma influencia positiva, mas sim incrivelmente negativa, na liderança de Rick, mas isso deverá mudar.”

O VÍNCULO ENTRE PAI E FILHO

O filho de Rick também tem passado por mudanças na terceira temporada, mais notavelmente se tornando emocionalmente frio e perdendo a inocência. “Carl matando o outro menino por nada fez com que Rick voltasse ao seu prumo”, diz Lincoln, se referindo à cena em que Carl atira em Jody (Tanner Holland), que estava tentando se render. Carl sentiu que Jody pudesse estar mentindo e decidiu que aquilo não iria adiante, ainda que seu pai estivesse dando as boas vindas ao povo de Woodbury na prisão.

“Isso lembrou Rick de suas responsabilidades, principalmente e acima de tudo como figura paterna, além de honrar a morte de Lori. Há uma mudança radical em seu modus operandi. Então, em um curto espaço de tempo é exatamente o que acontecerá no último episodio. Ele volta a ser o xerife.”

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A AMC, sem surpresas, renovou a série para uma quarta temporada em Dezembro do ano assado, antes de a segunda metade da terceira temporada ir ao ar. A produção da quarta temporada já está acontecendo em Atlanta, tendo iniciado em maio, e o show voltará ao ar em Outubro. Mais uma vez a emissora pediu por 16 episódios. Quando perguntado o que ele gostaria de ver na próxima temporada, especificamente para Rick, Lincoln pensou um pouco antes de responder.

“É engraçado, eu tenho conversado com Robert Kirkman, e neste hiato eu estou lendo novamente os quadrinhos e adorando! Eu acho que a dinâmica que existe lá, o homem e o garoto, Rick e Carl, é uma montanha russa emocional durante uma jornada. Mas é o tipo de cola que gruda a narrativa nos quadrinhos, e eu acho que é uma relação fascinante e nunca vista. Então é algo a ser certamente explorado no show.”

“É ótimo ter um ator tão maduro e talentoso como Chandler… Eu não posso mais chama-lo de ator mirim, ele já viu muita coisa. Entende o que digo? O que ele já fez e o que ele já criou na última temporada… Eu acho que ele está crescendo bastante na tela. Eu adoro trabalhar com ele. Amo trabalhar com todos, mas há uma atração inexplicável em filmar essas cenas com Chandler, já que também sou pai. Isso enriquece muito aquelas cenas, e algo que me dei por conta é que talvez Carl seja muito mais adaptável àquele mundo do que Rick. Isso é interessante.”

“A maior parte da vida de Rick se passou naquele velho mundo, e talvez as suas ancoras morais não tenham tanto impacto neste novo mundo. Talvez o garoto esteja se adaptando muito melhor e mais rápido do que o pai, e eu acho que há uma luta interessante. Há essa expressão, ‘não deixe seu pai se tornar maior do que você é’. Este é um mantra para a vida. Eu não tenho certeza que todos façam isso, mas acho que é algo útil de se ter em mente, e eu não sei se este é exatamente esse tipo de relacionamento. Estou realmente interessado em como isso irá afetar não apenas pai e filho, mas todos no grupo.”

NINGUÉM ESTÁ SEGURO

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Verdade seja dita, um dos elementos que faz com que Walking Dead seja interessante e que a mantém imprevisível é o fato dos produtores e escritores, lidarados por Kirkman em pessoa, frequentemente ficam longe do que está nos quadrinhos. Alguns personagens que sobrevivem na HQ já morreram na série, mais notavelmente Andrea (Laurie Holden). Outros favoritos morreram nos quadrinhos e seguem vivos na TV, como Carol (Melissa McBride). Isso adiciona uma dinâmica extra para a série de TV: ninguém está a salvo, possivelmente nem mesmo Andrew Lincoln.

“Há uma preocupação muito real,” admite o ator. “Claro, você se preocupa, mas é uma da coisas mais estimulantes do show, e certamente nos quadrinhos. A HQ criou uma formula, e eu acho que os escritores tem usado os quadrinhos como um roteiro para o show, mas totalmente subvertido. Os telespectadores não podem saber.”

“Não seria tão divertido se todos soubessem o que aconteceria, e quem morrerá e em que ponto. Então, eles podem usar isso para ganhar alguma vantagem, como por exemplo, na forma em que Lori morreu. As pessoas sabiam que ela iria morrer. Sarah sabia que ela iria morrer. Mas não de que maneira e nem quando isso aconteceria.”

“Eu acho que estas coisas deveriam ser elásticas”, conclui Lincoln. “Para funcionar efetivamente, temos que continuar lançando bolas curvas. Obviamente, eu detestaria uma bola curva que dissesse ‘Rick morrerá no primeiro episodio da quarta temporada’, mas se foi isso o decidido, tenho que honrar essa decisão. Como falei lá no início desta entrevista, precisamos honrar a história. Temos que conta-la com o melhor de nossas habilidades e honrá-la na maneira que ela for contada, com todos os atores que tem estado envolvidos, com todos os atores que serão envolvidos no futuro e que estão chegando. Temos apenas que honrar a história, pelos fãs.”

The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com dezesseis episódios na quarta temporada, em 13 de Outubro de 2013 na AMC e 15 de Outubro de 2013 na FOX Brasil.

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Fonte: The Walking Dead Magazine #4
Tradução: @BinaPic / Staff Walking Dead Brasil

Rafael Façanha

Zumbi Chefe no The Walking Dead BR. Treinador Pokémon, viciado em Magic, conectado 24 horas por dia e até já fui reconhecido como Wikipédia-Viva de The Walking Dead. Meu mundo é dividido em assistir muitas séries e filmes.

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