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Josh McDermitt desativa todas as suas redes sociais após receber ataques de fãs de The Walking Dead

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O adeus de Josh McDermitt às redes sociais: o que temos a refletir com isso?

Em 1990, chegava às telas o filme “Louca Obsessão” (Misery), baseado em livro homônimo de Stephen King, e que se tornou um clássico do terror/suspense, inclusive rendendo indicações ao Oscar e o prêmio de Melhor Atriz à espetacular Kathy Bates. O filme conta a história do escritor Paul Sheldon (vivido nas telas por James Caan) que, após sofrer um acidente, é socorrido pela enfermeira Annie e levado para sua casa a fim de recuperar-se. Ela se autodenominava fã número 1 do escritor. Ao longo do tempo em que a dedicada fã cuidava de seu ídolo, ela descobre os originais de seu próximo livro e, ao lê-los, constata que sua personagem favorite irá morrer. A partir de então sua devoção de fã vira ódio mortal, e o escritor passa a viver seu pior e mais aterrorizante pesadelo.

Esta é uma obra de ficção. Infelizmente, mais de vinte anos e muita Internet depois, a história não parece mais tão improvável. As redes sociais tornaram possível o que antes era inimaginável para grande parte dos fãs: o contato com atores, autores, diretores, roteiristas e todos os profissionais que julgávamos pertencer a outro nível de existência que não o nosso. Explosões de alegria quando nossos favoritos respondiam nossas mensagens ou simplesmente as favoritavam no Twitter, ou passavam a nos seguir, ou ainda aceitavam nossos pedidos de amizade no Facebook. A rede social transformou-se em uma importante plataforma de divulgação do seu trabalho e de relacionamento com o público. Em teoria, este seria um relacionamento perfeito: eu admiro você, e você é grato por eu acompanhar seu trabalho. O que poderia dar errado?

Em algum momento deste processo, lamentavelmente, alguns “fãs” passaram a sentir-se “donos” de seus ídolos. Arvoraram-se na arrogância de acreditar que “eles tem a obrigação de ouvir o que eu bem quiser dizer porque eu consumo o que eles produzem”. Paralelamente, um outro subgrupo ganhou voz (ele sempre existiu – pergunte à sua avó que só assistia novelas e lia histórias como a que contaremos a seguir em revistas de fofoca, na falta de internet): os que não conseguem distinguir realidade e ficção, ator e personagem, e atacam os intérpretes pelos mal feitos ou pelos equívocos de seus personagens.

Em The Walking Dead, infelizmente, a história se repete praticamente a cada temporada. Chandler Riggs (Carl), Addy Miller (Garota Zumbi do Episódio Piloto), Brighton Sharbino (Lizzie), Tyler James Williams (Noah), Alanna Masterson (Tara), entre outros, foram vítimas de cyberbullying e de toda forma de desrespeito virtual, algumas vezes disfarçado de “eu sou seu fã, olha eu aqui me exibindo pra você e só faltando me pendurar pelado num poste com o traseiro pintado de vermelho e uma melancia no pescoço”. Michael Rooker (Merle), Michael Traynor (Nicholas), Laurie Holden (Andrea), Major Dodson (Sam), Jeffrey Dean Morgan (Negan) e, mais recentemente, Josh McDermitt (Eugene), fazem parte de um time mais sombrio: o de atores sendo agredidos verbalmente, ameaçados e tendo suas famílias ameaçadas de morte por fazerem o que se espera de um ator, desempenhar seu papel com perfeição. E você ainda se pergunta por que Andrew Lincoln (Rick) foge das redes sociais como o diabo foge da cruz…

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Josh McDermitt foi o caso mais recente em que, lamentavelmente, o lado sombrio e podre do fandom prevaleceu. O intérprete de Eugene Porter, ex-Team Rick e atualmente entitulando-se “Negan”, era bastante ativo nas redes sociais e comunicava-se continuamente com os fãs da série. Durante eventos e convenções, era um dos atores mais acessíveis, comunicativos e que aproveitava cada minuto de interação de formas a garantir que seu fã saísse de sua mesa feliz, satisfeito e com duzentos selfies em seu celular. Infelizmente, na última sexta (28/04) ele acabou por encerrar suas contas de Facebook, Instagram e Twitter por conta do ódio transferido do personagem (Eugene) para o ator (Josh) e sua família. Seu desabafo no ultimo Live Stream que realizou antes de desativar mostra, acima de tudo, um ser humano decepcionado e visivelmente abalado com a injusta retribuição que recebeu por sua doação aos fãs.

“Oh, ameaças de morte? Não me ameace, pois eu vou denunciar cada um à polícia. Eu estou simplesmente cansado disso! Você pode odiar Eugene, eu não me importo. Você pode pensar o que quiser, mas quando você começa a desejar que eu morra, eu não sei se está falando de Josh ou Eugene. Eu tenho que denunciar essa merda, então não seja um babaca (…) Então pare de se lamentar! Pare de se queixar de tudo na internet! Vá passar um tempo com sua família, amigos, pessoas queridas. Saia da internet. Eu amo vocês, eu realmente amo vocês, pessoal.”

Palavras duras de se ouvir, especialmente de alguém que sempre se engajou no combate ao cyberbullying, como o que vimos acontecer com Alanna Masterson, que foi duramente criticada nas redes sociais por sua forma física após dar à luz sua filha.

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“Ela acabou de ter um bebê. E foi por isso que ela não apareceu nos seis primeiros episódios, ela estava se recuperando da gestação e do parto, e aí as pessoas criticam a sua aparência? F***m-se! Eu vou fazer bullying para fazer com que você pare com o bullying. É o que sinto que precisamos fazer. Não sei como vou fazer isso, mas temos que parar de cometer bullying com os outros e criticá-los por sua aparência (…) As pessoas precisam pegar leve com a merda que elas colocam na internet! É muito perturbador porque todos nós somos pessoas, todos. E não estou falando apenas de atores. Estou falando sobre qualquer um na internet. Eu acabo de ler algo na CNN sobre uma adolescente que se suicidou por conta do cyberbullying. Isso é uma merda. Isso não deveria acontecer.”

Desde a divulgação da notícia do cancelamento de suas contas nas redes sociais, vários fãs se manifestaram em apoio a Josh, tentando provar que a internet não é feita apenas de babacas. Infelizmente, não há sinais de que o tenhamos de volta tão cedo. Ao menos, não enquanto o comportamento altamente irracional da pequena parcela podre de fãs que diverte-se com a perturbação alheia ou (ainda pior) não consegue separar realidade de ficção não começar a mudar.

Infelizmente, faz-se necessário desenhar, repetir o óbvio:
THE WALKING DEAD É UMA OBRA DE FICÇÃO. FICÇÃO = NÃO EXISTE. Igual Papai Noel e coelhinho da Páscoa.

Se este fosse um mundo perfeito, as pessoas refletiriam mais a respeito do seus limites e deveres no que diz respeito às interações humanas, sejam reais ou virtuais. Casos como este serviriam para fortalecer uma nova “corrente do bem”, promovendo o respeito, desde os nossos círculos de amizade até as redes sociais, e de maior empatia entre as pessoas. No caso da interação com seus ídolos, idealmente as pessoas perceberiam que tudo o que não precisamos é de novos cosplayers da enfermeira Annie, aquela personagem do Stephen King citada no início deste artigo. Creiam-me, Kathy Bates foi perfeita e sua versão é praticamente e ficcionalmente definitiva. Este mundo ideal teria mais fãs de verdade, apoiando o trabalho de seus ídolos, apoiando seus pares, apoiando o ser humano ao seu lado, tendo a sabedoria de medir suas críticas com a régua do respeito.

Talvez ESTA seja uma obra de ficção que mereça virar realidade.

The Walking Dead, a história de drama mais assistida da TV a cabo, irá retornar com a oitava temporada em Outubro de 2017 na AMC e na FOX Brasil. O trailer da temporada, bem como a data oficial de lançamento, será divulgada durante a Comic Con de San Diego em Julho.

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