O drama pós-apocalíptico “The Walking Dead”, que apresenta sua segunda temporada nos domingos na AMC, orgulha-se de seu diversificado elenco de atores: uma parte é composta por zumbis, à procura de sua próxima refeição; a outra, de sobreviventes, que se esforçam para não virar o jantar. Embora todos os sobreviventes se esforcem para manter a aparência de humanidade e sanidade, ninguém se esforçou mais do que Shane, interpretado por Jon Bernthal.
(Alerta de spoiler: Se você não estiver atualizado com os acontecimentos dessa temporada, pode querer parar de ler agora)
Na midseason finale, o incessantemente audacioso Shane iniciou um festival de tiros contra os zumbis, indignado porque o dono da fazenda onde ele e o grupo de sobreviventes estavam morando esteve aprisionando vários mortos-vivos no celeiro. Após abrir as portas do celeiro, Shane atirou nas criaturas enquanto elas saiam, para demonstrar seu poder. Mas então ele se deteve: a garotinha que eles procuraram durante toda a temporada apareceu, e tinha se transformado em zumbi. Paralisado pelo choque, Shane ficou parado enquanto um Rick equilibrado – o ex-colega e melhor amigo de Shane – levantou sua arma e disparou.
“Foi um momento de comando.”, disse Bernthal, recordando a cena de mudança nas regras do jogo. “E não pertencia ao Shane.”
O sombrio ponto de virada ajudou o ator de 35 anos a acrescentar profundidade para o personagem que, aparentemente, era unidimensional – o personagem foi morto antes na série de quadrinhos de Robert Kirkman, na qual a série televisiva é baseada. Na versão da TV, o Shane de Bernthal é um homem que dominou olhares discretos, porém expressivos, incorporou habilmente um temperamento insatisfeito e agressivo com questões de moralidade.
O Shane que os telespectadores conheceram no início da série – um homem que protegia a mulher que amava (a esposa de Rick, que presumiram estar morto) e seu filho, também agindo como o líder de um grupo de sobreviventes – agora encontra-se numa frustrada posição de vice-líder que deve aceitar enquanto Rick assume seu papel patriarcal.
“Uma vez que você sente o gosto da posição de número um, é muito difícil desistir.”, disse, vívido, Bernthal, enquanto discutia sobre o personagem durante um café num restaurante próximo de sua casa em Venice Beach. “É uma posição incrivelmente intoxicante para se estar enquanto homem.” O resultado é um personagem agressivo que não é nem herói nem vilão: (é) apenas um homem em circunstâncias extraordinárias aderindo a um diferente código de conduta.
“Eu acho que o que há de bonito a respeito de Shane é que ele meio que adota essa nova ordem mundial.”, afirmou Bernthal. “Ele está percebendo que, na verdade, não há leis nesse mundo. E está se tornando essa criatura do apocalipse zumbi onde pode demonstrar todas as suas emoções. Mas a tragédia desse personagem é que ele percebe que essa é uma tarefa impossível. Ele é provavelmente o personagem mais emotivo do seriado. Então, ele está enganando a si mesmo. É um papel ótimo de intepretar.”
“É sempre mais interessante quando você pode ter a audiência questionando se esse cara é ou não o vilão.”, Kirkman disse por telefone. “Ser capaz de levar o tempo que precisarmos e mostrar a evolução de Shane e seu crescimento dentro de si mesmo é muito mais legal do que ‘Wham, bam, obrigado, senhora, por entender os quadrinhos.”
Shane é o papel mais bem-sucedido de Bernthal. “The Walking Dead” permanece como a série de drama mais assistida no pacote básico da TV na faixa de espectadores que vai dos 18 aos 49 anos. A midseason finale de dezembro marcou 6.6 milhões de telespectadores no total, com 4.5 milhões dos 18 aos 49 anos.
A carreira de Bernthal na TV antes de “The Walking Dead” é comparável ao caminhar de um zumbi: lento, porém resoluto. O ator, nativo do D.C., começou com um treinamento na Moscow Art Theatre School quando ele estava na faixa dos 20 anos. Ele apimenta sua conversa com referências a Anton Chekhobv e Konstantin Stanislavsky e fala animadamente sobre seu treinamento, que envolveu acrobacia, discurso e balé.
Apesar do treinamento de bale, Bernthal aparenta ser muito másculo, como seu papel atual sugere. Durante sua estadia no exterior, ele também interpretou um jogador profissional de baseball na Europa. Não é o pré-requisito mais comum para receber o Mestrado em Belas Artes de Harvard, mas essa foi a rota de Bernthal.
Originalmente, ele considerou a televisão (um papel pequeno em “Law & Order: Criminal Intent” em 2002 e participações posteriores no breve sitcom “The Class”, da CBS, e na série de 2009 da ABC, “Eastwick”) uma parte do esquema de retornar aos palcos: “Eu vi que aquelas pessoas que estavam conseguindo os papéis que eu sempre quis intepretar estavam na TV. Então, eu pensei, ‘Tenho que sair de L.A. e entrar na TV para ir para o teatro.’”
Nesses dias, embora ele embarque em ocasionais papéis no teatro – apareceu por último numa pequena produção, “Small Engine Repair,” em Los Angeles em Abril – ele gosta de estar diante das câmeras. Ano passado, ele participou do drama policial “Rampart”, ao lado de Woody Harrelson. Seu próximo projeto para cinema, “Snitch,” do qual participarão Dwayne Johnson e Susan Sarandon, será lançado em 2013.
E quanto ao seu personagem em “The Walking Dead”? Os dias de Shane estariam contados? Houve rumores de que Bernthal, estaria em conversa com a TNT para estrelar o piloto da série dramática “L.A. Noir”, encabeçada por Frank Darabont, que desenvolveu e foi produtor executivo na primeira temporada de “The Walking Dead”, antes de tomar caminhos separados do seriado no ano passado.
Durante a entrevista, semanas antes dos murmúrios a respeito do novo seriado, Bernthal foi misterioso sobre o tempo de vida de Shane na série.
“O modo que vejo é – e sei que estou sendo bobo – mas, realmente, o modo que vejo o que faço é como se fosse um soldado para a história. Não quero nada além de trabalhar com eles para sempre. Mas se, para continuar a história, alguns personagens precisam ser sacrificados, que assim seja.”
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Fonte: LA Times
Tradução: Lalah / Staff WalkingDeadBr
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