Depois de tanto invejar e amar a áurea cheia de mistérios dos sanguessugas, estamos preparados para algo mais bruto. Chega de sedução latente, gírias do passado, crises de consciência e romance entre humanos e imortais.
Agora, queremos vísceras, mutilações e cérebro. Assim como Drácula e seus descendentes, a sociedade dos mortos-vivos é bem antiga e bastante alimentada ao longo dos anos por livros, filmes e programas.
Eu, desde que me entendo por gente tive o prazer de conhecer esse mundo e explorar as peculiaridades destes seres que retratam uma vida pós-morte menos ‘elegante ‘ do que nos é ensinado pelas religiões.
Lógico que após tanto conhecimento adquirido você já vira um expert na arte de viver em um mundo dominado por zumbis. Saber dirigir é essencial, atirar também. Ter controle emocional é outro elemento de extrema importância.
Nada de pagar de histérico perguntando ‘mamãe, por que você está agindo assim?’ quando a mesma correr em sua direção totalmente esverdeada, semi decomposta e com os olhos vidrados. Mire na cabeça ou peça para outra pessoa fazer o serviço.
Sim, eu já tenho as ‘manhas’ para me virar caso um dia o espaço no inferno acabe e os mortos voltem a caminhar sobre a terra. Mas recentemente me peguei pensando: e se mamãe me morder? Como ficarei se me tornar zumbi? Temos que ter um plano B, certo? Certo. E agora divido com vocês o próprio e único. O guia de sobrevivência zumbi contra humanos.
Tópico 1: Fique atento – Você é um morto-vivo desesperado de fome, mas isso não quer dizer que precisa ser também, um distraído. Humanos estão por todos os lados porque assim como as baratas, são impossíveis de exterminar. Fareje bem o ambiente, fique longe de avenidas para não correr o risco de ser atropelado, tente escutar os choros, ladainhas e passos. Se ouvir tiros, corra para o outro lado.
Tópico 2: Proteja o seu rosto – Eles tem armas. Você também tem, mas encontra-se na sua face. Ao entrar em um conflito com um humano desarmado, tente desviar ao máximo de ataques direcionados a sua mandíbula. Lembre-se que ela é o seu trunfo. Qualquer vacilo do infeliz, crave os dentes apodrecidos na carne fresca.
Tópico 3: Escolha suas vítimas com cautela – Claro que todo mundo parece saboroso independente de cor, gênero ou idade. Porém, aquelas coisinhas pequenas chamadas crianças são mais frágeis e fáceis de capturar. Assim como os já enrugados.
Não dê uma de sexcista. Elas quase sempre estão acompanhadas por eles e quando sozinhas, podem apresentar uma performance bem resistente. Lembre-se de Alice em ‘Resident Evil’.
Tópico 4: Ande em grupo – Vários zumbis em um mesmo local torna-se um ‘plus’ na hora de capturar a presa. Saiba dividir o prato e se o humano quiser resistir afaste-se e espere o último suspiro. Esse povo sempre tem um revólver escondido em algum lugar e você não vai querer ser baleado por ser ‘fominha’.
Tópico 5: Comova – Caso tenha alguma lembrança da sua vida passada, não deixe de usar essa ótima carta do baralho. Sua namorada vai ficar emocionada em ver você nesse triste estado e não custa nada se aproveitar disso.
Faça cara de sofrido, solte um grito angustiado e se puder, caminhe na direção da moça balbuciando o seu lindo nomezinho. Quando a tola correr para os seus braços… Morda com vontade para deixar de ser besta.
Tópico 6: Localização – Humanos são sentimentais e por isso você deve se focar em locais que passem a sensação de segurança, paz e esperança. Uma igreja, uma praia, um belo parque, o alto de uma montanha… Não se preocupe e fique esperando. Sempre aparece um otário que acredita que nesses ambientes tudo ficará bem.
Tópico 7: Camufle-se – Eles chegaram e são muitos? Você está sozinho no momento? Não banque o anfitrião para o seu jantar. Esconda-se aonde puder e caso seja descoberto, finja-se de morto. Quer dizer, de totalmente morto. Eles não vão notar a diferença e você deixa a surpresa para mais tarde.
Tópico 8: Deixe as metrópoles de lado – Em tais locais o povo é mais escolado, entende de mortos-vivos e possuem exércitos para salvá-los a qualquer momento. Quanto menor a cidade, maiores são as chances de você passar como uma simples ‘aparição’. Caipiras só percebem que se trata de um ataque zumbi após a chegada de alguém de fora para contar.
Tópico 9: Mantenha um pouco de dignidade – Só por uma questão de decência mesmo. Não saia por aí comendo tudo o que vê pela frente. Restos humanos como braços e outras coisas largadas. Vai saber que tipo de boca andou por ali antes? E não coma animais também. Eles não merecem.
Tópico 10: Aceite-se – Você é um zumbi. Quer coisa melhor do que isso? Acabou preocupação com trabalho, dinheiro, esposa, filhos, crise econômica, colégio, pais, namorado, depilação, chapinha… Esse é o seu momento, a sua carta de alforria contra a sociedade. Vá, ande cambaleante por aí e divirta-se. Sempre.
Por Alessandra Castro.
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