“A conduta da AMC para com Frank até o presente momento tem sido nada menos que cruel.” O texto abaixo deixa claro o motivo pelo qual Frank Darabont guarda tanta magoa e nem mesmo assiste ao show depois de sua saída.
O deposto produtor de The Walking Dead, Frank Darabont, deu um tapa sem mão na AMC, movendo uma ação judicial alegando que a emissora violou seu contrato e o privou de dezenas de milhões de dólares em lucros vindos da série, fazendo um lindo (ironia) acordo que licenciava a série para a própria emissora.
O processo, aberto na última terça-feira (17 de Dezembro de 2013), sugere que um impasse sobre o lucro de participação de Darabont – acumulado desde 2011 – pode explicar em parte sua demissão abrupta, em julho do mesmo ano (apenas algumas semanas antes da produção da segunda temporada de The Walking Dead e dois dias depois de ele ter aparecido na Comic-Con para promover o show).
A AMC nunca explicou a demissão publicamente, e de acordo com o processo, nem mesmo para Darabont.
“A conduta da AMC para Frank até à data tem sido nada menos que cruel”, diz o principal advogado de Darabont, Dale Kinsella. “Infelizmente, os fãs de The Walking Dead sofreram também, por terem sido privados de seu talento criativo.”
The Walking Dead estreou em outubro de 2010 e rapidamente se tornou o maior show da TV à cabo. Em sua quarta temporada, o drama sobre um apocalipse zumbi agora atinge em média o número extraordinário de 13 milhões de espectadores – 8,4 milhões deles adultos entre 18 e 49 anos.
O trajeto da série, segundo pesquisas, solidifica seu status como a série com maior audiência em toda a televisão, e já superou programas como Sunday Night Football, da NBC, por vários domingos.
Porém, documentos judiciais afirmam que Darabont e seus agentes não receberam sequer um dólar de sua participação nos lucros prometidos pela AMC .
A ação diz que em Set/12 (dois anos após o lançamento da série) a AMC afirmou que a série deu um prejuízo de U$49 milhões. Um suposto trato entre a produção e a rede “está claramente certificando que eles [Darabont e seus agentes] nunca vissem nenhum centavo”, de acordo com a denúncia.
A ação de Darabont é a mais recente de uma longa linha de chamadas “integrações verticais”, que é quando um produtor paga uma taxa de licença para um estúdio ao qual ele é filiado para que possa receber parte dos lucros do trabalho. As taxas de licença devem ser negociadas entre produtores e distribuidores, para que possam refletir o valor de mercado justo de uma determinada série.
Porém, litígios trazidos por produtores de séries de sucesso, incluindo Home Improvement, The X -Files, Will & Grace e Smallville, alegaram manipulação artificial das taxas de licença entre empresas “verticalmente integradas” para minimizar ou eliminar os pagamentos devidos ao produtor . “Essa prática, conhecida como ‘self-dealing’ (negociação pessoal), está no centro desta disputa”, alega o processo de Darabont.
De acordo com a ação, a AMC inicialmente fez um acordo contratual em setembro de 2009, em que a série seria produzida por um estúdio não afiliado com o esquema de “Integrações verticais”, como a Lionsgate ou Warner Bros. Com isso, Darabont receberia 12,5% dos lucros da entidade após as deduções padrões da indústria.
Darabont entregou o script que foi a base para a primeira temporada de seis episódios, no entanto, o processo alega que a AMC decidiu produzir e transmitir o show de seus próprios estúdios.
Os representantes de Darabont, do escritório de advocacia Jackoway Tyerman, concordaram com a AMC apenas “após ganharem garantias do estúdio de que Darabont obteria proteções contra a o self-dealing” de acordo com o processo.
Essas proteções incluíam um compromisso assinado pela AMC para “pagar” ao seu estúdio uma taxa de licença “imposta”, equiparada ao que o show iria ganhar se os episódios fossem produzidos por um estúdio independente (advogados de produtores geralmente pedem essas garantias).
Darabont pediu repetidamente à AMC para confirmar os termos de sua participação nos lucros, diz a ação. Mas a empresa esperou para ver como o show iria se sair. Quando ficou claro que The Walking Dead foi um grande sucesso, a AMC, em seguida, forneceu uma proposta, em fevereiro de 2011, com base em uma “fórmula inconsciente baixa da taxa de licença”, projetada para garantir que o show nunca iria estar no lucro do produtor, de acordo com o processo.
“A AMC excedeu a taxa de licença perpétua em pelo menos 65% dos custos de produção da série, ou 1,45 milhões de dólares por episódio, o que significa que haveria um déficit significativo em todos os episódios produzidos para a vida da série.”
Dito de outra forma: “Por causa da fórmula ultrajante e imprópria da AMC, o Pool de lucros em que Darabont teria a participação, estariam sempre em déficit, não importando o quão longa e bem sucedida a série fosse”, o processo alega.
Compare isso com os arranjos da AMC em sucessos como Mad Men e Breaking Bad , produzidos pelos estúdios independentes Lionsgate e Sony Pictures TV, respectivamente.
Darabont afirma que nenhum desses shows tiveram uma taxa de licença perpétua.
Na verdade, a AMC tornou-se envolvida nas “desarrumações” das negociações com os estúdios. No início de 2011, época em que AMC negociava as propostas de lucro com os agentes de Darabont, a rede estava em uma luta acirrada com Lionsgate e Mad Men, do criador Matthew Weiner – uma briga que terminou com Weiner marcando um relatado acordo de US $ 30 milhões e com o Lionsgate aumentando acentuadamente a taxa de licença para a quinta, sexta e sétima eventuais temporadas da série.
A ação de Darabont se conecta diretamente com sua saída do show, ato da AMC para economizar dinheiro.
“Darabont foi demitido sem justa causa, pouco antes segunda temporada ir ao ar, justamente para evitar a obrigação contratual da AMC de pagar a Darabont o aumento equiparado aos lucros da mesma (lucros que foram totalmente revestidos na conclusão da 2ª temporada) e evitar a sua obrigação de negociar sua contratação como showrunner da 3ª Temporada”, de acordo com o processo.
Além de danos não especificados – ele alega ser um montante na casa das dezenas de milhões de dólares – Darabont também está pedindo um corte de The Talking Dead e quaisquer futuras obras derivadas.
Ele também afirma que a AMC coletou para si os frutos de um crédito de imposto de 30% da produção que The Walking Dead recebe para fotografar na Geórgia.
O Hollywood Reporter também teve acesso a minuta do processo, clique aqui para ler caso você tenha curiosidade e entenda inglês.
Eu não consigo imaginar o quanto a série seria diferente (e talvez até mais famosa e melhor desenvolvida) se o Frank ainda estivesse no comando. Qual é a sua opinião sobre o assunto? Compartilhe conosco nos comentários abaixo.
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Fonte: Hollywood Reporter
Tradução: Lucília Costa / Staff Walking Dead Brasil
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