Frank Darabont ficou quieto desde que foi demitido de The Walking Dead no verão passado – mas agora ele tem algo para falar a respeito.
Fãs de The Walking Dead ficaram chocados ano passado quando, poucos dias depois de aparecer na Comic-Con, a diretoria cortou laços com o produtor executivo Darabont (que teve um substituto à altura: o produtor veterano Glen Mazzara). Tanto Darabont quanto a AMC se recusaram a discutir os motivos para sua demissão na época, mas se acredita que o centro dos problemas foi o orçamento.
Mas a experiência não deixou Darabont – mais conhecido como o cineasta por trás de “Um sonho de liberdade” e “À espera de um milagre” – “azedo” com a televisão. Depois de devorar uma cópia do livro de não-ficcção de John Buntin, L.A. Noir: The Struggle for the Soul of America’s Most Seductive City, Darabont entrou em ação.
Até ele se surpreendeu com o quão rápido L.A. Noir foi criada. Ajudou que seu velho amigo Mike De Luca detinha os direitos legais do livro para a TV e para o cinema. E enquanto armava o seriado para a TNT, ele rapidamente descobriu que o chefe de programação do canal, Michael Wright, também compartilhava de sua paixão por noir. (A literatura noir refere-se ao gênero policial, caracterizando-se por muito suspense e mistério. As histórias geralmente são ambientadas em cenários considerados “sujos”, tanto no sentido real quando no figurado. Os elementos básicos do gênero são o detetive cínico e sarcástico, personagens moralmente ambíguos, mulheres bonitas e traiçoeiras, as “femmes fatales” e policiais, podendo ser corruptos ou não.)
Semana passada, a TNT deu ordem para que fosse gravado o piloto de L.A. Noir, que começará a ser gravada em abril. O seriado se inicia em 1947 e é centrado em Joe Teague, um policial de Los Angeles que está preso numa zona moral “cinza”, entre os mais notórios gansgters e a força policial corrupta da cidade. Pessoas que existiram na vida real, como o instável chefe do departamento policial de LA, William Parker, e o famoso chefe da máfia, Mickey Cohen, misturam-se aos personagens fictícios da história.
Em sua primeira entrevista sobre o novo projeto, Darabont falou com a TV Guide Magazine sobre a criação de L.A. Noir. E pela primeira vez, Darabont falou sobre sua saída de The Walking Dead, incluindo porque ele acha que foi forçado a sair, e como isso não foi fácil para ele.
TV Guide Magazine: A respeito de abordar o noir, como você descobriu esse livro específico?
Frank Darabont: Durante a minha vida toda, eu adorei o noir, e sempre quis entrar nessa área de contar histórias. Sou um grande devoto de Raymond Chandler, motivo pelo qual eu atualmente comprei esse livro na livraria do LAX quando estava prestes a entrar no avião. Parecia ter tudo a ver comigo. Eu o li durante o vôo, e então, no dia seguinte, não conseguia mais adiar. Quando voltei da viagem, liguei para o meu agente para descobrir se os direitos legais estavam disponíveis e soube que pertenciam a Mike De Luca [antigo presidente da New Line], que eu conhecia desde 1986. Então, liguei para o Mike e disse, “O que você acha de fazermos isso?” Ele disse “Não sei, você quer produzir a série comigo?” E “boom”, foi fácil assim.
TV Guide Magazine: Isso parece ótimo. É raro que um projeto possa ser criado tão rápido e com tanta facilidade assim.
Darabont: Eu sei, não é ótimo? A estranha confluência de boa sorte se estendeu ainda mais para que Mike tivesse uma reunião para ir e falasse com Michael Wright da TNT, e isso mal saiu da boca dele quando Michael disse, “Eu quero fazer isso.” É um livro que ele já leu porque também é obcecado com essa era e esse gênero. Ele conhecia o livro intimamente e estava citando trechos durante a reunião. Deveria sempre ser fácil assim. Nem sempre é, mas dessa vez foi excelente.
TV Guide Magazine: Conte-me sobre sua adaptação do L.A. Noir. Qual é o foco, e quem são os personagens principais?
Darabont: Vai ser divertido fazer isso, tecer essa tapeçaria de personagens. O primeiro que eu criei, que é uma invenção minha, é um personagem chamado Joe Teague, que era da força policial. E ele está preso naquela cena moral “cinza” entre os William Parkers e os Mickey Cohens do mundo. E que zona ótima e divertida de se estar. Preso, como ele diz, entre os chapeis brancos e pretos.
TV Guide Magazine: Há um monte de gente que poderia argumentar que o Parker era mais vilão que Cohen.
Darabont: Sim, ambos são personagens muito interessantes e complexos. Mickey Cohen, na verdade, talvez não tanto. Ele era um homem de mente estreita, mas Parker, sim, é um cara muito interessante.
TV Guide Magazine: Como você fará um equilíbrio entre os personagens da vida real e os fictícios?
Darabont: Acho que isso ainda está pra ser determinado. Eu me concentrei em escrever o roteiro do piloto e tenho alguns arcos a serem desenvolvidos posteriormente na minha cabeça, os quais poderiam abranger a primeira temporada. Certamente, Mickey Cohen, Bugsy Siegel e William Parker serão componentes vitais disso. Mas onde exatamente ocorre a mistura, é um trabalho ainda a ser desenvolvido. Joe Teague é o guia do piloto, ele será um modo bom de adentrar nesse mundo. E o que é um bom noir sem uma grande dama noir? Eu definitivamente tenho uma idéia em mente para uma namorada muito, muito complicada para o Joe. Não é exatamente um cenário em que os dois personagens estejam destinados a ficar juntos eternamente, mas definitivamente haverá calor na situação, eu acho.
TV Guide Magazine: Você vai incorporar eventos e crimes da vida real nessa mistura também?
Darabont: Ah, sim, há muitas idéias a serem desenvolvidas. O livro não pôde lidar com todas elas, claro, e de qualquer maneira seria um desvio do assunto. Mas para uma série televisiva dramática, há muitos tipos de coisas, muitos tipos de avenidas que podemos atravessar. Uma coisa sobre a qual estamos falando e na qual estou tremendamente interessado é em como andava a cultura afro-americana em L.A. naquele tempo. Não havia motivos para o livro se aprofundar nisso. Como estava a cultura hispânica em L.A. naquela época? Como isso se liga ao mundo da máfia, de que lado daquela cerca? 1947 foi, de fato, o ano da Dália Negra. Estou realmente ansioso para partilhar dos conhecimentos de John Buntin, agora que tenho um bom motivo para isso. Tinha de haver coisas em sua pesquisa que ele deixou de fora, coisas maravilhosas que ele deixou de lado simplesmente por estar escrevendo um livro e ter de ser editorialmente seletivo.
O piloto ocorre em 1947, é um maciço estrondo pós-guerra em que os soldados retornam e se assentam aqui porque vão voltar para a fazenda em Detroit. Um pouco de Joe Teague é baseado em um cavalheiro que morreu em 1922, mas ele foi pai de um dos meus melhores amigos. Ele lutou no Pacífico e originalmente era um dos pobres da favela de Detroit e foi mandado para a guerra e, quando voltou, ficou em Los Angeles como muitos outros fizeram. Esse é um mundo interessante porque a cidade inteira está sendo reinventada. The Valley está sendo arrancado pelas raízes e está se transformando em uma habitação. Havia muita coisa acontecendo naquele tempo.
TV Guide Magazine: Você pode falar mais sobre algum outro personagem importante?
Darabont: Há um ótimo personagem chamado Hecky Nash. Não vou dizer muito sobre ele, mas definitivamente é uma peça chave do piloto. Ele possui um pequeno plano que pode ser um retrocesso e pode amarrá-lo à máfia. Esse será um papel incrível para alguém. Já temos algumas pessoas em mente, um ator em particular. Cruze os dedos, pois ele é um grande ator e eu adoraria tê-lo para o piloto.
TV Guide Magazine: De onde saiu a idéia de adaptar uma não-ficção e misturá-la com ficção?
Darabont: Isso me deu trabalho por um momento, porque eu tendo a ser muito fiel quando faço adaptações. Se você conferir as obras de Stephen King que eu adaptei [“Um sonho de liberdade” e “À espera de um milagre”], os filmes tendem a ser bastante fiéis, ainda que você reconstrua a história que tem para fazê-la funcionar na tela. Eu pensei, ainda que o livro seja excelente, é um documento histórico. E é tremendamente envolvente, mas ainda é não-ficção. Eu achei que pudesse correr o risco de ser um sério e bem-intencionado documentário de ficção. Eu lutei com isso um pouquinho, e tive a sensação que era melhor dar a mim mesmo a permissão de inventar, e já vi isso ser feito muito bem em outros projetos televisivos, inventar personagens fictícios que nos guiem por uma paisagem não-fictícia, e eu achei que estaria em uma posição forte. Eu realmente quero desenvolver um seriado que esteja à altura do título. L.A. Noir é um determinado tipo de seriado que está na minha imaginação. O livro sempre é meu guia, é claro, mas será muito divertido misturar fato e ficção.
TV Guide Magazine: Mais recentemente, Boardwalk Empire conseguiu combinar fato e ficção com sucesso.
Darabont: Exatamente, Boardwalk fez isso muito bem. E uma das minhas minisséries favoritas é Roma, que inventou esse maravilhoso conjunto de personagens fictícios inseridos em eventos verdadeiros e fez um trabalho tão bonito. Essa é mais ou menos a abordagem que teremos. Nós não queremos ser limitados pelos fatos, pois nunca queremos abusar dos fatos, mas também não queremos correr o risco de ser uma coisa “seca”. Queremos que seja um drama divertido, brilhante e vibrante.
TV Guide Magazine: As pessoas já estão familiarizadas como histórias noir da vida real, como Dália Negra.
Darabont: Será realmente divertido trabalhar com personagens reais também, os Mickey Cohens, os Bugsy Siegels e os William Parkers, e trazer toda essa coisa. Será tremendamente divertido tecer essa tapeçaria. Parece novo e excitante para mim.
TV Guide Magazine: Além disso, vocês poderão filmar no centro de Los Angeles, em alguns locais que permaneceram intocados desde aquela era.
Darabont: Ah, meu irmão, será que eu posso dizer como estou animado em filmar na minha cidade natal? Todos no projeto até agora, e eu tenho muitos dos meus amigos mais confiáveis e valiosos saltando a bordo dessa coisa toda, estamos todos muito animados. E ainda há esse bônus tão legal, ninguém consegue superar o fato de que, ei, vamos filmar em L.A. Vamos poder dormir nas nossas próprias camas à noite. Isso vai ser maravilhoso. Isso se tornou cada vez mais raro com o passar dos anos. Agora, parece que ganhamos na loteria, caramba, vamos poder filmar em casa!
TV Guide Magazine: É certamente uma raridade, especialmente por se tratar de um drama para a TV a cabo. Até no filme “Batalha de Los Angeles”, Louisiana foi dublê de Los Angeles.
Darabont: Isso seria extremamente difícil. Nós não vamos passar Shreveport ou Atlanta como Los Angeles naquela época. O que está no distintivo do departamento policial de Los Angeles, é o centro, o City Hall, é o que Curtis Hanson capturou de um modo tão bonito em L.A. Confidential.
TV Guide Magazine: L.A. Confidential capturou aquela era perfeitamente. Há algum outro trabalho que inspira você a produzir L.A. Noir?
Darabont: Mas que filme incrível. Eu elogiei Hanson pelo filme todas as vezes que o vi. Há particularmente outro que eu amei que poucas pessoas conhecem chamado “Confissões verdadeiras”. Robert Duvall, que estava brilhante nesse filme, Robert DeNiro, Charles Durning. É um filme maravilhoso. Um elenco fantástico, um filme maravilhoso, alcançou um nível alto. Acredito que foi Ulu Grosbard quem o dirigiu. Estou alugando uma casa aqui na praia por alguns meses, e há rumores de que Robert Towne escreveu Chinatown nessa casa. Eu só descobri isso no dia que terminei de escrever o roteiro, na noite de ano novo. Independente de ser verdade ou não, eu prefiro acreditar que seja verdade.
TV Guide Magazine: Quando você começa a escalar o elenco e a gravar?
Darabont: Estou muito ansioso para fazer isso. Estou preparado. Eu planejo gravar em abril. E acho que está tudo certo com Michael [Wright]. Ele é muito gentil, quer nos dar todo o tempo de preparação que for possível. Mas especialmente em nossa cidade natal, não será uma preparação tão maciça. Na verdade, estou querendo um pouquinho menos de tempo do que ele estava pensando. Estou pronto para começar em abril, querido, vamos fazer isso.
TV Guide Magazine: O que te fez decidir voltar para a TV tão cedo?
Darabont: Eu adoro o médio prazo. Eu adoro ter terminado o roteiro na noite de ano novo e que já tenhamos recebido sinal verde e que planejemos gravar em abril. Eu adoro o ritmo, o momento disso. Eu adoro que poder entrar lá e não tentar adivinhar tudo até a morte. Para o cara que dirigiu “À espera de um milagre”, por comparação, foi um horário generoso. Recentemente, eu comecei a gostar de um ritmo mais rápido, de verdade.
TV Guide Magazine: E há a habilidade de contar uma história mais longa através de um período mais longo de tempo?
Darabont: Sim, é um formato ótimo. Eu aprecio muito. Eu gosto da natureza oblíqua de como as histórias podem ser contadas. Em vez de comprimir tudo em um filme de duas horas e meia, você diz, “Certo, esse ano faremos um filme de oito horas de duração.” Nós não precisamos ir ao ponto imediatamente. Podemos só sugerir. Podemos vir por um outro caminho, deixar a audiência intrigada com alguma coisa. É completamente diferente você pode fazer de um modo totalmente diferente, por um ângulo ou por uma perspectiva mais sutil e isso é muito legal.
TV Guide Magazine: Parece que você desenvolveu uma relação maravilhosa com Turner por enquanto.
Darabont: Eles são, ao que tudo indica, pessoas fantásticos com as quais trabalhar. Tratam seus parceiros com respeito, dignidade, humanidade e integridade, e após dois anos, estou realmente ansioso para vivenciar essas coisas.
TV Guide Magazine: O que você pode dizer sobre sua partida de The Walking Dead?
Darabont: Isso foi, pelo bem do meu elenco e da minha equipe, algo tremendamente lamentável de enfrentar, precisar partir. Mas eu não tive escolha. Eu não entendo o pensamento por trás disso, “Oh, esse é o seriado mais bem-sucedido da história do pacote básico da TV a cabo. Então vamos esvaziar os orçamentos.” Eu nunca entendi e acho que eles se cansaram de me ouvir reclamar sobre isso. É um pouco mais complicado que isso, mas é só até aí que posso ir porque, do contrário, será provocar mais controvérsias e esse não é o meu interesse. Só quero seguir em frente e fazer o meu trabalho e ser autorizado a fazer o meu trabalho, isso é o mais importante, e continuar, felizmente, a aproveitar e fazer um bom trabalho.
TV Guide Magazine: De todos os pontos de vista, sua partida foi particularmente difícil para o elenco e a equipe.
Darabont: Essas pessoas são como uma família para mim. Não foi fácil para ninguém. Deixe-me colocar desse modo: foi como uma morte na família. Só que o morto era eu. Eu me senti como William Holden, com o rosto dentro da piscina, narrando essa história.
TV Guide Magazine: Nunca houve uma explicação oficial sobre sua partida.
Darabont: Houve muito ofuscamento e eu mantive o que achei que fosse o silêncio mais respeitável que pude manter. Quem precisa de uma briga na frente da imprensa, caramba. Há muita coisa no mundo que eu estou animado a fazer, e é ótimo que tenhamos recebido essa oportunidade da TNT. É bom assim.
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Fonte: TV Guide
Tradução: Lalah / Staff WalkingDeadBr
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