Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do nono episódio, S08E09 – “Sanctuary”, da oitava temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Depois do surpreendente episódio 8, parece que Fear the Walking Dead se arrependeu de ter entregado algo minimamente bom e decidiu voltar ao padrão de mediocridade dessa atual temporada.
Mesmo aos 45 do segundo tempo, a série que já vem sofrendo com ritmo desde a 7ª temporada decide agora nos últimos episódios entregar mais um capítulo de núcleo quando deveríamos estar construindo o final.
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Apesar de sua qualidade questionável, esse episódio soube trabalhar bem uma questão especifica (ao menos no início dele); os traumas acumulados de Dwight (Austin Amelio) e o peso de seu passado.
Os primeiros dez minutos desse episódio são muito bons e são facilmente a melhor coisa dele, pois soube trabalhar bem todo esse peso em cima do personagem. O quão traumatizante é a perda de um filho? O quão difícil é conviver com péssimas decisões do passado e que custaram vidas? Pois bem, o episódio até começa explorando essas questões, mas depois abre mão disso por uma “nostalgia” boba.
De início, vemos Dwight finalmente confrontando seu passado e através de sua dor temos noção do peso que todo esse acumulo tem nele. Voltar para sua antiga casa parecia ser a busca de um conforto e estabilidade, mas é quando ele vê que quanto mais ele busca no passado, maiores serão as feridas que serão abertas. A atuação de Austin Amélio entrega e muito nesses primeiros minutos, todo o desagaste físico e mental, as fragilidades e a depressão na qual o personagem se encontra é transmitida na fisicalidade, na entonação de voz e nos olhares carregados, talvez tenha sido o auge do ator durante toda a sua história com o personagem.
Mas isso tudo é jogado fora, toda essa construção é defenestrada pois após a morte de Jay (Jack Mikesell) temos o retorno de June (Jenna Elfman), Sherry (Christine Evangelista) e Dove (Jayla Walton), e essas três personagens retiram toda a carga dramática que estava sendo bem construída em Dwight. É como se o episódio não quisesse dar protagonismo a ele e precisasse desesperadamente encaixar mais personagens na trama.
Esse episódio precisava ser uma jornada única para Dwight e Sherry, para finalizar esses arcos em aberto do casal e dar a eles uma conclusão digna, ainda mais após tantos traumas e sofrimentos.
A presença de June e Dove acaba não só tomando mais tempo de tela do que o necessário, mas como também desencadeia uma trama arrastada e forçada para o episódio. Dando barriga para a história e descartando um episódio de estudo de personagem que poderia ter dado muito certo.
Se na crítica do episódio 7 – “Anton” citamos que ele parecia ser uma cópia direta de “Remember What They Took From You”, o episódio 1 da temporada, é ainda mais valido ressaltar que aqui em “Sanctuary” a ideia parece ser replicar o que deu certo em “King County“.
Fazer um episódio focado em um personagem da série principal, aonde ele irá revisitar um local de seu passado para enfrentar seus fantasmas e finalizar um ciclo em sua vida, é a descrição perfeita para o 4º e esse 9º episódio. Uma réplica do que já foi feito na mesma temporada, porém pior e sem funcionar tão bem quanto na primeira vez.
Se em “King County”, a narrativa fez uma pausa na trama principal para resolver as pontas soltas de Morgan (Lennie James), ali havia uma justificativa e um resultado final que justificasse esse retardo na história, pois lá a sensação final foi de que a jornada de Morgan com sua família havia sido realmente concluída, diferente daqui que aparenta ser apenas mais uma aventura e um chamado da nostalgia para agradar os fãs menos exigentes de todos.
É inegável que ver o Santuário destruído e em pedaços depois de tanto tempo é algo legal, mas agora fica o questionamento, será que esse fator nostálgico é o suficiente para sustentar um episódio inteiro? Ainda mais um dos episódios finais de uma série que durou 8 anos.
Na crítica do episódio 4 citamos que o fator “nostalgia” tinha um objetivo narrativo e que não estava sendo jogado apenas pelo maneirismo na coisa, aqui a realidade é outra. Depois dos minutos iniciais, o retorno ao Santuário não causou nenhum impacto na vida dos personagens, e o pior de tudo, a edição do episódio fica intercalando flashs inacabáveis do passado, como se os fãs não fossem capazes de reconhecer os cenários que foram repetidamente explorados entre a 7ª e 8ª temporada da série mãe.
Além disso, a direção de Philipe J. McLaughlin não parece saber esconder o grau baixo de produção dessa série, que convenhamos está cada vez mais decadente e pior a cada temporada que passa. As recriações do Santuário são bem feitas e cuidadosas nos mínimos detalhes, mas os takes fechados e closes nos rostos dos atores não nos deixa ter uma ampla visão do local, deixando a impressão de que a produção estava fazendo de tudo para esconder e não mostrar muito.
O mais do mesmo já não funciona mais. E quando levamos em consideração que contando com esse faltavam mais quatro episódios para finalizar a série, esse fator repetição se torna inaceitável.
Esse episódio é uma ladeira abaixo ao pé da letra, pois se tivemos um início interessante e bem executado, um meio mediano, esse final chega para afundar de vez.
São tantas decisões questionáveis tomadas aqui nesse final que bate a vontade de saber se os roteiristas desse episódio possuem senso comum e noção básica da realidade.
June se tornou uma X-men e agora ela é capaz de curar qualquer um em quaisquer circunstâncias. A personagem parece ter saído de um episódio de Grey’s Anatomy, pois se considerarmos a experiência que ela possui aqui, ela está além de qualquer médico ou cientista dessa franquia.
Toda a trama maternal entre June e Dove não funciona e só serve para arrastar ainda mais o episódio. Aliás, Dove, nesse episódio, só serve para ocupar tempo de tela e irritar os telespectadores a cada frase que é dita. A atriz até se esforça para tornar os receios e medos da personagem plausíveis, mas o texto é tão fraco que faz ela parecer no final uma verdadeira sem noção. Se a personagem teme tanto a morte e a base de PADRE é o lugar aonde ele se sente mais confortável, por que diabos ela decidiu sair em uma missão sozinha em um lugar desconhecido para enfrentar um grupo desconhecido?
São decisões como essas que tornam o episódio desgostoso como um todo, o quão irritante são essas decisões tomadas às pressas e as mudanças narrativas que destroem o potencial que o episódio apresentou em sua introdução.
Além de, mais uma vez, termos antagonistas burros que morrem facilmente, mesmo após mais de uma década sobrevivendo nesse mundo. O grupo que agora reside o Santuário parece ser derivado dos saldados de PADRE na 1ª parte da temporada de tão burros que eles são, além da caricatura e as motivações mais bobas o possível.
A conclusão que esses “antagonistas” recebem é risonha e sem sentido nenhum. Eles literalmente se infiltram no meio de uma horda de zumbis para morrer, em uma das cenas mais vergonhosas da temporada.
“Sanctuary” é um episódio covarde e sem propósito que apela novamente para a nostalgia, porém não tendo metade do êxito que o 4º episódio teve ao usar desse maneirismo.
Ele serve para quebrar o ritmo dos episódios finais ao colocar uma história de núcleo que leva do ponto “B” ao ponto “A”, ou seja, uma regressão de onde Sherry e Dwight haviam parado no 6º episódio, apenas com a diferença de que agora eles aparentam estarem juntos novamente.
Austin Amelio entrega a melhor atuação dentro do personagem, mas seu esforço merecia muito mais do que esse acumulo de mediocridades que foi esse capitulo.
Esse episódio é um verdadeiro Filler e no final não serve para nada dentro desse final de temporada e série. Quando assistido, as impressões não parecem ser tão ruins, mas quando analisado com um pouquinho de cuidado e vendo ao ponto no qual a temporada está, esse episódio se torna um verdadeiro castelo de cartas.
Ao final, a única cena que faz a história “andar” é todo o seguimento final envolvendo Strand (Colman Domingo) e Tracy Otto (Antonella Rose). Aonde Victor parece ter conseguido encontrar e capturar a filha de Troy (Daniel Sharman), algo que o episódio não mostra e se quer da o trabalho de explicar, mas que ao invés de explorar isso prefere focar na relação que ninguém se importa entre June e Dove. Esse fim será a única utilidade desse episódio em meio a essa leva final.
Fear the Walking Dead – S08E09: Sanctuary
Nota: 5.7/10
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