Fear the Walking Dead
CRÍTICA | Fear the Walking Dead S08E05 – “More Time Than You Know”: Corrida contra o tempo e a paciência
More Time Than You Know foi o 5º episódio da 8ª temporada de Fear the Walking Dead. Veja a nossa crítica ao episódio e discuta conosco.
Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do quinto episódio, S08E05 – “More Time Than You Know”, da oitava temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
Desde que a série passou um reboot entre o final da 3ª e início da 4ª temporada, Fear the Walking Dead tem sofrido com diversas criticas com relação a sua identidade e rumo, pois apesar de a primeira fase da série possuir alguns erros e problemas gritantes, principalmente falando da 2ª temporada que foi o grande primeiro erro da série como um todo, Fear ainda possuía uma identidade própria e não dependia de migalhas como elementos da série principal para se manter de pé.
Isso não significa que tudo que tenha vindo depois tenha sido ruim ou péssimo, muito pelo contrário, tivemos ótimos e bons momentos nessa segunda fase do derivado, como a primeira parte da 4ª temporada que talvez tenha sido o seu auge com relação a qualidade e toda a 6ª temporada lançada entre 2020 e 2021, que com certeza é facilmente uma das melhores de toda a série.
O ponto em que quero chegar é que Fear the Walking Dead, pelo menos nos últimos anos, perdeu muita de sua essência e principalmente ficou impregnado que a série a muito tempo está sem rumo. As tramas que funcionam são minimalistas e simplórias, ou aquelas que ousam repetir (com leves diferenças e alterações) aquilo que já deu certo.
Se na semana passada fomos presenteados com “King County”, um episódio que fecha todo um ciclo e arco de personagem e que homenageia tanto a si mesmo quanto The Walking Dead, nesta semana tivemos “More Time Than You Know” (Mais tempo que você Imagina), apenas mais um episódio de Fear the Walking Dead.
PONTOS POSITIVOS
Antes de citarmos os diversos pontos negativos e problemáticos presentes em More Time Than You Know, temos que ressaltar alguns de seus pontos positivos e que funcionaram muito bem dentro do episódio.
Ele abre com uma cena de perseguição de barcos, e apesar da ação durante boa parte do episódio ser confusa e mal editada, ao menos temos bons takes e movimentos de câmera bem inventivos que buscam filmar essa sequencias, por boa parte dela em takes aéreos. No caso de uma edição melhor e uma coordenação mais coerente de cena, essa perseguição poderia ser épica, mas o que salva ela de ser um desastre é a filmagem criativa de Heather Cappiello, que volta pela segunda vez nessa temporada na direção de um episódio, ela que havia mandado bem em “Blue Jay”, aqui já não consegue atingir o mesmo nível de qualidade.
Outra questão técnica que é boa nesse capítulo é a trilha sonora. Nos últimos episódios, elogiamos bastante a trilha em Fear, algo que costumava ser medíocre, mas que nessa última temporada tem mostrado evolução e melhoria. A trilha sonora nas cenas entre Grace (Karen David), Morgan (Lennie James) e Mo (Zoey Merchant) é realmente muito boa e ajuda a enriquecer toda a emoção que episódio quer transmitir nelas. Além de conseguir passar a decepção que Dwight (Austin Amelio) e Sherry (Christine Evangelista) sentem ao descobrir que a provável cura de June (Jenna Elfman) não seja realmente eficaz e que eles possam vir a perder seu filho futuramente.
E, tocando nesse ponto, essa é uma outra questão que o episódio consegue trabalhar bem. A tensão e mistério envolta de Finch (Gavin Warren) e se ele irá conseguir sobreviver a infecção zumbi após os sintomas terem voltado. E as atuações de Austin e Christine só conseguem intensificar toda essa questão. O que nos faz pensar que Heather Cappiello seja uma diretora que se saia melhor no drama do que na ação, já que as partes dramáticas do episódio são as melhores, assim como havia sido no segundo capítulo da temporada, e a ação seja o seu ponto mais fraco levando em conta o mau resultado por boa parte desse episódio.
Outro ponto bem trabalhado é o senso de urgência, já que o episódio foca numa “corrida contra o tempo”, nada mais justo do que esse ser um ponto positivo, e felizmente é. A edição, apesar de confusa na montagem da ação, nas cenas de drama e na transição de núcleos é bem eficaz e transmite esse já citado senso de urgência.
OS DIVERSOS PROBLEMAS NESTE EPISÓDIO E EM FEAR THE WALKING DEAD
Já passando para o outro lado da moeda, temos os pontos negativos e as incontáveis incoerências do episódio. E um que vem se agravando cada vez mais e deixando toda a trama de PADRE boba e cômica é a facilidade e a ausência de dificuldades que os personagens tem que render ou derrotar os membros do grupo. Isso é uma questão que tem se tornando cada vez mais incomoda e ficado mais cômica, porém de uma forma ruim. A cena em que Mo consegue se jogar de lado na arma de um dos soldados e logo em seguida Dwight e Morgan os rende é patética e parece ter sido dirigida por uma criança de dez anos. É realmente evidente a falta de cuidado dos roteiristas e diretores em ter mais atenção com as cenas de ação e na construção de periculosidade desses vilões que a cada episódio que passa ficam cada vez mais burros e atrapalhados.
Além da má condução das cenas de ação por boa parte do episódio, ele ainda está repleto de diálogos péssimos e tão bregas que chegam a beirar a vergonha alheia. Os diálogos da cena final entre Mo e Grace são realmente bons e emocionantes, assim como os que ela tem com Morgan antes de deixa-lo. Porém, os diálogos da cena em que Mo está tentando passar pelos “Jovens Soldados” de PADRE são constrangedores. A personagem tenta vender um discurso emocional, mas que é tão mal escrito que o único sentimento que gera é o de vergonha.
Ainda se tratando dessa personagem, o episódio consegue quebrar toda a empatia que o público poderia sentir por ela, e a transforma numa verdadeira criança irritante. Todos os acontecimentos que ocorrem com ela durante a trama deveriam servir como um ponto de evolução para a personagem, mas que no final ela simplesmente regride, fazendo com que toda a sua jornada se torne inútil. Todos os diálogos e cenas que ela teve com sua mãe antes de morrer deveria servir como escada para a personagem crescer e evoluir, mas o roteiro simplesmente ignora tudo isso na intenção de buscar gerar mais conflitos, o que é uma decisão muito questionável e que não faz o menor sentido dentro do arco da personagem que vem sido construído nessa última temporada.
Fora as diversas incoerências forçadas em torno da personagem. Durante a temporada, a série trabalha a falta de conhecimento de Mo para com algumas coisas e objetos que eram comuns no mundo normal, mas que praticamente não são uma realidade de um mundo pós apocalíptico, como o beijo no episódio passado e o telefone nesse. A personagem não saber sobre isso parece aceitável para o roteiro, mas o fato dela conseguir manusear e reconhecer aparelhos médicos de acesso limitado não parece um problema. Inclusive, a cena dela conseguindo usar o equipamento médico sem nenhuma dificuldade e aplicar a radiação em Grace, apenas com o auxilio de June, é ridiculamente forçado.
GRACE E SUA JORNADA EM FEAR THE WALKING DEAD
Desde de que foi introduzida na 5ª temporada, Grace, apesar de ser uma boa personagem e ter uma boa interprete, sempre foi refém de arcos e tramas repetitivas, e quando elas não ocorriam, ela era jogada de escanteio, como foi durante boa parte da 7ª temporada. Suas tramas realmente eram resumidas a sua saúde precária com o câncer crescente em seu corpo, e seu trauma envolvendo perdas e maternidade. A personagem esteve presente em quatro das oito temporadas da série, mas suas tramas eram apenas essas, o que é realmente um desperdício considerável.
Na crítica de King County, o episódio anterior, citamos que o retorno dessa trama com a personagem que já havia sido explorada várias vezes poderia vir a ser um problema dependendo da finalidade que isso levaria. Felizmente, essa trama se encerrou de maneira satisfatória e a série teve o seu ato mais corajoso da temporada até então.
A morte de Grace foi chocante e ao mesmo tempo imprevisível, já que alguns episódios atrás haviam se estabelecido uma provável cura funcional para a infecção da mordida zumbi. E assim como o destino de Finch, o episódio trabalha bem a tensão em volta da sobrevivência de Grace. Ao longo da trama, o episódio vai lentamente se despedindo da personagem, até chegar no fatídico momento de sua morte, o que apesar de triste se torna fundamental para a história.
As cenas em que ela se despede de Morgan são boas e possuem uma carga dramática necessária para que elas funcionem. Porém, a mais emocionante com certeza é a montagem da despedida de Grace e Mo, aonde vão intercalando cenas do presente e passado, contando toda a trajetória da personagem através de sua perspectiva e narração, ao fundo de uma trilha sonora melancólica. Essa, com certeza, é a cena mais emocionante da personagem na série, superando o final de “In Dreams” na 6ª temporada.
E após a sua morte e a rápida transformação que ela sofre, temos uma cena muito boa de Mo lutando com a versão zumbificada de sua mãe, uma cena bem triste, tensa e pesada. E o legal dela é a ausência da trilha sonora, usando apenas do som ambiente para criar tensão, e o uso de câmera na mão que dá uma sensação mais claustrofóbica para o momento. Essa com certeza é a melhor cena envolvendo ação que o episódio entrega, pois não é confusa e usa de artifícios básicos para entregar o eficaz, como a já citada câmera na mão que se aproxima e acompanha os personagens sem muitos cortes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
More Time Than You Know não é um episódio ruim como “Odessa”, mas possui muitos defeitos, apesar de ter um bom final. Ele se encaixa na categoria mediana, mas que poderia ser muito mais se tivesse um pouco mais de cuidado.
Ainda mais no que se refere as coerências narrativas e com os arcos de personagem, pois o que mais irrita e decepciona é a defenestração de toda a construção de arco em volta de Mo, que mesmo depois de tudo pelo que passou e vivenciou nesse episódio no final acaba voltando para PADRE. Mesmo sendo ela, a personagem que nos dois últimos episódios estava disposta a fazer de tudo para destrui-lo e derrotar Shrike (Maya Eshet). No fim, a impressão que dá é a de que o roteiro está mais preocupado em criar conflitos baratos do que em manter uma coerência do que vem sendo estabelecido a cada episódio.
Todo o arco de PADRE, apesar de ser recente e ter poucos episódios, já está mais do que saturado. A série não parece o levar a sério como deveria e todo o desenvolvimento em torno do grupo e sua temática parece batido e repetitivo. O que nos resta é esperar para ver se essa trama irá concluir no próximo episódio ou se irá se estender até a segunda parte da temporada.
A temporada segue razoável apesar de tudo, não é ruim como a anterior, mas está longe de alcançar o auge que essa série já entregou. Mesmo sendo um episódio mediano, ele ainda dá a sensação de progressão com a história, além de preparar um gancho bem interessante para o próximo, e que apesar dos pesares, dá um final digno e surpreendente para uma de suas principais personagens.
Fear the Walking Dead – S08E05: More Time Than You Know
Nota: 5.8/10
O que você achou desse episódio, achou o final de Grace digno ou decepcionante? Comente aqui em baixo suas opiniões e nos vemos até o próximo episódio.