Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do terceiro episódio, S08E03 – “Odessa”, da oitava temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
É fato que quando uma franquia atinge um certo ponto ela passa a extrapolar e criar coisas absurdas para manter os fãs entretidos. E parece que o Universo The Walking Dead extrapolou de vez.
Não é de hoje que vemos as críticas dos absurdos e exageros por trás da franquia “Velozes e Furiosos”, que cada vez busca por mais e algo maior no mal sentido, ou as críticas relacionadas ao “Universo Cinematográfico da Marvel” e a queda na qualidade de suas obras audiovisuais. E ao que parece, em Fear the Walking Dead, dentro desse universo de mortos vivos criados por Robert Kirkman, talvez tenha chegado ao seu auge de absurdo e extrapolação.
O terceiro episódio da 8ª e última temporada do derivado é a prova concreta do que acontece com uma franquia que se estende demais, e quando ela quer contar mais histórias do que esse universo pode proporcionar.
Para tirarmos logo de cara o grande elefante da sala, vamos voltar no tema que o episódio anterior pincelou e que aparentava ser um problema futuro, a cura do vírus zumbi! Desde os primórdios das HQ’s e da série principal, o criador desse universo já afirmava que The Walking Dead nunca foi e jamais seria sobre a busca de uma cura para o vírus zumbi. Essa história era sobre pessoas vivendo nesse mundo e como ele as transformavam, e isso foi o que fez com que The Walking Dead se tornasse tão popular e único dentro desse vasto universo de mortos vivos. E quando nos é trago essa ideia de uma cura para o vírus, a série foge de tudo aquilo que ela nunca prometeu ser e que nunca abordaria, pois ela nunca foi sobre isso.
É aceitável quando uma obra audiovisual se distância de seu material base para criar novas tramas e elementos que enriquecem o produto final como um todo. Dentro de várias adaptações de livros e HQ’s temos diversos exemplos de obras que se distanciaram do material original e criaram suas próprias ideias, e que no final acabaram funcionando muito bem. No próprio universo de The Walking Dead podemos citar o caso das variantes zumbi, que foi uma ideia criada para o universo de séries, que não existe nos quadrinhos, e que funcionou muito bem, uma estratégia que era muito arriscada e preocupante, mas que deu muito certo. Porém, o mesmo não pode se dizer da cura do vírus zumbi apresentada nesses últimos episódios de Fear the Walking Dead.
Primeiramente que isso foge do que a obra se proponha a ser, segundo que isso vem sendo trabalhada de uma forma não positiva, e terceiro que essa é a resposta de uma pergunta feita há muito tempo atrás e que ninguém saberá da resposta. Quando anunciada, Fear foi vendida como uma série que abordaria o início e os primórdios do apocalipse dentro do universo de The Walking Dead, e uma das principais questões que os fãs esperavam ver nessa série, era a origem desse vírus e a provável cura dele. Porém, ao longo das temporadas a série de distanciou dessa proposta e mirou seus rumos para ser mais uma série sobre sobrevivência.
Ao longo dos anos, Fear decaiu e muito com sua audiência, em seu lançamento a série havia atingido um recorde de audiência no mundo todo, superando até mesmo a série principal e a mais recente “The Last Of Us”. Porém com a qualidade questionável que a série apresentava ao longo das temporadas, o público foi abandonando a série, até chegarmos nessa 8ª e última temporada. Ou seja, a série demorou basicamente oito anos para responder uma pergunta, e ela escolheu a sua pior fase para fazer isso, pois a série principal e a que carregava a maior audiência desse universo está finalizada, e a audiência do derivado se encontra a mais baixa de todas. Então eles responderam uma pergunta que poucos saberão a resposta e que nada afetará a série principal, pois ela já foi concluída.
Além desses problemas, a ideia de uma cura ter sido descoberta por uma enfermeira que não é cientista e acompanhada por um grupo que não tem metade dos recursos que uma CRM (República Cívica Militar) ou Commonwealth tenha, é uma enorme e forçada conveniência. Fora o fato de que se essa cura não for abordada nos próximos derivados, tudo isso terá sido em vão.
Logo na cena inicial do episódio temos o reencontro mais anticlimático de todos os tempos, o reencontro de Madison (Kim Dickens) e June (Jenna Elfman). Personagens que tiveram uma relação importante e interessante para o todo o desenvolvimento da 4ª temporada da série, e que logo de cara tiveram um reencontro sem sal e precoce, com poucos diálogos realmente interessantes e poucas emoções de cena.
Um ponto que ressaltamos ser positivo nos outros episódios era o fato da temporada ter seu número de episódios reduzidos e que isso ajudou a trama a ter mais carga e ritmo, algo que esse capítulo parece não ter aproveitado com êxito. Muitas das cenas parecem desconexas e sem uma resolução, como se durante a edição muitas delas fossem cortadas. Como por exemplo, a cena em que Mo (Zoe Merchant) e Dove (Jayla Walton) de repente estão andando na floresta e investigando as tramoias de PADRE, e como elas chegaram até ali e o porquê de elas decidirem investigar, principalmente a Dove que nos episódios anteriores parecia estar satisfeita com as ações de PADRE, questões como essas ficaram em aberto durante o episódio.
Além da má condução da passagem de tempo entre o episódio anterior e esse, que parece ser uma continuação direta, mas que ao mesmo tempo diz se passar alguns dias. Esses problemas de escrita e edição tornaram o episódio um tanto quanto confuso.
Fora o fato do reencontro dessas duas grandes personagens ter sido uma baita decepção e um desperdício de potencial, o episódio não trabalha muito a relação entre elas, algo que pode ser melhor explorado nos próximos capítulos e que tem um enorme potencial, mas que “Odessa” desperdiça essa carta de ouro e ignora por boa parte do tempo.
Felizmente, nesse episódio tivemos o retorno de um dos melhores e mais queridos personagens de toda a série, Daniel Salazar (Rubén Blades). Um personagem que desde a primeira temporada conseguiu conquistar o público, e com razão, pois o ator é sempre muito carismático e seu sotaque panamenho só deixa o personagem mais charmoso.
É realmente bom o ter de volta, e diferente do reencontro de Madison e June, o reencontro da antiga protagonista com Daniel já é consideravelmente melhor. Tanto pela direção da cena e trilha quanto pela reação dos atores, que conseguem se sobressair ao texto fraco do episódio.
O diálogo entre os personagens na floresta é bom e interessante, trazendo aquele ar das primeiras temporadas de Fear, além de vermos mais dessa relação. Os diálogos também entregam os possíveis destinos de alguns dos personagens que ficaram em aberto desde a temporada anterior, como: Charlie (Alexa Nisenson) e Luciana (Danay Garcia).
O episódio constrói Daniel como uma figura importante para o desfecho desse arco, já que durante esses sete anos o personagem se aliou aos pais das crianças resgatadas por PADRE, e da a entender que ele será uma figura fundamental na guerra contra esse grupo.
Sem dúvidas, a aparição de Daniel acaba sendo um dos pontos altos desse episódio, além de plantar uma grande importância para esse personagem no futuro não muito distante dessa série. E que aparentemente terá ainda mais foco nos próximos episódios.
Saindo de um dos pontos positivos do episódio e adentrando em um dos mais negativos, temos toda a série de suspenses desnecessários que o episódio cria. Um deles sendo todo o mistério por trás da personagem Dove, que até então havia sido muito pouco explorada, resultando numa carência de afeto entre a personagem e o público em geral.
O episódio cria situações para colocá-la em determinados locais nos exatos momentos, e a partir disso cria um suspense tosco em volta do parentesco da personagem. O episódio acha que está desenvolvendo uma trama interessante para a personagem ao colocá-la em conflito com tudo e todos em prol da descoberta de sua verdadeira identidade e origem, mas que falha por executar essa ideia de uma forma tão fraca e genérica.
No final do episódio descobrimos que Dove na verdade se chama Odessa (título do episódio) e que ela era filha de Ava (Lyndon Smith), a personagem que havia aparecido no final da temporada anterior. Todo o suspense poderia ter funcionado caso houvesse um trabalho melhor por trás do texto do episódio, a atriz Jayla Walton até tenta entregar o máximo de emoção na cena em que ela descobre sobre seu passado, mas o roteiro é tão fraco que chega a quebrar o clima.
Outra revelação ruim no episódio é sobre a identidade de PADRE. Todo o mistério sobre esse grupo e sobre quem estaria por trás dele, que vinha sido construído desde o final da temporada anterior, é quebrado de uma forma ridícula..
Esse terceiro capitulo é repleto de flashbacks que servem para explicar a origem desse grupo, e não poderia ter sido menos clichê. O episódio tenta nos enganar ao trabalhar a ideia de que o homem que comanda PADRE talvez seja Krennick (Michael B. Silver), o pai de Shrike/Sam (Maya Eshet). Mas que posteriormente descobrimos que na verdade Krennick morreu tentando salvar seus filhos Sam e Ben (Daniel Rashid), e o que homem misterioso por trás de PADRE é Ben, e que ele e sua irmã desenvolveram e tornaram o que PADRE viria a ser.
Todos os flashbacks servem para nos enganar e contar brevemente a história de PADRE, mas que é quebrado por uma revelação ridícula e que reduz os méritos desse grupo e seu nível de ameaça, pois ao descobrirmos que o grande líder misterioso nada mais é do que um adolescente que está fingindo ser quem não é, toda a construção de mistério e ameaça desse grupo é defenestrada e anulada.
O episódio foi dirigido por Ron Underwood, o diretor do clássico “Tremors” (O Ataque dos Vermes Malditos), e esse é o seu quinto trabalho como diretor em Fear the Walking Dead, mas definitivamente não é o seu melhor trabalho na série.
O episódio até que contém alguns takes bons e inventivos e uma boa direção de cena em alguns casos, mas que é atrapalhado pelo roteiro fraco e sem sal.
Um exemplo de cena que poderia ter sido melhor nas mãos desse diretor se o roteiro fosse um tanto quanto mais competente é toda a cena do labirinto de containers. Estar isolado dentro de um labirinto cheio de zumbis é uma ideia apavorante por si só e que poderia render muita tensão e sequências desesperadoras, mas que o episódio não explora como deveria e descarta esse cenário por cenas breves e sem emoções.
Parece que Underwood gostaria de ter explorado melhor esse cenário pela forma na qual ele filma alguns takes e seguimentos, mas que parece ser ofuscado por um roteiro que não o permitia explorar mais desse ambiente.
Todo o seguimento da morte de Krennick é anticlimática e as atuações de Maya Eshet e Daniel Rashid não entregam toda a carga dramática que a cena exigia. Além do fato de toda a resolução do seguimento do labirinto de containers não ter sido mostrada ou descrita, deixando ainda mais essa sensação estranha de que há algo faltando.
De qualquer modo, a direção é minimamente competente e tenta extrair o melhor que pode dentro de um roteiro ruim, raso e vazio. Talvez se esse diretor tivesse um texto melhor para trabalhar estaríamos falando de um episódio que pudesse ter sido grandioso e excelente, mas que definitivamente não é o caso de Odessa.
Odessa é disparado o pior episódio da temporada até o momento. É o que possui o roteiro mais fraco, a pior edição e trabalho técnico. Além de estar repleto de acontecimentos que ao invés de engrandecer acabam reduzindo a história, e destruindo algumas das boas ideias que haviam sido construídas até então.
Episódios como esse, com histórias tão vazias e clichês, foi o que fez com que Fear the Walking Dead caísse em ruínas. Mas apesar de alguns defeitos, o episódio anda com a história e mantém o ritmo acelerado da temporada, nos dando a esperança de que esse arco em torno de PADRE talvez seja concluído ainda nessa primeira parte da temporada, dando margem para os seis últimos episódios da série abordar uma nova trama. Basta esperar para vermos se os próximos três episódios irão concluir esse arco de forma digna ou esquecível.
A temporada sofre com esse episódio uma queda considerável na qualidade como um todo, porém a esperança de termos uma boa temporada e bons episódios ainda persiste, basta saber se os próximos serão tão bons quantos os dois primeiros ou se serão tão ruins quanto esse terceiro.
Fear the Walking Dead – S08E03: Odessa
Nota: 5.1/10
O que você achou desse terceiro episódio? Acha ele o melhor ou o pior da temporada até agora? Comente aqui em baixo suas opiniões e nos vemos até o próximo episódio.
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