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Fear the Walking Dead

CRÍTICA | Fear the Walking Dead S08E02 – “Blue Jay”: June Rambo

Blue Jay foi o 2º episódio da 8ª temporada de Fear the Walking Dead. Veja a nossa crítica ao episódio e discuta conosco.

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June em arte da crítica do episódio 2 da 8ª temporada de Fear the Walking Dead.

Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do segundo episódio, S08E02 – “Blue Jay”, da oitava temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!

Esse, sem sombras de dúvidas, é o melhor episódio de Fear the Walking Dead em anos, pode-se dizer facilmente que é o melhor da série desde o episódio final da 6ª temporada. Esse segundo capítulo da temporada final é realmente uma grande surpresa, sendo imprevisível e chocante ao mesmo tempo, algo que esse derivado não nos entregava fazia um bom tempo.

Blue Jay busca se distanciar das tendências do episódio anterior, se em “Remember What They Took From You” (Lembre-se do que Eles Tiraram de Você) tinha uma narrativa e um ritmo mais corrido e sendo um episódio cheio de acontecimentos, Blue Jay segue pelo caminho oposto e se concentra em uma história mais contida e fechada. O que aparentemente poderia ser um ponto negativo por quebrar o ritmo da temporada acaba se tornando um grande acerto.

A NOVA JORNADA DE JUNE EM FEAR THE WALKING DEAD

O episódio inicia com uma belíssima sequência de cenas aonde muito é mostrado e pouco (basicamente nada) é falado. A cena não possui falas ou diálogos apenas os sons ambientes, e mostra o dia a dia de June (Jenna Elfman). E vale ressaltar as mudanças no visual dessa personagem que parece ter recebido um cuidado maior da produção, pois umas das maiores críticas em relação ao episódio anterior é a ausência na mudança de visual dos personagens após o salto temporal de sete anos. June está completamente diferente da última vez que a vimos, e as mudanças não abrangem só o seu visual, mas como também a sua personalidade e psicológico.

A personagem parece estar sendo atormentada por uma espécie de trauma e conflitos internos, isso é exposto ao episódio de uma forma não gratuita. Jenna Elfman consegue nos passar todas essas emoções e sentimentos com os mínimos detalhes de sua primorosa atuação nesse episódio, seja por sua linguagem corporal que parece estar mais bruta e agressiva, mas que ainda mantém a essência da pessoa que ela já foi, ou através de seus olhares e expressões faciais que nos contam tudo que a personagem parece estar sentido sem precisar de diálogos expositivos.

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O episódio trabalha bem todo esse mistério em volta da personagem e o que talvez tenha acontecido com ela em meio a esses sete anos. Esse agoniante mistério é alimentado através das ações que a personagem toma ao negar em ajudar um pai que quer encontrar sua filha, algo que a personagem jamais faria em outros tempos, levando em conta que June sempre se mostrou ser uma pessoa boa e humanitária. E não só esse ato de negligencia diz muito sobre o que a personagem se tornou, mas como ela enfrenta e fica em conflito com ela mesma em uma simples cena aonde a personagem está sentada repensando sobre tudo isso. Esses pequenos detalhes de atuação engrandecem June e mostra um grande esforço e dedicação de Jenna, que ao longo das temporadas se provou ser uma das melhores (se não a melhor) atriz de toda a série, e que conquistou o coração dos fãs com essa personagem rica e complexa.

Além de contar com uma atuação primorosa que carrega e destaca o episódio como um todo, Blue Jay também é farto de acertos técnicos que o deixam ainda mais rico, isso vai desde sua trilha sonora, que vem evoluindo desde o episódio anterior e se tornando cada vez melhor, ao novo aspecto de resolução de imagem que dá um ar cinematográfico para a série, desde a montagem e edição que apesar de lenta nunca deixar o episódio massivo ou arrastado, até a belíssima fotografia do episódio que aproveita ao máximo seus cenários para extrair os mais belíssimos takes. Toda a ambientação daquele trem abandonado possui um grande cuidado técnico desde a sua área externa e principalmente interna.

A cinematografia do episódio sabe usar a seu favor o cenário noturno e utiliza de luzes para deixar ainda mais rica a sua composição. Todos os takes externos do trem que mostra aquela pequena horda de zumbis se aproximando aos poucos é belíssima e trouxe uma leve nostalgia de quando a série principal usava de ambientes mais abertos para mostrar a vastidão dos zumbis, algo que foi muito bem feito na segunda temporada de The Walking Dead, na época da fazenda.

O episódio ainda conta com a direção impecável de Heather Cappiello, que aqui volta para dirigir seu quinto capítulo na série e pode-se dizer que é melhor entre todos no qual ela assumiu a direção. Não só por ter conseguido extrair umas das melhores atuações de Jenna Elfman em toda a série, mas também na competência e delicadeza que ela possui nas conduções de cena.

DWIGHT E SHERRY

Desde que o personagem teve seu arco concluído na série principal e ao entrar para o elenco do derivado, Dwight (Austin Amelio) não possuiu grandes arcos ou se quer teve muita importância dentro de Fear the Walking Dead. Desde sua chegada na 5ª temporada, em 2019, o personagem tinha apenas um único objetivo e que permeou a temporada inteira: encontrar sua esposa Sherry (Christine Evangelista). Após o belíssimo reencontro do casal nos primeiros episódios da 6ª temporada, eles não tiveram mais nenhum papel ou objetivo dentro da série, os episódios que davam mais destaque aos dois na 6ª temporada geralmente eram os mais fracos. Não que o casal não funcione ou não possua química, muito pelo contrário, mas talvez ele não tenha ganhado substância pela falta de texto e um roteiro que os trabalhassem melhor, pelo menos até agora.

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Sinto que é a primeira vez desde a reintrodução desses personagens que eles finalmente tenham ganhado um destaque relevante e uma trama comovente. Toda a história por trás dos acontecimentos que permearam esses sete anos é triste, ainda mais se levarmos em consideração tudo o que esses dois tiveram de passar para ficarem juntos. Todas as questões que impedem eles de ficarem juntos ou de terem que esconder a verdade para Finch (Gavin Warren), sobre eles serem os seus pais, é realmente muito triste e pesado, ainda mais levando em conta toda a jornada deles.

Vale dizer que todo o cuidado que a produção teve com June para representar a passagem de tempo não ocorreu com Dwight e Sherry, pois eles parecem não ter envelhecido um dia desde sua última aparição na série.

Indo para os pontos positivos, é muito interessante toda a breve relação que o episódio mostrou entre o casal e seu filho Finch, os atores conseguem desenvolver uma química interessante e uma relação bem legal de se acompanhar, mesmo em tão pouco tempo e em interações limitadas, já que isso não era o foco do episódio. Austin e Christine conseguem passar muito bem essa imagem de pai e mãe que tentam esconder os seus sentimentos perante o filho, e os diálogos entre eles só fazem com que a gente acabe se importando e criando ainda mais alguma afinidade por eles. Estratégia essa que o episódio teria que executar muito bem para que todos os acontecimentos no final tivessem o maior impacto o possível.

E falando dessa sequência em especifico, ela é bem impactante e assustadora. É pesado e desesperador ver uma criança desacordada ser mordida por um zumbi. Essa com certeza é a cena mais impactante da temporada até agora, pois em momento algum isso é sugerido ou esperado. A cena é brutal e violenta e mostra apenas o necessário. E, sem sombras de dúvidas, será interessante ver o impacto disso na vida de Dwight e Sherry.

Todas as cenas anteriores preparam e constroem a ideia de família entre esses personagens, seja através dos olhares entre eles, a interação e os diálogos sentimentais, tudo isso foi muito bem construído para gerar o impacto nessa cena chocante e pesada.

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ADRIAN E A DESUMANIDADE DE JUNE

Voltando o foco novamente para June, uma das coisas mais intrigantes do episódio é a relação entre ela e o novo personagem, Adrian (Jonathan Medina). Adrian nada mais é do que um pai que está em uma busca desesperada por sua filha. Essa premissa, apesar de batida, funciona e consegue criar uma conexão entre o público e o personagem. Desde o momento em que ele aparece na cabana de June e fala sobre sua filha é previsível através de suas reações de que ela sabe de alguma coisa. Então, aquela revelação de que a garotinha já estava morta e zumbificada por um bom tempo não se torna uma surpresa, pois o episódio já havia construído isso desde o início e trabalhado essa tal “surpresa” ao decorrer dele.

E apesar da cena ser totalmente previsível, ela não consegue extrair com êxito a emoção que exigia. Dentre todos esses pontos que se tornaram falhos ao decorrer do episódio, devemos ressaltar a cena de morte de Adrian, que não é nos mostrada de uma forma explicita e cheia de gore, mas foi minimamente criativa ao exibi-la através do reflexo do teto metálico do trem, num efeito de espelhamento. Cenas gore e explicitas são sempre bem vidas e muito legais dentro desse universo, mas também é interessante quando eles usam de outros recursos narrativos para nos mostrar a morte de algum personagem.

No final, Adrian acaba servindo como um personagem “escada” para June, que tem seu propósito única e exclusivamente para servir ao desenvolvimento dela. As consequências e marcas da morte desse personagem devem permeá-la nos próximos episódios, deixando-a assim uma personagem ainda mais complexa e moldada por esse mundo caótico.

PADRE E SUAS TÁTICAS NAZISTAS

O grupo PADRE ainda continua sendo um mistério dentro de Fear the Walking Dead, e apesar desses últimos episódios terem explorado um pouco mais sobre eles, ainda existe muita coisa em aberto. Porém, uma das coisas que é possível notar sobre esse grupo e que é um tanto quanto curioso, são as correlações com o nazismo. Tanto na crítica do primeiro episódio, como na matéria sobre os 5 detalhes que você talvez tenha perdido no primeiro episódio, citamos algumas curiosidades de PADRE que se assemelham aos métodos nazistas. Seja pelo fato de a fortaleza desse grupo ser bem parecida com um campo de concentração, e seus métodos de doutrinas serem bem semelhantes aos dos nazistas, desde a padronização dos uniformes e as cores cinzas e preto que predominam em seus membros.

Nesse segundo episódio temos mais alguns detalhes que fazem essas semelhanças não serem meras coincidências. Durante toda a passagem e o seguimento dentro do trem abandonado, Sherry encontra um livro de anotações que contém detalhes sobre os experimentos que eram realizados ali dentro por June e Shrike (Maya Eshet). E todo esse seguimento remete muitos aos experimentos feitos durante a segunda guerra mundial na década de 40. As fotos das pessoas que serviam de cobaia e a decadência delas conforme os avanços dos experimentos prosseguiam são verdadeiramente uma referência aos métodos da época. Além de os zumbis que estavam presos nos vagões serem visualmente um espelho dos judeus que sofriam nos campos de concentrações.

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Esses detalhes deixam o grupo ainda mais assustador e ameaçador também, além de nos mostrar mais da crueldade envolta dessas pessoas e a hipocrisia em torno deles. Os experimentos, os métodos e doutrinas, a “bandeira’” que deve ser venerada e o grito de guerra que é ressaltado, são apenas algumas das semelhanças entre PADRE e os nazistas da segunda guerra mundial.

A CURA FINALMENTE FOI ENCONTRADA EM FEAR THE WALKING DEAD

Com certeza o ponto mais chamativo do episódio é o fato dele ter abordado a ideia de uma cura, porém não apenas a mencionando como as demais séries desse universo, mas também chegando o mais próximo o possível dela realmente existir.

Após Adrian descobrir sobre o paradeiro de sua filha, ele ameaça June e ela revela os detalhes dos experimentos que eram realizados naquele vagão. E tudo isso deu início devido aos ocorridos com Alicia (Alycia Debnam-Carey) na temporada anterior, a ideia de a radiação talvez conter a infecção zumbi foi o que gerou toda essa série de experimentos.

E ao decorrer da explicação, June afirma que a radiação consegue conter a infecção, porém o alto nível dela pode acabar prejudicando ainda mais a pessoa. Essa é a primeira vez que temos uma afirmação de que é possível sobreviver a infecção zumbi. Essa trama deve ser melhor trabalhada nos próximos episódios, porém, é valido mencionar que ao trabalhar um tema como esse, no caso a cura, é entrar em um território um tanto quanto delicado.

Essa parte do episódio não é um ponto negativo em si, e nem positivo, tudo vai depender de como a temporada vai trabalhar essa ideia nos próximos episódios. Se acaso isso for realmente verdade e eles não souberem dosar e tornar isso crível, isso será sim um enorme ponto negativo e um verdadeiro problema para o Universo The Walking Dead, pois é uma trama que englobaria não só Fear, mas como também todas as demais séries.

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Desde os primórdios dos quadrinhos e o inicio da série principal em 2010, Robert Kirkman, que é o criador dos quadrinhos, assim como os demais produtores, afirmavam que The Walking Dead nunca foi sobre uma história que busca uma cura dos zumbis, e sim sobre pessoas sobrevivendo nesse mundo morto e cruel. E ao abordar o tema no qual as séries buscavam fugir durante mais de uma década e torna-lo praticamente real, acaba se tornando uma questão bem delicada e duvidosa.

É fato que quando uma franquia se estende por muitos anos e se expandindo por vários projetos, ela precisa criar vários novos chamarizes para manter o seu público ativo. Um exemplo, as variantes no final da 11ª temporada da série principal. Quando os zumbis já não eram nem de perto uma ameaça considerável e quando o público já parecia estar farto deles, a série reintroduziu uma espécie diferente de mortos vivos que se chamam “variantes’”, um grupo que é um tanto quanto mais inteligente, ágil e forte do que os demais zumbis. Essa ideia deu muito certo no final da série, pois a imagem de zumbis mais inteligentes já havia sido explorada na primeira temporada da série mãe, e ao colocados de novo no final da última temporada funcionou como uma nostalgia e uma novidade, pois os mortos voltaram a ser uma grande ameaça.

Por outro lado, a ideia da cura já não me parece um acerto como foi as variantes, pois se a série está abordando e praticamente oficializando algo que ela fugiu desde sempre é porque alguma coisa está faltando, seja em novidades ou na criação de uma história que seja boa e que se sustente por si só.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Blue Jay é o melhor episódio do derivado em anos, ele é simples e muito bom. Não necessita de grandes acontecimentos ou de cenas de ação para se tornar memorável, é um episódio contido e focado em poucos personagens. Ao mesmo tempo em que ele evolui e muito alguns deles, e os torna ainda melhores.

São episódios como esse que fazem com que Fear the Walking Dead ainda valha a pena ser assistido. São esses episódios focados em personagens e em pequenas tramas que a série brilha, e não em contar histórias grandiosas e expansivas. Esse episódio é sim superior ao seu antecessor que está dividindo muitas opiniões, e é uma clara amostra que essa temporada já se mostra melhor em apenas dois episódios do que a 7ª temporada inteira contendo dezesseis.

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A oitava temporada ainda segue promissora e se mantém num status de boa com esses dois primeiros bons episódios. Basta esperar para ver se os próximos serão tão bons quanto esses, ou se esses dois primeiros episódios apenas nos iludiram em termos de uma temporada final digna.

Fear the Walking Dead – S08E02: Blue Jay
Nota: 8.2/10

O que você achou desse segundo episódio, acha ele melhor do que o primeiro ou não? Comente aqui em baixo suas opiniões e nos vemos até o próximo episódio.

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