Fear the Walking Dead
CRÍTICA | Fear the Walking Dead S08E01 – “Remember What They Took From You”: Um começo promissor
Remember What They Took From You foi o 1º episódio da 8ª temporada de Fear the Walking Dead. Veja a nossa crítica ao episódio.
Atenção! Este conteúdo contém SPOILERS do primeiro episódio, S08E01 – “Remember What They Took From You”, da oitava temporada de Fear the Walking Dead. Caso ainda não tenha assistido, não continue. Você foi avisado!
É impressionante como que, com apenas um episódio, a 8ª temporada de Fear the Walking Dead conseguiu ser superior do que a 7ª temporada inteira. Não que esse episódio tenha sido incrível ou um dos melhores, mas sim pelo fato de a sétima ter sido um verdadeiro desastre.
Remember What They Took From You (Lembre-se do que Eles Tiraram de Você) é surpreendentemente uma última luz de esperança para Fear the Walking Dead. Após uma 7ª temporada desastrosa de muitos erros e poucos acertos, o nível de qualidade da série havia caído por água abaixo. E, aparentemente, um dos principais objetivos já nesse começo de temporada é correr atrás de todos os incontáveis prejuízos da temporada anterior.
O episódio serve mais uma vez como uma espécie de soft-reboot para a série, que após os eventos anteriores havia se perdido por completo. Esse começo de temporada consiste em ser apenas um episódio isolado e introdutivo, não promete ser grandioso em nenhum momento, e cumpre com maestria aquilo que promete por boa parte do tempo.
UM NOVO PROTAGONISMO EM FEAR THE WALKING DEAD
Logo de início temos algo que foi realmente surpreendente dentro do campo das expectativas para esse episódio. Ele começa exatamente aonde a temporada anterior havia parado, nos mostrando o desfecho da cena do barco da 7ª temporada, aonde Morgan Jones (Lennie James) e Madison Clark (Kim Dickens) são levados até PADRE. Essa cena inicial não é a grande surpresa, mas todo o seguimento que vem depois. Após a abertura do episódio, passamos a acompanhar a história através do ponto de vista de Mo (Zoey Merchant), após um salto temporal de sete anos desde os acontecimentos da primeira cena.
A ideia de acompanhar essa personagem como sendo a protagonista do episódio é sim uma novidade, pois nunca havíamos acompanhado essa série através de um ponto de vista de uma criança. O episódio se aprofunda no cotidiano da personagem dentro da fortaleza de PADRE, que está centrada em uma ilha isolada.
Os primeiros dez minutos de episódio são focados em nos imergir dentro dessa nova comunidade e de suas doutrinas. E, através do ponto de vista da personagem, passamos a entender como funciona todo o sistema em torno de PADRE e de talvez como havia sido sua infância dentro dessa fortaleza.
Aparentemente, PADRE quer investir no treinamento de crianças para se tornarem uma espécie de futuros soldados. E o regimento diário dentro dessa comunidade é semelhante ao de um treinamento militar especializado, desde a forma de ensino educacional até a exigência de um aprimoramento de combate corporal. Esses minutos iniciais servem para nos situar nessa realidade em que a personagem esteve imersa nesse período de sete anos, e também aproveita esse cenário para fazer com que o telespectador crie uma certa empatia e uma conexão com ela.
O episódio é muito feliz em criar essa identificação com a personagem, pois apesar de em certos momentos ela parecer um tanto quanto irritante, é possível se comover e identificar com a revolta dela. Zoey Merchant foi uma escolha certeira para viver a personagem, pois caso esse papel tivesse caído nas mãos de uma atriz menos experiente talvez o episódio não tivesse funcionado como um todo. Ela é competente em nos transmitir suas emoções e frustrações, e apesar de quase beirar o clichê, a atriz se esforça ao máximo para mantermos a empatia e comprarmos as emoções de sua personagem.
SALTO TEMPORAL
Sabíamos desde os primeiros anúncios sobre a temporada que teríamos nela um salto temporal que talvez equalizasse a linha temporal de Fear com a série principal. Mas, surpreendentemente, a temporada o abordou em poucos minutos, logo após a resolução da continuidade da temporada anterior.
Um dos maiores problemas desse episódio com certeza é a quantidade de diálogos expositivos que tentam explicar a passagem de tempo. São incontáveis as vezes em que a linha temporal é explicada através dos diálogos, mesmo depois dela ter sido muito bem estabelecida. A repetição gratuita desses diálogos expositivos acaba deixando o roteiro um tanto quanto mais pobre, pois faz parecer que o episódio está falhando em contar a sua história, o que não era verdade, pois após a identificação da protagonista e a primeira passagem de diálogo que explica os sete anos que se passaram o episódio havia explicado muito bem a passagem de tempo.
O salto temporal também nos deu um novo visual para Morgan, e o episódio deixa em aberto que muitas coisas aconteceram nesse meio tempo e que o personagem passou por mudanças em sua personalidade e pensamento. Agora ele parece um tanto quanto mais violento e desesperançoso, algo que era muito raro de se ver com ele.
UM FIO DE ESPERANÇA EM FEAR THE WALKING DEAD
Um ponto que é importante estar ressaltando com relação a esse episódio e que, aparentemente, será por toda a temporada, é a notável melhoria da qualidade técnica da série. A 7ª temporada havia sido uma das piores de todo o Universo The Walking Dead, não só na questão de história e roteiro, mas também na questão técnica que era risível em boa parte do tempo, que se passava num cenário contaminado pela radiação, mas que a produção ao longo dos episódios se resumiu apenas a filtros estourados e amarelados. O que acabava dando um visual péssimo para os episódios.
Aqui nessa temporada, ao menos nesse primeiro episódio, o visual não é um problema, mas sim um ponto positivo. Existe todo um cuidado muito bem feito o que se refere ao visual e a qualidade técnica do episódio. Dessa vez não temos nada de filtros estourados e irritantes, mas sim um episódio com uma belíssima fotografia e um trabalho de colorização que deixou muito bonito todas as cenas em tela. Seja brincando com as luzes e iluminação nas cenas noturnas ou na variedade de cores dos cenários e ambientes.
Isso pode parecer algo bobo e banal, mas a longo prazo torna a série melhor e esses mínimos cuidados técnicos transformam nossa experiência com a obra ainda mais positiva.
Toda a edição e ritmo do episódio é frenética e nos dá a sensação de uma história melhor conduzida. Como se mais coisas estivessem acontecendo em tela, além de trabalhar melhor o senso de urgência dos acontecimentos.
A narrativa do episódio parece sempre fluida e coerente, além de que a ideia de reduzir a quantidade de episódio nessa temporada final se mostra logo de cara um grande acerto. Pois, como citado na matéria Ranking das temporadas de Fear the Walking Dead – da pior a melhor, mais até do que a série principal, Fear sofre muitos problemas de ritmo e por muitas vezes da a sensação de que a história não caminha, pelo fato da série (desde sua 3ª temporada) adotar esse formato de 16 episódios. Aqui nessa temporada final os produtores decidiram reduzir esse número de episódios para um total de 12, e que acerto maravilhoso, pois a trama ganha mais ritmo e muitas poucas quebras, além do senso de urgência para os acontecimentos que ficam ainda maiores.
O episódio conseguiu agradar em um ponto que Fear pouco consegue realizar com êxito, sua trilha sonora. A música de Fear sempre soa repetitiva e genérica, algo que a série principal por exemplo nunca falhou, pois a trilha de The Walking Dead é uma das melhores coisas de toda a série. Fear, pôr outro lado, sempre pareceu ter uma trilha sonora pouco inspirada e simplista demais, sendo poucos os episódios com uma música realmente memorável.
Mas aqui nesse episódio essa realidade tende a mudar muito, pois a trilha acaba sendo um dos maiores pontos positivos aqui. Seja na cena de introdução ou na música arrepiante da abertura, ou até mesmo quando a trilha é super eficiente em causar tensão nas cenas do pântano e da casa flutuante.
Também é valido mencionar a mudança na razão de aspecto de imagem da série. Fear e a série principal sempre usaram um formato de tela cheia, para cobrir todo o aspecto da imagem de uma TV, mas aqui houve uma mudança que reduz o formato da imagem e dando um ar mais cinematográfico para a temporada em si.
Todas essas melhorias técnicas e escritas dão para essa temporada um ar de esperança, a sensação de que essa série possa concluir com uma de suas melhores temporadas, tendo potencial até para ser a sua melhor. Esse primeiro episódio, apesar de conter defeitos, da essa sensação de esperança para termos próximos bons episódios ao decorrer da temporada. Além de demonstrar da produção um melhor cuidado e carinho com a obra, algo que ficou muito difícil de notar na temporada anterior.
WALKERS DO PÂNTANO
Uma das cenas mais emblemáticas do episódio, sem dúvidas, é todo o seguimento do pântano e os zumbis cercando a casa flutuante. Essa casa aonde Madison, Morgan e Mo usam como refúgio para os zumbis é sem dúvidas uma das mais legais do episódio. Todos os diálogos e momentos dessa cena são importantes para trabalhar a relação desses personagens e expor o que talvez tenha acontecido nesse meio tempo.
Após uma discussão entre o trio, Mo acaba disparando uma arma sem querer e isso atrai vários walkers ao redor do lugar. Toda a cena dos zumbis invadindo e aos poucos afundando a casa, chega a lembrar o filme “Tubarão” de 1975, passando a ideia do monstro que se aproxima e invade o local conforme o barco (casa) afunda. Esse seguimento nos trouxe ótimas cenas de ação para o episódio, que são bem dirigidas e editadas. Além de explorar todos os traumas dos personagens e o medo de Mo para com os mortos vivos.
A ambientação do pântano é também muito legal e, apesar de estarmos fardos de florestas e matagais em The Walking Dead, a ambientação do local não parece genérica e trás um ar legal para o episódio. Além de mostrar zumbis super bem feitos e decompostos por esse ambiente.
Todo esse seguimento de ação serve para resultar na reintrodução de Grace (Karen David), que assim como Morgan parece estar mudada pelo salto temporal e está um tanto quanto mais fria e violenta desde a última vez que a vimos em tela.
Infelizmente, ao fim desse episódio, temos a leve sensação de uma jornada perdida, pois Mo é levada de volta para PADRE e os personagens voltam exatamente para o ponto em que a temporada começou. Isso, aparentemente, pode ser um problema se os próximos episódios não trabalharem bem as consequências dos acontecimentos desse piloto de temporada, mas até aqui, serve para construir e explorar mais a relação desses personagens que serão fundamentais para a conclusão dessa série.
PADRE
Sem dúvidas, o final da 7ª temporada nos deixou curiosos com relação e esse novo grupo e comunidade. E esse começo de temporada explorou bem até como funciona toda a doutrina desse grupo e seus métodos de vida.
Mas PADRE não é uma ideia tão original assim em Fear the Walking Dead. A ideia dos personagens presos e separados por uma comunidade inteira e forçados a viverem uma vida que não querem já foi vista e explorada algumas vezes dentro da série. Como toda a 3ª temporada, aonde os personagens vivem dentro do Rancho da família Otto, e também nas comunidades de Virginia na 6ª temporada.
No final, essa ideia apresentada em PADRE é sim mais do mesmo, porém, ela é trabalhada e explorada de uma forma tão diferente e numa escala ainda maior, que faz parecer que o mais do mesmo seja algo novo e diferente. De inicio isso não é um problema, mas tudo vai depender do decorrer dessa temporada e como essa trama vai desenvolver e concluir, se essa trama será uma cópia de outras duas nas quais nós já vimos e que será apenas “mais e maior”, ou se ela vai se desenrolar de uma forma imprevisível e surpreendente deixando essa primeira impressão de lado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em resumo, Remember What They Took From You é um episódio bom, e uma estreia esperançosa para uma série que já estava morta.
Apesar de possuir alguns defeitos e coisas sem sentido, como o fato de Madison conseguir derrotar dois soldados com uma marretada na perna em apenas um golpe com toda aquela força, sendo que a personagem estava presa numa cela por sete anos sem ver a luz do sol e sem praticar exercícios físicos, ou também a facilidade com que ela e Mo tiveram para escapar da fortaleza de PADRE e ainda conseguirem roubar um barco. Fora o fato de Grace e Madison não terem quase nenhuma mudança em seus visuais e aparências dentro desses sete nos que se passaram.
Esses pequenos defeitos incomodam, mas não chegam a atrapalhar ou afetar o episódio, pois Fear sempre foi uma série que exigiu muita suspensão de descrença de seus telespectadores.
No final, o episódio é uma grande esperança e um bom início de temporada.
Fear the Walking Dead – S08E01: Remember What They Took From You
Nota: 7.4/10
Mas e o que você achou desse primeiro episódio, também está confiante com essa última temporada ou você já parou de acompanhar a série? Comente aqui em baixo suas opiniões e nos vemos até o próximo episódio.