Percorrendo a história da cultura e da sociedade como um todo, encontramos exemplos em que miscigenações inesperadas acontecem. Misturas entre religiosidade e ciência e até da cultura geral com seus respectivos movimentos de contracultura geram frutos fascinantes.
A cultura pop não é diferente em relação a isso. Os crossovers entre franquias de heróis encontrados nas páginas das histórias em quadrinhos e nos seriados de TV, por exemplo, têm um embasamento cultural, social e histórico que pode passar despercebido para os fãs.
Assim, é sempre enriquecedor saber mais sobre esses componentes que têm por trás uma complexa fundação. E é nesse contexto que encontramos a origem dos zumbis. De raízes africanas e haitianas, esses personagens têm uma trajetória ligada a aspectos culturais intensos das mencionadas localidades.
Da Mesopotâmia para a África e o Haiti
É possível ver alguns traços das histórias de zumbi já nos princípios da chamada história documentada. Na Mesopotâmia, por exemplo, mais especificamente no mito da descida de Inana ao Submundo, encontramos vestígios interessantes nesse sentido, pois a deusa passa por uma espécie de zumbificação, mas é posteriormente ressuscitada.
Entretanto, as origens do conceito de zumbi são provenientes de um país que não recebe muito destaque no âmbito internacional: o Haiti. A nação caribenha tem uma forte relação cultural com as magias necromânticas que levavam à ressurreição de mortos por intermédio de um bokor, feiticeiro ligado às práticas vodu e que seria uma espécie de “mestre” desta criatura. Encontram-se também relatos etimológicos relacionados à palavra “zumbi” na linguagem Kongo para descrever espíritos e outras entidades divinas.
Atualmente, o Kongo é uma das línguas oficiais em países da África central. Desses territórios, saíram escravos que ocuparam plantations da América do Sul e do Caribe – incluindo o Haiti, onde existia a crença de que a zumbificação era uma das poucas maneiras de se libertar da escravidão.
Crenças como essa costumam ficar limitadas ao campo religioso, caso da prática de vodu no território haitiano. No entanto, a trajetória dos zumbis conta com embasamento científico, haja vista a existência de histórias como a de Clairvius Narcisse, que alegou ter sido ressuscitado por um feiticeiro, e as longas listas de animais cujos hospedeiros os tratam como verdadeiros corpos sem controle de si.
Os zumbis de Romero
Os zumbis podem datar de séculos antes de Cristo, mas, em sua forma moderna, a criatura tem uma origem bem mais recente, com sua imagem tendo sido redefinida pela mente do diretor, roteirista e editor de cinema George A. Romero.
Romero foi o faz-tudo de “A noite dos mortos-vivos”, filme lançado em 1968 com o modesto orçamento de 114 mil dólares na época e que acabou se tornando um sucesso gigantesco ao arrecadar mais de 250 vezes o seu custo inicial. A história trata de uma invasão zumbi e da consequente batalha de um grupo na parte rural da Pensilvânia pela sua sobrevivência.
Os zumbis de Romero eram peculiares pelos seus atos canibalescos, pela facilidade do “contágio” e pela hiper-agressividade que demonstravam. Mesmo não sendo particularmente rápidos, sua força física na busca por carne humana fazia deles algo irrefreável inclusive perante armas de grande calibre. Por isso, a melhor maneira de lidar com eles era se isolar e torcer para que não dessem conta de sua presença.
O fã de The Walking Dead já deve ter percebido paralelos entre Romero e Robert Kirkman. De fato, Romero é uma das grandes inspirações do autor dos quadrinhos que viraram febre antes mesmo do seriado, como é o caso de tantos outros autores de obras deste gênero.
Dos filmes para os videogames
É graças a Romero que vemos os zumbis invadindo a cultura pop de maneira tão intensa. Um fato curioso a respeito da manifestação dos zumbis na cultura pop é relacionado ao cantor e também diretor de cinema Rob Zombie, cuja banda, o White Zombie, leva o nome de um filme de 1932 que serviu de influência para Romero. Entretanto, a influência dessas criaturas não para por aí. Os visuais e as histórias de zumbis também chegaram, por exemplo, ao mundo dos jogos, como se pode verificar em Lost Vegas, slot disponível no site da Betway, site de cassino online, que combina a cidade de Las Vegas com um apocalipse zumbi, e em jogos de videogame de sucesso gigantesco como Resident Evil, Dying Light e Left 4 Dead.
Estes últimos exemplos são casos especiais, pois até determinada época não havia grande comunicação entre frequentadores de cinema e jogadores de videogame na mídia generalizada. Enquanto filmes de zumbi passavam por altos e baixos no circuito cinematográfico, o gênero continuava bem forte no meio dos games. O carro-chefe deste fenômeno foi Resident Evil, produzido pela Capcom desde os anos 1990. Hoje, a série de jogos conta com sete jogos principais, 17 spin-offs e seis filmes baseados em seu universo.
É nessa linha que surge o suporte firme para que jogos como Dying Light e Left 4 Dead também alcancem suas marcas de sucesso neste mercado. E Kirkman e sua equipe não ignoraram isso, vendo o videogame como uma boa mídia para expandir o universo de The Walking Dead.
Ressuscitando o “point-and-click”
A Telltale Games, que lançou a série de jogos de The Walking Dead, começava a alcançar destaque no mercado a partir do fim da década de 2000 por meio de remakes de jogos clássicos de aventura “point-and-click”. Esse sucesso se transformou em jogos vindouros do mesmo gênero, baseados em grandes franquias como Parque dos dinossauros e De volta para o futuro.
A culminação veio justamente com The Walking Dead, que hoje é visto como maior responsável pelo renascimento do gênero de “point-and-click”, contando inicialmente a história de Lee Everett e Clementine na busca pela sobrevivência em meio a um apocalipse zumbi que se passa no universo da história em quadrinhos.
Tal série de jogos teve seu desfecho na quarta temporada, em 2018. Coincidentemente, a Telltale foi à falência no meio do lançamento dos episódios do jogo, mas foi “ressuscitada” logo após seu fim. As esperanças é de que o mesmo ocorra com o jogo. Uma segunda vida, como pode ser o caso de um verdadeiro zumbi.
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