Era tão perfeito que nem parecia real naquelas circunstâncias. Ela se pôs a pensar se algum dia voltariam a viver como antes. Para sairem do condominio Jefferson passou algumas instruções para todos, sendo a mais primordial delas que nunca se afastassem.
Todos se dirigiram até a sala devido ao grito agudo de Maitê. Ela estava pálida, boquiaberta. Apenas pronunciou as palavras “um vulto, eu vi um vulto”.
Jefferson pensou no pior; sabia que a qualquer momento aqueles zumbis malditos poderiam invadir a casa e causar uma catástrofe. Deu um ultimato para que todos terminassem de organizar o mais rápido possível seus pertences: mudas de roupa, mantimentos, água potável e o que mais julgassem necessário.
Enquanto Carolina separava em uma mochila algumas roupas se deparou com uma foto da família, a única do álbum que havia se salvado do acidente. Ela lembrava do dia em que aquela foto foi tirada. Era verão, Jefferson estava pela primeira vez de férias de seu novo emprego, o filho havia passado de ano…Era tão perfeito que nem parecia real naquelas circunstâncias. Ela se pôs a pensar se algum dia voltariam a viver como antes. Sempre julgava que sua vida era mediana, sem muitas emoções e alegrias, mas naquele momento percebeu o quanto valia um jantar em família, um abraço do filho que voltava do colégio, um oi torto do marido…
Ela sentou se na cama e começou a chorar. Algo dentro dela, talvez sua intuição, dizia que as coisas não voltariam a ser como antes. Lamentava cada sorriso não dado, cada palavra agressiva trocada, cada atitude ignorante. Mas chorar pelo leite derramado não resolveria a situação. Enxugou as lágrimas e voltou a arrumar a mochila, guardou alguns mantimentos, colocou algumas roupas e ergueu a cabeça. Precisava ser forte, lutar pela sua sobrevivência e a de sua família. Tinha que mostrar que não eram alguns zumbis trouxas que iriam tirar dela o que mais amava.
As irmãs não se decidiam pelo que levar, muitas coisas na casa tinham um grande valor sentimental. Mas sabiam que não poderiam levar tudo, então escolheram algumas fotografias e jóias, colocaram em uma mala e se dirigiram para a sala.
Jefferson passou algumas instruções para todos, sendo a mais primordial delas que nunca se afastassem. Acontecesse o que acontecesse não deveriam se separar. Pediu a todos que não se assustassem caso deparassem-se com alguma daquelas coisas; ele estaria a frente do grupo devidamente armado e se livraria da criatura. E por último orientou que caso alguma coisa acontecesse deveriam gritar, gritar muito alto.
– Provavelmente deve haver algum carro na garagem do prédio, eu sei fazer ume esquema para dar partida sem a chave, portanto isso não será um problema. Nós vamos dirigindo até nossa casa. certo? – perguntou ele para o grupo
Todos concordaram e saíram cautelosamente do apartamento.
[…]
O trajeto até a garagem foi tenso. Todos estavam assustados, com medo de que um zumbi surgisse da escuridão e atacasse. Cada passo era delicadamente dado para que não imprimisse barulho no corredor.
Maite estava tremendo. O seu pico de nervosismo foi no exato momento em que alguém do grupo pisou em uma lata de alumínio vazia provocando um barulho característico; segundos após um zumbi de aparência retrograda surgiu a frente deles. Ele os observou por um tempo e o grupo retribuiu um olhar cheio de pavor.
Jefferson empunhou sua faca e a pressionou contra a cabeça do zumbi várias vezes. Ele caiu debilitado no chão, fazendo barulhos estranhos.
Logo após esse contratempo eles chegaram a garagem. Como Jefferson presumia, haviam vários carros. Ele escolheu uma Zafira, pois era o veículo que aparentemente comportava mais pessoas. arrombou a porta com um grampo de cabelo que havia trazido consigo do apartamento e com um alicate começou a fazer o esquema para dar partida no carro sem a chave.
Enquanto corria contra o tempo, Henry avistou seis zumbis na outra extremidade da garagem. Ele segurou um profundo impulso de gritar; apenas cutucou sua mãe e apontou.
Carolina, porém não teve o mesmo auto controle e deu um grito horrorizado que atraiu a atenção dos zumbis quase que prontamente. Eles começaram a vir em direção a família e Henry pode perceber o que eles faziam agachados naquele canto: eles devoravam um cadáver.
Jefferson neste instante conseguiu dar a partida no carro. O ronco do motor deveria indicar que poderiam fugir dali com vida. Entretanto era tarde demais; os zumbis estavam perto demais, sedentos por aquelas pessoas que ali estavam, em pânico.
Luíza pegou seu machado e degolou dois deles que estavam se aproximando. Outros dois estavam chegando lentamente enquanto os outros ainda continuavam ao redor do cadáver. Jefferson olhou pelo retrovisor e percebendo a situação saiu do carro e introduziu sua faca no crânio de um deles; mas seu tiro saiu pelo culatra: a faca havia ficada presa no zumbi e outro deles se aproximava.
Sem armas para lutar o zumbi o derrubou no chão e Jefferson começou a se debater tentando se livrar daquela criatura nojenta. Foi nesse momento que apenas a cabeça da criatura permaneceu sobre ele. Luíza havia decapitado o maldito que desfaleceu instantaneamente.
Carolina foi até Jefferson para ajudar-lo a se levantar. Todos entraram no carro mas não perceberam que ele havia parado de funcionar. Jefferson fez de tudo para que voltasse a dar contato porém não havia mais jeito: os zumbis que até alguns momentos atrás estavam aglomerados ao redor do cadáver começavam a vir na direção deles. Henry saiu do carro e gritou:
– VAMOS CORRER! NÃO HÁ MAIS O QUE FAZER, VAMOS CORRER!!!
Todos saíram do carro e se entreolharam. Era uma decisão, poucos segundos para tomá-la… Mas Henry estava certo, não havia outra solução. Tentar chavear outro carro demoraria e não tinham tempo hábil para isso.
– Temos que correr!!! – Gritou Henry incentivando todos.
– Amor vamos sair daqui correndo!!! Somos mais rápido que aquelas coisas e estamos perto de nossa casa – falou Carolina
Todos começaram a correr. Chegaram ao portão do prédio e encontraram Carlos. Ele estava totalmente ensangüentado; Luiza pensou que ele era um zumbi e quase o matou, mas por sorte ele evitou o ato com algumas palavras:
– NÃO ME MATEM, CALMA! Eu irei explicar no caminho, vamos logo embora daqui que aquelas portas não irão segurar eles para sempre. – Advertiu
Havia um PEUGEOT 206 branco 4 portas esperando eles. O carro estava totalmente avariado e não tinha condições de fazer um trajeto muito maior que o até a casa deles. Todos se espremeram lá dentro e Carlos seguiu o trajeto guiado por Jefferson.
Carlos contou que na hora da queda caiu na varanda do sexto andar.
– Naquele apartamento havia um homem bondoso que me deu comida e me deixou passar a noite lá. Ao amanhecer eu iria até apartamento de vocês porem houve uma controvérsia: os zumbis já haviam entrado no condomínio. Então aquele senhor que acolheu-me disse que havia um carro no estacionamento e que eu poderia o utilizar para fugir. Quando ia avisar vocês fui bloqueado por uma horda deles no 8º andar e não pude me comunicar.
Quando eu estava descendo em direção ao estacionamento eu vi uma cena… que me chocou. O homem que havia sido tão solidário comigo, estava lá, morto. Daí eu não sabia mais o que fazer. Eu consegui trancar alguns deles no salão de festas mas não foi suficiente, eles apareciam cada vez mais, como se multiplicassem-se a cada minuto.
Todos ficaram em silêncio.
Depois de alguns minutos em um silêncio mórbido e desconfortável, Jefferson avisou que sua casa era na próxima esquina. Mas quando o carro entrou na rua, uma cena impressionante foi vista: todas as casas estavam chamas.
O pai de família entrou em desespero, sua última chance de refúgio seguro não existia mais.
Jeniffer, que estava apenas prestando atenção a tudo que acontecia sem falar nada, pediu para todos irem para sua casa. Jefferson explicou o caminho a Carlos.
Chegando à casa de Jeniffer, Carolina e ela saem do carro e vão em direção ao portão. Chamaram várias vezes e ninguém as atendeu.
– Minha mãe sempre deixava uma cópia da chave debaixo do tapete. – Falou Jeniffer.
Carolina olhou debaixo do tapete: Havia um bilhete
“Caxias do Sul está um caos e eu irei fugir para um abrigo. Dizem que lá tem comida, roupa segurança todos estão indo para lá. Espero que você tenha lido esse recado e que minha filha querida esteja bem!”
Att. Carla
–
Autor: Maiki Jean / @maikijean
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