O Governador das histórias em quadrinhos de The Walking Dead é bruto, um vilão mais ou menos parecido com um pirata. Mas, incorporado pelo ator britânico David Morrisey, este antagonista se transforma no suave e carismático arquiteto do paraíso pós-apocalíptico Woodbury. Morrisey tende sempre a interpretar personagens problemáticos e corruptíveis. É possível se ter noção disso em “Estado de Intriga” de David Yates, onde o ator interpreta o ambicioso político Stephen Collins. “Parece que esse é o meu negócio”, diz o ator, rindo. “Mas é uma comparação interessante. Stephen Collins se transformou por causa do poder, e agora é a vez do Governador”. Porém é apenas um desses personagens que, no entanto, mantém uma coleção de cabeças cortada usadas como troféus.
A Vulture falou com Morrisey durante as gravações do fim da terceira temporada do drama zumbi (espectadores terão de esperar até Fevereiro para ver os últimos oito episódios), e ele tentou nos fazer ver as coisas na perspectiva do Governador, mesmo depois do episódio de domingo.
Então você está no meio da gravação do último episódio.
Sim, é nossa última semana, então estamos na correria. Está todo mundo aqui hoje, está muito cheio.
Você parece ofegante.
Hoje é um dia cheio de ação. E emoção também, o que é muito desgastante. Mas é ótimo. Eu vou sentir muita falta disso tudo.
Eu li que você assinou um acordo de 5 anos, o que é bem normal para uma série regular. Mas como você está filmando o final – e presumindo-se que hoje você não está interpretando um zumbi – será que eu poderia ler mais algumas coisas sobre a duração do seu contrato?
[risos] Não, você não deveria.
Seu filho, um adolescente de 17 anos, é um grande fã da série The Walking Dead. Você já teve a chance de falar com ele sobre o último episódio?
Na Inglaterra o episódio passa uma semana depois, por isso ele ainda não viu o que acontece. Ele e os seus amigos não olham em nenhum blog ou algo do tipo sobre o que vai acontecer antes de verem o episódio. Ele é teimoso em relação a isso, e tem sido desde a primeira temporada. Meu filho gostou da forma como começou a terceira temporada, com os dois grupos separados. Não é mais apenas o grupo do Rick num acampamento ou na fazenda. Ele também ama as cabeças, a prisão, e até o fato de que Rick está ficando meio doido. Mas sim, é bastante interessante ouvir o que ele pensa sobre os episódios. O Governador certamente revela mais sobre ele mesmo na cena com Maggie. Eu senti que você poderia ver que o Governador estava fazendo aquilo tudo pela primeira vez.
Como assim? Eu não tenho certeza se entendi.
Ele não me parece com um interrogador ou um torturador. Ele é alguém que está andando por aquela sala e pensando “Como que eu vou fazer isso?”, “Como que eu vou fazer com que isso funcione?”, “Como que está mulher vai reagir as minhas perguntas?”. Ele passa a descobrir coisas sobre ele mesmo e até onde ele pode ir. É um novo mundo para ele, assim como é para todo o resto. Eu não o vejo como alguém que foi mal ou sádico no seu passado. O que aconteceu é que ele construiu uma comunidade bastante fechada e que o deixou bastante orgulhoso. E ele tem uma razão para isso: sua filha. Tudo que ele quer é protegê-la.
Fechada, claro, mas as cabeças parecem ser coisas das quais ele sente bastante orgulho.
Eu não acho que as cabeças não sejam troféus. Esse homem está tentando se livrar dos sentimentos deste mundo terrível em que ele se encontra. Ele luta contra isso. Muitos soldados com quem eu conversei me disseram sobre essa técnica, demonizar o inimigo, para que dessa forma fique mais fácil ir a combate. É maluquice, mas eu não acho que isso seja algo perverso da sua parte.
Você deve simpatizar com o jeito meio assassino dele mais que as outras pessoas.
Eu acho que ele tem uma consciência, mesmo que ele seja um homem perturbado. Realmente acho. Você pode ver quando ele estava com a Penny, ou com a Andrea.
Os atores estão com ciúmes de você e Laurie Holden? Afinal, estão sem problemas com zumbis por tanto tempo.
Andrew é um cara bem lívido. Ele nos chama de 90210. Todo o pessoal da prisão parece meio irritado, mas eu apenas digo: “Venham para Woodbury, amigos.” Glen também poderia andar por ai com um confortável roupão, assim como você faz. Lógico! Lá tem roupões, shows com gladiadores, médicos… Eu tenho que me vestir bem enquanto o resto do mundo está como se estivesse voltando de Woodstock.
Quando a Sarah Silverman foi convidada do Talking Dead algumas semanas atrás, ela falou que sempre amou The Walking Dead mas que odiava todos os personagens, até o Governador aparecer.
Eu não tinha visto isso, mas é brilhante! [Risos]. Ela tá certa! Eu esbarrei com ela outro dia no supermercado e ela me disse “Eu amo odiá-lo”. Eu gosto disso no Governador.
E que outro tipo de retorno você teve dos fãs? Assim como Michonne, o Governador é um personagem icônico dos quadrinhos.
Eu tenho Twitter e recebo várias mensagens de lá. E todas são sempre positivas, até mesmo as negativas, que basicamente dizem “Eu odeio a sua coragem”. Bom, eu vejo isso como algo positivo.
Você gosta de investigar sobre o personagem que vai interpretar. Como foi sua preparação para fazer o Governador?
Eu li um pouco sobre cultos e líderes de cultos. Li também sobre corrupção. As 48 Leis do Poder foi bastante interessante. A Peste Negra e a Transformação do Oeste também foi uma série maravilhosa que li, sobre a praga que foi a Peste Negra na Europa no século XIII, e como as pessoas nas cidades e vilas se protegiam dela. Ah, tinha também As Coisas Que Eles Carregaram, que era sobre um homem, um bom homem, que tenta carregar consigo as coisas que ele tinha feito na guerra. Esse foi um livro extremamente importante pra mim, pois pude ver como as pessoas se transformam. Eu li 1984 pensando em como uma pessoa poderia ser capaz de manipular muitas outras. Eu acho que o Governador tem meio que um controle sobre a mente de sua população… É, eu li muitas coisas.
Esse As Coisas Que Eles Carregaram foi um livro recomendado para essa temporada? Parece que Glen Mazzara também o recomendou para Danai Gurira.
Sim, e nós trouxemos o livro pra série. Há uma cena em que Michonne entra na casa do Governador e vê o livro lá. Parece que o Governador o leu também.
Você teve de treinar o sotaque do Sul?
Eu treinei com a treinadora do Andrew, Jessica Drake. Ainda faço isso, antes de cada gravação. Quando o roteiro vem, ficamos treinando pelo Skype.
Parece que o Governador e o Rick vão se encontrar no último episódio deste ano. Seria legal ouvir o Governador dizer “Cortem a cabeça dele!”
[Risos]. Bem, isso não é apenas entre Rick e o Governador. Há várias relações dentro das duas comunidades que vão explodir e implodir no próximo episódio. Eles encaram isso de uma maneira surpreendente.
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Fonte: Vulture
Tradução: Fernando Fernandez / Staff Walking Dead Brasil
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