O versátil ator David Morrissey, nascido em Liverpool, tem feito papeis desde o primeiro ministro Gordon Brown, no filme de TV “The Deal” de Stephen Frears, o Duque de Norfolk em “A Outra” até objeto/vítima dos carinhos de Sharon Stone em “Instinto Selvagem 2”. Mas é para policiais que ele parece ter uma afinidade particular, interpretando bons tiras, maus e com sentimento de culpa em várias séries britânicas, além da trilogia “Red Riding”. O personagem de Tom Thorne, quem interpretou em duas de três partes da minissérie, “Thorne: Sleepyhead” em 12 de junho e “Thorne: Scaredy Cat” em 13 de junho (ambas reprisadas, começando às 21h), é algo único, um detetive que ocasionalmente está na iminência de ser levado aos seus casos.
Investigando primeiro um criminoso sádico cujo objetivo é levar suas vítimas à Síndrome do Encarceramento (como Jean-Dominique Bauby, protagonista de “The Diving Bell and the Butterfly”) em “Sleepyhead” e depois uma dupla de serial killers que podem estar trabalhando em conjunto em “Scaredy Cat”, Thorne entrega-se ao seu trabalho de uma forma quase tão perturbadora quanto os crimes que ele está tentando solucionar. Morrissey é bem adequado para o personagem – ele divide a tela com talentos que incluem Eddie Marsan, Aidan Gillen, Natascha McElhone e Sandra Oh – e nós não somos os únicos que achamos isso, como veremos abaixo.
O ator também está prestes a se tornar bem mais familiar à TV americana e sua audiência – foi anunciado em fevereiro que ele será o infame Governador na nova temporada de The Walking Dead, um vilão muito mais perigoso que os zumbis que os personagens terão de enfrentar. A Indiewire entrou em contato com Morrissey pelo telefone pouco antes de ele começar a trabalhar na série da AMC. Confira:
Você não é apenas a estrela da série “Thorne”, mas você também é produtor. Como foi o processo de produção de “Sleepyhead” e “Scaredy Cat”?
Eu estava fazendo um filme na Nova Zelândia chamado “The Water Horse”, que foi repleto de fundo verde. Para um ator, isso pode significar que você tem bastante tempo disponível, então eu corri para as livrarias. Um dos livros que peguei era “Sleepyhead”, de Mark Billingham. Eu realmente gostei. Eu pesquisei sobre ele e achei uma entrevista que ele fez, em que disse, “se um dos livros for para a TV, eu não consigo imaginar ninguém melhor que David Morrissey para interpretar Tom Thorne”. Eu pensei, “bem, isso é divertido”. Entrei em contato com ele e quando voltei ao Reino Unido eu comprei os direitos do romance. A Sky juntou-se a nós e eles deram bastante apoio, e nós fizemos a série.
O que lhe chamou mais atenção no personagem de Thorne?
Num livro em particular, foi a ideia de um homem casado com seu emprego, que somente está vivo enquanto trabalha – ele não tem outra vida, sério. E ele reconhece que isso não é uma situação saudável, mas ele está levemente preso. Um caso aparece, uma garota foi deliberadamente colocada em estado comatoso por um assassino que quer congelar as pessoas. É um crime terrível para qualquer um, mas para Thorne há uma ressonância, se torna uma cruzada pessoal para ele. Essa conexão com a vítima era algo que eu nunca tinha visto ter sido tratado antes. Eu adoro o fato de que Thorne tem uma empatia maciça por certas vítimas – na segunda série, “Scaredy Cat”, é um menino que vê sua mãe ser assassinada.
Eu leio muito e eu leio pensando “será que isso faria um filme? Será que esse seria um bom personagem?” Eu sei que um livro é bom quando estas perguntas param de martelar minha cabeça, quando eu simplesmente me envolvo na história. Com “Sleepyhead” foi absolutamente assim – eu apenas me rendi ao fato de que era uma ótima história. Foi depois que comecei a pensar em como botar na tela.
Além de ser romancista, Mark Billingham também trabalhou como ator e tem escrito para televisão. Isso facilitou a adaptação dos livros?
Ele foi bem responsável. Sua esposa é diretora de TV, então ele está bastante envolvido nesse mundo. Houve algumas coisas na caracterização e na história que ele queria manter, e nove vezes de dez eram coisas que eu queria manter também. O legal foi que ele reconheceu que se você envolve roteiristas, você tem que ser capaz de dar a eles licença para ir e descobrir por eles mesmos, e ele fez isso. Então Stephen Hopkins veio para dirigir o programa. Ele tinha feito “24 Horas” e “Californication”, e eu havia trabalhado com ele antes em um filme chamado “A Colheita do Mal”, que filmamos em Louisiana. Ele é um diretor maravilhoso e veio e adicionou o outro elemento – o ótimo ritmo, o visual e o design.
Numa entrevista que você fez para o “Telegraph”, você mencionou que você queria que “Thorne” fosse mais como séries americanas – o que você quis dizer?
Eu gosto da TV americana, apesar do que está na TV ter uma qualidade cinematográfica, um bom ritmo. Precisa-se de um orçamento para ser capaz de fazer isso, e às vezes na Inglaterra não temos esse orçamento. Nós fazemos muito da exposição e contamos as histórias numa sala [risos] ou num ônibus ou sei lá.
Eu também sabia que precisava que Londres fosse uma das maiores características da história, e que nós tínhamos de ser capazes de sair e filmar em Londres num jeito que as pessoas possivelmente não viram antes. Você está acostumado à “ideia turista” de Londres, de ônibus vermelhos atravessando as pontes. Eu queria mostrar às pessoas como Londres é. É uma cidade incrível e contraditória, e eu acho que Stephen conseguiu isso. Eu vejo programas que são em Nova York, eles usam a cidade de um jeito que eu queria fazer com Londres.
O que diferencia Thorne dos outros detetives que você interpretou?
Nós vimos muitos tiras dissidentes, mas Thorne tem uma ideia de si mesmo e de seu trabalho. Ele tem um buraco dentro de si que ele está desesperado para preencher, e só é preenchido quando ele trabalha. Ele está desesperado por relações pessoais, mas não consegue alcançar isso e ele não consegue formá-los, pois tem sido danificado pelo trabalho que faz. As coisas que ele vê em seu cotidiano não pode compartilhar com ninguém e não quer fazer isso – ele não quer manchar nada bom. E esse é um péssimo lugar para estar. E também, se você não tomar cuidado, é um lugar extremamente egoísta para estar.
Você falou sobre a terceira série de “Thorne” sendo planejada – isso ainda parece ser uma possibilidade?
Nós estávamos prontos para ir e então algo aconteceu, então outras pessoas tiveram seus calendários preenchidos. Estamos esperando que no próximo ano haja tempo e espaço para podermos nos reunir. Nós temos um script. Nós só precisamos que todos fiquem obcecados com seus trabalhos o bastante para dizer não para suas famílias e fazer outra. [risos]
Você está prestes a interpreter um significante e já infame personagem em “The Walking Dead” – você era um fã do programa antes?
Eu vim como um fã – conheço o Andrew Lincoln [que interpreta Rick Grimes] há muito tempo. Ele é um bom amigo meu. Eu adoro a série, e estou muito empolgado de estar participando – quando me encontrei com eles para isso, nem podia acreditar que estava na mesma sala que aqueles caras. Há muito para eu descobrir. É quando tudo que é criativo começa e começaremos a trabalhar para tirar esse cara do papel e colocá-lo na tela. Como todos os personagens que interpretei, eu tenho uma ideia meio Jackson Pollock no momento que está tudo por aí e eu preciso formular isso de algum jeito. Estou muito ansioso para isso.
Tendo trabalhado em televisão e filmes e dirigido um longa-metragem por conta própria de 2009, “Don’t Worry About Me”, você tem preferência por algum desses meios?
Os grandes filmes agora parecem cada vez menos interessados na história. Eles parecem estar interessados na franquia, na verdade. Nos últimos cinco, seis, sete anos, a televisão tem sido o lugar onde estão grandes histórias e personagens. O público tem começado a se apaixonar pelos boxes e se envolvem nas histórias. Eu aplaudo isso – acho que é maravilhoso. Mostra que o público está recebendo projetos a longo prazo, que eles querem estar com os personagens e nos mundos por um bom tempo. Então, mudou, mas eu gosto de trabalhar na televisão no momento – e também em teatro. Para qualquer ator, eu acho que a resposta é que gostamos de diferentes meios. O denominador em comum que eles querem é contar grande histórias com bons personagens.
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Fonte: Indiewire
Tradução: Carla Mattos / Staff WalkingDeadBr
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