Enquanto o personagem é uma presença sinistra com um tapa-olho preto e um aquário cheio de cabeças de zumbi, Morrissey na vida real é animado e falante ao conversar, na chuvosa Londres, onde é sua casa.
No episódio da semana passada, “Arrow on the Doorpost”, o Governador finalmente sentou para conversar com seu arqui-inimigo, Rick, interpretado por Andrew Lincoln. Apesar de ter havido uma tentativa de chegarem a alguma espécie de paz, é evidente que essa guerra é inevitável, com a série chegando ao seu final em três episódios.
Você esteve com Andrew Lincoln para ensaiar a cena do grande confronto entre vocês em “Arrow on the Doorpost”?
Nós não ensaiamos, não. O que é interessante sobre TWD é que eu cheguei ao elenco como um fã e eu conheço Andrew há um bom tempo. Eu não o via há muito tempo porque nossos personagens nunca contracenam. Então quando nós chegamos a este episódio onde foi a primeira vez em que contracenávamos, nós não nos falamos ou sentamos para tomar um café. Nós mantivemos distância enquanto estávamos filmando. O que foi bom. Acho que precisávamos fazer isso. Nós guardamos nosso próprio espaço. Então nós tentamos ver o que acontecia naquela cena. A questão em cenas como essa é que o tempo não está ao seu lado. Não é como fazer uma peça ou um filme onde você tem algumas semanas para falar sobre isso e decidir como vai ser. Estávamos fazendo escolhas, não rapidamente ou amplamente, nós dois pensamos sobre nossos personagens e o que queríamos fazer. Mas houve muito pouca discussão sobre a cena. Nós estávamos apenas reagindo um ao outro.
A imagem do faroeste ficou bem clara neste episódio. Rick é o xerife e você é o homem de preto.
Há uma sensação de faroeste com armas nos quadris nesse mundo. Quando eu dirijo por lá, eu acho que se de repente houvesse uma crise de gasolina, nós estaríamos andando a cavalo. Há uma sensação de faroeste já na cultura. Carl usa uma espécie de chapéu de cowboy. O armazém de cereais. O uísque. Eu sempre acho que quando você vê Daryl em sua moto, ele poderia estar andando na cidade em um cavalo. Não estamos longe desse gênero.
O que você tem feito com seu tempo livre?
No começo eu estava bem, mas agora estou um pouco inquieto. Quero voltar a trabalhar, de verdade. No começo eu cheguei em casa e deitava na cama por um mês, cochilando. Depois tivemos toda aquela coisa de promover o show. Foi ótimo. Agora, a segunda metade da temporada está na TV e eu já estou cansado de estar de férias. Eu quero voltar a trabalhar.
Então você já viu todos os scripts novos?
Eu não posso dizer se vou voltar para a série. Isso é outra coisa. Eu digo que estou pronto para voltar ao trabalho, mas qualquer trabalho, na verdade. Eu não posso dizer se estou na quarta temporada ou não. Você vai ter que esperar até o final do episódio 16 para ver se eu sobrevivo à terceira temporada.
É sempre uma situação complicada ao promover uma série como essa, e falar dela livremente sem revelar nada.
Eu sei. E você se sente terrivelmente rude. Mas os fãs são interessantes, porque os fãs não querem saber. Eles se aproximam de você e eles falam, mas quando você começa a falar sobre a série eles dizem, “Não me diga o que acontece, não me diga o que acontece!” Acho que isso que é interessante na série e na televisão em geral agora; as pessoas querem o evento ao vivo. Elas querem poder sentar lá e vê-lo na noite de domingo e saber que todo mundo está assistindo ao mesmo tempo e tendo uma experiência parecida. Eu acho que “The Walking Dead” é um excelente exemplo disso. As pessoas o vivenciam todas ao mesmo tempo. É fantástico.
Alguma vez você já deu bobeira com os fãs e acabou dizendo demais?
Um pouco, sim. Mas eles têm sido bons em me corrigir, às vezes. Eu falho, às vezes porque o programa vai ao ar nos Estados Unidos na noite de domingo, mas não vai ao ar no Reino Unido até sexta-feira. Às vezes isso pode ser um pouco complicado, saber quem viu o quê.
Esta é a primeira vez que você experimenta todo esse fenômeno de spoilers e segredos?
Eu tive muito disso com “Doctor Who”. O que aconteceu em “Doctor Who”: eu filmei o especial de Natal; nós filmamos em fevereiro. Chamou-se “The Next Doctor” e eu interpretei o Next Doctor. Interpretei um homem que acreditava que ele era o Doctor Who. Nós filmamos, foi ótimo, foi um episódio ótimo de se filmar. Mas no final das filmagens, David Tennant anunciou que ía parar de ser Doctor Who. E Russell T. Davies, que relançou o “Doctor Who”, veio a mim e disse: “Você se importaria se deixarmos vazar que o próximo Doctor Who será você, mas você vai estar saindo no especial de Natal?” Eu disse que estava ótimo. Ele disse: “Não diga a ninguém.” Eu disse que eu posso dizer aos meus filhos, com certeza. Ele disse: “Não, você não pode contar a ninguém. Eles vão contar a outras pessoas.” Por bons nove meses as pessoas perguntavam: “Seu pai vai ser o Doctor Who”. E eles vinham a mim: “O quê? O quê? Pai, você vai ser o Doctor Who?” Eu não poderia nem contar a eles. Foi muito estranho. Finalmente estávamos sentados no dia de Natal, assistindo ao especial e eles viraram para mim e disseram: “Você não é o próximo Doctor Who, é?” E eu disse: “Eu nunca disse que eu era!” Isso foi como um assassinato.
Você recompensou para seu filho estando em “The Walking Dead”.
“The Walking Dead” e “Breaking Bad” são os seus dois programas favoritos. E “Dexter”. Ele é um grande fã de “Dexter”. Então eu estava em Los Angeles e liguei para ele e disse que tinha uma entrevista no dia seguinte para “The Walking Dead”. E ele disse: “O quê? O quê?” Então, quando eu lhe disse que eu estava no elenco, ele ficou nas nuvens. Mas ele é capaz de me separar da pessoa que eu interpreto. Ele sempre foi capaz de fazer isso. Eu não acho que ele acredita que a qualquer momento eu vou colocar um tapa-olho e ter várias cabeças de zumbis em um aquário. Sua geração é interessante, porque eles veem televisão como eu costumava ouvir álbuns. Eles assistem de novo e de novo e de novo e citam uns para os outros e então isso se torna parte de sua língua. É como eu costumava ouvir álbuns. Eu pegava um álbum e colocava para tocar infinitamente até que ele fizesse parte da minha conversa com todo mundo. É o que acontece com a televisão hoje. Eu acho que é ótimo para a indústria.
Glen Mazzara disse que o Governador se vê como um jogador em um palco maior. Como é que o Governador se vê? E isso difere da forma como você o vê?
Eu acho que o Governador está sendo o próprio Governador. Eu li os livros “A Ascensão do Governador” e “O Caminho para Woodbury” e eu queria que os escritores explorassem esse lado do personagem. Woodbury é uma história de sucesso. As pessoas podem deixar a sua porta aberta. Neste mundo isso é uma vantagem e um privilégio inéditos. Isso alimenta o seu ego. Nós todos sabemos que o poder pode ter uma influência corruptora sobre as pessoas. Há uma sensação durante a terceira temporada que o Governador poderia ter escorregado para o lado do bem, se ele quisesse. Ele poderia ser bom. Coisas aconteceram e ele ouviu o lado mais sombrio de si mesmo, certamente, quando sua filha é tirada dele de forma tão brutal. E sua filha era sua humanidade. Ela encarnava sua humanidade. Ela era sua fuga para o passado. Ela estava cheia de lembranças felizes. Ela era o melhor dele. Uma vez que ela é tirada dele de forma cruel e brutal na frente de seus olhos, isso é o que o torna uma pessoa mais sombria e brutal, que busca vingança. Eu acho que precisaria ser uma pessoa maravilhosa, humana, uma pessoa tocada pela grande humanidade, para não sentir indignação e querer vingança numa situação dessas. É preciso uma pessoa especial para ver seu filho morrer assim, e o Governador não é essa pessoa. Isso o leva psicoticamente a outro lugar. Realmente o faz reconectar-se. Se você avaliasse essa situação no divã de um psiquiatra, ele se tornou uma pessoa vingativa. É um mundo brutal e ele está brutalizando as pessoas ao seu redor. Eu acho que você pode ver a diferença entre ele e Rick na segunda temporada. Rick passou a maior parte da segunda temporada debatendo se deveria matar alguém. Você chega ao início da terceira temporada, ele entra naquela prisão e logo mata alguém. Ele também tem sido brutalizado por este mundo. É assim que eu vejo o Governador. Ele é uma vítima do seu tempo, em vez de uma pessoa intrinsecamente ruim.
Enquanto criava o papel, eu li que você se inspirou em Bill Clinton?
Clinton foi uma coisa de sotaque. Eu o ouvi. Eu olhei para uma porção de líderes americanos: Bush, Reagan. Eu olhei para Tony Blair, Gordon Brown. Eu interpretei Gordon Brown. Liderança é uma coisa muito interessante de se pesquisar para mim. A máquina política e como ela funciona e como ela corrompe as pessoas. E também líderes em cultos. Olhando para como as pessoas trabalhavam e lideravam pequenas comunidades. Eu li coisas como o livro de Tim O’Brien “The Things They Carried”. Ele escreveu sobre o Vietnã. Tim O’Brien é um homem bom, cheio de humanidade, mas ele fez coisas terríveis naquele mundo, coisas que ele tem que se lembrar quando ele olha para os olhos de seus filhos. Esse tipo de complexidade é sobre gente boa fazendo coisas ruins. Ninguém é de todo bom e ninguém é de todo ruim. Você tem que olhar para as motivações das pessoas. Eu olhei para a grande praga nos anos 1300’s e como as comunidades foram destruídas e devastadas por esta praga e pelo medo. É tudo conduzido pelo medo e o Governador é muito bom em manipular a sua população pelo medo e pela ideia do medo. Eles estão vindo atrás da gente e eu sou o cara que pode te salvar. Você não precisa ir longe para encontrar pessoas dizendo esta mensagem o tempo todo.
Ouvi dizer que você cria uma playlist para os personagens que você interpreta. O que está na sua playlist para o Governador?
Há uma banda chamada 16 Horsepower. The Cave Singers. Há algumas do Stones. Há um grande cara chamado Terry Reid. Terry ia ser Robert Plant quando o Zeppelin estava procurando um cantor, ele ia ser o cara. Mas então ele se ausentou e eles pegaram o Plant. Ele tem uma grande voz de rock britânico. Minhas bandas favoritas são o Small Faces e o Faces. Os dois estão lá. Rod Stewart quando ele está com o Faces e quando ele está sozinho. Há um grande cara chamado Bonnie Prince Billy.
É a emoção do som que chama sua atenção ou há alguma razão intelectual por que você escolheu essas músicas?
Depende. Com “The Walking Dead” é uma fita de relaxamento que me mantém no personagem. Quando você está em um set de filmagem, todo mundo tem trabalho a fazer e, por vezes, é uma atmosfera muito barulhenta, mas você não pode sair de seu trailer, você tem que estar lá. Então é uma maneira de me isolar enquanto todo aquele trabalho está acontecendo ao meu redor. E então as pessoas podem acenar para mim quando for a minha vez. É para me manter no lugar que eu quero estar. Às vezes eu trabalho com uma playlist que seria a playlist favorita do personagem, então não é para que eu entre em um estado de espírito, é para o personagem. Eu fiz playlists das músicas mais horríveis e me torturei ao ouvi-las, mas isso me coloca no lugar que eu preciso estar. Eu também uso fotografias para criar um quadro de estado de espírito de imagens que ajudam a criar o personagem. Eles são muito do tipo colagem. O cronograma que nós trabalhamos é tão rápido e furioso que às vezes eu preciso de uma música ou imagens que apontem para uma maneira diferente de pensar ou me levem para o estado de espírito que eu preciso.
Quais são as imagens do Governador?
Muito tristes. Há um fotógrafo de guerra britânico chamado Don McCullin . Ele é um incrível fotógrafo de guerra, ele esteve no Vietnã. E algumas dessas imagens icônicas do Vietnã e do Iraque são dele. Eu usei essas. Há algumas poucas imagens apocalípticas. Eu também usei boas imagens da vida da família americana, de como a vida [do Governador] era antes. Penny, e sua esposa, e do tipo de trabalho que ele teria, o tipo de carro que ele iria dirigir. Coisas que eu vi na Geórgia o tempo todo. Ele era um homem feliz, casado, que tinha um trabalho de renda média, e ele estava indo bem. Portanto, é importante para mim obter imagens dessa vida também. E então o lado mais sombrio. Destruição. O inferno na terra.
O que você achou de trabalhar na Geórgia?
Eu me senti imediatamente em casa. A forma como as pessoas interagiam comigo na rua ou nos cafés foi muito simpática. Era uma atmosfera muito falante, aberta. Particularmente em Senoia, onde estamos filmando. Mas depois fui para Savannah e Charleston, que são belos lugares para visitar. Arquitetonicamente muito interessante. É a velha América, um tipo diferente de mundo. Savannah é incrível com as praças da cidade e o musgo pendurado e as casas coloniais francesas. É brutalmente romântico. Então eu fui para Graceland. Era uma ambição enorme minha desde que eu era criança.
Foi uma experiência religiosa?
Eu não iria tão longe, mas eu comprei algumas camisas de Elvis que meus filhos me fizeram jurar que eu nunca vou usar em público. Fui a uma loja de presentes e gastei uma fortuna. Vou dizer só isso. Eu não comprei o terno todo em couro do Elvis, embora eu quase tenha comprado. Comprei algumas camisas havaianas e um par de jaquetas. É possível que você os veja um dia.
Como um fã de horror, há algum trabalho em particular que seja inesquecível para você?
Sim, “The Wicker Man” é ótimo. É um colapso psicológico muito diferente. Não é um filme de terror onde Drácula está saindo do seu caixão ou o monstro de Frankenstein. É muito mais a história de um homem profundamente religioso, um homem de autoridade, um policial, e como ele acaba em um lugar pagão e como ele encontra essa comunidade. É um grande filme. Lembro-me de vê-lo tarde da noite, quando criança e de ter um efeito perturbador sobre mim. Recentemente seria o filme que eu vi de novo este ano, o “Berberian Sound Studio”. É um trabalho de gênio. É sobre um editor de som que vai trabalhar na Itália na década de 70 em um filme de terror e isso está tendo um efeito profundamente perturbador sobre ele. É um ótimo drama psicológico. Filmes como “Inverno de Sangue em Veneza” é o tipo de terror que eu acho brilhante. Afeta até o âmago do seu ser.
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Fonte: LA Times
Tradução: Nat Price / Staff Walking Dead Brasil
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