Danai Gurira não somente estrela a bem-sucedida série The Walking Dead, ela também é uma dramaturga vencedora do Obie Award. (Jay L. Clendenin / Los Angeles Times)
Danai Gurira lança um olhar ao redor da sala de jantar de um luxuoso restaurante de Century City, e com um sorriso amplo, inclinou-se para fazer uma confissão.
“Parece que estou em ‘Entourage’.”, ela disse.
Se Gurira estivesse estrelando a saga de hipsters de dentro de Hollywood que existe há anos na HBO, ela teria sua escolha de papeis intrigantes. Ela poderia representar a aclamada dramaturga com um Obie, um jovem talento cujo trabalho – inspirado em parte por sua infância vivida no Zimbábue – se centra majoritariamente na experiência das mulheres africanas. Ou ela poderia interpretar a nova estrela mais brilhante da série dramática de maior audiência da TV a cabo.
Gurira está no auge do processo de se transformar em uma estrela como a cautelosa e sábia Michonne, na série The Walking Dead, que está em sua terceira temporada. A personagem é amada pelos leitores dos quadrinhos de Robert Kirkman que originaram a bem-sucedida série, onde ela é uma guerreira corajosa que mata zumbis com sua katana.
Michonne adentra na vida narrativa de The Walking Dead em um ponto no qual a maior ameaça dos sobreviventes do apocalipse zumbi vem de outros seres humanos, e não dos mortos-vivos famintos. E se alguém tiver dúvidas sobre o ambiente brutal e letal do seriado, o episódio de domingo, no qual dois membros do elenco foram mortos de uma maneira de partir o coração, deve sanar essas dúvidas.
“Ela não é uma garota comum.”, Gurira disse sobre Michonne. “Ela assusta os homens – eles não sabem o que esperar dela. Eles reconhece que ela poderia matá-los e estão certos. Ela não teme sua raiva e não se importa em deixá-los desconfortáveis.”
A peça que Gurira coescreveu e estrelou com Nikkole Salter, “In the Continuum”, sobre um período de 48 na vida de duas mulheres negras portadoras do HIV, fez com que ela recebesse numerosos elogios, incluindo um Obie em 2006. Sua próxima peça, “Eclipsed”, levou-a a Serra Leoa e Libéria para pesquisar o impacto que a última guerra civil da nação teve nas mulheres que viviam lá. Sua mais recente, “The Convert”, também é uma história ambientada na África, um drama histórico na Rodésia (atualmente Zimbábue) na década de 1980 que recorre à Igreja Católica para escapar de um casamento arranjado.
A mais jovem de quarto filhos nascidos do relacionamento entre dois acadêmicos no Zimbábue – seu pai é um professor de química, sua mãe, bibliotecária universitária – Gurira passou os primeiros anos de sua vida na pequena cidade universitária de Grinnel, Iowa, até que a família se mudou de volta para a África quando ela tinha 5 anos.
Ela descreve sua infância e sua adolescência como idílicos, e Gurira diz que foi feita para atuar desde cedo: “Meus irmãos dizem que eu costumava andar por aí no quintal imitando Alexis Colby [da série ‘Dynasty’], e que eles pensavam, ‘ou ela é louca, ou será atriz’.”
Após o ensino médio, Gurira voltou para os EUA, onde estudou em Macalester, uma pequena faculdade liberal de artes em Minnesota, e então se mudou para Nova York onde lutou por sua assistência financeira e por sua carreira dual. Uma perseguição criativa alimenta a outra, Gurira diz.
“Eu adoro escrever para outros atores, mulheres de descendência africana e pessoas que geralmente não são representadas.”, ela falou. “Eu adoro ver isso no palco, ser capaz de intervir e ver uma atriz que eu sei que tem grandes habilidades mas nunca pôde mostrá-las antes, vê-la ter uma oportunidade de fazer isso… Ao mesmo tempo, como atriz, adoro o gato de que posso representar a visão de outras pessoas.”
No caso de The Walking Dead, Gurira está representando uma visão que é quase venerada pelos fãs de Kirkman, e pelo próprio Kirkman, os quais foram selvagemente protetores. Nos quadrinhos, Michonne era uma advogada e mãe de duas filhas que se reinventou após a queda da civilização como uma nômade solitária e letal, acompanhada por dois zumbis pets sem braços e sem mandíbulas.
“Nós sentimentos que ela não só era resistente e que você acreditaria nela segurando uma espada, mas que havia alguma vulnerabilidade por trás do exterior árduo, que havia uma humanidade que era importante para essa personagem.”, o showrunner Glen Mazzara afirmou sobre Gurira no início do ano, em uma entrevista na Georgia, no set da série.
Gurira aponta que a encarnação da personagem na série televisiva não chegou formada totalmente como uma heroína quase invencível. Antes, Michonne “passa por uma transformação” nessa temporada – sua amizade com Andrea (Laurie Holden) a leva até a cidade de Woodbury, uma pequena vila sulista sob o controle de um homem implacável conhecido como O Governador (interpretado pelo ator britânico David Morrissey).
Na storyline dos quadrinhos de Kirkman, o Governador estupra e tortura Michonne, e enquanto Gurira não comenta sobre que destino poderá recair sobre sua Michonne na tela, ela elogiou Kirkman por registrar aquilo que chamou “a história de tantas, tantas mulheres no mundo atualmente.” É um assunto que ela estudou em primeira mão enquanto pesquisava “Eclipsed”.
“O que é ótimo sobre o fato de Robert ter escrito é que ele está contando a história da experiência das mulheres na guerra.”, Gurira afirmou. “Isso é real. É isso que é usado para acabar com as mulheres. Nós precisamos que isso seja trazido para nossa consciência, entende? Dito isso, eu não posso revelar o que acontecerá na série.”
A forte conexão de Gurira com sua herança africana levou-a, no ano passado, a co-fundar a Almasi, uma organização devotada ao desenvolvimento das artes dramáticas no Zimbábue. Ela viaja para o país pelo menos uma vez por ano, embora quando terminarem as gravações de The Walking Dead, ela diz que irá para Los Angeles, onde está planejando se estabelecer temporariamente.
Ela também direcionará sua atenção para a escrita – peças e um tratamento para uma minissérie televisiva, entre outros projetos. Gurira acabou de ganhar o Whiting Writers’ Award, uma honra dada a 10 estrelas a cada ano, por “The Convert”. No The Times, mais cedo nesse ano, a crítica Margaret Gray descreveu a produção montada no Culver City’s Kirk Douglas Theatre como uma “exigência intensa, angustiante e lisonjeira.”
“Você para mulheres como Lena Dunham, você olha para como as mulheres estão construindo seus próprios espaços na tela.”, Gurira afirma. “Eu quero contribuir com isso. Não tenho em receber críticas. Estou mais interessada em ser pioneira nesse caminho.” Mas não espere que ela comece a viajar com uma comitiva própria.
“Os meus amigos têm suas vidas.”, disse a atriz de 34 anos, com uma risada.
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Fonte: LA Times
Tradução: Lalah / Staff Walking Dead Brasil
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