Um belo tanto de tinta – e até mesmo um pouco de sangue falso – foi derramado ultimamente sobre o famoso assunto do “Apocalipse Zumbi”. Parece bem claro que os Zumbis desbancaram os Vampiros como monstros do momento. Todas as profecias sobre um futuro reino de cadáveres demoníacos comedores de carne – que se tornou mais insistente depois do ocorrido com o lunático comedor de rostos em Miami, que teve sua estranha performance gravada parcialmente em vídeo – pode chegar com tudo nos adolescentes, cujo comportamento “viral” está ajudando essa lenda a entrar numa espiral de sucesso e torná-la notável.
(A maioria dos pais está realmente perplexa, trocando sorrisinhos de quem sabe o que é adorar zumbis, pois estiveram na onda de sucesso anterior, desencadeada pelo filme de zumbi de George Romero, Noite dos Mortos-Vivos. Zumbis pareciam mais assustadores quando Nixon estava na Casa Branca. Deixa pra lá.)
Com essa nova onda de zumbis, pode ser instrutivo para os jovens que se divertem sendo aterrorizados por alguém comendo o coração de outra pessoa dar uma olhada na bizarra história real de um homem chamado Clairvius Narcisse que, 50 anos atrás, em 2 de Maio de 1962, morreu e foi enterrado e então – para espanto daqueles que o conheceram – se levantou da cova e se tornou o que pode ser o zumbi mais conhecido da história.
A história de Narcisse pode soar familiar àqueles que leram o livro de não-ficção de 1985 “The Serpent and the Rainbow” (“A Serpente e o Arco-íris”, numa tradução literal). O livro, escrito pelo etnobotânico de Harvard Wade Davis, foi livremente adaptado para o filme de mesmo nome em 1988, por Wes Craven. Narcisse é o centro da história de detetive de Davis, na qual ele explora em primeira mão o estranho e preocupante mundo dos rituais de voodoo do Haiti. O livro é, na verdade, um registro da tentaiva de Davis de reconciliar ciência, misticismo e tradições folclóricas misteriosas, focando no caso Narcisse, que foi declarado morto pelos médicos haitianos e apareceu vivo na sua vila vários anos mais tarde – mas com um aspecto terrível.
Como detalhe no mais recente livro de James F. Broderick, “Now A Terrifying Motion Picture: Twenty-Five Classic Works of Horror, Adapted from Book to Film” (“Agora Um Filme Aterrorizante: 25 Clássicos do Horror Adaptados dos Livros para as Telas”), Davis descobre um sistema da justiça haitiana que opera em segredo e parece lidar com certas pessoas “indesejáveis” sentenciando-os à zumbificação. O que isso significa é que esses indivíduos que violaram as regras de suas comunidades tribais sao vendidos a um(a) sacerdote(tisa) de voodoo, que os prepara para serem polvilhados com um pó neuro-tóxico que cria um estado catatônico parecido com a morte depois de ingerido ou absorvido pela pele. Uma vez “marcados” para seleção pelo praticante de voodoo, eles se tornam párias em suas comunidades, e como estão “mortos” o resto da vila quer que sejam removidos o mais rápido possível para que não enfureçam o mundo espiritual. A vítima é enterrada imediatamente depois do anúncio de sua real morte por um hospital (a irmã de Narcisse identificou seu corpo aparentemente morto e deixou sua digital na certidão de óbito, como concordância.). Mas não estar morto, na verdade, cria um grande problema para a vítima. Na maioria dos casos de zumbificação, o “ressuscitado” é removido da cova por sequestradores, drogado novamente e vendido como escravo na zona rural do Haiti, forçado a viver como escravo e pária social. Ocasionalmente, esses “zumbis” escapam e retornam a suas vilas, onde são recebidos como mortos-vivos – com desprezo violento e grande receio.
Isso foi exatamente o que aconteceu com Narcisse, e se acreditarmos em Davis, ele não é a única vítima do ritual da zumbificação retaliadora. Apesar de alguns críticos questionarem se Davis exagerou em alguns eventos de seu livro com propósitos dramáticos, a grande maioria dele continua sendo um testamento de uma forma terrivelmente assustadora de se manter a ordem social na obscura sub-camada do voodoo e da magia negra.
Então, enquanto o “Apocalipse Zumbi” se espalha pelo cyberespaço e dá espasmos de falso medo ao submundo gótico, não é essa frase boba que deveria estar na mente das pessoas, mas uma frase batida “A verdade é mais estranha que a ficção.” O caso de Clairvius Narcisse é um exemplo que dá vida – mais ou menos – a esse clichê moribundo.
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Fontes: Huffington Post
Tradução: Victória Rodrigues / Staff WalkingDeadBr
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