Andrew Lincoln (Rick) ficou famoso na TV inglesa no final dos anos 90, mas tem mostrado uma persoalidade meio dividida desde que começou a quebrar recordes no horário nobre norte-americano.
Cidade de Peachtree, localizada no estado da Geórgia, um lugar no sul dos EUA, onde crocodilos podem ser considerados bichos de estimação e a forma de transporte mais comum são carros de golf.
Há uma calma inquietante no ar, com um cheiro de pêssegos em estágio de crescimento, que permitem que a área seja assustadoramente apta para as filmagens da moderna série de zumbis, The Walking Dead.
O ator britânico Andrew Lincoln se destaca no elenco como Rick Grimes, um xerife que se esforça para liderar um diverso grupo de sobreviventes e mantê-los em segurança, e ele se sentiu em casa no estado do sul.
O ator de 38 anos transferiu sua esposa e seus dois filhos para Atlanta, acostumou-se com os insetos, o aumento da temperatura e a agradável comida caseira, desde o momento que saiu do avião até quando viaja de volta para a Inglaterra durante as férias, falando com sotaque norte-americano.
É uma fórmula que funciona para ele. Baseada na série de quadrinhos de Robert Kirkman, a série, que é a mais assistida na TV a cabo norte-americana, foi vendida pelo mundo inteiro e Lincoln foi elogiado por sua representação autêntica e sincera do policial de uma cidadezinha que enfrenta grandes desafios.
Mas isso significa que, quando um grupo de jornalistas ingleses chegam ao set, onde ele está gravando uma cena em um bar decrépito, ele fica tão envolvido com o personagem que se torna incapaz de voltar para o modo de entrevista.
“Me desculpem.”, ele fala lentamente, sem que vestígios de sua criação britânica, que atravessou de Londres a Bath, através da Hull, sejam registrados na voz. “Eu não posso perder meu sotaque.”
Após alguns meses, nós conseguimos conversar. Retornando ao lar, no Reino Unido, com meses antes de recomeçar as gravações da terceira temporada da série, Lincoln parece tão inglês quanto pode ser, ao declarar que a esposa o acha “um idiota” por permanecer com o sotaque por tanto tempo.
Ele se recorda: “Na primeira vez que ela veio ao set, ela perguntou, ‘Andrew, o que você está fazendo?’”
“Eu disse, ‘Isso é pelos próximos seis meses, estou assustado.’ E também, eu tenho que fazer isso porque a maior parte da equipe acha que eu sou americano, e se eu mudar agora, vou assustá-los!”
Com papéis em várias séries, como “This Life” e “Teachers”, Lincoln se tornou a representação da virada de século da TV inglesa, e está aproveitando sua nova vida dupla como astro americano.
“Eu me sinto um pouquinho como um espião, porque, na maior parte do tempo quando não estou trabalhando, eu volto aqui para a Inglaterra. Mas aí eu vejo de volta pra lá, eu não tenho um imóvel – tenho um celular, um dialeto diferente que uso o tempo todo, e uma moeda diferente. Tenho, felizmente, a mesma esposa, mas é um extraordinário estilo de vida esquizofrênico. Eu adoro.”, ele diz.
O fato de ter duas vidas separadas também facilita que ele se concentre nos índices de audiência astronômicos, que, com uma generosa ajuda da auto-depreciação típica dos britânicos, ele marca como “algo meio ridículo.”
“Estar em um seriado de sucesso mudou minha vida assim como meu perfil nos EUA se elevou além dos meus sonhos mais loucos. Mas eu ainda sou o mesmo cara e estou tentando manter a minha vida separada do massacre dos zumbis o máximo que posso.”
“Eu acho que ter dois filhos e trocar fraldas é uma maneira de ficar na realidade.”, ele brinca.
Um dos motivos pelos quais a série funciona é porque mistura configurações extremamente realistas e personagens com os zumbis mais nojentos e perturbadores, conhecidos na série como os “errantes”.
O mestre da maquiagem Greg Nicotero aprendeu a arte de trabalhar com zumbis com o supremo diretor George A. Romero no filme “O dia dos mortos”, e seus esforços na primeira temporada da série renderam uma indicação ao Emmy.
Lincoln ainda fica admirado com o que a equipe de efeitos especiais consegue desenvolver.
Ele diz: “Eu acho que eles se sentem constantemente pressionados a criar mais maneiras absurdas e repugnantes de matar zumbis.”
“Para nós, quanto mais grotescas são suas invenções, mais intensas são nossas reações. Então o zumbi que encontramos no poço foi a coisa mais revoltante que já vimos em nossas vidas.”
“Eu acho que eles saem ativamente de seus caminhos para criar coisas grotescas para chocar a nós e aos próprios telespectadores.”
Além de fazerem os espectadores pularem do sofá, os errantes funcionam como um dilema ético. Rick e os outros sobreviventes são frequentemente forçados a refletir sobre a vida e a morte: eles tiveram que atirar em pessoas queridas que foram mordidas pelos zumbis, Andrea cogita se suicidar em vez de lidar com a vida no apocalipse zumbi, e Lori, a esposa de Rick, toma um punhado de pílulas do dia seguinte quando descobre que está grávida, sentindo-se preocupada em trazer uma vida para aquele mundo.
“É como se estivéssemos narrando uma história por dissimulação.”, diz Lincoln. “Nós usamos o pretexto de sobrevivência diante do apocalipse zumbi, quando, na verdade, trata-se de um drama muito humano.”
Deve ser um mundo de distância se comparado a intepretar um homem que faz sanduíches em “Egg em This Life”, ou o cara que é a paixão secreta de Keira Knightley em “Simplesmente Amor”.
“Consome muito tempo e é um imenso compromisso. Mas eu não esqueci de ‘Egg’ ou de ‘Teachers’ e dos grandes papeis que interpretei no passado.”, ele afirma.
Andrew também não exclui a idéia de voltar para as telas britânicas.
“Eu sempre quis interpretar um norte-americano nos EUA, é uma ambição de todos os atores de fora dos Estados Unidos, se eles forem honestos consigo mesmos.”
“Fui abençoado com essa oportunidade e adoraria trabalhar tanto na Europa quanto na América, até desmaiar e morrer, com sorte, não por exaustão causada por zumbis.”, ele diz.
INFORMAÇÕES ADICIONAIS – ANDREW LINCOLN
:: Andrew Clutterbuck nasceu em Londres, no dia 14 de setembro de 1973.
:: Sua esposa, Gael, é a filha do músico Ian Anderson, da banda Jethro Tull. Eles tem uma filha de quatro anos e um filho de um ano.
:: A filha de Chris Martin e Gwyneth Paltrow, Apple, foi uma das crianças que carregaram flores no casamento de Andrew e Gael.
:: Ele participou de “Teachers” por três anos, que chegou a dirigiar e recebeu uma indicação ao BAFTA como Melhor Diretor Novo em 2004.
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Fonte: Independent
Tradução: Lalah / Staff WalkingDeadBr
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